MR 6: TORNAR-SE TERAPEUTA: A TRANSGRESSÃO COMO ESTRATÉGIA DE SOBREVIVÊNCIA

Autores/as

  • Laura Cristina de Toledo Quadros
  • Eleonora Torres Prestrelo
  • Luciana Bicalho Cavanellas

Resumen

MR 6: TORNAR-SE TERAPEUTA: A TRANSGRESSÃO COMO ESTRATÉGIA DE SOBREVIVÊNCIA Laura Cristina de Toledo Quadros Eleonôra Torres Prestrelo Luciana Bicalho Cavanellas RESUMO O processo de formação de um terapeuta percorre diversos caminhos e se desloca em vielas que se multiplicam ao longo dessa ininterrupta trajetória que caracteriza este tornar-se terapeuta. A Gestalt Terapia constitui-se numa abordagem que expressa rupturas com modelos vigentes e pré concebidos, emergindo na vanguarda da contracultura, trazendo questionamentos e novas possibilidades de atuação. O que essa proposta de viver gestalticamente nos provoca? Podemos compreender esse caminho como uma transgressão? O que nos mobiliza nesse processo delicado e ao mesmo tempo arrebatador de nos tornarmos terapeutas? Pretendemos dialogar sobre essa tema tendo como ponto de partida os diferentes lugares que ocupamos (e desocupamos), com pontos que se afastam, se aproximam e permitem estar como transgressoras e sobreviventes nessa jornada. Palavras chave: Gestalt terapia; Formação do terapeuta; Diálogos em psicoterapia PROPOSTA O processo de formação de um terapeuta percorre diversos caminhos e se desloca em vielas que se multiplicam ao longo dessa ininterrupta trajetória que caracteriza este tornar-se terapeuta. A Gestalt Terapia constitui-se numa abordagem que expressa rupturas com modelos vigentes e pré concebidos, emergindo na vanguarda da contracultura, trazendo questionamentos e novas possibilidades de atuação. O que essa proposta de viver gestalticamente nos provoca? Podemos compreender esse caminho como uma transgressão? O que nos mobiliza nesse processo delicado e ao mesmo tempo arrebatador de nos tornarmos terapeutas? Pretendemos dialogar sobre essa tema tendo como ponto de partida os diferentes lugares que ocupamos (e desocupamos), com pontos que se afastam, se aproximam e nos permitem estar como transgressoras e sobreviventes nessa jornada. No sentido etmológico, transgredir assume tanto o significado de infringir quanto o de ir além, atravessar (AULETE, 2012). Uma transgressão convoca, por sua vez, um obstáculo, um limite a ser ultrapassado, uma normatização a ser rompida. Se nos voltarmos para a história da psicologia clínica, nos deparamos com modelos de atuação cientificistas apoiados numa perspectiva positivista e, conseqüentemente, fundados na substancialização e na causalidade. O que fazer quando nosso olhar não cabe nessa roupagem? Como demarcar espaços em territórios avessos a outras formas? Ao articularmos a transgressão com a sobrevivência consideramos essa uma possibilidade de movimento, implicação que emerge a partir do que nos afeta e nos torna agentes de nossa própria história. Sendo o tornar-se terapeuta aqui compreendido como ato contínuo, vida e ofício se entrecruzam formando uma totalidade que se expressa em seu próprio dinamismo, porque a terapia também é “...cuidar da existência que sofre” (SAPIENZA, 2008, p.27).” A abordagem gestáltica propõe estarmos em e na ação convocando-nos a uma entrega desafiadora, colocando-nos constantemente em risco. Adentramos, então, o limite do conflito considerado, nesse contexto, como uma realidade indeclínavel. Perls (1981) já nos apontava que o conflito entre o homem e a sociedade é inevitável. Assim, ele cria uma alternativa que se diferencia tanto da busca por uma adaptação passiva quanto da delimitação categorizada de um adoecimento. Seria essa nova possibilidade uma transgressão? A expressão genuína é acolhida nas relações cotidianas? Como criar e recriar possibilidades de ir além do que nos é oferecido? Essa é uma discussão que perpassa nossa prática e exige negociação com diferentes campos. Vamos transitando na prática clínica, nas comunidades, nas instituições contornando e enfrentando obstáculos e recriando atuações possíveis. Ao optarmos pela abordagem gestáltica saímos de uma pseudo zona de conforto para experimentarmos uma inquietação constante. Ao contrário do que possa parecer superficialmente aos olhos de alguns, essa não é uma opção facilitadora; ao contrário, escolhemos o embate, a difícil tarefa da desconstrução e das rotas desviantes para nos fortalecermos pessoal e institucionalmente. Despret (1996) destaca que a prática psicoterápica implica em assumir riscos, pois só assim saímos dessa zona de conforto e nos aventuramos ao encontro do outro e, em ultima instância, de nós mesmos. Nesse sentido, a abordagem gestáltica nos propõe um precioso enfrentamento: estar atentos à nós e ao que nos circunda. A presença e o interesse fazem-se fundamentais nessa ação de intervir. Trata-se do arriscar-se e de deixar de “falar sobre”, que Perls (1981) nos aponta como sendo um distanciamento impeditivo. A aproximação, no entanto, requer um envolvimento que nos afeta e nos convoca a rever nossos próprios modos de estar no mundo. Dessa forma, a transgressão consiste também nesse deslocamento que, por vezes, nos mantém na contra-mão do instituído. Seria esse um modo de manter-se vivo? Estar vivo é estar presente e lidar com o que emerge diante de nós; alegria, medo, sofrimento, desespero... Estar diante de possibilidades que escapam ao controle é, ao mesmo tempo, desafiante e apaziguador. É nesse paradoxo que transitamos. O caminhar através da abordagem gestáltica configura-se entre nós como uma transgressão da qual não pudemos escapar e na qual continuamos a experimentar diferentes sabores. Esse tem sido o nosso possível embora em vários momentos possa parecer impossível: “Nascimento doloroso, tremenda mudança. Acabou-se o abrigo, calor e oxigênio. Agora é preciso respirar pois a vida é respiração...E surge a primeira necessidade. De se auto-sustentar. Você quer viver, então respire...Pois haverá morte se você não se arriscar...Chore de dor, chorar é respirar para superar o seu impasse. O crescimento continua...” (PERLS, 1979, p. 32). BIBLIOGRAFIA AULETE.uol.com.br/site.php?mdl=aulete_digital&opdicionário online Caldas Aulete – acesso em 29 de junho de 2012 CHAUVENET, A.; DESPRET; V, LEMARIE, J-M. Clinique de la Reconstrution.Paris: L‘Harmattan, 1996 HYCNER, R. De pessoa a pessoa: psicoterapia dialógica. São Paulo: Summus, 1995. PRESTRELO, E. T.; QUADROS, L. A Abordagem Gestáltica na universidade: desafio, construção, possibilidades... in IGT na Rede, V. 8, n.o 15 SAPIENZA,B. T. Conversa sobre terapia, Paulus, São Paulo, 2008. PERLS, F. - A abordagem Gestáltica e Testemunha Ocular da Terapia. Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1981. ____________ Escarafunchando Fritz: dentro e fora da lata de lixo. Summus Editorial, São Paulo, 1979

Publicado

2014-07-29