PN 02: PRIMEIRA ENTREVISTA EM GESTALT-TERAPIA: UMA EXPERIÊNCIA DE ESTAGIÁRIOS INICIANTES

Autores

  • Vinícius Mendonça Lima
  • Guilherme de Carvalho
  • Munyck Aguiar Borges
  • Irani Garcia Moreno

Resumo

PN 02: PRIMEIRA ENTREVISTA EM GESTALT-TERAPIA: UMA EXPERIÊNCIA DE ESTAGIÁRIOS INICIANTES Vinícius Mendonça Lima Guilherme de Carvalho Munyck Aguiar Borges Irani Garcia Moreno RESUMO O presente trabalho ressalta a relevância da primeira entrevista no interior da clínica da Gestalt-Terapia. A primeira entrevista é vista como crucial para o estabelecimento ou não do vínculo terapêutico e aponta para as possibilidades de desenvolvimento do processo que se inicia. Esta experiência, porém, é vivida por dois atores: cliente e psicoterapeuta. A partir de um novo enfoque de análise, lança-se luz sobre a experiência da primeira entrevista do terapeuta, estagiário em formação. Este trabalho pretende apresentar o papel de centralidade da primeira entrevista para o cliente e compartilhar as vivências das primeiras entrevistas dos estagiários em psicologia clínica (gestalt-terapia) de um Serviço de Psicologia Aplicada no Estado do Rio de Janeiro. Palavras-chaves: Primeira entrevista, gestalt-terapia e relação terapêutica. PROPOSTA Na primeira entrevista estabelece-se uma relação na qual o terapeuta esclarece que o cliente é o único responsável por sua experiência singular dentro do processo. O terapeuta deve ter em mente a especificidade deste momento e a ausência de regras e leis preestabelecidas. Em vez disso, deve ofertar ao cliente um olhar fenomenológico, procurando compreender seu sintoma sem sustentá-lo, justificá-lo, eliminá-lo ou ignorá-lo, e sim explorá-lo numa relação empática. Segundo Spangenberg,“o fim da psicoterapia, a partir desta perspectiva, não é aliviar a tensão ou a dor; pelo contrário, necessitamos experimentá-la em sua plenitude para encontrar o sentido de sua presença na totalidade de nosso ser” (2007, p. 34). O primeiro encontro é também o momento no qual acontece o primeiro contato do cliente com os elementos que configuram o campo da terapia, desde a mobília do consultório até a personalidade do terapeuta. Segundo Ribeiro:“O campo é constituído de fatos interdependentes que estão acontecendo aqui e agora. [...] precisamos compreendê-lo como algo que constrói algo, que constrói uma unidade de sentido, uma Gestalt e que torna compreensível determinado conteúdo, que abrange todos os elementos, que, aqui-e-agora, estão presentes na realidade da pessoa, influenciando-a” (2006, p. 84). Portanto, o campo é uma unidade perceptiva que consiste numa configuração inteligível do conjunto de fatores que se apresentam aqui-e-agora. Esta configuração se organiza e se reorganiza de acordo com a subjetividade do observador e dela fazem parte desde seus componentes pessoais até o que o cliente apreende dos fenômenos que são fruto da subjetividade de seu terapeuta, conectando todos estes fatores e dando a eles um sentido. A cada nova percepção, o campo atualiza-se numa reconfiguração para fazer caber os novos elementos percebidos, excluir os que já não cabem mais e criar um novo sentido funcional. A partir destas reconfigurações, estabelece-se o vínculo terapêutico que consiste num novo sentido atribuído à relação que o cliente estabelece com este elemento do campo: o terapeuta. Desta forma, o olhar do terapeuta deve ser sensível à perspectiva do campo do cliente dentro de um determinado tempo e espaço (Spangenberg, 2007). A relação entre terapeuta e cliente é horizontal, logo nenhum dos dois tem uma posição privilegiada sobre o outro. Ambos têm papéis importantes e trabalham juntos em prol da terapia, embora suas funções sejam diferentes. Assim, o trabalho é feito em torno da relação destes atores que interagem, ou seja, o cliente, com sua ação, causa no terapeuta uma re-ação que, apresentada ao cliente, gerará um novo movimento. Ao cliente cabe trabalhar de modo motivado e implicado em suas ações e, ao terapeuta, estar disponível para que com sua experiência e técnica, possa ter reações que venham a ser terapêuticas. “[...] seu papel é permitir e favorecer, não compreender ou fazer: nem preceder nem deter o cliente, mas acompanhá-lo, conservando sua própria alteridade.” (Ginger e Ginger, 1995, p. 146). Tendo como base a experiência da equipe de Gestalt-Terapia 2012.1 do Serviço de Psicologia Aplicada da Universidade Veiga de Almeida, Campus Cabo Frio, pudemos perceber que, a demanda do cliente relatada na ficha de inscrição do serviço, na maioria das vezes, é apenas um elemento do panorama da queixa e deve ser elaborada e resignificada na relação com o terapeuta. Estas queixas estão diretamente ligadas com o modo do cliente se relacionar com o mundo. Contudo, o maior desafio durante o primeiro contato com o cliente foi lidar com a nossa própria ansiedade diante do novo. Além da responsabilidade de ter que cumprir com o protocolo da instituição, tínhamos dados importantes a serem colhidos e não sabíamos como obtê-los sem gerar constrangimentos ao cliente, que acreditávamos se encontrar numa posição desconfortável. Será que somos capazes de satisfazer as necessidades do cliente? Auxiliá-lo em seu pedido de ajuda? Em uma tentativa de minimizar nossa angústia, utilizamo-nos de dois dispositivos técnicos de suporte: (1) seminários de debates acerca dos principais temas envolvidos na entrevista psicológica a partir do referencial bibliográfico disponível; e (2) o suporte da supervisão clínica, recriando o cenário do encontro com o intuito de reflexão acerca do manejo da entrevista, estabelecimento de uma estratégia terapêutica e manutenção de um setting favorável para o encontro. Assim, o momento da primeira entrevista pôde ser desmistificado e o processo de inserção na prática clínica favorecido. A maior descoberta durante o processo foi exatamente o dar-se conta da potencialidade criativa do encontro clínico entre cliente e terapeuta, no caso, o estagiário iniciante. Como sugere Spangenberg, “a vida nunca foi, nem será um problema a ser resolvido, pela simples razão de que não tem solução. As grandes temáticas da existência não são problemas porque nenhuma delas tem solução” (2007, p. 33). Em um processo psicoterapêutico tanto cliente quanto terapeuta possuem uma percepção crítica e real do mundo e de si próprio, portanto esse momento deve basear-se na fluidez, na espontaneidade e no presente tal qual como se revela numa relação organismo-ambiente. (Ribeiro, 2006) BIBLIOGRAFIA KIYAN, Ana Maria Mezzarana. E a Gestalt Emerge: Vida e Obra de Frederick Perls. São Paulo: Atlanta, 2006. RIBEIRO, Jorge Ponciano. Gestalt-terapia: refazendo um caminho – São Paulo: Summus, 1985. RIBEIRO, Jorge Ponciano. Vade-mécum de Gestalt-terapia: Conceitos Básicos. 2.ed. São Paulo: Summus, 2006. SPANGENBERG, Alejandro. Gestalt-terapia: Um Caminho de Volta para Casa. São Paulo: Livro Pleno, 2007 GINGER, Serge; GINGER, Anne. Gestalt: Uma terapia do Contato. São Paulo: Summus, 1995.