TL 10: NOTAS SOBRE A ABORDAGEM GESTALTICA NO ESPORTE

Autores

  • Adriana Amaral do Espírito Santo

Resumo

TL 10: NOTAS SOBRE A ABORDAGEM GESTALTICA NO ESPORTE Adriana Amaral do Espírito Santo RESUMO Este trabalho busca apresentar a compreensão gestáltica para um campo ainda pouco explorado por esta abordagem na Psicologia: a Psicologia do Esporte. Considera que a escolha da abordagem traduz a visão de homem do psicólogo e vai nortear sua percepção e 200 suas intervenções em qualquer que seja seu campo de atuação. Assim, busca apresentar sucintamente algumas diretrizes deste trabalho, com base na fenomenologia e na promoção e aumento da awareness do atleta, visando não apenas a melhora do rendimento, mas seu crescimento como ser humano. PROPOSTA No final do século XIX, começaram a se desenvolver, nos Estados Unidos e Europa, tentativas científicas de melhorar a performance de atletas de alto rendimento nos mais variados aspectos, inclusive o psicológico. De lá para cá, o que se consolidou como Psicologia do Esporte se desenvolveu, tanto no campo da pesquisa quanto no da intervenção, sendo cada vez mais compreendido como um fator importante para o bom desempenho no esporte de alto nível. No Brasil, o registro oficial do primeiro trabalho na área é de João Carvalhaes, na década de 1950, em São Paulo e, posteriormente, sua atuação mais conhecida, com a seleção brasileira de futebol masculino que foi campeã mundial em 1958, na Suécia (CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA, 2001) Durante a década de 70, que pode ser considerada um dos períodos mais marcantes da Psicologia do Esporte em nosso país, paralelamente, era introduzida a Gestalt-terapia. Juliano (2004) aponta como 1972 o ano de introdução do movimento gestáltico no Brasil, após viagem de Thérèse Tellegen a Londres, onde travou contato com a nova abordagem. Esta coincidência temporal, no entanto, não fez com que as duas áreas caminhassem juntas. Ao observarmos desde os trabalhos mais iniciais até a profusão de profissionais existentes hoje na área do esporte e da atividade física, é possível perceber, empiricamente, que a maioria deles trabalha com uma abordagem cognitivo-comportamental. Como foi constatado em trabalho anterior (ESPÍRITO SANTO, 2005), existe uma outra parcela de psicólogos que se intitulam adeptos de diversas abordagens, como psicanálise, psicodrama e pedagogia da cooperação. Há, ainda, muitos que bebem de diversas fontes, por vezes até misturando abordagens quase que antagônicas, como o aconselhamento psicológico rogeriano, psicanálise, fenomenologia, gestalt-terapia, psicopatologia, etologia humana, psicologia institucional, biologia e subáreas das Ciências do Esporte. Por outro lado, ainda são poucos os profissionais conhecidos e os trabalhos publicados considerando as contribuições da abordagem gestáltica para o campo da Psicologia do Esporte, o que já não acontece em outras áreas, como o hospital, a escola, a justiça. Por este motivo, este trabalho busca trazer para dentro do contexto esportivo este olhar, entendido como uma forma de ser e estar no mundo e de entendê-lo sob uma ótica particular e ainda escassa na literatura brasileira de Psicologia do Esporte. Este esforço vem da compreensão de que a escolha da abordagem traduz a visão de homem do psicólogo e vai nortear sua percepção e suas intervenções em qualquer que seja seu campo de atuação. Em linhas gerais, as diretrizes do trabalho seguem o método fenomenológico, buscando compreender o ser humano de uma forma holística, sem compartimentá-lo em corpo e mente, acreditando nas suas potencialidades e visando seu crescimento pessoal como um todo (FRASCARELLI, 2010). A partir daí, diversos são os instrumentos possíveis, conforme a abordagem gestáltica permite (GINGER. & GINGER, 1995; POLSTER & POLSTER, 1979; ZINKER, 2007). O programa de preparação psicológica do atleta, em qualquer que seja a abordagem, segue algumas linhas gerais, que podemos dividir em quatro fases: 1) contato inicial; 2) avaliação diagnóstica; 3) intervenção; 4) avaliação dos resultados. As fases um e quatro fornecem as bases para o trabalho, mas é efetivamente no diagnóstico e na intervenção que as coisas acontecem e onde podem ser claramente percebidas algumas distinções relativas à compreensão de ser humano do psicólogo. O diagnóstico da gestalt-terapia é processual, buscando compreender o significado das queixas, o funcionamento do indivíduo, a figura e o fundo de seus sintomas, acompanhando as mudanças ao longo do tempo. Essas informações se complementam em relação, constituindo um campo do qual fazem parte a história do atleta, a instituição, a equipe técnica, o psicólogo e inúmeros outros fatores. Para Frazão (1991), a função do diagnóstico é ajudar a perceber a melhor maneira de trabalhar com cada pessoa. A coleta de informações para a construção deste diagnóstico pode variar de acordo com a necessidade e com o entendimento do psicólogo. Já na fase de intervenção, o objetivo principal é promover e aumentar a awareness do atleta, considerando as necessidades que precisam ser atendidas de acordo com seu ciclo de contato. 202 Para isso, o psicólogo de abordagem gestáltica pode usar qualquer método ou técnica desde que o objetivo seja o aumento da awareness e que resulte de diálogo e trabalho fenomenológico (Yontef, 1998). Na psicologia do esporte, existe uma gama de técnicas conhecidas e largamente utilizadas, como o estabelecimento de metas, visualizações, relaxamentos, diálogo interno, entre muitas outras. Quando eles são utilizados sob a ótica do experimento gestáltico, ganham outro sentido, que vai além da simples aplicação técnica, mas que se coaduna com a avaliação diagnóstica processual, a fenomenologia e a satisfação das necessidades, implicando o atleta na atividade. O olhar fenomenológico vê o processo único que cada um experiência; não se encaixa com o uso de técnicas prontas, fechadas, necessitando e permitindo explorar possibilidades. Quando um técnico encaminha um atleta ao psicólogo com determinada queixa, e se o acompanhamento deste atleta se inicia a partir deste a priori, corre-se o risco de perder todas as outras possibilidades de sua existência. Trabalhando fenomenologicamente, pelo contrário, esta demanda será investigada, percebendo-se aquilo que aparece no discurso e no comportamento deste atleta. Apenas a investigação destes “sintomas” em conjunto com o próprio atleta pode dar a resposta exata para o que está acontecendo. O que importa, aqui, é a qualidade da observação e o trabalho com o fenômeno tal como ele se apresenta, confirmando aquilo que é óbvio aos olhos com aquele que vivencia a experiência. As possibilidades são infinitas. No entanto, uma proposta como essa não pode ser imediatista, pois apresenta resultados a médio e longo prazos. É uma transformação mais global, que não diz respeito apenas a problemas pontuais de rendimento, constituindo uma preparação psicológica e não apenas um treinamento mental. Insere as questões do esporte no contexto da vida do atleta e de suas relações com o ambiente. Dessa forma, a gestalt-terapia e a psicologia do esporte prometem um casamento muito promissor, deixando de reduzir o atleta a resultados, mas alcançando os mesmos através de uma mudança mais profunda e humana. O mundo do esporte não está muito acostumado a isto, mas cabe ao psicólogo esclarecer que demandas podem ou não ser atendidas e de que forma, sem se cobrar dar conta de exigências que violam o ser humano. BIBLIOGRAFIA JULIANO, J. C. (2004). Gestalt-terapia: revisitando as nossas histórias. IGT na Rede, vol. 1, n. 1. Acessado em 04/ 07/ 2011 em: http://www.igt.psc.br/ ojs/viewarticle.php?id=33. ESPÍRITO SANTO, A. A. (2005). O que faz um psicólogo no esporte? Mapeando um campo de atuação da Psicologia no Brasil. (Monografia). Rio de Janeiro: UERJ. CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA. (2001). Pioneiro da Psicologia do Esporte, João Carvalhaes. [CD-ROM]. Projeto História e Memória da Psicologia em São Paulo. FRASCARELI, L. (2010). Os “problemas psicológicos” do atleta: um olhar fenomenológico para a experiência esportiva. Revista Brasileira de Psicologia do Esporte, São Paulo, v.3, nº- 4,p. 115-129. GINGER, S. & GINGER, A. (1995). Gestalt: uma terapia do contato. São Paulo: Summus. POLSTER, M. & POLSTER, E. (1979). Gestalt-terapia integrada. Belo Horizonte: Interlivros. YONTEF, G. M. (1998). Processo, diálogo e awareness: ensaios em gestalt-terapia. São Paulo: Summus. ZINKER, J. (2007). Processo criativo em Gestalt-terapia. São Paulo: Summus.

Publicado

2014-09-18