TL 07: PROPOSTA DE COMPREENSÃO DO FENOMENO DA IDEAÇÃO SUICIDA: DIÁLOGOS SOB A LUZ DA GESTALT-TERAPIA E DA LOGOTERAPIA

Autores

  • Tammy Andrade Motta
  • Patricia Paiva Rocco Ramos

Resumo

TL 07: PROPOSTA DE COMPREENSÃO DO FENOMENO DA IDEAÇÃO SUICIDA: DIÁLOGOS SOB A LUZ DA GESTALT-TERAPIA E DA LOGOTERAPIA Tammy Andrade Motta Patricia Paiva Rocco Ramos RESUMO O comportamento suicida é um fenômeno para o qual frequentemente tem-se buscado explicações e para o qual permanecemos sem respostas, tendo em vista que sua investigação é de extrema complexidade. Presumindo a existência um grande sofrimento e de uma situação de vida insuportável aos olhos daquele que decide por terminá-la, considerou-se o niilismo – a percepção da total falta de sentido na própria existência – um importante fator de risco. A partir disto, foi possível estabelecer pontos de encontro entre a proposta de Viktor Frankl sobre a 'vontade de sentido' do homem como fator primário motivacional para a vida (fundamentos da Logoterapia) e a Gestalt-Terapia, sugerindo um fator de proteção: A resiliência. A idéia não é discutir ética ou expor uma opinião a respeito do direito ou não à decisão de morte, mas propor uma luz em meio à crise e à dor a que estamos todos tão suscetíveis, e, quem sabe, sugerir um caminho. Palavras-chave: Ideação Suicida, Gestalt-Terapia, Logoterapia, Niilismo, Resiliência. PROPOSTA O suicídio é um tema que chama atenção por suscitar questionamentos a respeito da finitude da vida e suas consequências. Sendo assim, o objetivo aqui será dialogar a respeito da decisão pela própria morte à luz de duas teorias: a Logoterapia, de Viktor Emil Frankl e a Gestalt-Terapia (GT). Para tanto, serão apresentados a conceituação e uma breve discussão sobre o mesmo, e em seguida serão abordados as teorias de Frankl e da GT para que, ao final, sejam discutidos, relacionados e explorados os pontos de contato. A idéia não é discutir ética ou expor uma opinião a respeito do direito ou não à decisão de morrer, mas propor uma luz em meio à crise e à dor a que estamos todos tão suscetíveis e, quem sabe, sugerir um caminho ou auxiliar na construção de fatores que promovam uma proteção a nível individual e pessoal. Considera-se ideação suicida como uma categoria do comportamento suicida (WERLANG, BORGES e FENSTERSEIFER, 2005), sendo melhor entendida como a presença de pensamentos recorrentes que objetivam a própria morte, tornando-se principal sinalizador para a realização do ato. Afinal, embora possa ser um ato impulsivo, BOTEGA, WERLANG, CAIS e MACEDO (2006) trazem a informação de que cerca de dois terços das pessoas que cometem suicídio dão sinais de sua intenção e comunicam claramente a familiares, amigos ou conhecidos. As motivações para o suicídio são objetos de estudo de diversos autores atualmente e causam grande polêmica. Embora não seja possível afirmar uma causa primordial, grande parte dos casos corresponde às situações de vida insuportáveis, o que pode estar relacionado às maneiras de atribuição de sentido para a vida, ou a falta do mesmo. Sendo assim, a morte, muitas vezes, aparece como única alternativa para o sofrimento trazido pela situação vivida, uma vez que o peso da própria vida e da própria condição humana, que se configura como uma angústia e solidão absurda, são impossíveis de suportar. Contudo, apesar da quantidade de definições e olhares ‘enviesados por morais’, pouco se procura saber a respeito do que sente alguém que deseja a própria morte. A partir do momento em que é observado com olhar parcial e preconceituoso, se esquece de que este fenômeno é vivenciado por uma pessoa que, em determinada condição existencial, não vê outra alternativa para continuar sendo, como diriam SAMPAIO e BOEMER (2000). Para Viktor E. Frankl, 'vontade de sentido' seria como uma orientação para a realização do sentido. Seguindo essa lógica, o vazio existencial seria resultado de uma frustração da vontade de sentido no homem, culminando na sua incapacidade em atribuir sentido a sua própria existência. Esta “inabilidade” em atribuir sentido pode ser caracterizada como niilismo. Sendo assim, considera-se este constructo um grande risco para a existência humana, e, portanto, propõe-se que ele seja classificado como principal fator de risco para o suicídio, afinal, busca-se a eliminação de todo e qualquer sistema moral. Em oposição ao pensamento deste autor, o niilismo representa o vazio existencial devido à perda dos instintos e da tradição, fazendo-o renunciar à sua autenticidade e unicidade (AQUINO et al, 2011). Trata-se de um fenômeno complexo e denso, contudo, de maneira resumida, ele pode ser entendido como uma falta de sentido, representado por tédio, apatia e sentimento de indiferença. Pode também diminuir a habilidade de enfrentamento e, consequentemente, aumentar a frustração que tem relação significante com a agressividade (HALAMA, 2000, apud SOMMERHALDER, 2010). Por outro lado, a GT e teoria de Frankl se comunicam através de uma ferramenta que irá auxiliar na ressignificação: a resiliência. Um dos conceitos importantes para a GT, no que diz respeito à busca pelo equilíbrio é a Homeostase. Com base neste conceito, entende-se que todo organismo está à procura de um equilíbrio que permita o encontro de sua satisfação, perante uma necessidade vigente (RIBEIRO, 1985). Dessa forma, acredita-se que a resiliência será a maneira que o homem encontrará de, perante um tormento, conseguir atravessá-lo e encontrar uma nova configuração para tal. Concluindo, ao longo da elaboração deste trabalho pude perceber que a 'vontade de sentido' ultrapassa os valores propostos por Frankl e os fatores de proteção. Ela engloba a busca pelo conhecimento, a ajuda ao próximo, a crença em valores, o envolvimento com a arte – nas suas mais variáveis formas, o bem-estar, a obtenção de prazer em pequenas atitudes cotidianas, as relações interpessoais, a satisfação com a própria saúde, o dispor-se a novos desafios, até mesmo físicos, e, principalmente, a percepção de cada sentido, que pode ser concretizada a partir da tomada de consciência de cada um. Desta forma, creio que o sentido não precisa estar, necessáriamente, num ‘além-ser’, mas na construção ativa dos significados pessoais, nas escolhas e responsabilidades e nas atividades e fragmentos da vida cotidiana, como defende o existencialismo. A tomada de consciência ou awareness – como falamos em GT, é um processo que não acontece repentinamente ou sem a participação daquele que a vive. Ela perpassa o reconhecimento da própria existência, o sentido da vida e o estar plenamente no aqui e agora, e vem acompanhada de um bem-estar único e pleno. Neste instante, o indivíduo se perceberá em um momento onde nada, nenhum sofrimento, situação ou pessoa, será capaz de destruí-lo, pois, uma vez que ele tem consciência do total controle que tem sobre a própria vida, se perceberá como sendo capaz de entrar em contato com um sofrimento, deixar que este o atravesse, absorver dele tudo o que puder acrescentar para seu crescimento e eliminar aquilo que, de fato, não servir ou não lhe for útil ou reaproveitável. Entendo então, que esta será a construção do que é ser resiliente, pois a resiliência passará a ser a operacionalização das consequências de se encontrar o(s) sentido(s). Ser resiliente é não apresentar rigidez na fronteira de contato, que para a GT, muito resumidamente, é o local onde as trocas com o meio e com o outro ocorre; pelo contrário, ser resiliente é tornar esta fronteira flexível, maleável e fluida o suficiente para permitir que aquilo que for necessário para seu crescimento, a atravesse e seja útil e, ao mesmo tempo, mínimamente resistente a tal ponto que regule tudo aquilo que não for válido para o indivíduo, não sendo absorvido de maneira a causar um prejuízo, promovendo assim, uma proteção para o mesmo. O senso de responsabilidade proveniente do existencialismo constitui a essência da existência humana. O fato de ser consciente de suas possibilidades de ‘vir-a-ser’ no mundo e de estar fadado à contingência da temporalidade, pode gerar angústia diante da finitude. Como colocado por Aquino e outros (2011, p.49), “a consciência da morte faz surgir a vontade de encontrar um sentido para a existência” e, sendo assim, um pouco de niilismo é desejável, já que a construção deste sentido de vida, para cada um, se dará a partir de uma percepção inicial de que nada se é, para a partir disso, então, perceber aquilo que se deseja ser. É preciso estar ciente de que a dignidade das pessoas que atentam contra a própria vida deve ser respeitada e preservada. Ajudá-los na atribuição de significados à sua existência, pode ser o caminho de uma construção para a verdadeira descoberta daquilo que realmente tem significado para este ser humano que está em sofrimento. É necessário que esta forma de cuidar seja autêntica e sem julgamentos, pois o construto vontade de sentido pode contribuir na transformação deste sofrimento, na descoberta da resiliência, na ressignificação, no enfrentamento de enfermidades e, consequentemente, na relação com a morte. Por fim, estar em sintonia com a finitude da vida é, de certa forma, ser humanista. Acredito que seja preciso compreender a importância da morte, enquanto um fator estruturante e necessário, para nos auxiliar na conscientização da necessidade de apoderarmo-nos da maneira que vivemos e das escolhas que fazemos. E não esquecer, ao mesmo tempo, do cuidado e do respeito para com o outro que nos acompanha – por vontade própria ou por um simples acaso – nessa trajetória. É preciso lembrar sempre de que este outro é também, assim como eu e você, um ser intersubjetivo e ávido por um investimento de confiança. BIBLIOGRAFIA AQUINO, T.A.; SILVA, J.P.; FIGUEIRÊDO, A.T.B.; DOURADO, T.S. e FARIAS, C.S. Avaliação de uma Proposta de Prevenção do Vazio Existencial com Adolescentes. Psicologia: Ciência e Profissão, 2011. BOTEGA, N.J.; WERLANG, B.S.; CAIS, C.F.S. e MACEDO, M.M.K. Prevenção do comportamento suicida. Revista Psico, 2006. RIBEIRO, J.P. Gestalt-Terapia: refazendo um caminho. 7ª ed. Ed. Summus, São Paulo, 1985. SAMPAIO, M.A. e BOEMER, M.R. Suicídio: um ensaio em busca de um des-velamento do tema. Rev. Esc. Enf., 2000. SOMMERHALDER, C. Sentido de vida na fase adulta e velhice. Psicol. Reflex. Crit., 2010. WERLANG, B.S.G.; BORGES, V.R. e FENSTERSEIFER, L. Fatores de risco ou proteção para a presença de ideação suicida na adolescência. Revista Interamericana de Psicologia, Porto Alegre, 2005.

Publicado

2014-09-18