TL 02: GESTALT-TERAPIA – DE UMA ADOLESCÊNCIA REBELDE À SUA CHEGADA A MATURIDADE

Autores

  • Patricia Albuquerque Lima

Resumo

TL 02: GESTALT-TERAPIA – DE UMA ADOLESCÊNCIA REBELDE À SUA CHEGADA A MATURIDADE Patricia Valle de Albuquerque Lima RESUMO A Gestalt-terapia, apesar de ter seus arcabouços teóricos e técnicos definidos na metade do século passado, e pouquíssimo revistos pelos autores iniciais desta abordagem, traz em seu bojo a possibilidade de adequar-se ao discurso científico contemporâneo e as novas exigências metodológicas das práticas psicológicas na atualidade. O objetivo desse trabalho é discutir o percurso desta abordagem ao longo do tempo e seu processo de “amadurecimento” nas últimas décadas, considerando sua chegada e sedimentação no Brasil. Palavras chave: Gestalt terapia, história e evolução. PROPOSTA A Gestalt-terapia, apesar de ter seus arcabouços teóricos e técnicos definidos na metade do século passado, e pouquíssimo revistos pelos autores iniciais desta abordagem, traz em seu bojo a possibilidade de adequar-se ao discurso científico contemporâneo e as novas exigências metodológicas das práticas psicológicas na atualidade. O objetivo desse trabalho é discutir o percurso desta abordagem ao longo do tempo e seu processo de “amadurecimento” nas últimas décadas, considerando sua chegada e sedimentação no Brasil. A Gestalt terapia nasce oficialmente nos Estados Unidos na década de 50 do século passado e ao longo das décadas de 50 e 60 vemos a criação dos primeiros institutos e lançamento dos livros iniciais da abordagem. Apesar da Gestalt trazer como proposta teórica e técnica uma revisão do modelos da psicologia que vigoravam até o momento, mais especificamente da psicanálise e da psicologia comportamental, ligando-se ao movimento da Terceira Força em Psicologia, ela ainda surgiu bastante impregnada da visão individualista de homem, visão essa que repercutia nas suas propostas clínicas. Considerando que a Gestalt Terapia chegou ao Brasil na década de setenta e se desenvolveu enquanto uma prática clínica ao longo desta mesma e da seguinte, quando surgiram os primeiros institutos e cursos de formação na abordagem em território brasileiro, é importante considerarmos o contexto cultural e político do país no qual ela brotou para pensarmos no modelo da Gestalt Terapia brasileira. Naquele momento o Brasil passava, não podemos deixar de levar em consideração, por uma forte repressão política e essa foi uma marca importante para se pensar a função da clínica psicológica na época. A Gestalt Terapia chegou ao Brasil se vinculando ao ideário revolucionário, buscando ações libertadoras e o estabelecimento de relações igualitárias, bem como o respeito às diferentes possibilidades de pensamento e de comportamentos entre os homens. Na década de oitenta houve uma consolidação dos movimentos da esquerda no Brasil, em grande parte promovida pela fundação do Partido dos Trabalhadores. A revogação do AI-5 em 1978 possibilitou a organização da sociedade civil contra o poderio político autoritário das Forças Armadas, simbolizada no movimento das Diretas Já que, em 1984, levou uma enorme massa de pessoas às ruas, lutando por sua liberdade social e política. Sem dúvida o Brasil viveu o momento de maior conscientização sócio-histórica dos seus cidadãos, quando a própria noção de cidadania foi revista e o papel dos brasileiros na consolidação de uma sociedade democrática colocou-se como de vital importância. Neste momento a luta deixou de ser apenas pela liberdade individual, grande marca do movimento hippie, e passou a ser pela busca de uma maior liberdade social, por um engajamento na reconstrução dos direitos sociais e políticos da população brasileira. Podemos pensar no que esses “ares da abertura” e essa maior participação dos cidadãos na manutenção de uma sociedade democrática trouxe como reflexo para o cenário terapêutico e para a demanda por serviços da clínica psicológica. A clínica saiu cada vez mais do espaço do consultório particular e tentou alcançar um maior número de pessoas nos programas governamentais de prevenção e apoio às situações de risco social elevado. O objetivo desse trabalho é discutir essa ampliação do campo que sofreu a abordagem, em grande parte decorrência do contexto de desenvolvimento social e político do país, mas também levando em consideração a evolução da própria abordagem em função das mudanças conceituais e dos novos cenários científicos e intelectuais que vem sendo construídos nas últimas décadas. Coerente a esse novo tempo e a esses novos anseios da população, vemos também um movimento dentro dos profissionais da Gestalt de saída da prática exclusiva de consultório particular e busca de alianças com circunstâncias de maior atuação social. Surgem novas e diversas propostas de atuação em projetos sociais para profissionais dessa abordagem. Eles buscam, então, intervir dentro de uma visão institucional, no qual o Gestalt terapeuta passa a se portar mais como um agente de transformação social, ideal esse já predito por Perls desde o surgimento da prática. Todo o discutido acima demonstra que, diante dessa nova realidade que se configurava, a Gestalt Terapia precisou ampliar suas fronteiras. Isso gerou uma busca por maiores interlocuções com outras disciplinas, também graças à necessidade de integração em equipes de atuação multiprofissionais nos serviços de psicologia da rede pública e nas propostas de intervenção comunitária, cada vez mais frequentes com o enorme surgimento de organizações do terceiro setor. O foco do trabalho clínico também mudou, deslocando-se da atuação em clínica individual para o atendimento a grupos, casais, famílias e instituições. BIBLIOGRAFIA CIORNAI, S. (Org.). Gestalt-terapia, Psicodrama e Terapias Neo-reichianas no Brasil. São Paulo: Ágora, 1995. FEIJOÓ, A. A Escuta e a Fala em Psicoterapia: Uma Proposta Fenomenológica Existencial. São Paulo: Vetor, 2000. GOODMAN, P ; HEFFERLINE, R.; PERLS, F. Gestalt Therapy: Excitement and Growth in the Human Personality. New York: Bantam Book, 1980. HOLANDA, A. 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Publicado

2014-09-18