WR 12: MUSEU DA PERCEPÇÃO: VENHA EXPERIMENTAR-SE

Autores

  • Claudia Muniz Vieira
  • Paula Nascimento

Resumo

WR 12: MUSEU DA PERCEPÇÃO: VENHA EXPERIMENTAR-SE Cláudia Muniz Paula Nascimento RESUMO Este trabalho tem como objetivo possibilitar que os participantes observem e entendam a relação organismo/ambiente. Para tal, iremos estimular os sentidos a partir da presença de objetos provocando a ampliação perceptual. Estimularemos os modos básicos de contato: o olhar, o ouvir, o tocar, o falar, o cheirar, provar, o mover-se. Com isso, o sujeito terá a oportunidade de perceber como ele utiliza suas funções de contato e, também, como ele interrompe/bloqueia o contato, podendo observar sua organização perceptiva e entender de que maneira se relaciona com o mundo que a cerca. Palavra-Chave: Percepção; funções de contato; sensação. PROPOSTA Segundo Sternberg denominamos percepção “o conjunto de processos pelos quais reconhecemos, organizamos e entendemos as sensações recebidas dos estímulos ambientais. A percepção abrange muitos fenômenos psicológicos” (2000, p. 110). Muitos estudos vêm sendo desenvolvidos ao longo dos anos buscando entender como percebemos o mundo. A Psicologia da Gestalt, forte influência na Gestalt-terapia, se baseia na noção de que o todo é diferente da soma das partes e se contrapõe a noção estruturalista que analisa as partes para assim chegar ao funcionamento do todo. A abordagem gestáltica se volta para o estudo dos princípios da organização e “comprova a relação dialética entre o sujeito e o objeto” (Kiyan, 2006, p. 116). O observador influencia o observado, pois quando percebemos o todo o organizamos de maneira subjetiva. “As percepções nascem primeiramente de um dado externo à consciência para, em seguida, se adequar às ideias impressas, da qual nasce a consciência do percebido. A partir deste momento, consciência perceptiva e emoções e necessidades formam uma situação triangular que praticamente definirá nossas escolhas perceptivas” (Ribeiro, J. 2006, pg 154) Para os gestaltistas, percebemos de um modo organizado “em vez de como uma miscelânea de sensações inteligíveis e desorganizadas” (Stenberg, 2000, p.120). O que, então, determina/influencia essa organização? Para a psicologia da Gestalt, a percepção se organiza de forma a buscar conjuntos estruturados e significantes, ou seja, busca a boa forma. Estas formas fortes e plenas foram denominadas pelos psicólogos de gestalt (Ginger e Ginger,1995). Segundo Ribeiro (2006) este processo se inicia com os sentidos registrando a presença do objeto, para então entrar em cena a percepção, que, por sua vez, se volta para os sentidos, que, como uma totalidade, nos colocam ou nos dão o sentido e o significado do objeto, para, só aí, fazermos nossas opções. A Gestalt-terapia importou da Psicologia da Gestalt o conceito de gestalt e o de figura e fundo e afirma que uma pessoa ao perceber o campo total destaca uma figura de acordo com suas necessidades, sensações e sentimentos. Podemos dizer que a necessidade dominante do organismo em qualquer momento, se torna a figura do primeiro plano, e as outras necessidades recuam, pelo menos temporariamente, para o segundo plano. Antes de pensarmos a organização perceptiva é importante entender de que maneira uma pessoa se relaciona com o mundo que a cerca. Os Gestalt-terapeutas se interessam em observar e entender a relação organismo/ambiente e consideram o contato “o intercambio entre o individuo e o ambiente que o circunda dentro de uma visão de totalidade, visto que organismo e ambiente são um todo indivisível” (Silveira, T.M., in D’Acri, Lima e Orgler, 2007; pg 59) Para Polster e Polster (2001), o olhar, o ouvir, o tocar, o falar, o cheirar e provar, o mover-se são modos básicos de contato. Então, para se entender como o sujeito se relaciona, deve-se entender como ele utiliza suas funções de contato e, também, como ele interrompe/bloqueia o contato. “É importante ressaltar que o grande diferencial da abordagem gestáltica é considerar o contato uma experiência vívida e única, com um sentido peculiar para quem o vivencia... Cabe-nos captar sem capturar, experenciar sem classificar, resgatar sem recuperar, acompanhando a pessoa em seu fluxo livre em busca de si mesma”, afirma Laura Quadros in D’Acri, Lima e Orgler, 2007; pg 120) A Gestalt-terapia valoriza a experiência do aqui e agora. Segundo PHG (1997, p. 41), “a experiência se dá na fronteira entre o organismo e seu ambiente, primordialmente a superfície da pele e outros órgãos de resposta sensorial e motora”. É importante proporcionar ao individuo a possibilidade de experimentar seus sentimentos, sensações e necessidades. “A awareness total é o processo de estar em contato vigilante com eventos mais importantes do campo individuo/ambiente com total apoio sensoriomotor, emocional, cognitivo e energético. É o estar em contato com a própria existência” (Yontef, 1998, p.31) O grande objetivo da Gestalt-terapia é proporcionar maior awareness pessoal. Visto que a GT é uma abordagem fenomenológica-existencial, isso só é possível através da experiência. Perls ao falar em relação à pratica da Gestalt-terapia: “Assim, primeiro o terapeuta proporciona a oportunidade de descobrir o que a pessoa necessita – as partes que faltam, que foram alienadas e deixadas para o mundo. Então o terapeuta deve proporcionar a oportunidade, a situação na qual a pessoa possa crescer. E o meio é frustramos o paciente de tal forma que ele seja forçado a desenvolver seu próprio potencial. Proporcionamos de maneira hábil a frustação suficiente para que o paciente seja forçado a achar seu próprio caminho, a descobrir suas próprias possibilidades, seu próprio potencial e a descobrir que o que ele espera do terapeuta, ele pode conseguir muito bem sozinho”. (1977, pg 61) O experimento em Gestalt-terapia tem como alvo o possibilitar, propiciar, permitir que o sujeito experimente a si mesmo e também experimente o ambiente. A experiência vem, então, substituir a interpretação, o falar sobre si e sobre o mundo. Segundo Sandra Salomão (in D’Acri, Lima e Orgler, 2007; p. 104), “por meio de experimento, o individuo é mobilizado para confrontar as emergências de sua vida, operando seus sentimentos e ações abortados, numa situação de emergência relativa. Desse modo é criada uma emergência segura na qual a exploração aventureira pode ser sustentada”. Algumas condições se fazem necessárias para que o experimento ocorra e dentre elas está a criatividade. A criatividade é um recurso importante para se trabalhar gestalticamente. Zinker (1997, p. 62) afirma que “o terapeuta criativo é experimental. Sua atitude inclui o uso de si, do cliente e dos objetos do ambiente a serviço da invenção de novas visões das pessoas”. No uso de sua criatividade, o terapeuta pode criar condições propicias para que o cliente possa experimentar o mundo em ambiente seguro e entender de que forma faz contato com o ambiente e como organiza sua percepção. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GINGER, S; GINGER, A. - Gestalt: uma terapia de contato, São Paulo: Summus, 1995 KIYAN, A. M. – E a Gestalt emerge: vida e obra de Frederick Perls, São Paulo: Editora Altana, 2006. QUADROS, L – Função e disfunção de contato, in D’ACRI, G.; LIMA,P; ORGLER, S - Dicionário de Gestalt-terapia: “Gestaltês”, São Paulo: Summus, 2007 PERLS, F.S. (1973) - A abordagem gestáltica e testemunha ocular da terapia, Rio de Janeiro: Guanabara, 1988. _________. Gestalt-terapia explicada, São Paulo: Summus, 1977 _________; HEFFERLINE, R.; GOODMAN,P. – Gestalt-Terapia, São Paulo: Summus, 1997 155 POLSTER, E; POLSTER, M – Gestalt-terapia integrada, São Paulo: Summus, 2001. RIBEIRO, J. P. - Vade-mécum de Gestalt-terapia: Conceitos básicos, São Paulo: Summus, 2006 SALOMÃO, S – Experimento. in D’ACRI, G.; LIMA,P; ORGLER, S - Dicionário de Gestalt-terapia: “Gestaltês”, São Paulo: Summus, 2007. SILVEIRA, T.M. – Contato. in D’ACRI, G.; LIMA,P; ORGLER, S - Dicionário de Gestalt-terapia: “Gestaltês”, São Paulo: Summus, 2007. STENBERG, R. – Psicologia Cognitiva. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. YONTEF, G. Processo, diálogo e awareness, São Paulo: Summus, 1998 ZINKER, J. Processo Criativo em Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 2007.

Publicado

2014-07-29