WR 6: APRENDENDO A UTILIZAR O CICLO DE CONTATO COMO INSTRUMENTO METODOLOGICO NA SESSÃO TERAPÊUTICA

Autores

  • Juliana Wallig

Resumo

WR 6: APRENDENDO A UTILIZAR O CICLO DE CONTATO COMO INSTRUMENTO METODOLOGICO NA SESSÃO TERAPÊUTICA Juliana Wallig RESUMO Nossos objetivos são apresentar o ciclo de contato e instigar o pensamento epistemológico no aluno para que ele aprenda a sistematizar o conceito como instrumento metodológico a serviço da organização da sessão terapêutica. Pretendemos ainda fomentar a importância da formação total do terapeuta para que haja assimilação e crescimento e não apenas introjeções de conceitos e formas (fôrmas) de ser gestalt-terapeuta. Palavras-chaves: Ciclo de contato. Instrumento metodológico. Pensamento epistemológico. PROPOSTA Em minha experiência com supervisão clínica percebo que um dos maiores desafios para o terapeuta em formação é tecer a arte paradoxal da sessão terapêutica. Em uma sessão de terapia é necessário que o terapeuta entre no mundo experiencial do cliente através de uma atitude fenomenológica, apriorística e que depois consiga ordenar e direcionar a complexa e rica gama de informações ao objetivo maior: a ampliação de awarenes. “Como uma obra de arte, a sessão terapêutica é desengoçada quando não tem estrutura e direção. Pode ser dinâmica e brilhante, mas, sem organização, fica difícil para o cliente assimilar seus ganhos e levá-los para casa” (Zinker, 2007:3). “Tricotar” os fios da experiência com os construtos teóricos é uma arte que se aprende e que demanda tanto sensibilidade e disponibilidade do terapeuta, quanto um sólido conhecimento teórico que apóie e embase a estrutura e organização do atendimento. Esta não é uma aprendizagem fácil e rápida, tornar-se terapeuta é um processo e “formar profissionais capacitados para tal ofício é uma missão mobilizadora e difícil, que carece de meios criativos para desenvolver o aluno de um modo mais amplo, para instrumentalizá-lo no exercício da profissão de gestalt-terapeuta” (Cardella, 2002: 67). Acreditando que a sistematização de instrumentos teóricos e metodológicos da Gestalt-terapia é de fundamental importância para o desenvolvimento total do terapeuta, principalmente àqueles relacionados a práxis gestáltica, propomos apresentar, neste curso, o ciclo de contato como instrumento metodológico a serviço da organização da sessão terapêutica. Nossa proposta não é a de “reinventar a roda”: Zinker (2007), Spangenberg (2007), os Polsters (2001), Ribeiro (2007), Ginger (1995) são alguns dos teóricos que sistematizaram e apresentaram o ciclo de contato tanto como instrumento metodológico, quanto conceito de fundamental importância para a teoria e prática da Gestalt-terapia. O que pretendemos é apresentar o conceito do ciclo de contato e a partir daí instigar o pensamento epistemológico nos alunos. Acreditamos ser importante incentivar e desenvolver a assimilação do conceito e não sua simples introjeção, pois segundo Juliano “de nada adianta ter todo um arsenal à disposição e não ter olhos para olhar o território, sem saber ler mapas e sem ter noção dos pontos cardeais...” (1999: 47). Destacamos o ciclo de contato como conceito a ser trabalhado, por ser tanto a descrição de um processo empreendido por todos nós – o da autorregulação – quanto por “sua interdependência e subordinação à arte prática de fazer terapia” (Spangenberg, 2007:111). Faz-se mister compreendermos o conceito de homeostase, pois a partir dele fundamentam-se todos os outros, “nossa premissa seguinte é que todos os comportamentos são governados pelo processo que os cientistas chamam de homeostase e que os leigos chamam de adaptação. O processo homeostático é aquele pelo qual o organismo mantém seu equilíbrio, e consequentemente sua saúde, sob condições diversas. A homeostase é, portanto, o processo através do qual o organismo satisfaz suas necessidades […] Desta forma, poderíamos chamar o processo homeostático de processo de autorregulação, o processo pelo qual o organismo interage com seu meio” (Perls, 1985; 20). É na interação com o ambiente que satisfazemos nossas necessidades, em um eterno continuum de busca pelo equilíbrio; um “ciclo psicofisológico que ocorre em todas as pessoas. Está relacionado à satisfação de necessidades e, muitas vezes, nos referimos a ele como o ciclo organísmico de autorregulação” (Zinker, 2007:90). O ciclo é saudável quando “percorrido”, da sensação ao contato, daí para o retraimento e à sensação novamente, de forma fluída, sem interrupção. Quando ocorre interrupção ou bloqueios nesse ciclo, a autorregulação organísmica fica comprometida. O ciclo espelha o processo pelo qual guiamos e formamos nossa experiência do mundo e também de nós dentro dele (Spangenberg, 2007) e é a partir desse espelhamento que podemos perceber como nosso cliente se coloca no mundo; como e para que se interrompe, seu grau de awareness, enfim, sua forma, pois “Se não compreendermos que a 'forma' é que impede à pessoa contatar o presente e, portanto, também a impede de expor-se a uma experiência corretiva, que acabe modificando a sua matriz emocional, erraremos sempre em nosso esforço terapêutico, pois, em princípio, é para a 'forma' que devemos dirigir todos os nossos esforços [...]” (Spangenberg, 2007: 57-58). Assim, acreditamos ser de fundamental importância a aprendizagem da operacionalização do ciclo de contato para os jovens terapeutas. BIBLIOGRAFIA CARDELLA, Beatriz. A construção do psicoterapeuta: uma abordagem gestáltica. Summus Editorial. 2002. GINGER, Serge & GINGER, Anne. Gestalt: uma terapia do contato. Summus Editorial. 1995. JULIANO, Jean Clark. A arte de restaurar histórias: o diálogo criativo no caminho pessoal. Summus Editorial. 1999. RIBEIRO, Jorge Ponciano. O ciclo do contato: temas básicos na abordagem gestáltica. Summus Editorial. 2007. SPANGENBERG, Alejandro. Gestalt-terapia: um caminho de volta para casa. Livro Pleno. 2007. PERLS, Fritz. A abordagem gestáltica e testemunha ocular da terapia. Zahar Editores. 1985. ZINKER, Joseph. Processo Criativo em Gestalt-terapia. Summus Editorial.São Paulo. 2007.

Publicado

2014-07-29