WR 3: RESGATANDO E INTEGRANDO AS VIVENCIAS ADOLESCENTES: CONTRIBUIÇÕES PARA A FORMAÇÃO DO PSICOTERAPEUTA

Autores

  • Luciana de Medeiros Aguiar

Resumo

WR 3: RESGATANDO E INTEGRANDO AS VIVENCIAS ADOLESCENTES: CONTRIBUIÇÕES PARA A FORMAÇÃO DO PSICOTERAPEUTA Luciana Aguiar RESUMO Acreditamos que faz parte da formação continua do psicoterapeuta que ele se submeta a um trabalho psicoterapêutico, favorecendo a identificação acerca de impedimentos e obstáculos ao seu processo de crescimento, bem como a respeito de suas habilidades e dos seus pontos ”fortes” que vão caracterizar seu estilo pessoal. Muito tem se falado a respeito do impacto das experiências infantis na vida adulta (Miller,1997; Culkier,1998). Porém, o período da adolescência e todas as suas vivencias significativas costumam ser esquecidas quando falamos das formas habituais neuróticas presentes no adulto. Assim, propomos nesse trabalho a possibilidade de resgate e integração de aspectos específicos da vivencia adolescente dos participantes, através do uso de experimentos. Palavras-chave: adolescencia; situação inacabada; experimento PROPOSTA A experiência clinica com adultos e com a formação de psicoterapeutas, nos mostra que as vivencias adolescentes relativas a consolidação de uma autonomia responsável, a iniciação sexual, a escolha profissional, a discriminação dos valores introjetados a partir da família e do grupo social, bem como episódios onde predominam sentimentos de inadequação, vergonha, solidão e confusão exercem um profundo impacto no estabelecimento de formas posteriores de lidar com as situações que se apresentam e de criar possibilidades de assimilação das novidades e desafios presentes ao longo da vida. (McConville, M. & Wheeler, G., 2001) Entendemos como parte integrante da formação profissional a necessidade premente do psicoterapeuta submeter-se a psicoterapia, com o objetivo de possibilitar a emergência e o trabalho com suas situações inacabadas que, atuando como uma fisiologia secundária (PHG, 1997), estão presentes no campo terapêutico, como um fundo habitual que orienta sua compreensão e suas intervenções. Os desafios que se impõem ao psicoterapeuta na situação clinica, constituem-se como convites a emergência de suas interrupções neuróticas e a tentativa de resolução de situações inacabadas na relação terapêutica. Segundo Perls (1977), “A gestalt quer ser completada. Se a gestalt não for completada, ficamos com situações inacabadas, e estas situações inacabadas pressionam e pressionam e pressionam e querem ser completadas.” (p.132) 115 A posição de “autoridade” do psicoterapeuta dentro da relação facilita a possibilidade da mesma acontecer a partir das suas interrupções e não a favor da tarefa clinica, sem que ele perceba sua implicação na situação. (Culkier, 1998) Entendemos a partir disso, que resgatar experiências desse período de vida é de especial relevância para o desenvolvimento pessoal do psicoterape uta, e condição básica para que ele possa relacionar-se terapeuticamente e instituir uma clinica que trabalhe no sentido da abertura para o inédito e permita a manifestação da espontaneidade criadora do cliente e não esteja a serviço da reedição neurótica de sua história. Para isso é fundamental que ele não apenas rememore cognitiva e verbalmente o que se passou em sua adolescência, mas reexperiencie a emoção desses eventos no presente. Em Gestalt-Terapia, o uso do experimento nos proporciona a possibilidade da identificação e vivencia corpórea no espaço terapêutico, da situação inacabada, num contexto de emergência segura, possibilitando a criação de novas alternativas para o excitamento envolvido. (Zinker, 2007) O experimento possibilita a sensação concentrada e a lúdica manipulação do meio, tal qual a brincadeira da criança ou a criação do artista. Tal como o artista, é a sensação vivida e a brincadei ra irrestrita destas, aparentemente sem objetivo, que permite a energia fluir espontaneamente e chegar a semelhantes invenções fascinantes (PHG, 1997,p.59) Dessa forma, entendemos que o caráter lúdico do experimento torna-se um facilitador para o afrouxamento da inibição deliberada e a emergência dos excitamentos bloqueados e impedidos de desdobramento e resolução junto aos dados da situação presente. Assim, acreditamos que ao propormos aos participantes experimentos que possibilitem a emergência de situações inacabadas referentes a esse período especifico do desenvolvimento, estaremos criando a possibilidade não só da identificação de formas habituais reprimidas, como a eventual descoberta de possíveis caminhos criativos para o fluxo do excitamento outrora interrompido. Com isso, objetivamos ao longo desse workshop, possibilitar aos participantes a oportunidade de recuperação da maneira como “seu” adolescente experi encia o mundo e promover a chance de identificarem aquilo que sorrateiramente os impede de fazê-lo com espontaneidade e congruência, atravessando de forma silenciosa seu trabalho como psicoterapeuta; o convite se dá não no sentido de livrar-lhes da biografia, dos fatos, dos acontecimentos, esses imutáveis, mas com o intuito de recuperar o processo espontâneo, através do reconhecimento da forma como eles se bloqueiam e se impedem no livre curso do excitamento de suas vidas. BIBLIOGRAFIA CULKIER, R. Sobrevivência emocional: as dores da infância revividas no drama do adulto. São Paulo: Ágora, 1998. MCCONVILLE, M. & WHEELER, G. The Heart of Development: gestalt approaches to working with childrens, adolescents and their worlds. Volume II: Adolescence. Hillsdale, Analytic Press, 2001. MILLER, A. O drama da criança bem dotada:como os pais podem formar (e deformar) a vida emocional dos filhos. São Paulo: Summus, 1997. PERLS, HEFFERLINE & GOODMAN. Gestalt-Terapia. São Paulo: Summus, 1997. PERLS, F. A abordagem gestaltica e testemunha ocular da terapia. Rio de Janeiro: Zahar, 1977. ZINKER, J. Processo criativo em Gestalt-Terapia. São Paulo: Summus, 2007

Publicado

2014-07-29