WR 1: NOSSO NOME, NOSSO LEGADO

Autores

  • Gladys D'acri
  • Jorgete de Almeida Botelho

Resumo

WR 1: NOSSO NOME, NOSSO LEGADO Gladys Costa de Moraes Rego Macedo D`Acri Jorgete de Almeida Botelho RESUMO Os legados são as expectativas, mais ou menos conscientes, dos pais de que os filhos cumpram aquilo que eles esperam. Uma das formas de manifestação desses legados é através dos nomes que cada pessoa recebe. Baseado nos preceitos da Gestalt-terapia e da Terapia familiar sistêmica, as autoras propõem um workshop para trabalhar pelo viés do conhecimento da história dos nomes dos participantes a conscientização dessa missão familiar. Palavras chave: Gestalt-terapia, legado familiar, Terapia de família PROPOSTA Um filho inaugura a família quando um casal, após a sua união, decide tê-lo. Não importa se explicitamente ou ocasionalmente, mas é o seu nascimento que marca o surgimento daquela família. “Aquele homem e aquela mulher tornar-se-ão pai e mãe e transformarão seus pais em avó e avô.” (GROISMAN; LOBO; CAVOUR, 1996, p. 15). 105 Como parte desse evento familiar, vem à escolha do nome. Há quem diga que o nome pode interferir na história de vida do indivíduo. Outros costumam lhe atribuir um sentido mágico, como se o nome fosse trazer sorte ou azar para a criança. Quantas vezes assistimos os futuros pais tentando adivinhar se seu bebê pede um nome forte ou delicado, bem-humorado ou sério, comum ou diferente? Ou, ainda, querem honrar alguém muito querido, repetindo o nome em seu filho. Essa escolha, embora seja uma das tarefas gostosas da gravidez, muitas vezes é motivo de discórdias entre os pais. Talvez porque marque também as diferenças entre as histórias de suas famílias de origem. Seja por influências culturais ou familiares a responsabilidade da escolha é grande: o nome é uma marca que o filho levará para o resto da vida. Sempre haverá um por que, uma intenção no nome, um desejo a ser realizado. Além de nos identificar e nos diferenciar dos outros tanto judicialmente, quanto socialmente, ele carrega a nossa missão familiar. A missão familiar Nos estudos de terapia de família se sabe que um bebê ao nascer, “vem inserido numa história familiar que compreende várias gerações e recebe uma série de expectativas, delegações” (STIERLIN 1981 apud GROISMAN, 1996, p. 29), “ou projeções dos pais, avós e da família extensiva” (BOWEN 1978 apud GROISMAN, 1996, p. 29). O conceito de missão familiar refere-se aos legados e as lealdades e está associado à história vertical, isto é, a família extensiva, no cruzamento com a família horizontal, a nuclear, e cada membro da família está implicado. Os legados, então, são as expectativas, mais ou menos conscientes, dos pais (descendentes) de que os filhos (ascendentes) cumpram aquilo que eles esperam. Uma das formas do legado se evidenciar é através do nome que cada pessoa recebe. Perguntas como: “quem o escolheu? É um nome composto do pai e da mãe ou dos avós? É uma homenagem a quem? Dentro ou fora da família? Qual o significado etimológico do nome recebido?” (idem, p. 31) fornecem pistas para aumentar a awareness do indivíduo no cumprimento dessa missão familiar. Contribuições da Gestalt-terapia Essa abordagem apresenta a visão de homem como sendo um ser biopsicossocialespiritual se constituindo através das relações e essas acontecem no campo organismo/ambiente, que não é apenas físico, mas social. Segundo Perls (In FAGAN; SHEPHERD, 1980, p. 49), “nós e o nosso meio somos uma só coisa. (...) Não podemos respirar sem ar. Não podemos viver sem ser parte da sociedade. Portanto, não podemos, certamente, observar um organismo como se ele fosse capaz de funcionar em isolamento.” Desse modo, o comportamento humano será considerado uma função do “campo organismo-ambiente”, a partir desta relação homem/meio, e somente poderá ser compreendido no contexto onde acontece. No desenvolvimento do ser humano, dentre as diversas necessidades que a criança possui, a necessidade de confirmação é considerada básica e assumirá uma função saudável toda vez que não entrar em conflito com a satisfação de outras necessidades (AGUIAR, 2005). Se o ambiente lhe proporciona condições de atender essa prioridade, a criança se desenvolverá sem grandes impedimentos. Em contrapartida, segundo D`Acri (2011): “se, para mobilizar seu potencial e garantir a maturação adequada à criança, tiver que superar muitas frustrações, como abrir mão de suas próprias necessidades em prol do que o outro espera dela, ou ser exigida além do que pode lidar, ela desenvolverá com as pessoas formas de estar e de se relacionar assumindo, por exemplo, comportamentos estereotipados; ou o controle para garantir que as frustrações intoleráveis possam não ocorrer outra vez” (p. 104-5). E para Aguiar (2005) a criança poderá ainda “tentar negar, suprimir, distorcer ou transformar suas necessidades para que possa manter a possibilidade de reconhecimento dentro dos contextos dos quais faz parte” (p. 105). Considerações finais Ser nomeado representa uma das primeiras formas de interação com o mundo, então ao confrontarmos a expectativa dos pais com nossas próprias necessidades básicas de confirmação podemos deparar com um conflito. Algumas pessoas passam a vida funcionando “como se” fosse aquela pessoa que suas primeiras figuras de autoridade desejaram que fossem. Outras, por sua vez, apresentam uma postura inversa, contrariando o legado. Fato é que se algum dia acreditou-se na idéia de que somos o que nos aconteceu ou o que nos impuseram, perdemos a oportunidade de mudar o rumo da própria história porque, na verdade, somos o que fizemos com aquilo que nos aconteceu ou desejaram. Este aspecto criativo do ser humano é fundamental para possibilitar mudanças diante dos legados familiares. Baseado nesses preceitos da Gestalt-terapia e da Terapia familiar sistêmica, as autoras propõem um workshop para trabalhar pelo viés do conhecimento da história dos nomes dos participantes a conscientização dessa missão familiar. BIBLIOGRAFIA AGUIAR, L. Gestalt-terapia com crianças. São Paulo: Editora Livro Pleno, 2005. D`ACRI, G.C.M.R. A violência humana sob a ótica da Gestalt-terapia. In: XV Encontro Nacional de Gestalt-terapia. XIII Congresso Brasileiro da Abordagem Gestáltica, 2011, São Paulo. Anais do XV Encontro Nacional de Gestalt-terapia e XIII Congresso Brasileiro da Abordagem Gestáltica. São Paulo: São Pedro, 2011, p. 104-105. PERLS, F. S. (1973). Quatro palestras. In: FAGAN, J.; SHEPHERD, I. L. (orgs). Gestalt-terapia; teoria, técnica e aplicações. Rio de Janeiro: Zahar, 1980. GROISMAN, M.; LOBO, M. V. ; CAVOUR, R. Histórias Dramáticas: terapia breve para famílias e terapeutas. Rio de Janeiro: Editora Rosa dos Tempos, 1996.

Publicado

2014-07-29