MC 3: A ESTÉTICA DO CONTATO

Autores

  • Paulo de Tarso de Castro Peixoto
  • Teresinha Mello da Silveira

Resumo

MC 3: A ESTÉTICA DO CONTATO Paulo de Tarso de Castro Peixoto Teresinha Mello da Silveira RESUMO Inspirados pelo tema do contato, os proponentes do curso desejam aprofundar o tema “Bom Contato” oferecendo algumas reflexões epistemológicas a pretexto de contribuição para a comunidade gestáltica. O curso problematizará a questão do contato e dos caminhos estéticos que contribuem para a sua composição. O curso é inspirado no livro que será lançado neste congresso e que recebe o mesmo nome. A Estética do Contato é a arte das composições que faz da abordagem gestáltica uma experiência que ultrapassa os consultórios, as diversas instituições para poder, por conseguinte, ser uma visão de mundo onde inclui uma visão de homem que atualiza as suas potências, os seus poderes através das suas capacidades de se contatar, contatar o outro, a cidade, o planeta. Palavras Chave: Contato, Estética, Criação. PROPOSTA Inspirados pelo tema do contato, os proponentes do curso desejam aprofundar o tema “Bom Contato” oferecendo algumas reflexões epistemológicas a pretexto de contribuição para a comunidade gestáltica. O curso problematizará a questão do contato e dos caminhos estéticos que contribuem para a sua composição. O curso é inspirado no livro que será lançado neste congresso e que recebe o mesmo nome. Propor uma estética do contato será afirmar que a arte e o mundo artístico estão presentes na Gestalt desde o princípio de sua história. Cada membro do casal Perls, considerados os principais criadores da abordagem, cresceu bebendo do rico potencial da Europa do início do século passado, travando contato com o teatro, a música, a arquitetura e a literatura conforme mencionado em inúmeros livros que citaremos ao longo deste curso. Laura Perls, herdeira daquele momento histórico, em entrevista a Daniel Rosenblatt afirma que a terapia tem mais a ver com arte do que com ciência. “Requiere mucha intuición y sensibilidad y una visión general, es algo muy diferente a una orientación o enfoque basado en la asociación sin sistema. Ser artista supone funcionar de una maneira holística, y ser un buen terapeuta supone lo mismo” (1994, p. 34). Segundo os ensinamentos de Zinker (2001), artista plástico e terapeuta, nosso ofício de acompanhar pessoas leva em conta o caráter científico, disciplinar, filosófico e artístico da Gestalt. Ainda na linha desse grande mestre privilegiamos nesta produção o lado artístico e, desta maneira, a ênfase recai no caráter estético do contato, como aponta o título do livro. No Dicionário Priberam, “estética é a ciência que trata do belo em geral e do sentimento que ele desperta em nós; beleza.” Assim é que experiências e expressões emocionais que as coisas belas provocam nas pessoas falam da estética. O termo estética designa algo como belo, agradável, gracioso, poético. Ele pode ser utilizado em diferentes sentidos e situações. Apreciamos o belo da arte, da vida, dos relacionamentos e das descobertas que fazemos. Alguns autores da abordagem gestáltica se pronunciam sobre o teor estético desta vertente. Wheeler (2001, p. 20) explica que: “Ser estético tem a ver com integridade, conexão, totalidade, compromisso com a forma.” Estético, no dizer de Barbosa (2007, p. 88), refere-se à tendência natural do organismo em buscar a “melhor configuração possível, tendo em vista as condições que o campo organismo/meio oferece em dado momento, ou seja, a ‘boa forma’.” Barbosa também nos remete a Perls (1979), que no seu livro autobiográfico defende que um dos fenômenos da 56 fronteira é a estética. Diz Perls que “tudo que é lindo pertence ao interior da fronteira, e tudo que é feio, ao exterior” (p. 245). Existe uma tendência a vermos o que é nosso como belo, agradável, e o que nos é estranho como feio. Quando não gostamos de algo que está no interior da nossa fronteira de contato, queremos nos desvencilhar, rejeitando-o. Ao se referir ao sentido estético da Gestalt, conforme a citação acima, Zinker (2001) nos lembra que a boa forma é uma qualidade que denuncia um valor do que é bom e o que não é para cada um em dado momento. Apoiados na literatura que trata do caráter estético da abordagem gestáltica ousamos escrever sobre contato, este conceito tão caro para aqueles que são afinados com os pressupostos da abordagem. Neste sentido, unimos nossos esforços a serviço dos nossos objetivos de concretizar este texto e, pelo que se pode supor até aqui, privilegiamos o aspecto formal. Como fazer um bom contato é a nossa questão e, como diria Zinker, está implícito nesta questão um valor ou uma crença estética de que um contato pleno permite uma vida mais plena. O sentimento que nos atravessa neste instante é aquele que nos faz perceber a vida como uma obra poética. A palavra poesia vem do grego poiésis, criação. A Estética do Contato é a obra que se faz poesia, a vida mesma em estado de criação. Como dissemos, o vocábulo contato tem uma conotação toda especial na Gestalt e assim o definimos em outro trabalho (SILVEIRA, 2007, p. 59): A palavra “contato” tem sido utilizada para definir o intercâmbio entre o indivíduo e o ambiente que o circunda dentro de uma visão de totalidade, visto que organismo e meio são um todo indivisível. Contato, desse modo, refere-se aos ciclos de encontros e retiradas no campo organismo/meio. Esse é um dos conceitos mais importantes na corrente gestáltica porém, apesar disso, muitas vezes é visto de forma simplista e, o que é pior, distorcida. Laura Perls (1994) diz que o contato é a experiência do limite entre “eu e o outro”. A experiência do limite faz toda a diferença porque envolve um apelo para que estejamos atentos ao ato de contatar. Lembramos que o contato aqui explicitado envolve relações de troca. Também o casal Polster e Polster se pronuncia sobre o contato e explica que: “O contato é o meio para a pessoa mudar e para mudar a experiência que tem do mundo. A mudança é o resultado inevitável do contato, na medida em que ocorre a assimilação do que é nutritivo e a rejeição do que é nocivo.” (SILVEIRA, 2007, p. 60) Através dos inúmeros encontros com o mundo tecemos nossas histórias. Histórias são como as partituras musicais. São feitas através de uma polifonia de tensões, silêncios, encontros, afastamentos, síncopes, velocidades, movimentos, conjunções, disjunções, confluências, misturas... Se uma sinfonia se faz através de uma polifonia de vozes, de sonoridades, em diversas pautas dos inúmeros instrumentos que vêm a compor, teremos, por sua vez, os contrapontos entre estas pautas. Histórias são feitas pelos pontos e contrapontos que vivemos durante a nossa vida. E são estes contrapontos que fazem o grande sentido de cada história, através dos seus paradoxos, daquilo que nos vitaliza e, por vezes, nos desvitaliza. E a existência se modula quando se encontra, em contraponto, com outras histórias, com outros desejos, com outros afetos, se transindividualizando (SIMONDON, 2005). A estética do contato se relaciona com o nosso potencial criativo ou, como diremos adiante, com a potência artista (NIETZSHE 1992) que cada um de nós possui, manifestando-a nos nossos encontros, nos contatos que vivemos a cada instante. Essa é a potência criativa e criadora de novas formas de ser, isto é, do êthos que construímos para nós nas nossas partituras existenciais ao longo do nosso existir. A estética do contato é a pura afirmação de uma vida que se compõe a cada momento, com tantas gentes, com tantos saberes, com tantas experiências (BOVE, 2010). É a arte das composições que faz da abordagem gestáltica uma experiência que ultrapassa os consultórios, as diversas instituições para poder, por conseguinte, ser uma visão de mundo onde inclui uma visão de homem que atualiza as suas potências, os seus poderes através das suas capacidades de contatar o mundo, o outro, a cidade, o planeta (SPINOZA, 2007). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBOSA, RONALDO MIRANDA. Estética. In: D’ACRI, Gladys; LIMA, Patrícia (Ticha); ORGLER, SHEILA. Dicionário de Gestalt-Terapia: Gestaltês.São Paulo: Summus, 2007. Laurent. BOVEVauvernagues ou le séditieux : Entre Pascal et Spinoza – une philosophie pour la seconde nature. França : Honoré Champion, 2010 Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Disponível em http://www.priberam.pt/dlpo/Default.aspx, acessado em 22/02/2012 NIETZSCHE, F. O nascimento da Tragédia. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. PERLS, Laura. Viviendo en los limites. Valência: Editorial Promolibro. 1994 PERLS, FREDERICK SALOMON. Escarafunchando Fritz: dentro e fora da lata do lixo. São Paulo: Summus, 1979. SILVEIRA, TEREZINHA MELLO. CONTATO. In: D’ACRI, Gadys; LIMA, Patrícia (Ticha); ORGLER, Sheila. Dicionário de Gestalt-Terapia: Gestaltês. São Paulo: Summus, 2007 (59-60) SIMONDON, GILBERT. L’individuation à la lumière des notions de forme et d’information. Grenoble: Millon, 2005. SPINOZA, BARUCH. Ética. Edição bilíngue: latim-português. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2007. WHEELER, GORDON In: ZINKER, JOSEPH. C. A busca da elegância em psicoterapia: uma abordagem gestáltica com casais, famílias e sistemas íntimos. São Paulo: Summus, 2001.

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Publicado

2014-07-29