MC 1: EGO, FOME E AGRESSÃO – MORDER, MASTIGAR, ENGOLIR E ASSIMILAR - IMPORTÂNCIA HISTÓRICA, TEÓRICA E PRÁTICA DO PRIMEIRO LIVRO DE FRITZ PERLS

Autores

  • Priscilla Vianna Soldani

Resumo

MC 1: EGO, FOME E AGRESSÃO – MORDER, MASTIGAR, ENGOLIR E ASSIMILAR - IMPORTÂNCIA HISTÓRICA, TEÓRICA E PRÁTICA DO PRIMEIRO LIVRO DE FRITZ PERLS Priscilla Vianna Soldani RESUMO O curso objetiva apresentar o livro “Ego, Fome e Agressão” como um material valioso para gestalt-terapeutas. Trata-se de obra relevância histórica e teórica, pois é o primeiro escrito por Perls. O acesso, em potuguês, ocorreu em 2002, sendo o último livro de Perls publicado no Brasil. Nele expõe os principais conceitos da Gestalt-terapia de forma ainda não estruturada, torna-os mais próximos da ciência e aproxima a ciencia do humano, facilitando sua assimilação e transformação em conhecimento e prática terapêutica. Constitui material para novos estudos em campos pouco explorados do pensamento de seu autor, tais como: pensamento diferencial, formação da personalidade, metabolismo mental, resistências orais, psicomotoras e emocionais, pensamento quadridimensional, e técnicas de concentração, conceitos pouco explorados na “literatura gestáltica” posterior. PROPOSTA Ego, Fome e Agressão foi o primeiro livro escrito por Frederick Perls, fundador da Gestalt-Terapia, quando ainda psicanalista, mas já caracterizado por ideias de rompimento teórico e prático e lançando as bases dos conceitos fundamentais da futura abordagem. Tinha como objetivo inicial ampliar a teoria psicanalítica e a medicina psicossomática com uma teoria integradora, além de promover mudanças na psicoterapia a fim de aproximar a relação entre analista e analisado e promover o contato. Para ter uma ideia dos fatos até a publicação de Ego, Fome e Agressão, vamos relembrar brevemente a biografia de Fritz Perls: 1920 – Forma-se em medicina – neuropsiquiatria, aos 27 anos; Contracultura e contato com a filosofia de Friedlaender (Creative indifference). 1926 – (33 anos) É analisado por Karen Horney; Trabalha com Kurt Goldstein (Psicologia da Gestalt) e conhece Lore; Interessa-se pelos existencialistas – Buber, Tillich. 1928 – É analisado por Reich. 1929 – Casa-se com Lore (Laura) Posner. 1931 – Ascensão de Hitler – Trabalha nos movimentos de resistência ao nazismo. 1933 – Foge para a Holanda – continua a psicanálise com Karl Landauer; 1934 – Mudança para a África do Sul por indicação de Ernest Jones; 1935 – Funda o Instituto Sul-Africano de Psicanálise. 1936 – Congresso Internacional de Psicanálise na Tchecoslováquia Palestra sobre “resistências orais” – severamente criticada; Começo do rompimento com a psicanálise; 1940 – Manuscrito de Ego, Fome e Agressão; 1942 – Publicação de Ego, Fome e Agressão em Durban, África do Sul; 1946 – Mudança para os Estados Unidos; 1947 – Publicação de Ego, Fome e Agressão na Inglaterra; Anos 50 – Desenvolvimento da gestalt-terapia 1951 – Lançamento de Gestalt-Therapy com coautoria de Goodman e Hefferline; Anos 60 – Grande divulgação da Gestalt-terapia nos EUA; 1969 – Publicações de Ego, Fome e Agressão nos EUA (sem o subtítulo); 1970 – Morre Fritz Perls; 2002 – Publicação de Ego, Fome e Agressão no Brasil. A ideia central do livro, segundo o próprio autor, é a teoria de que o organismo se esforça pela manutenção de um equilíbrio que é continuamente alterado por suas necessidades, e recuperado por sua satisfação ou eliminação. Os objetivos fundamentais de escrever o EFA (iniciais de Ego, Fome e Agressão) são: Ampliar a visão de homem e de mundo introduzindo os conceitos de pensamento diferencial e equilíbrio organísmico e expressar suas revisões da teoria psicanalítica de Freud, dando maior importância às funções do ego, à intencionalidade da consciência, ao instinto de fome; e esclarecer a sua visão de introjeção, projeção, retroflexão, caracterizando a neurose em suas diversas formas de evitação de contato. Apresentar uma teoria nova sobre o desenvolvimento da personalidade e da constituição do EU baseada nos conceitos de assimilação mental como correlato à assimilação do alimento físico e de que o desenvolvimento dental representando o potencial para a destruição, a desestruturação do alimento físico como expressão organísmica da agressão que seria uma função biológica a serviço do instinto de fome e responsável pelo contato emocional entre homem e mundo. Dar instruções detalhadas sobre a técnica terapêutica resultante de suas teorias e prática – a Terapia da Concentração – cujo objetivo é restabelecer o equilíbrio organísmico utilizando a concentração, num sentido ampliado e próprio, como “antídoto” para a evitação de contato produtora de neurose. Perls apresenta um grande número de conceitos novos e outros tantos reformulados por ele – o livro possui 42 capítulos divididos em 3 partes e todos têm pelo menos uma ideia nova ou nova visão de teoria já existente. Iremos dar uma pincelada nos três objetivos principais de Perls que coincidem com as três partes do livro. Pensamento Diferencial e Equilíbrio Organísmico – quebra de paradigmas Para promover esse “salto” do pensamento científico e psicoterapêutico, Perls apresenta a teoria de S. Friedlaender, a “Indiferença Criativa”. O “pensamento diferencial” resume-se: “Todo evento está relacionado a um ponto-zero, a partir do qual ocorre uma diferenciação em opostos”. Para Perls este pensamento similar ao pensamento dialético, mas sem as implicações metafísicas, poderia promover uma maior compreensão dos fenômenos e superar os fracassos do pensamento linear em termos de causa e efeito nas ciências da natureza, mas principalmente nas ciências humanas. E também exige do cientista uma atitude fenomenológica de descrição e inclusão no campo onde observador e fatos observáveis são inseparáveis. Todas as situações, contextos, conceitos se diferenciam em ideias opostas como, por exemplo, luz e escuridão, calor e frio, em que a própria existência de um oposto só faz sentido pela existência do outro. Esta forma de ver os eventos está intrinsecamente relacionada ao pensamento organísmico na medida em que a diferenciação em opostos é feita a partir da awareness do nosso organismo, e o ponto-zero, ponto de indiferença criativa, o centro, é o ponto de equilíbrio organísmico, mas não é um equilíbrio estático porque “a situação”, o “campo” é o fator decisivo de escolha do ponto-zero: “(...) ao sairmos de um banho quente, percebemos como fria a temperatura de um quarto, a qual poderíamos descrever como agradavelmente quente após um banho frio”.(Perls 2002) Metabolismo Mental: uma nova visão do desenvolvimento da personalidade A assimilação mental é um correlato da assimilação de alimento físico é base para todo o entendimento dos processos neuróticos de interrupção do contato, ou “mal” contato, a saber: a confluência, a introjeção, a projeção e a retroflexão. Perls apresenta uma teoria de desenvolvimento da personalidade em estágios onde o referencial é o instinto de fome: a assimilação do alimento e o desenvolvimento dental e a capacidade de desestruturação do alimento para sua assimilação. Já expõe também os possíveis distúrbios de contato que podem ocorrer nestas fases, mas não com uma lógica causal e sim dentro da nova perspectiva organísmica. A formação do EGO, com base na importância do instinto de FOME como instinto mais básico do organismo na busca do equilíbrio homeostático, com o uso da AGRESSÃO expressa no uso adequado dos dentes e de seu potencial para desestruturação como função biológica responsável pelo contato emocional real entre homem e mundo. (Perls 2002) Terapia da Concentração: A Mãe da Gestalt-Terapia Conjunto de maneiras inovadoras de abordar os problemas de saúde presentes em sua prática como psicanalista, a começar pela “concentração no ato de comer”. O objetivo da terapia de concentração é “recuperar a sensação de nós mesmos”. O conceito de concentração para Perls é diferente do uso corrente da palavra que dá a ideia de um esforço deliberado. A concentração perfeita é um processo harmonioso de cooperação consciente e inconsciente se aproximando mais do sentido do termo fascinação. O objetivo dos exercícios de concentração descritos em cada capítulo do EFA é o de despertar o organismo para uma vida mais completa ao atingir um nível de awareness da gestalt biologicamente exigida. Como a concentração positiva obedece às leis do holismo, ao se atingir uma maior awareness de uma função organísmica, por exemplo, o ato de comer, a personalidade como um todo se reorganiza e os benefícios são sentidos em outros aspectos da vida. Ler, estudar, mastigar, desestruturar, debater, assimilar o conteúdo de cada capítulo do EFA representa para os gestalt-terapeutas uma retomada de algo que foi deixado “fora” dessa formação e que é, no entanto tão pertencente à nossa construção como terapeutas e como pessoas que veem nos pressupostos teóricos e na prática da Gestalt-Terapia bem mais que uma abordagem de psicoterapia, mas um estilo de vida. BIBLIOGRAFIA PERLS, F. S. Ego, fome e agressão. Uma revisão da teoria e do método de Freud. São Paulo: Summus, 2002. ______. A abordagem gestáltica e testemunha ocular da terapia. Rio de Janeiro: LTC, 1998. ______. Escarafunchando Fritz: dentro e fora da lata de lixo. São Paulo: Summus, 1979. _______. Gestalt-terapia explicada. São Paulo: Summus, 1977. PERLS, F.S.; HEFFERLINE, R.; GOODMAN, P. Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 1998. STEVENS, J. O. Isto é Gestalt. São Paulo: Summus, 1997.

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Publicado

2014-07-29