MR 4: A QUESTÃO DA AUTENTICIDADE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

Autores

  • Gisele Albuquerque Lacorte
  • Mauricio Guimarães Gomes

Resumo

MR 4: A QUESTÃO DA AUTENTICIDADE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO Gisele Albuquerque Lacorte Maurício Guimarães Gomes RESUMO Este trabalho visa questionar os padrões relacionais de uma sociedade contemporânea e de consumo, em que o parecer e o aparecer tornam-se figuras, colocando conceitos como Ser de forma ultrapassada. É importante refletir sobre a superficialidade das relações presenciais e virtuais, sobre a forma como estamos lidando com a tecnologia e também como estamos lidando com nossa essência e com nossas experiências. Vale apena resgatar valores importantes e procurar uma forma de se relacionar consigo, com o outro e com o mundo de forma mais autêntica. Palavras-chave: Gestalt-Terapia, internet, relações virtuais PROPOSTA A sociedade contemporânea valoriza o parecer, pertencer e também o aparecer. Celebridades instantâneas são lançadas a todo o momento através de reality shows e sites como myspace e twitter transformam indivíduos comuns em pessoas extraordinárias, que angariam milhares de seguidores e fãs. Assim, as indústrias da comunicação e do marketing aplicado possibilitam as pessoas tornarem-se produtos, exibidos em prateleiras para consumo presencial e virtual. Nos últimos anos houve um expressivo crescimento e avanço de tecnologias, tanto da indústria de informática quanto de telefonia. Os aparelhos de telefone celular e a internet fazem parte de um fenômeno recente de novas formas de comunicação que estão se popularizando a cada dia. O fato de não estar conectado pode ser motivo de estranhamento e exclusão social, pois não pertencer às redes sociais ou não estar on line, naturalmente, exclui o indivíduo das novas configurações relacionais. Atualmente, qualquer pessoa pode expressar publicamente suas opiniões e expor sua vida, conteúdos e experiências na rede; fatos que há alguns anos atrás pertenciam somente à esfera privada e passaram a ser exibidos de forma indiscriminada. Exibir pela internet sucessos, felicidade, uma vida social intensa, confere status e equiparação a uma vida de celebridades, que todos admiram. A necessidade de parecer, pertencer e aparecer leva o ser humano a agir de forma massificada e previsível, com a intenção de se enquadrar em parâmetros que parecem escolhidos, mas que na verdade, são impostos ao longo dos anos, deixando para trás conceitos que hoje parecem antiquados como ser: “E quanto a sermos quem somos, por que afinal de contas sermos quem somos quando, em vez disso, podemos ser cem, mil ou cem mil outras pessoas? A própria noção de sermos alguém em uma época de eus tão intercambiáveis, deve parecer ridícula” (CUMMINGS apud ZINKER, 2007, p.94). O prazer de ser e de viver uma vida autêntica, de acordo com os próprios princípios e valores cai em desuso em uma sociedade que privilegia mostrar experiências felizes e vitoriosas, do que vivê-las propriamente. É difícil conseguir ficar no aqui e agora enquanto se pode estar em cinquenta lugares apenas com o click de um botão. No âmbito virtual a comunicação está cada vez mais sucinta, resumida a cento e quarenta caracteres no twitter e a rápidas mensagens no facebook, enquanto antigamente mandava-se cartas longas de duas, três páginas. Atualmente conversa-se com um colega de escola que não encontra há mais de quinze anos, através de mensagens rápidas, como por exemplo : “quanto tempo”, “mande notícias”, “saudades”, “por onde anda”. Vale ressaltar que o contexto virtual, citado acima, é utilizado de forma muito paradoxal: pessoas que estão geograficamente distantes, hoje têm a possibilidade de maior contato, o que anteriormente seria impossível. Certamente, em muitos casos, mesmo um contato virtual é mais válido do que nenhuma possibilidade de contato, mas, muitas pessoas utilizam esse espaço de forma que os contatos físicos estão sendo substituídos pelos virtuais. Ter está sendo mais valorizado do que ser, pessoas passam a comprar carros para sentirem-se poderosas, investem em livros que nunca lerão para parecerem inteligentes, assinam revistas e jornais em que somente as manchetes e títulos são lidos para demonstrar conteúdo. Mulheres compram a qualquer custo beleza e juventude. É como se vivêssemos em uma eterna competição de quem vai ganhar o primeiro lugar, ou a melhor nota, ou mais reconhecimento. Um estudo realizado na Universidade de Utah Valley, dos Estados Unidos, intitulado “Eles são mais felizes e têm uma vida melhor que a minha: O impacto do uso do Facebook na percepção da vida dos outros”, (Chou HT, Edge N HT, 2011), aponta que ao frequentar as redes sociais as pessoas tendem a achar a vida de seus amigos virtuais mais interessantes, movimentadas e divertidas do que a sua, despertando inveja e muitas vezes depreciação de suas próprias conquistas. Como diz Martha Medeiros (2011) em seu texto: “A massacrante felicidade da vida dos outros”, será que vale a pena passar a vida comendo alface para obter um corpo de modelo? Será que a festa no outro apartamento está tão animada assim? Será que a grama do vizinho é realmente mais verde que a nossa? E será que a nossa vida realmente tem graça? A pergunta que se faz necessária é para que tudo isso? Todos os seres humanos desenvolvem o “parecer” em alguma medida, a fim de sobreviver psicologicamente. Ainda assim, bem no íntimo da pessoa a alma clama pelo reconhecimento de que esta pessoa única existe. Almeja o reconhecimento como indivíduo separado e, ao mesmo tempo, como um ser humano semelhante aos demais (HYCNER, 1995, p. 61). Estamos em constante processo de autorregulação organísmica, buscamos no contato com o meio a satisfação de nossas necessidades. Homem e meio funcionam como uma totalidade indivisível, o meio só existe porque há o homem e o homem só existe no meio. Vivemos em um caldo cultural em que ambos se afetam. Para mostrar felicidade e sucesso aos outros muitos indivíduos abdicam de sua própria autorregulação. De acordo com Zinker (2007) buscamos ter ascensão imediata baseada em valores externos propostos por uma sociedade de consumo, que prega que adquirindo produtos ou praticando algumas técnicas mágicas conseguiremos obter a plenitude e autorrealização esperadas. O processo de autorregulação, conforme mencionado acima, de organísmico passa a ser, neste contexto, deverística, ou seja, o organismo passa a se adaptar e satisfazer a situações impostas pelo meio e não por suas necessidades. Desta forma as pessoas deixam de viver um encontro genuíno consigo mesmas e com o outro, transformando relações que poderiam estar baseadas no conceito EU- TU para viverem uma relação EU – ISSO. A orientação tecnocrática moderna obscurece a dimensão central - o status ontológico – da esfera relacional em nossa vida. Desenfatizar do inter-humano resulta em isolamento, alienação e no inevitável narcisismo dos dias modernos, isso cria uma obsessão com o self – a hiperconsciência . A realidade da outra pessoa está escondida por esse foco acanhado. A fobia moderna de intimidade é um reflexo disso. O relacional fica subjugado por uma ênfase excessiva no individual. A ênfase excessiva no individual cria uma separação não somente entre as pessoas em nosso relacionamento com a natureza mas também dentro de nossa própria psique.(HYCNER, 1995, p.23) REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS HYCNER, R. De pessoa a pessoa: psicoterapia dialógica. São Paulo, Ed. Summus, 1995. YONTEF, G. M. Processo, Diálogo e Awareness. São Paulo, Editora Summus, 1998. ZINKER, J. Processo criativo em Gestalt-terapia. São Paulo, Editora Summus, 2007. wp.clicrbs.com.br/.../2011/03/.../a massacrante-felicidade-dos-outros/ MEDEIROS, M. “A massacrante felicidade dos outros”. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22165917CHOU HT, EDGE N, They are happier and having better lives than I am": the impact of using Facebook on perceptions of others' lives. Department of Behavioral Science, 2011, Utah Valley University, Orem, Utah , USA

Publicado

2014-07-29