A Perda do Tu
Desencontros conjugais após a perda de um Filho
Palavras-chave:
luto, existencialismo dialógico, relaçãoResumo
O luto é um processo de construção de significados após uma perda significativa. Considerando que o luto acontece após uma perda, surge uma necessidade de readaptação e ressignificação da perda. Assim, a perda do outro, que consiste numa ruptura relacional – a perda do Tu – carrega em si diversas perdas secundárias, as perdas simbólicas. A ruptura relacional, na perspectiva do existencialismo dialógico, transcende o que comumente é entendido como relação, visto que Martin Buber considera que o ser humano é fundamentalmente relacional, se constituindo e se transformando em suas relações. Para Buber, as relações ocorrem no entre e são compostas por aproximações, afastamentos, inclusão, Eu-Isso e Eu-Tu. No curta, os pais vivenciaram uma relação de encontro com a filha e assumiram atitudes Eu-Tu. Quando ela morre, eles se fecham para a experiência do encontro entre si. Através das ressignificações da perda, eles vão se abrindo, vivenciando o Eu-Tu através do amor pela filha, aceitando e confirmando suas dores de formas não-verbais. Observamos como as personagens estabelecem relações: há relações interpessoais - personagens entre si - e relações intrapessoais - personagens com suas próprias sensações, pensamentos, sentimentos e comportamentos -. Há uma relação interpessoal no momento em que há o diálogo ou evento relacional, como quando se abraçam. Também há a relação intrapessoal quando a personagem vai de encontro ao seu mundo próprio, como quando a mãe se depara com a blusa da filha e chora, explorando seus sentimentos. Esse trabalho tem como objetivo, a partir do conteúdo do curta-metragem “Se Algo Acontecer... Te Amo” aprofundar os conceitos teóricos do Existencialismo Dialógico de Martin Buber e articulá-los com as teorias e discussões sobre luto. Discutir o tema luto torna-se ainda mais relevante após a pandemia da COVID-19, visto que diversas pessoas experienciaram vivências de perdas e, em sua maioria, não tiveram oportunidade de elaborar seus lutos e, segundo Buber, o homem adoece e se cura em suas relações, levantando reflexões sobre a importância das relações, intrapessoais e interpessoais e o sofrimento derivado da vivência existencial profunda da perda de um vínculo significativo. Evidencia-se a partir das discussões a importância das relações na ressignificação da perda, ao mesmo tempo em que afeta as formas de se relacionar, com os outros e consigo mesmo. Assim, temos a perspectiva de que o homem adoece em suas relações – ou a ausência dela – do mesmo modo em que se cura através delas.