Ser-no-mundo de mulheres que vivenciam o luto gestacional
Uma visão fenomenológica-existencial
Palavras-chave:
luto gestacional, gestalt-terapia, perda e vínculoResumo
De acordo com a Gestalt-terapia, o ser humano é um ser social, ou seja, está inserido em um contexto de relações nas quais ele transforma e é transformado. Dessa forma, a identidade de cada ser está implicada nos eventos vivenciados no mundo. Com isso, é possível refletir o luto como um processo de construção e reconstrução de significados por meio de um rompimento de vínculos. Logo, o luto não é vivenciado de forma individual, mas experienciado de forma singular inserido em um contexto de relações. Dessa maneira, é muito importante a reflexão de como a maternidade é relacional, ou seja, a maternidade se dá na relação entre a mãe e a criança. Logo, para a Gestalt-terapia, a maternidade não é compreendida de forma isolada, percebendo somente a mãe, mas o contexto no qual a mãe está inserida, sua relação com o bebê, com sua família, em seu campo, a sociedade na qual está inserida. Desse modo, é possível observar a influência do tempo e espaço em que a mãe está inserida na visão atual da maternidade, por exemplo. Socialmente, é permeada pela idealização do nascimento, da alegria e da vida. Obtêm-se expectativas, identificações e fantasias, na qual a mãe se reconhece e se constitui em sua relação com o mundo, com o bebê e consigo mesma. A perda de um filho implica a perda de desejos, planos e fantasias, frustrações intra e interpessoais e ao processo de luto: quando perde-se um filho, perde-se uma mãe. Desse modo, essa é uma pesquisa baseada no método qualitativo de Giorgi & Sousa, na qual foram realizadas entrevistas com mulheres que vivenciam o luto gestacional. Desse modo, após a coleta de dados, a análise de dados foi realizada a partir da teoria de Giorgi & Sousa, com a finalidade de investigar o significado das falas das participantes em uma perspectiva fenomenológica focada no fenômeno pesquisado. Assim sendo, a compreensão das formas de acolhimento da dor e das vivências se mostrou essencial na relação do luto e da Gestalt-terapia, já que essa abordagem defende o luto como um processo experienciado de diversas formas aos longos dos anos e como a perda de um ente querido não se é superada, mas vista como um processo, extrapolando a concepção de que quem vivencia o luto torna-se um ser doente. Entende-se, logo, que os lutos são vivências a serem compreendidas e não vistas como patologias, confirmando a relevância de que cada perda seja compreendida de forma singular, levando em consideração a subjetividade humana.