Relato de caso de mãe de filho suicida

Autores

Palavras-chave:

enlutado, sobrevivente, Luto por suicídio, Grupo de apoio

Resumo

Apresentamos a vivência de uma mãe do grupo de apoio aos enlutados por suicídio realizado a partir de um projeto de extensão do curso de Psicologia da Universidade do Estado de Minas Gerais. O grupo ocorre remotamente. O caso apresentado é de uma mãe que perdeu o filho único de 32 anos, chamada por ela de “mô de mãe”. Catarina, nome fictício, chega ao grupo desolada após 5 meses da perda do filho único que se mata enquanto ela viajava. Ela criou o filho sozinha após se separar quando ele tinha 9 meses. Os dois tinham uma relação de amor muito forte, dividiam as tarefas simples do dia-a-dia de forma divertida “enquanto eu fazia o café, ele colocava a mesa”, “enquanto ele fazia a massa do pastel, ‘ele adorava esses momentos’, eu fazia o molho”. Sabia que ele passava por uma depressão e relata que ele dizia que morreria após a morte dela para não a fazer sofrer. O grupo é misto, pessoas que perderam alguém por suicídio e aqueles que à tentativas sobreviveram. O contato com a dor de quem quer se matar ajuda essa mãe a ressignificar sua dor. Num primeiro momento o contato dela era com a perda do filho e a depressão vivida. Depois, ao ouvir os sobreviventes de tentativas, Catarina começa a fazer contato com o filho, além do suicida. No aniversário dele fazemos uma dinâmica para que nos apresentasse o filho e não o suicida. Entre o dia de sua morte e o aniversário restava somente um mês. Esta vivência a ajuda a fazer contato com momentos significativos da vida do filho, com momentos de muita alegria entre os dois e desperta nela a consciência de uma vida bem vivida ao lado do filho. Há meses sem sair do quarto e sem abrir as janelas, após 9 meses no grupo, permanece a dor da perda, como ferida “em carne viva”, como ela mesma denomina. Por outro lado, Catarina retoma as atividades diárias de forma paulatina, se mostra ativa no grupo na busca por mostrar para os que tentam se matar o estrago que farão na vida daqueles que ficarão, que há algo que possam fazer para terem uma vida com sentido. Toma consciência de que sua dor alterou a forma como alguns passam a sentir frente ao sofrimento que os levava a querer morrer. Ela hoje é uma pessoa cujas fronteiras de contato se tornaram mais permeáveis para ouvir a dor do outro e dividir a sua. Conseguiu construir com o grupo relações de amizade e busca organizar encontros presenciais entre eles apesar de serem de estados diferentes. Tem retomado o cuidado com o sítio em que passava muito momentos bons com o filho. Assim, no encontro com a angústia do outro tem sido realizado um processo de encontro consigo mesmo, abertura para o outro e, assim, uma contribuição para que as vidas, enlutadas ou vazias, se tornem vidas com sentido.

Biografia do Autor

Liliam, UEMG

Professora adjunta do curso de Psicologia da Universidade do Estado de Minas Gerais. Doutora em Psicologia pela PUC/MG. Especialista em Logoterapia e Análise Existencial e formada em gestalte-terapia por 24 anos.

André, PUC/MG

Psicólogo clínico formado pela PUC/MG

Natália, UEMG

Psicóloga clínica formada pela UEMG/Divinópolis

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Publicado

2025-09-26