LOURENÇO, Giovanna Aversani; SANTOS, Evilin Roumaine Dutra. –” Gestalt-terapia e Grupos infantis de treinamento de Ginástica Rítmica: uma revisão narrativa.”

ARTIGO

Gestalt-terapia e Grupos infantis de treinamento de Ginástica Rítmica: uma revisão narrativa

Gestalt therapy and children's rhythmic gymnastics training groups: a narrative review

Giovanna Aversani Lourenço

Evilin Roumaine Dutra Santos

RESUMO

O estudo é uma revisão bibliográfica narrativa sobre a construção da subjetividade na criança, a criatividade e as práticas esportivas na ginástica rítmica para promover a saúde, sob a perspectiva da Gestalt-terapia. Utilizando bases de dados como Google Acadêmico, Pepsic e Scielo, foram analisados artigos, livros e capítulos de livros publicados nos últimos trinta anos em português, inglês e espanhol. Dos 234 registros iniciais, apenas 29 foram selecionados para análise, destacando a potencial aplicação da Gestalt-terapia na Psicologia do Esporte, especialmente em atividades que enfatizam criatividade, autenticidade e espontaneidade, como a ginástica rítmica. O esporte como campo de construção de subjetividade é relevante no desenvolvimento da criatividade e da saúde na infância. Além disso, neste artigo buscou-se identificar quando a criança deixa de estar saudável e quais as possibilidades para tornar o ambiente esportivo em um ambiente acolhedor, onde ginastas possam se transformar em adultos sem comportamentos enrijecidos, mas sim em seres humanos plurais em busca da plenitude de ser o que se pode ser.

Palavras-chave: Gestalt-terapia, Criança, Psicologia do Esporte, Ginástica Rítmica, Saúde.

ABSTRACT

The study is a narrative literature review on the construction of subjectivity in children, creativity and sports practices in rhythmic gymnastics to promote health, from the perspective of Gestalt therapy. Using databases such as Google Scholar, Pepsic, and Scielo, articles, books, and book chapters published in the last thirty years in Portuguese, English, and Spanish were analyzed. Out of the initial 234 records, only 29 were selected for analysis, highlighting the potential application of Gestalt therapy in Sports Psychology, especially in activities that emphasize creativity, authenticity, and spontaneity, such as rhythmic gymnastics. Sport as a field for the construction of subjectivity is relevant in the development of creativity and health in childhood. Additionally, this article aimed to identify when a child ceases to be healthy and explore possibilities to transform the sports environment into a welcoming space, where gymnasts can evolve into adults without rigid behaviors, but rather as diverse individuals seeking the fullness of being what they can be.

Keywords: Gestalt therapy, Children, Sport Psychology, Rhythmic Gymnastics, Health.

INTRODUÇÃO

A Gestalt-terapia, seguindo sua fundamentação teórico-prática sobre visão de mundo e de homem, percebe a criança como um ser humano em totalidade. A criança deve ser entendida de maneira integral e não fragmentada, a compreensão deve transpassar suas características isoladas e transcender com as suas características de um ser total, bem como as singularidades da totalidade do contexto em que ela faz parte (Aguiar, 2014).

Para a concepção dessa integridade, Ribeiro (2009) expõe o Eu como o que constitui o homem e que jamais será definido como a totalidade da individualidade de alguém, neste estudo o Eu em questão é a criança. O corpo e o Eu existem em relação com o mundo e o ambiente que os cercam, e são partes fundamentais e imprescindíveis na construção dos mesmos. O Eu é indissolúvel, não é uma abstração, assim, a condição humana da criança (essa totalidade de singularidades) é ser sujeito em relação pessoa/mundo e psique/natureza. As duas metades do Eu, corpo e mundo/ambiente formam a pessoa humana, elas são tão relacionais que não é possível dizer onde acaba uma e começa a outra. O ser humano é integral quando de fato integra as dimensões biopsicossocial, espiritual e ecológica (Ribeiro, 2009).

Desse modo, a Gestalt-terapia tem uma visão holística do homem, ele é um ser biopsicossocial pertencente às perspectivas física, afetiva, intelectual, social, cultural, espiritual e ecológica. Para Lilian Frazão (2015), a experiência é com certeza produto da interação organismo/meio, sendo que a mesma surge por meio do contato e da awareness, conceitos fundamentais para a compreensão da abordagem gestáltica. Define-se awareness como a capacidade de perceber o que acontece dentro e fora de si mesmo, independente da dimensão e perspectiva desse ser. Para que a awareness seja plena é essencial que exista o contato, um não existe sem o outro. O contato é o meio pelo qual a pessoa se expressa ao mundo, é ele que proporciona recursos para alcançar a existência e qualidade da existência (Rodrigues, 2011). A expressão toma forma através das funções de contato, são elas: visão, audição, olfato, tato, fala e movimento (Frazão, 2015).

Ao estudar sobre a infância e a criança, aprofunda-se os conceitos da Gestalt-terapia sobre entendimento de ser humano integral. Para Antony (2007), a criança é uma gestalt em desenvolvimento, um ser em constante relação com o mundo, um eterno vir-a-ser. A criança jamais será vista como alguém passivo frente ao seu desenvolvimento e à relação que tem com o mundo, ela transforma o mundo e o mundo a transforma (Barbosa, 2011).

Considerando a criança como essa totalidade em desenvolvimento e todo o potencial que ela possui como bagagem, percebe-se a importância do campo em sua construção subjetiva, além de como o social, o histórico e o cultural são fundamentais. A subjetividade vem do singular, mas se concretiza no coletivo, são os registros coletivos da sociedade que produzem subjetividade e formas de vida (Torre; Amarante, 2001). Para além disso, a subjetividade se determina na incansável produção de encontros que o sujeito, aqui a criança, vive com o outro (Guattari; Rolnik, 1996), e esse outro pode se consolidar em de fato um outro alguém, da mesma forma que também pode se consolidar como um campo, outras realidades, desde que construa efeitos na criança e em suas maneiras de viver.

Assim, com esse artigo pretende-se mostrar como o esporte pode ser entendido como esse outro passível de influência na construção da subjetividade da criança e como pode permitir que a criança se construa e reconstrua a partir das suas experiências vividas com ele. O esporte, aqui aprofunda-se na ginástica rítmica (GR) em específico, será este o meio em que a criança buscará dar sentido às experiências internas que a identificam como ser humano integral. A ginástica rítmica se torna o meio de comunicação pelo qual a criança manifesta sua individualidade perante a vida (Amendoeira, 2008).

A ginástica rítmica é uma manifestação gímnica regulamentada pela Federação Internacional de Ginástica (FIG) que compõe o programa olímpico desde 1984 (Barbosa-Rinaldi; Martineli, Teixeira, 2009). Esse esporte surgiu com a tendência do eurocentrismo no século XIX, mas acompanha as transformações do mundo contemporâneo, e foi consolidado por meio de quatro correntes de desenvolvimento: a dança, as artes cênicas, a música e a pedagogia (Santos; Lourenço, Gaio, 2010). A GR se sustenta na expressividade artística que engloba a fluência do corpo, aliada à música e aos aparelhos manuseados durante a prática. Esta modalidade é de fato a junção do esporte com o artístico, pois requer uma grande complexidade de movimentos corporais e com os aparelhos, a saber: corda, arco, bola, maças e fita. Composta por dois tipos de competição, individual e conjunto, para além dos elementos gímnicos, abrange técnicas de flexibilidade, movimentos de balé clássico e da dança moderna (Cortz; Lourenço, 2019).

“A GR destaca-se enquanto atividade física que permite a expressão corporal por meio da arte, da criatividade e das capacidades físicas, possibilitando aos seus praticantes um desenvolvimento global relacionando os aspectos motor, cognitivo, afetivo e social” (Paz; Lourenço, 2017).

Esporte que demanda bom nível de condicionamento físico, a GR é praticada majoritariamente pela população feminina, porém já existe uma boa movimentação e aceitação por parte da população masculina em muitos países, e embora a FIG não tenha competições oficiais masculinas, a procura pela prática masculina segue crescendo (Barbosa-Rinaldi; Martineli, Teixeira, 2009).

As categorias são divididas por faixa etária, pré-infantil dos 9 aos 10 anos, com ênfase na atenção motora, flexibilidade e agilidade, e Infantil dos 11 aos 12 anos, na qual exige a resistência e maior intensidade de treinamento. A categoria juvenil, dos 13 aos 15 anos, é a fase de especialização esportiva, abordando especificamente treinamento de potência. A partir dos 16 anos, a ginasta passa a fazer parte da categoria adulto, e aqui já se considera alto rendimento com total qualidade técnica. Para se alcançar um esporte competitivo de qualidade, o qual é o foco de discussão deste artigo, é indispensável uma iniciação esportiva coerente, pois nesta fase a criança é motivada a se interessar pelo esporte enquanto campo, “o outro”, e é aqui que a criança passa pelo processo de formação enquanto pessoa (Cortz; Lourenço, 2019).

A motivação em estudar esse campo deve-se a vivência como membro da equipe multidisciplinar de um clube de ginástica rítmica de renome internacional, onde o padrão intrinsecamente é renunciar à individualidade da criança e dela como um todo, para poder considerar principalmente o desenvolvimento do grupo. Assim, a motivação se tornou uma inquietação que precisava ser discutida, externalizada e levada adiante, uma vez que, parece uma estrutura e um entendimento equivocado, já que para um grupo ser saudável, as partes dele também precisam ser e não há como as partes estarem saudáveis se elas não são consideradas como um todo integral. A identificação desse tipo de entendimento controverso é importante para que estruturas e sistemas possam ser questionados e consequentemente modificados e atualizados.

A partir disso, busca-se discutir e responder ao seguinte questionamento, “Como abrir espaço para a individualidade da criança dentro dos grupos de treinamento de ginástica rítmica, a fim de melhorar a qualidade individual e grupal, por meio da interação da Gestalt-terapia e da Psicologia do Esporte?”.

O artigo em primeiro momento apresenta a criança como sujeito visado sob o olhar da Gestalt-terapia, considerando o entendimento de infância pautado por uma teoria de desenvolvimento. Em seguida, a importância do espaço de treinamento na construção da subjetividade da criança é abordada e conceituada. A perspectiva de saúde e doença é contextualizada e detalhada de modo a abordar a criatividade da criança dentro de grupos de treinamento de GR. Por fim, discute-se o grupo enquanto disfuncional dentro do treinamento.

Para poder concretizar essa discussão, este artigo tem como embasamento metodológico a revisão bibliográfica narrativa, uma vez que objetivo foi de compreender o que a produção científica revela a respeito dos estudos existentes até o momento sobre Gestalt-terapia e Psicologia do esporte. Aliás, um dos motivadores desta temática também foi o fato de que durante as pesquisas foi identificada uma lacuna na literatura sobre esse tema, com poucas publicações científicas e discussões que relacionem a Gestalt-terapia como possibilidade de embasamento teórico-prático para o trabalho com esportes de alto rendimento.

Portanto, partindo de uma inquietação pessoal, com esse artigo pretende-se  compreender a criança como ser humano integral em potencial, levando em consideração sua individualidade dentro dos grupos de treinamento de GR, seguindo a ótica da Gestalt-terapia e procurando fazer um paralelo crítico com a perspectiva da Psicologia do Esporte atual. Ao final desse estudo, espera-se motivar e inquietar os profissionais das equipes multidisciplinares que atuam diretamente com esportes de alto rendimento, em especial da ginástica rítmica, a reconhecer a individualidade das crianças como potencializadora.

MÉTODO

A metodologia empregada nesta pesquisa é a revisão bibliográfica narrativa, que objetiva proporcionar a união da bibliografia já existente, ainda que escassa, com a aplicabilidade dos resultados encontrados. A revisão narrativa apresenta uma visão ampla em comparação com os outros tipos de revisões, a seleção dos textos é arbitrária, o que fornece ao autor grande interferência da percepção subjetiva (Cordeiro et al., 2007).

Considerando que a correlação da gestalt-terapia com a psicologia do esporte tendo a criança como sujeito visado é um tema ainda pouco discutido na literatura científica, nota-se o caráter de novidade e inquietação, o que impulsiona e motiva a pesquisa pautada pela revisão narrativa.

Realizou-se de início a análise uma leitura seletiva dos títulos e resumos dos estudos encontrados de acordo com os objetivos da pesquisa, e em seguida, recuperaram-se os artigos selecionados na íntegra a fim de aplicar os critérios de inclusão e exclusão. As bases de dados utilizadas para o levantamento da pesquisa foram: bibliotecas científicas - Google acadêmico, Pepsic e Scielo, repositórios de universidades federais e estaduais do Brasil, bem como artigos originais publicados na íntegra, livros e capítulos de livros.

Partindo das combinações e palavras-chave como “Gestalt-terapia”, “Criança”, “Psicologia do Esporte”, “Ginástica Rítmica” e “Saúde”, os parâmetros de inclusão dos artigos encontrados foram: textos publicados em português, inglês e espanhol; pesquisas publicadas nos últimos trinta anos - uma vez que é o período em que percebe-se o surgimento da ligação do temas relacionados; buscas realizadas entre os meses de janeiro e novembro de 2023, período em que a pesquisa desse artigo foi feita; pesquisas encontradas nos bancos de dados citados que retratassem ao menos um recorte do tema. Já os critérios de exclusão foram: artigos fora do escopo; repetição dos conceitos principais; pesquisas publicadas há mais de trinta anos. As informações em relação aos artigos foram resumidas em uma tabela e os resultados foram sintetizados e discutidos. Foram incluídos na busca artigos publicados no período temporal dos últimos 30 anos (1993-2023). A busca nas bases de dados resultou no total de 234 publicações (154 artigos no Google Acadêmico, 70 no Pepsic, 10 no Scielo). A partir da aplicação dos critérios de inclusão e exclusão foram selecionados para a análise apenas 14 artigos científicos, 9 livros (6 encontrados no Google Acadêmico e 3 em repositórios de universidades) e 6 capítulos de livros (5 encontrados no Google Acadêmico e 1 em repositórios de universidades), os quais são apresentados e sintetizados na Tabela 1 a seguir no tópico sobre os resultados das buscas.

RESULTADOS

Dentre os 14 artigos encontrados e analisados, é possível perceber uma correlação entre os temas criança, saúde e subjetividade. Igualmente entre psicologia do esporte e ginástica rítmica também foi encontrada. Os livros e capítulos de livros foram majoritariamente importantes para a construção dos conceitos necessários para total compreensão do escopo do artigo.

Foram analisados 6 livros da área da psicologia, sendo 5 deles do campo da Gestalt-terapia e 1 escrito por profissionais da Psicanálise. Sobre Ginástica Rítmica foram utilizados 3 livros com autores da área da educação física. Dos 6 capítulos de livros aproveitados, 5 discorrem sobre conceitos da Gestalt-terapia e 1 sobre o funcionamento da modalidade ginástica rítmica.

A criança enquanto praticante da modalidade, inserida em um contexto esportivo, e percebida através do olhar gestáltico é um assunto pouco abordado. Não foi encontrado nenhum texto que fizesse essa correlação especificamente. Foi encontrado apenas um artigo que relacionasse a psicologia do esporte com a fenomenologia, que se configura como uma das filosofias de base da Gestalt-terapia.

Uma vez comprovado pela análise que não foram encontrados registros na literatura existente que correlacionam os fundamentos da Gestalt-terapia com a Psicologia do Esporte tendo enquanto foco a Ginástica Rítmica, a revisão narrativa abre espaço para novas reflexões teóricas. Os resultados dessa pesquisa podem contribuir para a elaboração de novos estudos relacionados a essa área que visem corroborar as especificidades do assunto.

Tabela 1 - Síntese dos artigos selecionados para a construção do artigo, apresentando base de dados, título, autores, fonte, tipo de documento, considerações/temática.

Base de dados

Título

Autores

Fonte

Considerações / Temática

Google Acadêmico

A criança em desenvolvimento no mundo: um olhar gestáltico.

Antony, S.

IGT na Rede, v. 3, n. 4, 2006.

Trata do desenvolvimento infantil, discutindo a postura da Gestalt-Terapia.

Pepsic

O trabalho da arte e a construção da subjetividade no feminino.

Amendoeira, M. C. R.

Revista brasileira de psicanálise, v. 42, n. 4, 2008.

Procura-se discutir questões relacionadas à expressão do feminino e da subjetividade.

Google Acadêmico

A criança sob o olhar da Gestalt-Terapia.

Barbosa, P. G.

IGT na Rede, v. 8, n. 14, 2011.

Aborda a criança de acordo com a perspectiva da Gestalt-terapia, apresenta o processo psicoterapêutico como um fator de cura.

Pepsic

Psicologia do esporte: um olhar fenomenológico para um encontro marcado pela modernidade.

Carvalho, C. A.

Revista da Abordagem Gestáltica: Phenomenological Studies, v. 15, n. 2, 2009.

Discute sobre a relação entre Psicologia, Esporte e Modernidade a partir de um olhar fenomenológico.

Google Acadêmico

Relação entre criatividade e saúde na Gestalt-terapia.

Ciornai, S.

Revista ITGT, n. 1, 1995.

Apresenta e discute a relação da Gestalt terapia com criatividade.

Scielo

Tecendo fios da infância com a filosofia da educação, a Gestalt-terapia e a poesia de Manoel de Barros.

Cysne, J. B.; Frota, A. M. M. C.

Revista do Nufen: Phenom. Interd, v. 9, n. 3, 2017.

Reflete sobre a infância a partir do entrelaçamento das visões oriundas da Filosofia da Infância, Gestalt-terapia e da apresentada na obra do poeta Manoel de Barros.

Pepsic

Em busca de uma boa forma de fazer psicologia do esporte: contribuições da gestalt-terapia

Espírito Santo, A. A.

Revista da Abordagem Gestáltica: Phenomenological Studies, v. 23, n. 1, 2017.

Apresenta a psicologia do esporte a partir de uma abordagem que ainda é raramente utilizada neste campo: a gestalt-terapia.

Pepsic

O cuidado na saúde e na doença: uma perspectiva gestáltica.

Fukumitsu, K. O.; Cavalcante, F.; Borges, M.

Estudos e Pesquisas em Psicologia, v. 9, n. 1, 2009.

Apresenta relações entre a Gestalt-terapia, cuidado, cura e processos de saúde e doença.

Google Acadêmico

A criatividade como potencializadora do processo gestalt-terapêutico.

Lehmkuhl, L.

IGT na Rede, v. 12, n. 23, 2015.

Compartilha reflexões sobre a Criatividade na perspectiva da Gestalt-terapia.

Google Acadêmico

Eu-tu-nós: a dimensão espiritual da alteridade nos ciclos de contato.

Ribeiro, J. P.

Revista da Abordagem Gestáltica: Phenomenological Studies, v. 13, n. 1, 2007.

Estudo teórico sobre a compreensão dos conceitos “diferença e alteridade”

Scielo

A psicologia do esporte: histórico e áreas de atuação e pesquisa.

Rubio, K.

Psicologia, Ciência e Profissão, v. 19, n. 3, 1999.

Contextualiza historicamente a Psicologia do Esporte.

Google Acadêmico

A visão de saúde existencial e a Gestalt-terapia: aspectos conceituais.

Silva, K. J. C.; Rabelo, R. M.; Yano, L. P.

Revista Fenexis: Estudos Fenomenológico-Existenciais, v. 1, n. 1, 2023.

Desenvolve o conceito de saúde existencial com base nos referenciais teóricos da Gestalt-terapia.

Google Acadêmico

Protagonismo e subjetividade: a construção coletiva no campo da saúde mental.

Torre, E. H. G.; Amarante, P.

Ciência e Saúde Coletiva, v. 6, n. 1, 2001.

Reflete sobre as origens e as bases históricas e conceituais da produção de subjetividade do sujeito.

Scielo

Psicologia do Esporte: uma área emergente da Psicologia.

Vieira, L. F. et al.

Psicologia em Estudo, v. 15, n. 2, 2010.

Trata da Psicologia do Esporte, um campo de atuação emergente do psicólogo no Brasil.

Google Acadêmico

Gestalt-terapia com crianças: teoria e prática.

Aguiar, L.

2 ed., Summus, 2014.

Aborda temas como a concepção de ser humano em Gestalt-terapia, o funcionamento saudável e não saudável, a compreensão diagnóstica em Gestalt-terapia com crianças.

Portal de Periódicos UEM

Ginástica Rítmica: aspectos histórico-culturais e técnico-metodológicos dos aparelhos.

Barbosa-Rinaldi, I.; Martinelli, T. A. P.; Teixeira, R. T. S.

Eduem, 2009.

Contribui com a formação acadêmica no que concerne à ginástica rítmica como manifestação de cultura corporal.

Repositório Cogna

Exercícios compensatórios na ginástica rítmica: possibilidades de reduções de lesões.

Cortz, R. V.; Lourenço, M. R. A.

Fontoura, 2019.

Reflete sobre a realidade cotidiana de ginastas que treinam incessantemente.

Google Acadêmico

Dicionário de Gestalt-terapia: Gestaltês.

D’acri, G.; Lima, P.; Orgler, S. (org.).

Summus, 2012.

Apresenta os principais conceitos da Gestalt-terapia, mantendo-se fiéis à conceituação dos fundadores dessa abordagem.

Google Acadêmico

Micropolítica: cartografias do desejo.

Guattari, F.; Rolnik, S.

Vozes, 1996.

Analisa sobre cultura, história, subjetividade, política, desejo e minorias.

Repositório Cogna

Flexibilidade na ginástica rítmica: manual de procedimentos e acompanhamentos.

Paz, B.; Lourenço, M. R. A.

Fontoura, 2017.

Foi elaborado com a expectativa de atender as fases de iniciação e do treinamento da modalidade ginástica rítmica.

Google Acadêmico

Ciclo do contato: temas básicos na abordagem gestáltica.

Ribeiro, J. P.

Summus, 2007.

Aprofunda sobre determinados temas caros à abordagem gestáltica e também introduz novos conceitos, sempre procurando ampliar o didatismo de suas explicações.

Google Acadêmico

Holismo, ecologia e espiritualidade: caminhos de uma Gestalt plena.

Ribeiro, J. P.

Summus, 2009.

Debate algumas demandas fundamentais do mundo moderno e fornece embasamento aos psicólogos para lidar com as disfunções psicológicas.

Google Acadêmico

Introdução à Gestalt-terapia: conversando sobre os fundamentos da abordagem gestáltica.

Rodrigues, H. E.

Vozes, 2011.

Apresentando suas bases filosóficas e teóricas correlacionadas com exemplos práticos de casos clínicos.

Google Acadêmico

Ajustamento criativo e hierarquia de valores ou necessidades.

Cardella, B. H. P.

In: FRAZÃO, L. M.; FUKUMITSU, K. O. (org.). Gestalt-terapia: conceitos fundamentais. Summus, 2014.

Contextualiza os conceitos de ajustamento criativo e hierarquia de valores ou necessidades pela ótica da Gestalt-terapia.

Google Acadêmico

Relação, atitude e dimensão ética do encontro terapêutico na clínica gestáltica.

Cardella, B. H. P.

In: FRAZÃO, L. M.; FUKUMITSU, K. O. (org.). A clínica, a relação psicoterapêutica e o manejo em Gestalt-terapia. Summus, 2015.

Assinala a importância de uma clínica que ofereça hospitalidade à dimensão do Mistério que constitui o homem, importante atitude e tarefa ética no mundo contemporâneo.

Google Acadêmico

Psicoterapia com crianças.

Fernandes, M. B.

In: FRAZÃO, L. M.; FUKUMITSU, K. O. (org.). Modalidades de intervenção clínica em Gestalt-terapia. Summus, 2016.

Apresenta as especificidades da psicoterapia com crianças na abordagem gestáltica.

Google Acadêmico

Compreensão clínica em Gestalt-terapia: pensamento diagnóstico processual e ajustamentos criativos funcionais e disfuncionais.

Frazão, L. M.

In: FRAZÃO, L. M.; FUKUMITSU, K. O. (org.). A clínica, a relação psicoterapêutica e o manejo em Gestalt-terapia. Summus, 2015.

Conceitua o diagnóstico processual e os ajustamentos criativos funcionais e disfuncionais.

Repositório Unijales

Ginástica Rítmica - da iniciação ao treinamento de alto nível.

Laffranchi, B. E.; Lourenço, M. R. A.

In: GAIO, R.; BATISTA, J. C. F. (org.). A ginástica em questão: corpo e movimento. Tecmedd, 2006.

Contextualiza a modalidade da ginástica rítmica desde a categoria de iniciação até o alto rendimento.

Google Acadêmico

Autorregulação organísmica e homeostase.

Lima, P. V. A.

In: FRAZÃO, L. M.; FUKUMITSU, K. O. (org.). Gestalt-terapia: conceitos fundamentais. Summus, 2014.

Apresenta e discorre sobre os conceitos de autorregulação organísmica e homeostase pela ótica da Gestalt-terapia.

Como principal resultado, considera-se a possibilidade de maior envolvimento da abordagem Gestalt-terapia no contexto esportivo, pois pode colaborar em especial com o olhar fenomenológico voltado para a subjetividade, entendendo que ao respeitar a individualidade, abre-se espaço para a criatividade, o que promove crianças mais saudáveis no campo. A seguir discutiremos com mais detalhes as problemáticas levantadas.

DISCUSSÃO

Compreensão gestáltica do desenvolvimento infantil

A atual compreensão de infância e de desenvolvimento humano foi construída historicamente por meio das relações humanas, e divide-se em duas perspectivas, a biológico-evolutiva e a pedagógico-normativa. Ambas as teorias apresentam a infância como o único momento em que o ser humano está em desenvolvimento, o que consequentemente o torna passivo. Em contrapartida, a Gestalt-terapia, enquanto abordagem teórico-prática, compreende o ser humano como um ser no mundo em constante desenvolvimento durante toda a vida e não apenas na infância (Barbosa, 2011).

A fundamentação teórica da Gestalt-terapia agrega conceitos da Psicologia da Gestalt, Teoria organísmica, Teoria Holística e Teoria do Campo, o que torna contraditório relacioná-la a uma visão reducionista e determinista de ser humano, em que a criança se desenvolve de maneira cristalizada apenas seguindo fases sucessivas. Por outro lado, mesmo seguindo o campo teórico da fenomenologia, o gestalt-terapeuta reconhece que se faz necessário um modelo que compreenda, cuide e trate a criança como um todo (Antony, 2007). Sendo assim, a Gestalt-terapia compreende a criança de maneira holística, ou seja, como uma totalidade, entretanto, considerar o ser humano como uma totalidade não quer dizer que tudo será percebido o tempo todo e todo o tempo (Aguiar, 2005).

Segundo Sheila Antony (2007), a criança é uma gestalt em desenvolvimento, a qual percorre um caminho de diferenciação único e subjetivo, sendo vista como um ser em constante relação com o mundo em que habita. Assim, a perspectiva de causalidade apresentada pelas outras teorias é refutada, pois a criança e o mundo estão se relacionando o tempo todo (Barbosa, 2011).

“Ontologicamente, somos um ser-de-relação, ser do contato e para o contato. Nascemos da interação, da comunicação, do encontro com um outro ser. Desde o útero, estabelecemos uma relação de reciprocidade em que somos afetados e afetamos; somos influenciados e influenciamos um outro. O desenvolvimento humano entrelaça diversas histórias de vida, sendo resultado de múltiplas coexistências, onde todo fenômeno psicológico emerge da corregulação entre dois ou mais organismos” (Antony, 2007).

A criança é um constante vir-a-ser, é um ser relacional, não é apenas quem sofre mudanças, mas é também quem as provoca. Ela transforma o mundo e o mundo a transforma. O desenvolvimento é contínuo, mesmo que o mundo não tenha grandes alterações, a criança se altera em dimensões biopsicossocial e espiritual (Barbosa, 2011). Jamais será vista como passiva frente ao mundo (Aguiar, 2005).

Portanto, o desenvolvimento da criança como sujeito visado, pela ótica da Gestalt-terapia, parte de uma perspectiva holística e relacional. A criança é um ser de contato, de relação e de trocas, que se desenvolve a partir de encontros e desencontros com outras pessoas. Como diz Barbosa (2011, p. 8), “É nesse contato com o mundo que nos atualizamos, descobrimos nossas potencialidades e limites, e procuramos satisfazer nossas necessidades [...]”.

Construção e compreensão da subjetividade na criança

No contexto histórico da Psicologia, o conceito de subjetividade se desenvolve primeiramente dentro da psicanálise, com um sentido de interioridade. Na primeira metade do século XX, o termo passa para o domínio das Psicologias em geral e somente meio século depois a subjetividade passou a ser vista pelos âmbitos históricos, sociais e políticos, e entendida como problematização do conceito “identidade” (Prado Filho; Martins, 2007).

A compreensão de subjetividade exige uma superação do tradicional, além de uma superação das polaridades convencionais como: o individual – social, cognitivo – afetivo, consciente – inconsciente, pois não se trata de competências cristalizadas e sim processos complexos. A subjetividade é plural e polifônica (Veronese, 2009), ou seja, ela é produzida por uma multiplicidade de eventos que ocorrem simultaneamente em harmonia, desse modo, é o processo responsável por tornar o que é universal em único e tornar o sujeito pertencente ao gênero humano (Gonzalez Rey, 2001).

A subjetividade é potencializadora, é produção humana, e faz com que o sujeito seja capaz de se superar, de provocar alternativas que antes eram inexistentes em seu próprio desenvolvimento, dessa forma ela se expressa na instância pessoal e também nas relações sociais (Goulart, 2013).

Para a Gestalt-terapia, o conceito ligado diretamente à subjetividade é o Self, que segundo o Dicionário de Gestalt-terapia (D’Acri; Lima; Orgler, 2012) é a essência fenomenológica da constituição de subjetividade, a qual é desde sempre dita como enraizada nas relações. O Self se torna consciente em sociedade, no encontro social com os outros, assim o ser humano só se dá conta da sua identidade individual quando percebe os outros iguais a ele, ou seja, a consciência dos outros selfs é importante para a consciência do seu próprio self, eles procedem de um mundo, um meio ambiente, um universo inteiro (Smuts, 1996[1926], apud Ribeiro, 2009).

Seguindo esse raciocínio, percebe-se que para a Gestalt-terapia a singularidade das experiências e a possibilidade do surgimento do novo frente a vida, realçam a importância dos encontros e das relações que o ser humano trilha ao longo de sua existência, é a relação presente no encontro que fundamenta este ser humano integral. Quando falamos de uma criança, que está em constante desenvolvimento, a abordagem gestáltica a compreende como resultado das influências ambientais, sociais e culturais, além da potencialidade e aleatoriedade dos acontecimentos que a rodeiam, sejam estes herdados ou por consequência das suas relações (Antony, 2007).

A criança em seu processo de construção de subjetividade é percebida como um ser de relação, pois está em constante ligação com o mundo que a cerca. Segundo Barbosa (2011), o ser humano, criança, está em constante processo de transformação, e consequentemente em uma incansável busca do vir-a-ser. Além disso, quando existe uma troca genuína entre o meio e a criança, ela transforma o meio na mesma medida em que é transformada por ele (Aguiar, 2014).

O mundo existe para além da dimensão física e material, ele se constrói como campo perante uma dimensão vital e outra humana, por meio de uma simbolização de sentidos e significados constrói-se uma realidade sociocultural (Alvim, 2016). Desse modo, a subjetividade é constituída em registros coletivos da sociedade e da cultura por meio de mecanismos diversos que vão definir os modos de existência, produzindo consequentemente subjetividades e formas de vida (Torre; Amarante, 2001).

É importante enfatizar que a subjetividade não é passível de totalização, já que não é centralizada no indivíduo unicamente, o que não determina posse e sim uma incansável produção dos encontros que os sujeitos vivem com o outro (Guattari; Rolnik, 1996). Este outro pode ser simplesmente o outro social, mas pode também significar outras realidades, outros eventos, desde que construa efeitos nos sujeitos e nas maneiras de viver, sendo que esses efeitos se difundem nos componentes da subjetividade em meio ao campo social (Mansano, 2009).

A importância do espaço de treinamento na construção da subjetividade da criança

A modalidade esportiva ginástica rítmica pode ser considerada como o outro, como constituinte de subjetividade, uma vez que, partindo do que já se viu sobre sua composição e prática, as crianças implicadas nesse meio são capazes de se construir e de se reconstruir a partir de suas experiências.

Segundo Alvim (2016), a Gestalt-terapia abarca organismo e ambiente como uma Gestalt, ou seja, uma configuração de partes indissociáveis. Logo, a existência desse organismo se dá na relação propriamente dita com o ambiente e esses dois juntos vão compor o que se entende por campo, onde a existência é o contato.

Este artigo traz como campo o espaço de treinamento desportivo da ginástica rítmica, o qual se contextualiza como um conjunto de procedimentos planejados que orienta uma ginasta em direção ao seu desenvolvimento pleno dentro da modalidade, explorando a alta performance em competições por meio de suas habilidades físicas, técnicas e psicológicas. Desse modo, um bom espaço de treinamento desportivo de alto rendimento é composto pela harmonia dessas quatro preparações fundamentais: física, técnica, tática e intelectual/psicológica (Laffranchi; Lourenço, 2006). Para colocar em prática esse treinamento, além da presença das ginastas, se faz necessária uma boa equipe multidisciplinar composta por coordenador(a), treinador(a), auxiliar técnico(a), professor(a) de ballet, fisioterapeuta, preparador(a) físico, psicólogo(a), nutricionista e médico(a), levando-se em consideração a existência de condições financeiras para a manutenção de um grupo completo de profissionais necessários para o acompanhamento de um esporte de alto rendimento.        

Saúde pela ótica da Gestalt-terapia

A Organização Mundial de Saúde (OMS) conceitua saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade". Essa definição rompeu paradigmas ao abordar o ser humano em sua dimensão biopsicossocial, ou seja, ser saudável começou a ser visto como algo para além da ausência de doença. Porém, ainda se trata de uma idealização, pois se torna algo inalcançável ser de fato saudável (Silva, Rabelo, Yano, 2023).

A Gestalt-terapia, como uma abordagem existencialista e fenomenológica, rompe com a perspectiva dualista de corpo e mente, e passa a compreender saúde como um conceito de maior amplitude em relação ao modelo biomédico. Pela ótica gestáltica, a saúde é vista como movimento para a vida, movimento este que produz trocas, principalmente entre e nas relações do sujeito consigo mesmo, com o outro e com o mundo. Saúde é um fenômeno singular próprio do ser humano, esse visto como uma totalidade, o que contradiz a possibilidade de fragmentação do todo em detrimento das suas partes (Silva, Rabelo, Yano, 2023).

Partindo dessa perspectiva existencialista, os conceitos de saúde e doença estão propriamente ligados ao modo de ser e existir no mundo (Silva, Rabelo, Yano, 2023). Em Gestalt-terapia, entende-se a doença como relacional, ou seja, ninguém adoece sozinho, as alterações de comportamento e os sintomas estão no campo, o mundo adoece o homem e o homem adoece o mundo. Para Antony (2007), “Doença significa interrupções ou bloqueios do contato que constituem mecanismos de defesa que visam inibir a consciência de sentimentos, pensamentos, comportamentos que geram dor, sofrimento, ansiedade […]”.

Segundo o Dicionário de Gestalt-terapia (D’Acri; Lima; Orgler, 2012), os conceitos de saúde e doença são abordados de maneira dialética, já que para reconhecer um comportamento como sendo saudável ou patológico, é necessário atentar-se a relação que ele está tendo com o mundo. Assim, Gestalt-terapia percebe saúde e doença como formas da pessoa dar sentido à sua existência. A pessoa se relaciona com o mundo e ao tentar se adaptar a ele pode acabar cristalizando ou flexibilizando seus meios de se relacionar de modo criativo (Fukumitsu, Cavalcante, Borges, 2009). A pessoa em adoecimento será vista pelo gestalt-terapeuta em sua integralidade e não apenas em sua doença (Silva, Rabelo, Yano, 2023).

Ao não falar apenas de doença, a Gestalt-terapia ressalta tudo o que ocorre em um campo e toda relação espaço/tempo que presentemente configuram a realidade do sujeito. Quando a pessoa é capaz de escolher espontaneamente a melhor maneira e o melhor momento para entrar em contato com o mundo que habita, ela está sendo saudável. Assim, cada vez que se percebe que a pessoa reconhece sua capacidade, o mundo e as infinitas possibilidades de escolhas que possui, pode-se dizer que há um sinal de saúde (Rodrigues, 2011).

“O planeta (...) é onde você está sentado agora, e “saúde” é a maneira com a qual você se relaciona com ele, quando visa o equilíbrio organísmico (...) - uma possibilidade de autorregulação satisfatória com o meio” (Rodrigues, 2011, p. 47).

Sabendo que a pessoa está sempre inteira em seu campo, e ao dizer isso, entende-se inteira por tudo o que ela já foi e tudo o que ela pode vir a ser, a autorregulação se faz necessária para possibilidade de ser saudável. Segundo Lima (2014), a autorregulação é como uma autoatualização que o organismo está sempre buscando para lidar com o meio, como um modo de dar continuidade e estabilidade às condições estáveis no íntimo do corpo humano. É por meio da autorregulação que a criança se permite organizar e buscar modos de satisfazer-se de necessidades imediatas dentro do meio.

Para alcançar a autorregulação diante ao meio, o conceito de ajustamento criativo torna-se fundamental. Este surge quando a pessoa esbarra com a frustração, “sem frustração não existe necessidade, não existe razão para mobilizar os próprios recursos, para descobrir a própria capacidade” (Perls, 1977 apud Lima, 2014). Beatriz Cardella (2014) define poeticamente ajustamento criativo como “uma criatividade que ajusta e um ajustamento que cria, polaridades que se inter-relacionam e compõem a totalidade”. É uma busca pela superação dos dualismos e ao superá-los se alcança a transcendência. Assim, ajustar-se criativamente é colocar sua própria referência nos acontecimentos da vida, atualizando (autorregulando) as potencialidades singulares do ser humano.

Portanto, o ajustamento criativo, podendo ser funcional ou disfuncional, é de fato a capacidade que o ser humano tem de se “pessoalizar”, ou seja, de tornar seu os encontros e experiências que ocorrem com sua própria originalidade, processo que acontece continuamente no campo organismo/meio. Para acontecer esse crescimento criativo pessoal é imprescindível a função do contato, ou seja, meios de atingir autoconsciência, pois é ele quem reconhece as diferenças, além de que todo contato é um ajustamento criativo do organismo com seu ambiente (Cardella, 2014).

Considerando que um ajustamento criativo que ocorre em plena fronteira de contato, se torna funcional quando o sujeito encontra habilidades de se inter-relacionar criativamente com o seu campo, mantendo uma harmonia com o outro, é primordial que se dê a devida relevância ao sentido de criatividade (Frazão, 2015). Para Ciornai (1995), a Gestalt-terapia estende criatividade à saúde, pois para chegar a uma concepção gestáltica saudável, precisa-se de um funcionamento criativo, assim, ajustamento criativo e contato implicam em um contato criativo que resulta em um ser humano integral saudável.

“Em contrapartida, quando há fluidez na autorregulação organísmica, alicerçada por um contato satisfatório, presente e inteiro, o organismo relaciona-se criativamente com o meio e cria ajustamentos criativos saudáveis. Cremos também que esta última seja a maneira mediante a qual as crianças pequenas se relacionam com o mundo, numa relação de contato pleno, ao contrário do adulto que foi sufocando o seu modo de ser mais próprio” (Cysne; Frota, p. 48, 2017).

Em consonância com toda a construção de conceitos que se fez até agora neste artigo, quando falamos sobre criança, o que vai diferenciar o ajustamento criativo funcional e disfuncional é a forma como ela vai interagir com o mundo, para assim se autorregular. Nessa interação surgem as necessidades, para satisfazê-las e tornar a relação com o meio saudável, é preciso se organizar e perceber a hierarquia das mesmas, frequentemente sua principal necessidade é a de se confirmar pelo outro (Aguiar, 2014).

A criança que preenche esse campo que é o treinamento desportivo de ginástica rítmica é um todo compondo outro todo, em fase de crescimento e reconhecimento. Na GR, o início da prática esportiva se dá dos 5 aos 8 anos de idade e nessa fase o grande objetivo é desfrutar de todos os benefícios do esporte, como melhora de postura, contribuições estéticas, facilidade para se expressar por meio de movimentos, graça, elegância e consequentemente benefício para a saúde em geral (Laffranchi; Lourenço, 2006).

As crianças em processo de iniciação passam por variadas atividades motoras, trabalhando sempre noções de tempo e espaço, ritmo e coordenação com os aparelhos específicos da modalidade, para que se alcance um progresso harmônico e futuramente esteja apta a seguir o caminho do alto rendimento ou não. Todo esse processo inicial vai facilitar seu aperfeiçoamento, pois ao chegar na fase de competição, ou seja, no alto rendimento, o treinamento será sistematizado e extremamente planejado, passando por contínuos processos de repetições e correções detalhadas em cada parte do seu treino (Laffranchi; Lourenço, 2006). Um dos objetivos dessa sistematização de treinamento é máxima eficiência e mínimo esforço, mas será que é possível estar saudável em um processo rígido como esse?

Considerando as longas horas de treinamento e o desgaste físico, se torna imprescindível que o apoio psicológico esteja presente nessa sistematização de treino, principalmente quando se nota o desencadeamento de ansiedade, medo e cobrança por conta das competições e vontade de vencer (Cortz; Lourenço, 2019).

“... É fundamental a preparação psicológica como forma de minimizar as sequelas deixadas pela árdua disciplina que requer o treinamento em níveis elevados de competição e também como forma de educar a ginasta para um trabalho que exige grande vontade de sacrifício e espírito de superação, sendo imprescindíveis para que a ginasta não desanime à medida que avancem os processos de treinamento” (Cortz; Lourenço, p. 31, 2019).

Retomando a compreensão de que a criança é um ser em constante transformação, a habilidade que ela tem de se reorganizar mediante a sua relação com o meio de maneira criativa e cada vez mais singular, é o que a permite ser saudável mesmo em um processo exigente como o treinamento de ginástica rítmica. Compreender a criança como criativa e capaz de se reconstruir conforme o meio é o que a faz possuir infinitas possibilidades de ser-no-mundo (Lehmkuhl, 2015). Mesmo que se manifestem dificuldades nessa relação da criança com a ginástica rítmica, é por meio dos ajustamentos criativos que ela se autorregula e busca a melhor configuração possível para cada momento e cada contexto (Aguiar, 2014).

Identificação de quando a criança deixa de ser saudável no treinamento

O ajustamento criativo é um fenômeno que se divide em funcional e disfuncional. No capítulo anterior abordou-se o seu sentido funcional e saudável, ou seja, aquele que ocorre na fronteira de contato e o indivíduo se vê como capaz de se relacionar criativamente com o meio, visando sempre atender às suas necessidades, sem perder o respeito pelo outro e a awareness de suas necessidades (Frazão, 2015). Agora se faz necessário o entendimento do ajustamento criativo disfuncional, uma vez que, ao compreender o que é e como é estar saudável, é preciso também assimilar o que é o oposto e quando essa relação deixa de apresentar um bom funcionamento.

Lilian Frazão (2015) define ajustamento criativo disfuncional como quando a tentativa de se expressar e se “pessoalizar” falha repetidamente a fim de evitar o conflito dentro da relação organismo/meio, o que consequentemente faz com que a hierarquia das necessidades seja anulada. Portanto, para a Gestalt-terapia a cristalização do fluxo fundamental entre as relações é um processo não saudável e disfuncional.

A disfuncionalidade do indivíduo, aqui a criança, surge de uma incapacidade de atingir a satisfação vivida por ela diante a uma ação esperada pelo meio, assim quando ela precisa realizar tal ação, ela paralisa. A saúde falha quando a criança não busca outras soluções frente a paralisação, ela fixa-se na frustração e estanca o fluxo da autorregulação que a permitia o acesso à criatividade (Lima, 2014).

        Assim, o que aponta o caráter não saudável de um ajustamento criativo é o uso que a criança faz dele, a frequência com que ele ocorre e, principalmente, a impossibilidade de a criança ajustar-se de forma diferente nas mais diversas situações, fazendo que ela generalize poucas formas de ajustar-se a um número grande de situações” (Aguiar, p. 98, 2014).

Desse modo, ao retomar o treinamento de ginástica rítmica como campo, o ajustamento criativo da criança ali presente passa a ser disfuncional quando as demandas do meio são sempre as mesmas, o que faz com a criança perceba uma única forma de se expressar. Quando a criança não tem a chance de rever suas escolhas e cristaliza uma única forma de lidar com o meio, a fluidez da satisfação e autorregulação é quebrada e o grupo que compõe o treinamento se torna um ambiente não saudável (Aguiar, 2014).

Muitas vezes as necessidades da criança, seja por estar em processo de constante reconhecimento ou não, não são totalmente compreensíveis para ela, o que consequentemente gera um contato empobrecido com a sua originalidade, com o espaço de treinamento e com as pessoas que ali estão. Dessa forma, Ciornai (1995) afirma que as crianças tendem a se retrair quando estão com pessoas ou em um meio desfavorável, pois frequentemente a pressão e as cargas negativas costumam ser tão elevadas que a criança acaba desenvolvendo defesas que limitam sua existência. Porém, sempre compreendendo tais defesas como o melhor que a criança pode oferecer em tal situação específica.

Neste contexto a criança é figura, enquanto o treinamento de ginástica rítmica é o fundo, para a Gestalt-terapia o fundo sempre contextualiza a figura, e quando a criança está se regulando por meio de ajustamentos criativos disfuncionais, os sintomas emergem nesta relação. Para Barbosa (2011), os sintomas são modos criativos de lidar com a situação, porém a sobrecarga que eles geram exige uma energia excessiva da criança. Sendo assim, os sintomas são alertas para os responsáveis pelos grupos de treinamento em ginástica rítmica, pois avisam que algo não está indo bem nas principais relações da criança, o que consequentemente faz com que o grupo não vá bem também.

Desse modo, quando a criança adoece dentro do grupo de treinamento, os sintomas são para a Gestalt-terapia como os mecanismos de defesa, que podem ser facilmente percebidos pelos participantes da equipe multidisciplinar do grupo, são eles: fixação - a singularidade da criança deixa de existir para ela frente a do grupo, dessensibilização - a criança deixa de saber o que sente, deflexão - nem a criança e nem o grupo existem, ela simplesmente evita o contato com ele, introjeção - para a criança o grupo existe, mas ela não, projeção - a criança existe e ela mesma cria a singularidade do grupo, proflexão - a criança quer que o grupo seja exatamente como ela deseja, egotismo - a criança entende que só ela existe, o grupo não, e por fim a confluência - a criança só existe com o grupo (Ribeiro, 2007).

Psicologia do Esporte

Os conceitos da Gestalt-terapia apresentados corroboraram com a discussão proposta pelo artigo. No entanto, levando em consideração que o campo aqui explorado é o treinamento esportivo na modalidade ginástica rítmica, faz-se necessária a contextualização da Psicologia do Esporte, uma vez que, é a área notoriamente dedicada a esse campo.

A Psicologia do Esporte surge no século XX inserida em uma perspectiva de modernidade e utilização do corpo como força de trabalho. Primeiramente foi definida como um estudo científico de pessoas e comportamentos dentro do meio das atividades físicas, além da aplicação de tal conhecimento. Porém, com o tempo e dada sua evolução perante o mundo, hoje entende-se Psicologia do Esporte de uma maneira mais intrínseca, tal como uma especialidade voltada para compreensão do indivíduo, a qual o auxilia a desenvolver e aprimorar suas habilidades pessoais e psíquicas no campo das atividades físicas (Carvalho, 2009).

Embora exista uma evolução, a demanda é diretamente proporcional e a intervenção adequada se torna difícil, e assim a Psicologia do Esporte continua sendo uma área de atuação emergente (Rubio, 1999).

Segundo Katia Rubio (1999), o profissional da psicologia do esporte tem três possibilidades de atuação: o clínico, aquele que atua com atletas e/ou equipes esportivas em clubes ou seleções; o pesquisador, estuda o conhecimento sem intervir diretamente; e o pesquisador, o qual desenvolve a disciplina da psicologia do esporte na área acadêmica.

Atualmente, Vieira et al. (2010) descreve o campo de atuação dessa abordagem como dividido em pesquisa e intervenção, na área da pesquisa são considerados os seguintes temas: procedimentos diagnósticos, avaliações esportivas e medidas de intervenção psicológica para competição e treinamento, enquanto na área de intervenção os temas são: psicodiagnósticos, programas psicológicos de treinamento mental, juntamente com medidas de aconselhamento e acompanhamento (Vieira et al, 2010). Neste artigo, a intervenção é a área mais importante, pois é ela que trabalha diretamente com o desenvolvimento da criança que compõem esse esporte.

“​​Com relação ao papel do psicólogo do esporte dentro de uma equipe esportiva (...) que este profissional deve ter funções bem definidas, como assessorar, informar, ensinar e ser agente de transformação. Assim, ao psicólogo do esporte cabe clarificar a técnicos, dirigentes, atletas e demais envolvidos no contexto do esporte e do exercício físico os princípios que norteiam o comportamento humano. (...) especialistas em Psicologia do Esporte devem estar empenhados em melhorar o desempenho dos atletas, em aconselhá-los, reabilitá-los de lesões e promover o exercício físico para melhorar a saúde dos indivíduos” (Vieira et al, p. 398, 2010).

Para além da teoria e prática atual da Psicologia do Esporte, que tem como principal objetivo a melhora do desempenho da equipe como um todo, bem como a melhora da saúde de cada integrante, percebe-se que para alcançar com maior eficácia esta melhora da saúde dos indivíduos desde o início da prática esportiva, é necessário maior atenção à subjetividade de cada um que está presente nesse campo, sobretudo os atletas.

Gestalt-terapia e psicologia do esporte, uma articulação possível?

Embora a Psicologia do Esporte seja uma área aberta às diversas abordagens da psicologia, não é de praxe que uma abordagem humanista, no caso a Gestalt-terapia, esteja inserida neste contexto. Por isso, com este artigo busca-se provocar a possibilidade de maior envolvimento desta abordagem no contexto esportivo, colaborando em especial com o olhar fenomenológico voltado para a subjetividade, e entendendo que ao respeitar a individualidade, abre-se espaço para a criatividade.  

Este raciocínio retoma o princípio de saúde para a Gestalt-terapia, ou seja, quanto mais criativa a criança for, maior a possibilidade de estar e se manter saudável. Volta-se, portanto, a inquietação inicial sobre como é possível promover a criatividade da criança de modo que ela seja cada vez mais saudável neste campo.

Como discorre Aguiar (2014), é por meio dos ajustamentos criativos que a criança se autorregula e consegue alcançar a melhor configuração para cada momento e cada contexto. É isso que a faz possuir infinitas possibilidades de ser-no-mundo (Lehmkuhl, 2015). Desse modo, para promover a criatividade da criança neste campo, e consequentemente sua saúde, é preciso oferecer espaço para a sua individualidade.

Para a Gestalt-terapia uma das maneiras de conquistar esse espaço é a prática clínica de psicoterapia individual, a qual trabalha a awareness da criança. Na clínica gestáltica, a criança enquanto parte da relação terapêutica vai receber possibilidades de alcançar, restaurar e se engajar no que a faz ser ela mesma, o que a permitirá cocriar o mundo e seu próprio caminho. Para esta abordagem a singularidade é consagrada pela relação com o campo, é aqui que se pode iniciar a cura (Cardella, 2015).

“A Gestalt-terapia valoriza a interação no campo indivíduo/meio e só compreende o significado das ações humanas se insertas em seu contexto, valoriza também a resposta criativa e singular de cada um, podendo ser esta imprevisível e autodeterminada, dependendo da livre escolha individual” (Fernandes, p. 60, 2016).

Relembrando a ideia de que a criança é figura e o treinamento em ginástica rítmica o fundo que a contextualiza, ao se regular por meio de ajustamentos criativos disfuncionais, a criança apresenta consequentemente sintomas criativos dessa relação. A terapia individual por meio da clínica gestáltica tende a ser um fator de cura para tais mecanismos de defesa que a criança desenvolve como sintomas.

“Esta é uma diferença importante na abordagem gestáltica no esporte, uma vez que não coloca o atleta como objeto de técnicas para aumentar o rendimento, mas sim como um sujeito implicado em sua evolução e desenvolvimento como atleta, que pode usar técnicas a seu favor, compreendendo-as e inserindo-as num contexto” (Espírito Santo, p. 49, 2017).

O gestalt-terapeuta, enquanto psicólogo do esporte em uma equipe interdisciplinar dentro do setting do treinamento de ginástica rítmica, irá trabalhar para promover a compreensão da ginasta como um todo. Questões como a história familiar e no esporte, valores, crenças, saúde e suas potencialidades, não só os problemas ou falta de crescimento de desempenhos serão consideradas. O atleta será visto como uma totalidade, sem tirar sua responsabilidade pelo processo, já que a ginasta tem responsabilidade pela sua mudança em potencial, e o profissional irá auxiliá-la a tomar consciência das suas necessidades e habilidades, por meio de um contato pleno com sua existência e subjetividade.

Por fim, para além da Gestalt-terapia clínica, ao atuar na área do esporte trabalhando com grupos, o gestalt-terapeuta dispõe de muitas possibilidades de de atuação e intervenção por meio de seu olhar fenomenológico, partindo da teoria e das técnicas que a abordagem construiu ao longo dos anos. Por exemplo, no setting terapêutico do grupo, que no caso serão as quadras e as áreas de treinamento multidisciplinar, muitos experimentos podem ser feitos por esse profissional em contato com o grupo, será nesse campo que o fenômeno vai acontecer e para que tenha êxito, o gestalt-terapeuta vai sempre trabalhar para que a ginasta ou qualquer um da equipe volte a atenção a si mesmo, para que seja capaz de se autoconhecer e criar autonomia para lidar com as situações e desafios do dia a dia (Espírito Santo, 2017).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 Após apresentar conceitos, definições e discutir possibilidades de congruência entre a Gestalt-terapia e o treinamento esportivo, percebe-se que há um novo caminho a ser percorrido através do encontro da abordagem gestáltica com a Psicologia do Esporte enquanto área de atuação e intervenção. Principalmente quando se percebe que a literatura e a prática sobre esse encontro é ainda escassa e muito recente.

Segundo Carvalho (2009), a Psicologia do Esporte atua auxiliando na obtenção de resultados impostos pelo âmbito do esporte, lado a lado com a perspectiva da psicologia em si, de trazer a subjetividade e o bem-estar humano como primordial. Já a Gestalt-terapia, a partir de seu olhar holístico, existencialista e fenomenológico, atua na promoção da consciência, na saúde e no autossuporte do indivíduo. O encontro das duas perspectivas parece orgânico, além de necessário.

Lehmkuhl (2015) discorre habilidosamente sobre como todo ser humano tem o benefício do processo criativo e que não existe apenas um único modo de definir a criatividade, pois cada um é criativo da melhor forma que pode ser naquele momento. Desse modo, a clínica gestáltica, enquanto processo terapêutico, tem grande potencial de auxiliar as ginastas a criarem suas próprias respostas para com o meio e o mundo, construindo e reconstruindo seu jeito de caminhar por ele.

Entende-se que não há espaço no cotidiano da prática esportiva da ginástica rítmica para psicoterapias individuais dentro do campo, devido às grandes demandas que o esporte implica. Portanto, com este artigo propõe-se a psicoterapia individual para além do trabalho que o psicólogo do esporte faz com a equipe, ambos pautados na abordagem gestáltica. A comunhão dos trabalhos oportunizará a presença da saúde em dimensões biopsicossociais para o grupo, uma vez que, se a individualidade, subjetividade, originalidade e alteridade da criança é ignorada, o grupo deixa de ser saudável.

A Gestalt-terapia é fundamental nesse processo, uma vez que, não reduz as ginastas aos resultados do grupo, e potencializa as mesmas a descobrir como alcançar uma mudança mais humana e profunda. Mesmo que o mundo do esporte não esteja habituado a tal mentalidade, o gestalt-terapeuta tende a sustentar as demandas do campo sem exigências que violam o ser humano em sua integralidade (Espírito Santo, 2017).

Ao finalizar este artigo, identifica-se componentes importantes desse encontro teórico-prático entre Gestalt-terapia e Psicologia do Esporte e enquanto mérito da conclusão na formação de gestalt-terapeuta mantém-se a fé na profunda potencialidade da terapia enquanto ferramenta de ajuda para a criança construir e reconstruir seu fluxo e interação criativa com o mundo. Pois, como diz Cysne (2017), deve-se seguir acreditando na continuidade da infância como aquela que atravessa todas as idades, contando com a possibilidade das crianças se (re)construírem sem se deixarem afundar pelo mundo que as mesmas não têm controle. É com essa força que se torna possível acreditar em ginastas se transformando em adultos sem comportamentos enrijecidos, mas sim em seres humanos plurais em busca da plenitude de ser o que se pode ser.

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Giovanna Aversani Lourenço

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Submetido em:  07 de junho de 2023

Publicado em: 11 de janeiro de 2024

v. 21 n. 39 (2023): Sumário – IGT na Rede, vol. 21, Nº 39 –. Disponível em http://www.igt.psc.br