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ARTIGO

O acompanhante terapêutico como ferramenta de intervenção nos  ajustamentos de isolamento social orientado pela Gestalt-terapia

The therapeutic companion as an intervention tool in the adjustments of social  isolation guided by Gestalt therapy.

Marcus Cézar de Borba Belmino  

Antônio Francisco de Lima Neto

Revista IGT na Rede, v. 19, nº 37, 2022. p. 175 – 199. Disponível em http://www.igt.psc.br/ojs ISSN: 1807-2526

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RESUMO

A proposta deste trabalho é discutir a leitura gestáltica sobre a experiência do  Transtorno do Espectro Autista e como o Acompanhamento Terapêutico (AT) pode  ser uma estratégia de intervenção. Para isso, foi discutido como a Gestalt-terapia  busca compreender o espectro autista e o modo como essa experiência acontece  em face às demandas sociais, denominado essa forma de experiência de  ajustamento de isolamento social. Superando a lógica tradicional dos diagnósticos,  há uma tentativa de reafirmar o olhar sobre o espectro enquanto manifestação de  singularidades e não enquanto um transtorno fixo a ser enquadrado. Frente a essa  compreensão, ressaltamos o Acompanhamento terapêutico como ferramenta de  intervenção aliada a luta antimanicomial, com atuação para além do setting  terapêutico, utilizando do meio social e seus diversos contextos como forma de  ampliar as possibilidades de inclusão e contratualidade do sujeito acompanhado e,  com isso, produzir uma intervenção que atenda as perspectivas éticas, políticas e  antropológicas dos dispositivos de cuidado segundo a Gestalt-terapia

Palavras-chave: Gestalt-terapia, self, transtorno do espectro autista,  acompanhamento terapêutico, ajustamento de isolamento social.

ABSTRACT

The purpose of this paper is to discuss the Gestalt reading about the experience of  the Autistic Spectrum Disorder and how the Therapeutic Accompaniment (TA) can be  an intervention strategy. For this, it was discussed how Gestalt-therapy seeks to  understand the autistic spectrum and how this experience happens in face of social  demands, denominating this form of experience adjustment to social isolation. Overcoming the traditional logic of diagnoses, there is an attempt to reaffirm the view  of the spectrum as a manifestation of singularities and not as a fixed disorder to be  framed. Faced with this understanding, we highlight the Therapeutic Accompaniment  as an intervention tool allied to the anti-mental institution struggle, acting beyond the  therapeutic setting, using the social environment and its diverse contexts as a way to  expand the possibilities of inclusion and contractuality of the accompanied subject  and, with this, produce an intervention that meets the ethical, political and  anthropological perspectives of the care devices according to Gestalt-therapy

Keywords: Gestalt-therapy, self, autistic spectrum disorder, therapeutic  accompaniment, social isolation adjustment.

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Introdução

Apesar de ser um tema relativamente novo, a Gestalt-terapia e o acompanhamento  terapêutico junto a sujeitos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), apresenta-se  enquanto uma alternativa teórica-metodológica para estabelecer intervenções com  sujeitos que fazem ajustamentos autistas. O Acompanhante terapêutico sob o viés  da Gestalt-terapia entra como uma forma de reencontrar o lugar do indivíduo em seu  meio, propondo uma clínica em trânsito que se dispõe ao acompanhamento nos  mais diversos espaços com intuito de advogar a inclusão, sendo considerado um  trabalho político em que incentiva o contato para que aconteça de forma saudável,  abrandando os impactos psíquicos, fomentando um ajustar-se criativamente.

A Gestalt-terapia é uma abordagem desenvolvida por Frederick e Laura Perls, que  segundo Da Silva (2011, apud Ribeiro, 2007) as suas principais bases filosóficas são  Humanismo, Existencialismo e Fenomenologia, assim como a Psicologia da Gestalt,  Teoria do Campo e Holismo-Organismico. É uma teoria sobre compreensão da  experiência humana, a qual vê sujeito como um ser em constante transformação,  organismo este que busca comumente satisfazer suas necessidades. Focaliza o  processo terapeuta-cliente no aqui e agora, com o objetivo de tornar a experiência do sujeito mais consistente.

Considera o sujeito como um fenômeno que se revela lentamente, visto como um  ser complexo, que se reorganiza constantemente de acordo com as suas  necessidades (FREITAS, 2016). Essas mudanças ocorrem dentro do sistema  denominado Self, no qual Muller-Granzotto (2004) define como um processo  temporal dentro de um sistema de contatos no presente transiente dividido em  função id, função ego e função personalidade. Vale salientar que é a leitura sobre o  espectro autista na Gestalt-terapia que será apresentada neste trabalho, estando  baseada especificamente na noção de self, pois é devido a mesma que se pode  compreender como o indivíduo experiencia o mundo.

Na tentativa de definir o Transtorno do Espectro Autista (TEA), a APA (2013) em seu  quinto Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM V), delimita  como déficits persistentes na comunicação social, padrões restritos e repetitivos,  prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, profissional ou em outras

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áreas importantes da vida do indivíduo no presente, além de atraso no  desenvolvimento.

Vale ressaltar que mesmo com a leitura do DSM V para facilitar a comunicação entre  profissionais, o principal foco está na experiência e nos ajustes que o indivíduo faz  ao longo do desenvolvimento. O autismo não é um diagnóstico de tamanho único,  embora a Associação Americana de Psiquiatria defina o autismo, o diagnóstico será  sempre impreciso, essa é a natureza do espectro (GRANDIN, 2015).

Diante disso, o trabalho de um Acompanhante Terapêutico surge nesse contexto  como uma ferramenta de intervenção, por não basear sua atuação nessa estrutura  fixa e rotulada como apresentado pelo manual. Ele visa incentivar a inclusão, expandindo o diálogo com seu contexto, sempre atento às formas de contato e a  singularidade do sujeito, facilitando o despertar da awareness a partir das interações  e atividades. Segundo Sereno (2006) o Acompanhante Terapêutico opera como  secretário, intérprete e tradutor da ambiência, favorecendo importantes efeitos de  subjetivação e conexão entre os elementos dos mais diversos espaços ocupados  pelo sujeito. Sua importância está na implicação do compromisso social, com a  inclusão e as possibilidades de ser um indivíduo ativo em seu meio, apoiado na luta  antimanicomial.

Assim, este trabalho tem a tarefa de analisar a experiência do sujeito no espectro  autista através da teoria do Self proposta pela Gestalt-terapia. Apontando para um  fazer psicológico que expande sua prática para além do setting terapêutico,  explorando os diversos contextos, como no caso do Acompanhamento terapêutico,  atuação em que é utilizada como ferramenta facilitadora nos ajustamentos de  isolamento social, leitura da própria Gestalt-terapia sobre o espectro autista.

Também é esperado que este trabalho possa ser apoio teórico para fomentar as  possibilidades de atuação enquanto acompanhante terapêutico na Gestalt-terapia.  Para isso, foi utilizada a pesquisa bibliográfica com temas ligados ao interesse  pessoal do pesquisador, fomentando uma maior proximidade com a temática,  contribuindo com o referencial teórico no campo acadêmico.

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Metodologia

Diante disso, a pesquisa tem sido qualificada enquanto exploratória por tratar-se da  leitura de assuntos já discutidos, Gil (2002) afirma que este tem o propósito de  proporcionar maior afinidade com a problemática, com vista a torná-lo mais explícito  ou a construir hipóteses.

Não obstante, foi utilizada a abordagem qualitativa, na qual possibilita que o  pesquisador se aproxime do tema de forma a analisar e explorar aquilo que é do seu  interesse, na tentativa de elaboração de novos saberes. Desse modo, não há referência a uma entidade unitária; pois se refere às práticas de indagação do social.  Portanto, o escopo da pesquisa qualitativa é amplo e variado (GONZALEZ, 2020).

É empregado a metodologia bibliográfica por fundamentar-se em obras já publicadas  por diversos autores, fomentando a leitura, interpretação e análise, para então serem descritos. Diante disso, foram utilizados livros e artigos científicos, tendo os  descritores “Gestalt-terapia”, “self”, "autismo'' e “acompanhamento terapêutico” como  base para as pesquisas. No banco de dados do Google Acadêmico, a partir dos  anos 2000, com pesquisa na revisão de artigos apenas em português, foi possível  utilizar 19 artigos dentre os 60 que foram encontrados, justamente por estar alinhado  com a temática deste trabalho. Além disso, também foi possível utilizar cerca de oito  livros com os presentes descritores.

Fundamentação teórica

Gestalt-terapia visão de sujeito

Em 1951, Fritz Perls, Paul Goodman e Ralph Hefferline publicam o livro Gestalt Therapy: excitement and growth in the human personality, na qual descreve sobre o  que é a Gestalt-terapia e sua compreensão de mundo. No entanto, em 1946, Fritz  Perls juntamente a sua esposa Laura Perls, já sinalizavam o início de uma nova  abordagem psicoterapêutica em 1941 com a publicação do livro “Ego, fome e  agressão”, com releituras sobre as teorias psicanalíticas, não sendo bem aceito pelo  corpo freudiano por apresentar divergências. Nasce então a Gestalt-Terapia, na  qual Perls, Hefferline e Goodman (1997) em que definem a psicologia como o

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estudo da operação da fronteira de contato no campo organismo/ambiente, e o  estudo dos ajustamentos criativos na qual sempre resulta em assimilação e  crescimento.

É uma abordagem que busca superar as dicotomias mente/corpo,  organismo/ambiente, na verdade trazendo que o todo é bem maior que a soma das  partes, isso quer dizer que ela trabalha com uma visão holística do sujeito, um ser  total e global em que é inevitável a vinculação, reciprocidade e retroalimentação  entre fatores emocionais, cognitivos, orgânicos, comportamentais, sociais, histórico,  cultural e espiritual (AGUIAR, 2014).

Devido a isto, o trabalho do Gestalt-terapeuta está baseado no aqui-agora, nos  conteúdos e formas que vão se apresentando no contato, fomentando as condições  de o sujeito olhar e se reconhecer naquilo que se apresenta agora, como uma forma  de ajustar-se criativamente. Tal postura só é possível com a ideia de “figura-fundo”,  sendo a figura aquilo que emerge da percepção e que faz sentido na situação  vivenciada, emergindo do fundo de vivências, isto é, sua história, experiências,  apontado como a totalidade do sujeito.

Com isso Perls, Hefferline e Goodman (1997), diz que é estruturando a experiência  aqui e agora, que é possível refazer as relações dinâmicas da figura e fundo até que  o contato se intensifique, a awareness se ilumine e o comportamento se energize,  também assinalam que o processo terapêutico é treinar o ego, as diferentes  identificações e alienações, até que se reviva a sensação de que “sou eu que estou  pensando, percebendo, sentindo”, nessa altura o paciente pode assumir, por conta  própria o controle.

Se pode assim identificar o termo contato como imprescindível na teoria da Gestalt terapia, pois Perls, Hefferline e Goodman (1997) salientam que quando algo é  sentido na situação atual, o excitamento cresce em direção a solução mesmo que  ainda desconhecida, de tal modo que definem como o achar e fazer da solução  vindoura. Ela está presente na fronteira de contato, onde acontece a troca  organismo/ambiente, e é diante desse processo de contatar que há o crescimento  do organismo.

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Um outro conceito que é fundamental é o próprio ajustamento criativo, advém desse  processo de contato, pedra angular no processo terapêutico, pois para que o sujeito  se autorregule de maneira saudável é preciso ajustando-se criativamente, é  “qualidade” desse contato, ou seja, a forma como esse contato acontece (Perls,  Hefferline, & Goodman, 1997).

Todo contato é um ajustamento criativo do organismo e do meio, atividade natural  de todo ser humano. O processo terapêutico é a busca pelas inúmeras  possibilidades de respostas criativas diante das situações diversas, pois esta é uma  forma saudável de a pessoa manter o equilíbrio das mais diversas e adversas  condições (SANTOS, 2016).

Visto que a experiência humana se dá na fronteira de contato, visualizar-se nessa  fronteira em ação dá origem ao que chamamos em Gestalt-Terapia de Self, Belmino  (2020) define como o âmago da compreensão acerca da natureza humana do  pensamento gestáltico, e mais do que somente uma teoria, é um mapa que nos  ajuda a ter uma melhor compreensão da experiência clínica em seu sentido  ampliado. Ela contribui na tentativa de superar a dicotomia sujeito-objeto, eu-mundo  ou qualquer outra dicotomia, pois essas divisões são posteriores à experiência.

O Self é compreendido como um processo ativo e mutável, conhecido como o  sistema de contato, não é fixo, mas que sofre variações de acordo com a  circunstância. Távora (2014) salienta que

“Para apreender sua forma e função em toda sutileza, é necessário um  

posicionamento ao estilo da câmera que se move em busca de diversos  

ângulos de uma mesma cena e se distancia e se aproxima em close-up  

sucessivamente, delineando a compreensão de uma personagem que  

vai ao mundo e volta para si quase de forma ininterrupta, revelando, a  

cada intervalo, aspectos diferentes de si e do mundo.” (p. 39)

Desse modo, para que o self ocorra é preciso estar em contato com algo, sempre  presente na fronteira. Para isso, Perls, Hefferline, Goodman (1997) parafraseiam  Aristóteles, discorrendo que ao apertar o polegar sobre uma superfície, o self existe  no polegar dolorido. Adiante, para melhor compreensão da temática, é necessário

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analisar a própria estrutura do self, em que é dividida entre o ID, o Ego e a  Personalidade.

A função ID, parte fundamental da pesquisa apresentada, pois na leitura do Self o  autismo se apresenta como uma vulnerabilidade nessa função. Classificado por  Perls, Hefferline e Goodman (1997) como a dimensão corporal, fundo de  possibilidades, da qual somos passivos, se apresentando de forma dispersa e  irracional e por isso, relacionam-se com as condições dos surgimentos das  experiências. Entendida como o fundo de toda experiência, tem em si sua história  retida e dão norte a maneira como o sujeito se encontra no mundo, Perls, Hefferline  e Goodman (1997) traduzem como passivo, disperso e irracional, sendo a própria  inconsciência do sujeito.

É considerada como o campo de excitação, pois mesmo diante da novidade das  situações produz respostas, ainda que não tenha sido elaborada, tal como se já  existisse uma intimidade com o mundo, e por isso, já seria possível pressupor modos de como responder ao que se apresenta (BELMINO, 2020). Ela é vista como  os hábitos, afetos e gestalten inacabadas, e com tudo aquilo que tem a ver com esse atravessamento do entre: o mundo, o corpo e o outro. Apresentando-se como a  impossibilidade de se desligar do contexto, sendo uma manifestação da ligação  intrínseca do organismo com o mundo.

A outra estrutura, chamada de Ego é reconhecida como a ação, o corpo em ato, a  deliberação, é aquilo que está consciente, na qual se identifica ou se aliena. Perls,  Hefferline e Goodman (1997) definem a mesma como deliberada, ativa,  sensorialmente alerta, motoricamente agressiva e consciente de si próprio. Essa  função diz respeito àquilo que está objetivado no mundo, sendo as ações e os atos.  É a que trata da singularidade dos sujeitos, pois é resultado da função ID e  personalidade, ela é observada como potencialidade de toda uma história e cultura  que caracterizam a experiência, se tornando base para ação, por isso seu caráter de  diferenciação. Belmino (2020) em seus escritos relata que:

“São nos atos que enlaçamos os nossos hábitos construídos na  

inseparabilidade entre nós, o mundo e o outro, e nossas construções  

identitárias produzidas na relação com a sociedade e com a cultura. É o  

ato que produz uma novidade (criatividade) perante o já dado

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(ajustamento). Assim, a função ego é a capacidade do campo de se  

identificar e alienar o que é produzido no campo. A função id e  

personalidade são sempre fundos que permitem a emergência de uma  

ação no campo” (p. 125)

Nessa perspectiva, é possível afirmar que a função Ego, é a que trata do corpo no  mundo, Alvim (2011) explica que ela é exercida quando entra em contato com o  diferente, que indica um sentido, direção ao futuro imediato, que me leva de um  lugar ao outro. É apenas com awareness que a função ego exerce uma ação  espontânea e criadora.

A partir desta perspectiva, a função Personalidade é a parte disponível, responsável  pelas identificações, abarcando a parte verbal da experiência através do já  conhecido sobre si mesmo. As palavras reconhecimento e definição estão sempre  presentes quando se busca definir tal função. Vale lembrar que essas identificações  passam pela esfera social, histórica e cultural, chegando à experiência individual, a  parte ontológica. Belmino (2020) esclarece:

“Por isso, a função personalidade tem a ver com todos esses  

significados que atribuímos a nós mesmos das nossas relações  

identitárias, e por mais que saibamos que as identidades são sempre  

compartilhadas, construídas no cerne da relação com a cultura e as  

instituições que nos rodeiam (e, por isso, também, a função  

personalidade é sempre intersubjetiva) nós reclamamos essas  

identidades a nós mesmos, e nos identificamos com elas para produzir  

um entendimento próprio.” (p. 122)

Sendo assim, a narrativa de quem se é com um sistema repleto de atitudes  adotadas e reconhecidas pelo próprio sujeito, é a parte do self que diz respeito às  nossas identidades, instituições e as maneiras como se integra às relações  interpessoais.

Com isso, a partir de uma postura fenomenológica, se busca compreender como  essa visão de homem pode fomentar uma análise da experiência do sujeito com  autismo, observando suas especificidades e modos de ajustar-se criativamente.  Para isso, também se faz necessário compreender a discussão em torno do que  

seria o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e como outros autores têm apontado  para o assunto indo além dos manuais diagnósticos.

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Transtorno do espectro autista

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) está presente na quinta edição dos Manual  Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, DSM 5 (APA, 2013), classificado  como um transtorno do neurodesenvolvimento. Predominantemente, as  características primordiais do autismo são o prejuízo na comunicação, na interação  social e comportamentos repetitivos, sem muitos significados, que muitos parecem  ficar realizando sem uma finalidade muito clara (LOCATELLI, 2016).

Ao observar a história, em 1938, o psiquiatra infantil austro-americano Leo Kanner já  tentava compreender o autismo e suas manifestações na qual até então era  considerado enquanto uma psicose. Para ele, a desordem fundamental estava na  incapacidade dessas crianças de se relacionarem de maneira comum com pessoas  e situações desde o começo da vida, adiante, percebe também um traço em comum  em todas as onze crianças que era a extrema solidão desde o começo de suas  vidas, não respondendo aos estímulos externos direcionados a elas (CORTEZ,  2020). E desde então, a temática tem adentrado nos espaços de discussão da  saúde mental e elaboração sobre o que seria o autismo e quais as suas causas, na  qual o DSM busca objetivá-lo, mas a cada edição apresenta uma modificação. Locatelli (2016) explica de maneira breve:

“As primeiras classificações do autismo foram psicose e esquizofrenia. A  

oitava revisão do CID incluía o autismo como esquizofrenia, sendo  

unificada a categoria de psicose infantil na nona revisão. Atualmente, o  

CID está na sua décima edição (CID – 10), incluindo o autismo como  

Transtornos Globais do Desenvolvimento, havendo concordância com

os DSM III e o DSM III-R. No entanto, o DSM-IV incluía o autismo como  

Transtorno integrante ao agrupamento de Transtornos Invasivos do  

Desenvolvimento” (p. 207)

Valendo então ressaltar que, o autismo é de difícil definição, por variar em grau e  intensidade. Ela pode ser determinada pelas condições em que se desenrola o  desenvolvimento, incluindo as mudanças biológicas esperadas, os sistemas de  relações sociais que envolvem a criança, as condições dos ambientes que circula, o  nível cognitivo da criança, entre outros (CAMARGO, 2009).

Não obstante, desde o início das investigações com as análises de Leo Kanner, com  os primeiros diagnósticos de autismo até o DSM V, existiu uma tentativa de

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enquadrar e capturar de forma objetiva o sujeito, esquecendo que os aspectos  subjetivos tendem a variar, não querendo dizer com isso que não se deva usar  rótulos, pois do contrário, o autismo ainda teria permanecido sem diagnóstico e sem  tratamento. O que se busca é analisar que os rótulos são limitados, pois o autismo é  identificado pela observação e avaliação do comportamento. As avaliações e  observações são subjetivas, e os comportamentos variam de pessoa para pessoa  (GRANDIN, 2015).

Devido a isso, compreende-se o papel diagnóstico, mas esse não deve ser  apresentado com um fim, visto que esse conjunto de sintomas na maior parte não  contempla a singularidade da observação e escuta, pois os diagnósticos dificilmente  alcançam as manifestações reais do humano (BRANDÃO, 2017). Mesmo que se  tenha um olhar universal sobre a pessoa com autismo para facilitar a comunicação  entre profissionais, não se deve descartar o olhar sobre a singularidade, pois é neste  que abrem as possibilidades de intervenção.

Muller-Granzotto e Muller-Granzotto (2012), em seu escrito sobre psicose e  sofrimento, separa uma parte do seu livro na qual vem retratar a diferença entre o  autismo enquanto síndrome e enquanto ajustamento de isolamento, pois se  podemos admitir que o autismo se parece com uma síndrome aparentemente  irreversível, também devemos reconhecer sua produtividade em face às demandas  sociais.

Ao que tudo indica, deparar-se com as tentativas de caracterização do autismo  proposto pelo DSM e o levantamento de outros autores sobre o tema, abre margem  para que a Gestalt-Terapia encontre em seus conceitos básicos modos de estar e  intervir junto aos sujeitos que fazem ajustamento de busca, não focando na  síndrome, mas sim naquilo que de criativo o autista produz na atualidade das  situações ao qual está envolvido (MULLER-GRANZOTTO E MULLER GRANZOTTO, 2012).

O seguinte tópico busca caracterizar o autismo sob a ótica da Gestalt-terapia, em  que a compreende pela teoria do Self. Como já dito anteriormente, diferentemente  da literatura médica, ela tem em sua compreensão os ajustamentos de busca como

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uma forma de experienciar o mundo, estando sempre em processo e nunca de  maneira fixa e estagnada.

Autismo para Gestalt-terapia

Para Gestalt-terapia, o sujeito é compreendido dentro dos seus ajustamentos  criativos, relacionando e integrando da melhor forma possível o organismo e o  ambiente. Em função disso, compreende-se a psicose como uma forma de estar no  mundo não de forma biologicista em que existem sintomas a serem curados tal qual  desajustes a serem ajustados, mas através da teoria do self, visa a integração da  experiência do sujeito e formas de lidar com as demandas que surgem em seu  campo, pois o sujeito que faz ajustamentos psicótico ou de busca está sempre  buscando responder a um apelo social, estando vulnerável em sua função afetiva. Quinhones (2019), contribui para o entendimento do ajustamento de busca ao relatar  que:

“Orientada pela teoria organísmica e pela fenomenologia, a Gestalt

Terapia busca, a partir da teoria do self, superar a tese patologizante do  

indivíduo em favor de um processo de autocriação, de busca de  

ajustamentos criativos em situações com as quais não consegue lidar  

por falta de repertório ou por excesso de demandas (expectativas) do  

ambiente. Desta forma, a psicose deixa de ser caracterizada como uma  

patologia desfigurante para receber uma compreensão mais positiva.”  

(p. 194)

Para Perls, Hefferline e Goodman (1997) a psicose é vista como a aniquilação da  concretude da experiência, ou seja, há uma vulnerabilidade ou perda da função id.  Muller-Granzotto e Muller-Granzotto (2012), estabelece que isso tem a ver com a  

nossa constituição de um fundo impessoal, que orienta a síntese dos nossos  hábitos, a impossibilidade de se desligar do mundo. É justamente essa dimensão  que se apresenta prejudicada quando se observa as psicoses.

Vale então salientar que os ajustamentos de busca, são vistos como experiências de  campo com vulnerabilidade na função ID, e os autores Muller-Granzotto e Muller Granzotto (2012) para melhor elucidação, subdivide tal ajustamento em articulação  de fundo, preenchimento de fundo e por fim, em ajustamentos de isolamento social,  sendo este o que se trata do Transtorno do Espectro Autista.

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Partindo do pressuposto que o self é compreendido pelas funções Id, Ego e  Personalidade, e como já discutido anteriormente tem seu caráter mutável, além de  variar de acordo com o contexto no qual se está inserido, não estando estagnado,  mas suscetível a variações. Nas definições de Perls, Hefferline e Goodman (1997) o  self é a força que forma a gestalt no campo, o processo de figura/fundo em situação  de contato. Em outras palavras, é o que possibilita a compreensão das suas  necessidades advindas do campo, necessidade essa elucidada pelo contato.

Dentro desse processo de contatar, as funções tornam-se essenciais para facilitar o  lançar do indivíduo ao ambiente, no qual Carvalho e Costa (2010) explicitam que  qualquer interrupção ou bloqueio nas etapas do contato, o comportamento irá  denotar um desligamento de si e do mundo interrompendo o fluxo da awareness. Brandão (2017) salienta que apesar das funções distintas no processo de contatar,  elas são facetas de um único processo que é o reconhecimento e implicação de si,  inserido indissociavelmente em um contexto.

Diante disso, busca-se entender o porquê de os autores apontarem para o autismo  enquanto um comprometimento da função ID. De modo geral, determinada função é  apontada justamente porque os ajustamentos de isolamento segundo Brandão  (2017) apresentam aspectos ligados a possibilidade de reconhecer o outro, mas não  surgir enquanto necessidade, além das condutas estereotipadas atreladas às  sensações corporais, comprometimento tanto na relação social quanto na  comunicação, as condutas motoras e uma barreira na questão proprioceptiva e  perceptiva das situações. Assim, no autismo a perturbação da função id ocorre a  partir de uma falta perceptiva dos excitamentos que provém do meio, de forma que a  pessoa passa a não ser sensível a eles e a não responder da forma "adequada" aos  mesmos (SOARES, 2018).

Quanto às impossibilidades de mudanças, Soares (2018) explica que essas fixações  excessivas, a coisas, objetos, partes de si, ideias, pessoas, animais, e assim por  diante, é a busca por uma forma de se ajustar frente ao que é ameaçador para ele,  pois se fixar a algo acaba por equilibrá-lo em meio às mudanças que são vistas  como perturbadoras.

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Alves (2010) salienta que ao trabalhar com pessoas com autismo, deve-se ter em  mente a sua dificuldade em simbolizar e relacionar-se com o mundo à sua volta, tal  como se fosse uma fuga das demandas por afeto. Com isso, os autores Muller Granzotto e Muller-Granzotto (2012), sugerem diferenciar sentimento como  comportamentos claramente definidos no âmbito de cada cultura, de afetos que  seriam inexplicáveis dos objetos, nos sentimentos, nos pensamentos, eles são  segundo a terminologia da teoria do self, o indício de que algum hábito está se  repetindo.

Nessa perspectiva, é apontado novamente a função Id, por ser o não compreendido  e o fundo da experiência vivenciada. É possível perceber sentimentos como a raiva,  tristeza, alegria, nojo etc. mas não parece haver afeto: não há curiosidade, interesse  ou expectativas. É nessa mesma linha que se torna possível explicar o porquê da  

utilização do termo ajustamento de isolamento social, pois em face da insatisfação  ou expectativa exagerada, as quais nada são que demandas por excitamento, os  autistas frequentemente se comportam como se estivesse se defendendo (MULLER GRANZOTTO E MULLER-GRANZOTTO, 2012).

Desse modo, o autismo utiliza o isolamento como defesa, sem muitos indícios de  interação social. Muller-Granzotto e Muller-Granzotto (2012), continuam a explicar  que todas essas formas de estar no mundo presente nos sujeitos que vivem  experiências autísticas, perpassam a esfera social a qual estão inseridos, explicando  assim seus comportamentos com embotamento afetivo, a agressividade e seu  mutismo, pois as demandas sociais são extensivas e ultrapassam o limite da  inteligência, chegando aos excitamentos.

Os processos de contatar, mesmo com sua vulnerabilidade apontada na função ID,  só se tornam possíveis devido aos ajustamentos criativos, entendido como  adaptações de arranjos harmônicos de forma criativa, inovadora e original;  utilizando-se do que está ao seu alcance ao qual necessita transformar na mesma  proporção em que é transformado (PERUZZO, 2011).

Há uma tentativa de intervir junto a esses sujeitos, com o objetivo de atenuar os  impactos psicossociais. Para isso, o acompanhamento terapêutico é apontado como

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ferramenta, devido o suporte e mediação com o mundo, ao estar ao lado da pessoa  em dificuldades psicossociais com a intenção de se montar um guia terapêutico que  fomente a circulação social, com ações sustentadas numa relação de vizinhança do  acompanhante com o sujeito e suas limitações, dentro do seu contexto histórico  

(PITÍA, 2009).

Acompanhamento Terapêutico

O acompanhamento terapêutico nasceu diante da luta da reforma anti psiquiátrica e  da ideia do homem louco como mal, movimento que ocorre dentro da psiquiatria e  colocava em questão a condição do indivíduo como um sujeito que fora privado de  direitos por ser doente mental. O trabalho do AT, no entanto, é o encontro com o  sofrimento do outro com os esforços de minorá-los sendo uma prática social de  atendimento terapêutico (CHAUÍ, 2012).

No entanto, para melhor compreensão do nascimento do Acompanhante  Terapêutico, se faz necessário alguns recortes históricos e sociais, valendo salientar  que a proposta é contextualizar, mas não se deter exclusivamente. Inicialmente, com  os estudos de Michael Foucault é trazido à tona a questão da loucura quando  mesmo busca descrever como em épocas diferentes a sociedade lidou com tal  fenômeno, como no século XVII com o internamento, em que os inválidos eram  postos à margem da comunidade, tal qual os mendigos, idosos, desempregados,  mulheres solteiras, ou seja, todos aqueles que não faziam parte da produção  capitalista, e posteriormente no século XIX passa a ser objeto da psicologia,  nomeando os mesmos como doente mental (CHAUÍ, 2012).

De modo geral, o doente mental aparece como uma espécie de detrito social a ser  escondido. É submetido a um processo de exclusão, segregação e encarcerado em  instituições fechadas. Despojado da condição de sujeito, é desumanizado e tratado  como coisa (CHAUÍ, 2010). A loucura só vem a ser objeto de intervenção por parte  do Estado no início do século XIX, com a chegada da Família Real ao Brasil, depois  de ter sido socialmente ignorada por quase trezentos anos (DA FONTE, 2013).

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O Brasil acompanha as mudanças que vinham acontecendo principalmente na Itália  com a desinstitucionalização, e não fica de fora do processo. Por exemplo, os  fatores históricos de extrema importância foram as conferências que aconteceram  em 1987, I Conferência Nacional de Saúde Mental, na qual dava ênfase a  priorização dos serviços extra-hospitalar e multiprofissional na assistência  psiquiátrica, sendo essa a alternativa para a hospitalização.

Em seguida, no mesmo ano tem o II Congresso Nacional do Movimento dos  Trabalhadores em Saúde Mental, e aqui se faz presente e eficaz a questão da luta  antimanicomial. Adiante, a constituição de 1988 com a construção do SUS (Sistema  Único de Saúde) faz com que as críticas ao modelo hospitalar psiquiátrico se tornem  cada vez maiores. Sendo assim, somente em 2001, tem-se a legislação Lei n°  10.216/2001 chamada de Lei da Reforma Psiquiátrica, pautado na garantia dos  direitos humanos e atendimento às necessidades terapêuticas, possibilitando a  inovação de métodos e procedimentos no tratamento psiquiátrico e da conceituação  da percepção social da pessoa portadora de transtorno mental.

Baságlia (2001, apud Chauí, 2012) traz que somente fora da instituição asilar é que  uma relação terapêutica de ajuda pode concretizar-se. Diante disso, é notório  perceber um campo fértil para o trabalho enquanto Acompanhante Terapêutico, pois  com todas essas mudanças históricas e sociais, além dos serviços de saúde  prestado, é na Argentina que se tem início o trabalho do AT, no qual anteriormente  era conhecido como “amigo qualificado”, conforme distanciava-se cada vez mais das  instituições. Dado como uma alternativa à desinstitucionalização, pois para além  desse campo geográfico, também se tornou necessário no campo afetivo, por  superar a lógica tecnicista em que a relação estava arraigada ao conhecimento  técnico oferecido pelos médicos, enfermeiros e técnicos (CHAUÍ, 2012).

No entanto, inicialmente, o amigo qualificado era de caráter voluntário na tentativa  de estar alinhado às finalidades da política da psiquiatria democratizante, em que  todos os indivíduos participavam dessa ação política de reinserção social. Esses  voluntários auxiliaram os pacientes nas tarefas cotidianas, a partir de um caráter  social, construído e relacional das doenças mentais, Araújo (2005) explique que tal

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termo se devia à ausência de saber específico sobre a loucura, estando apenas em  proximidade e intimidade com o paciente.

No entanto, o mesmo autor continua a explicar que a mudança do amigo qualificado  para Acompanhante terapêutico foi a partir de um combate a favor de seu estatuto  clínico que os "amigos qualificados", visando uma equiparação com a clínica  psicanalítica, partiram em busca de um nome que não sugerisse tanta proximidade  quanto o amigo (ARAÚJO, 2005).

Com isso, vale questionar o que é e o que faz um acompanhante terapêutico. Visto  como uma prática na área da saúde, o AT tem seu trabalho fora da clínica e adentra  aos espaços públicos com intuito de promover saúde e buscar amenizar o  sofrimento psíquico daquele ao qual acompanha. Segundo Silva (2006)

“A prática do AT, acaba tomando a rua como "dispositivo clínico": nos  

diferentes percursos pela cidade, muito mais do que se orientar ou  

ambientar-se, trata-se de usar o próprio tecido urbano como espaço de  

novas produções de sentido, fazendo com que as próprias intervenções  

desse espaço possam adquirir uma função terapêutica. Podemos dizer  

que os acompanhamentos terapêuticos se constituíram a partir dessa  

vontade de acompanhar o sujeito, com circulação ainda restrita, pelo  

tecido urbano, ou seja, o agente buscava circular com o acompanhado  

que estava isolado do convívio social e submetido a uma rede de  

saberes, principalmente da área da saúde mental.” (p. 219)

Este trabalho baseia-se na chamada reabilitação psicossocial, é o acompanhamento  que incentiva o indivíduo a buscar sua autonomia com criação de estratégias junto  aos acompanhados, estando presentes em situações corriqueiras próprias ao  cotidiano urbano, tais como idas a agências bancárias, supermercados, consultas  médicas, dentre inúmeras outras possibilidades, pois é pensar a cidade como corpo  coletivo que se agrega ao par acompanhante-acompanhado, formando uma tríade a  partir da qual uma terapêutica se desenvolve (GODINHO, 2019).

O AT transformou-se em um aliado importante no processo de manutenção de  vínculos sociais e na participação ativa da qualidade de vida do indivíduo, com  objetivo central de colocar as pessoas acompanhadas em contato direto com a vida  prática e com o meio social (AVILLA, 2019).

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As intervenções são sempre de maneira dialógica com o acompanhado, com a  própria família e demais atores que estiverem inseridos no contexto, para que então,  se crie uma rede de apoio na qual incentivem o sujeito a criatividade, autonomia,  cuidados pessoais etc., pois como já mencionado anteriormente, é o encontro com o  sofrimento do outro com os esforços de minorá-los (CHAUÍ, 2012).

Atendendo a ideia de Perls de que o exercício da liberdade é uma conquista do  homem na evolução holística. É por meio da liberdade que o homem se liberta da  cadeia das determinações causais e pode mudar o rumo da sua vida de modo  consciente e auto-regulativo (LIMA, 2008). De tal modo que tanto a Gestalt-terapia  quanto o acompanhamento terapêutico, têm em suas bases teóricas o compromisso  com a liberdade do sujeito, seja pela perspectiva do homem enquanto livre e  responsável pelas suas escolhas, como também por aquela sustentada na reforma  psiquiátrica ao propor a retirada do sujeito do campo estrito da psiquiatria, lugar  privilegiado de tratamento, para também construir uma nova relação com a  sociedade (AMARANTE, 2009).

Acompanhamento terapêutico nos ajustamentos autistas a partir da leitura  Gestáltica

As formas de se estabelecer intervenções são diversas, pois variam de acordo com  o que se apresenta no campo, e para isso a Gestalt-terapia argumenta que para  além da clínica com sua escuta ética das produções psicóticas, o acompanhamento  terapêutico é a atuação política do clínico em prol de um espaço social onde se  encaixe o sujeito de formações psicóticas (FERREIRA, 2015).

Não há busca de objetivos, metas, possibilidades de cura do sujeito, mas sim de  reconhecimento de suas potencialidades e possibilidades, articulando junto com o  meio social para que esse o respeite em seu lugar enquanto indivíduo, sendo este  trabalho reconhecido em sua dimensão antropológica. Barros (2014) fala sobre a  atuação e intervenção:

“Percebe-se que no trabalho com autismo aquilo que se aprende na  

faculdade, desde o primeiro dia, talvez, seja executado da forma mais  

intensa e genuína. Ter calma, segurar a ansiedade por respostas,  

esperar o tempo do cliente, acompanhá-lo sem falar nada, acolher, e

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vivenciar o encontro terapêutico das mais diversas maneiras possíveis –

essas sim não se encontram nos livros, nem nas aulas, nem nas  

pesquisas: ela simplesmente vai acontecer.” (p. 231)

As intervenções são de tal maneira que possam restituir ao sujeito seu direito de  produzir seus próprios modos de ajustamento, Belmino (2020) ressalta que elas  passam por um cuidado ético, político e antropológico, devido a escuta cuidadosa e  atenta para que as experiências sejam reconhecidas e colocadas em seu lugar de  legitimidade. Como o trabalho ético que busca acolher sem pretensão de julgar,  interpretar ou frustrar.

O autor continua relatando que o trabalho ético unicamente não é suficiente, sendo  necessário a aproximação com trabalho político, estando pautado no social, ou seja,  a escuta e o acolhimento não alteram a forma como socialmente a psicose é tratada  e estigmatizada, por isso é preciso orientações e intervenções com os demandantes,  e é justamente neste trabalho político que nasce a figura do AT com a função de  incluir o indivíduo naquilo que é possível para ele em suas relações (BELMINO,  2020).

Por fim, o trabalho antropológico visa advogar a inclusão, pois o sujeito que está se  ajustando tem dificuldades em lidar com demandas ambíguas e os demandantes de  reconhecer suas formas violentas de relação com esses sujeitos. O AT, precisa estar  atento a essas formas de relação ajudando o sujeito a reconhecer e se proteger,  sendo um trabalho antropológico de inserir a pessoa em seu contexto de vida  cotidiana e que ela possa gozar, dentro de seus limites, da inclusão na sociedade e  na reconfiguração de suas contratualidades sociais (BELMINO, 2020).

Os autores Muller- Granzotto e Muller- Granzotto (2012), contribuem nas formas de  intervenção quando enfatizam também a articulação das redes de apoio, em favor  da suspensão das demandas por excitamento. Eles acentuam a importância de um  

trabalho ao qual busca auxiliar os familiares, amigos e instituições de ensino,  nomeando como “guardiões dos ajustamentos de isolamento”, propondo que os  acompanhantes sempre estejam atentos aos isolamentos produzidos no campo”. Além disso, Soares (2018) traz que

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“é necessário proporcionar experiências que ampliem o caminho para o  

contato pleno, pois ele envolve a habilidade de estar completamente  

presente em uma situação particular, com todos os aspectos do  

organismo que as funções do contato envolvem, como: tocar, enxergar e  

ver, ouvir e escutar, provar, sentir, falar, ouvir, gesticular, linguagem, e  

até mesmo o mover-se no ambiente, para usá-los quando necessário.”  

(p. 84)

Dessa forma o presente trabalho busca garantir uma nova forma de pensar a  atuação do Gestalt-terapeuta, como ferramenta em que possibilite a manutenção da  inclusão, trabalho este que esteja apto para interlocução com outros sujeitos na  tentativa de construções de espaços coletivos. Não delimitando objetivos ou metas  para o acompanhado, tal qual uma educação bancária, mas encontrando no próprio  indivíduo e ambiente, possibilidades de existir diante de suas limitações e  potencialidades, em um movimento de consciência.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos estudos sobre o acompanhamento terapêutico e o ajustamento de  isolamento social, buscou-se uma melhor compreensão sobre como a Gestalt terapia pode abarcar a experiência do sujeito no espectro autista, ampliando sua  prática clínica ao estar junto aos sujeitos em diversos espaços, na tentativa de  fomentar a inclusão social.

Desse modo, utilizou-se a Gestalt-terapia com fins teórico-metodológico, por ter em  suas bases filosóficas o humanismo, existencialismo e fenomenologia, em que  aponta para o sujeito enquanto um ser livre e responsável pelas suas escolhas. Assim, foi pensado como ela poderia ser uma ponte para compreensão da vivência  do sujeito com ajustamentos de isolamento social, afirmando seu lugar no mundo  diante das possibilidades existentes.

Para isso, foi utilizada a teoria do Self, na qual Muller-Granzotto e Muller Granzotto  (2004) caracteriza como processo que constitui a reedição criativa das trocas  energéticas entre materialidade física e o meio – é um trabalho fenomenológico, pois  trata da descrição do que há de essencial na experiência.

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Devido a isto, foi debatido sobre o espectro autismo, acentuando que os esforços  médicos para definir e enquadrar nos diagnósticos, por vezes se torna limitante, já  que se trata de uma pluralidade de experiências na qual se diferenciam em sua  singularidade. Alguns autores têm escrito sobre o fato de o espectro autista  apresentar principalmente déficits na interação social, comunicação e  comportamentos repetitivos e restritos. E pensando para além das cristalizações  decorrentes dos diagnósticos, foi utilizado o acompanhamento terapêutico como  ferramenta que possibilitasse o acolhimento em espaços diversos para além do  âmbito clínico, fomentando então a inclusão.

Para isso, a Gestalt-terapia afirma que o acompanhamento terapêutico se torna um  trabalho ético, político e antropológico, pois não visa objetivos nem a cura, mas sim  aguçar a inclusão articulando com o meio social, afirmando seu próprio espaço de  legitimidade. Além disso, apontar e reconhecer junto ao sujeito acompanhado quais  demandas tem se tornado excessivas e a partir disso como se proteger em prol da  autopreservação, amenizando os impactos psíquicos.

Destarte, se pode perceber que todo trabalho tem estado junto a luta  antimanicomial, pois busca apontar para o ajustamento de isolamento social como  forma de estar no mundo, experienciando e dando legitimidade ao seu lugar de  indivíduo, superando a lógica tradicional, dos tratamentos em espaços privados,  para acompanhar em espaços públicos com fins terapêuticos.

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Endereço para correspondência:  

Marcus Cézar de Borba Belmino  

Email: marcuscezar@gmail.com

Antônio Francisco de Lima Neto

Email: antonio.lima071099@gmail.com 

Recebido em: 17/04/2022  

Aprovado em: 22/04/2023

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