BACK, Beatriz Soares; PÉRES, Helen Beatriz. – “O que te trouxe aqui? Ajustamento criativo na clínica infantil.”
ARTIGO
O que te trouxe aqui? Ajustamento criativo na clínica infantil
What brought you here? Creative adjustment in the children's clinic
Beatriz Soares Back
Helen Beatriz Péres
RESUMO
Este artigo tem como objetivo analisar e compreender o ajustamento criativo, bem como a importância de seu desenvolvimento, já na infância, para uma funcionalidade saudável. O ajustamento criativo surge na forma como o sujeito lida com suas experiências, ou seja, é a partir da relação entre o meio e o sujeito que surgirão novas formas na qual o sujeito deverá se ajustar. Para isso, existem 2 formas: a funcional, onde tem uma qualidade e uma quantidade equilibrada e viável, e a disfuncional, onde o sujeito tem uma falta de contato de qualidade e usa de forma generalizada o ajustamento criativo. Assim, podem acontecer consequências que serão adequadas a esse ajustamento disfuncional e com isso podemos refletir como isso acontece na infância, como a criança lida, negando o que é demandado pelo outro ou tentando de todas as formas buscar satisfazê-las, em ambas, deixando suas necessidades de lado.
Compreender o ajustamento criativo é entender também sobre awareness, contato e um pouco sobre a história da gestalt-terapia. No presente artigo, tentaremos explicar de forma resumida sobre esses assuntos sem se afastar do foco no ajustamento criativo.
Palavras-chave: Gestalt-terapia; Ajustamento Criativo Infantil; Clínica infantil;
ABSTRACT
This article aims to analyze and understand creative adjustment, as well as the importance of its development, already in childhood, for healthy functionality. Creative adjustment brings the way the subject deals with their experiences and the relationship between the environment/subject, and this way can be functional, where it has a balanced and viable quality and quantity, or it can be dysfunctional, where the subject has a lack contact quality and makes widespread use of creative adjustment. Thus, consequences may occur that will be appropriate to this dysfunctional adjustment and with this we can reflect how this happens in childhood, how the child copes, denying what is demanded by the other or trying in every way to seek to satisfy them, in both, leaving your needs aside.
Understanding creative adjustment is also understanding awareness, contact and a little about the history of gestalt therapy. In this article, we will try to briefly explain these issues without departing from the focus on creative adjustment.
Keywords: Gestalt therapy; Children's Creative Adjustment; Children's clinic;
INTRODUÇÃO
Segundo Ginger (2007) e Yontef (1998), as primeiras publicações utilizando os termos “gestalt” e “gestalt-terapia” datam a partir de 1942 com o livro Ego, Hunger and Aggression escrito por Fritz Perls. Com o crescente desenvolvimento e aperfeiçoamento da teoria gestáltica, Perls e sua esposa, Laura Perls, fizeram de seu apartamento em Nova York a sede do primeiro Institute for Gestalt Therapy. No local eram realizados todos os tipos de eventos que tinham como finalidade a disseminação da teoria e a partir de então, foram realizados diversos grupos de estudo pelos EUA - Estados Unidos da América - que foram se espalhando pelo restante do mundo até chegar no Brasil, em meados da Década de 70.
Várias teorias e pensamentos foram criadas e outras aprofundadas desde então, mas será abordado aqui, sobre a ótica da Gestalt-terapia com enfoque no ajustamento criativo na clínica infantil.
A partir disso, se faz válido ressaltar que a gestalt-terapia considera que “O homem é todo ele um ser de relação com. Imerso no universo, tudo diz respeito a ele e com tudo ele se encontra em relação, consciente ou inconsciente.” (Ribeiro, 1985, p.18; grifo do autor). Assim, na gestalt-terapia entende-se que o terapeuta irá partir do pensamento de que o ser é o que é, a partir da sua relação com o ambiente e com tudo aquilo que o rodeia, incluindo suas percepções. Não há como olhar para o indivíduo e separá-lo dos seus ambientes e de suas percepções. Isto é, a gestalt atua considerando “que o homem é um todo existencial [...] e propõe uma integração de quantidade, ordem e significado.” (Ribeiro, 1985, p.18). Sendo que “à natureza compete a quantidade, à vida a ordem, à mente o significado. [...] Estes três elementos, no entanto, estão em íntima relação com outra realidade que lhes é inerente: a qualidade.” (Ribeiro, 1985, p.19).
DESENVOLVIMENTO
Assim, para melhor entendimento acerca destes elementos caracterizadores do ser, na teoria da Gestalt-terapia, faz-se necessário a compreensão de seus conceitos, dado que “A quantidade pode ser compreendida por sua mensuração de “sensações, emoções, inteligência” (Ribeiro, 1985; grifo do autor). E, portanto, torna-se uma forma mais acessível de, na prática, o terapeuta identificar a qualificação desta quantidade. Logo, “a quantidade nada mais é que um modo particularmente preciso de medir a qualidade” (Ribeiro, 1985, p. 19). Para isso o psicoterapeuta tem um papel inestimável para mensurar essa quantidade que visa a qualidade.
Dessa forma, “Enquanto o que me revela o fenômeno, o como o descreve, colocando o psicoterapeuta na condição de lidar com a qualidade do fenômeno real.” (Ribeiro, 1985, p.20; grifo do autor).
Em sequência o elemento ordem, ainda segundo Ribeiro (1985, p.21), atua também na “realidade subjetiva”, trazendo como exemplo uma mesa com papéis em cima. A disposição/ordem destes papéis, irá variar de acordo com a forma de organização de cada pessoa. Dessa forma, uma vez que o autor entende que existindo uma coerência interna e no mundo externo, existe uma ordem; sugerindo que a psicoterapia gestaltista buscaria essa ordem e harmonia “Se existe ordem, existem também a quantidade e a qualidade desejadas” (Ribeiro, 1985, p. 21). Logo, a partir desta caracterização do ser, se “têm uma ordem, têm um significado e é a qualidade que torna isto claro e inteligível” (Ribeiro, 1985, p.19).
Já referente ao elemento significado, ainda Ribeiro (1985) nos apresenta uma analogia de Wertheimer sobre anjos e a música, onde “quando o anjo A tocasse dó, o anjo C tocaria ré” e ao tocarem juntos formariam uma música, um todo. Assim, se pode compreender melhor o significado, “se descrevermos nota por nota, estas não terão um significado, se descrevermos uma parte, está nos dirá algo de cada nota, se descrevermos o todo, este nos dará o significado de cada nota e de cada parte.” (Ribeiro, 1985, p. 23).
E é a partir desta junção de elementos característicos e de como eles se relacionam, que se inicia a formação do ser e é onde o psicoterapeuta deve olhar para embasar a forma como se dará o processo terapêutico. Assim, nas palavras de Ribeiro (1985, p. 23 - 24) “o cliente é entendido a partir do momento em que ele é visto como um todo, vindo de um todo e presente em um todo” e” é a relação parte-todo, todo-parte que indicará o caminho a seguir”. E em concordância Yontef (1998, p. 21) nos diz que “A metodologia da Gestalt-Terapia utiliza técnicas ativas para esclarecer a experiência.”.
Dados estes contextos, é válido explicitar, ainda que de forma sucinta, quais os pressupostos filosóficos em que se baseia a Gestalt-Terapia. São eles: Humanismo, Existencialismo e Fenomenologia.
Humanismo
Para Ribeiro (1985, p. 28), “o humanismo tem sido a grande tentativa do homem de compreender-se e de fazer-se compreendido”. Ou seja, o humanismo tenta trazer uma reflexão ou mesmo uma ideia de que o homem, onde está busca entender-se, bem como, o outro entendê-lo. O autor reafirma este conceito, ao nos apresentar que “O homem tem estado permanentemente em luta consigo e com outros homens, na eterna tentativa de se firmar e de ser reconhecido como pessoa” (Ribeiro, 1985, p. 28). Aqui, a busca da harmonização com a sua ambição é uma procura de um entendimento da sua verdadeira essência. Um olhar reflexivo voltado a si próprio, o limite e o poder, assim a filosofia do humanismo é uma produção de mundo e de realidade, sendo o humano como o centro. Ainda para o humanismo, " Não tem o homem como centro por acaso, mas por poder. Na realidade atual, ele tem que lutar desesperadamente para ser este centro, para não ceder este centro à máquina, ao poder." (Ribeiro, 1985, p. 28; grifo do autor).
A Gestalt-terapia não nega essa visão humanista de pessoas como centro do universo, não só centrada na pessoa, mas como valor positivo, como se regula e se como autogere e essa discussão da base para a psicoterapia se faz possível de existir. Já o humanismo é a teoria do homem, é existindo em si mesmo, não apenas uma teoria aplicada a um ser humano. A psicoterapia lida com a sua potencialidade, fazer posse de si e do mundo, porém não significa que não entende as limitações, os contextos, se compreendendo na própria vida.
Existencialismo
Ribeiro (1985, p. 32-33) explica que o existencialismo, assim como a gestalt-terapia, volta seu olhar para o homem como foco, dessa forma, sua existência e sua essência é dessa vez colocada no palco. Suas vivências, realidade, singularidade, individualidade, subjetividade, assim como suas dificuldades, problemas e anseios são aprofundados no existencialismo. Sendo o homem responsável, ciente e com liberdade em seu ser, agir e desejar, assim como todo ato psíquico. O autor nos reforça este pensamento ao instigar, que “o existencialismo penetra nos seus pensamentos concretos, nas suas angústias e preocupações, nas suas emoções interiores, nas suas ânsias e satisfações" (Ribeiro, 1985, p 32).
Mesmo com o auxílio do terapeuta, o homem só pode ser entendido por ele próprio, mesmo que tenha perdido o interesse em si próprio, ou que seja um entendimento passageiro, ele ainda será o único possível e exclusivo de conseguir traduzir o que sente e/ou como sente. As experiências e desejos podem ser sentidos por ele através de sua vivência em seu ser próprio em seu mundo.
“O homem não é explicado pelas coisas nele ou dele, ele é a sua própria explicação. Quando entra em relação com o mundo, está todo ele e ele todo em relação. Não há como dicotomizá-lo, atribuindo à parte dele (o inconsciente, p. ex.) a responsabilidade de um gesto. Nas suas escolhas, todo o seu organismo faz sentido e faz história. Sua vontade e sua inteligência não são realidades a se, isoladas, são o que são como resultado de um processo em que todo o organismo fez uma longa caminhada, na sua relação com o ambiente” (Ribeiro, 1985 p. 34).
Por isso, no encontro psicoterapêutico, consulente e terapeuta fazem um encontro verdadeiro,instintivo e espontâneo, com interesse em buscar um entendimento, e uma coesão para o indivíduo que ocupa uma posição no mundo. Aqui-agora vem da reflexão do existencialismo, ou seja, o movimento de poder fazer a ação que deseja tem barreiras pela vivência da pessoa que se encontra com o mundo, conflitando algumas emoções à realidade do momento.
“Neste contexto, o encontro entre psicoterapeuta e cliente tem que ser um encontro existencial, baseado na relação e não apenas num confronto mais ou menos criativo, e talvez espontâneo, entre técnico e cliente, entre médico e paciente. Encontro existencial significa encontro real entre duas pessoas, numa relação paritária, onde ambos estão sob uma única luz: o fato de estar e de ser no mundo, numa tentativa de compreender, de experienciar, de reavaliar, de fortalecer, de singularizar o que significa de fato, existir” (RIBEIRO, 1985 p. 34).
Assim a investida no que o homem tem em seu significado e o que o leva a entender o homem como o centro e portador de sua verdade, trazendo o encontro verdadeiro e espontâneo de duas individualidades guiando-os por ser e existir no mundo . Dessa forma, “A visão existencial afirma que as pessoas estão infinitamente refazendo-se ou descobrindo a si mesmas. Não há nenhuma essência da natureza humana a ser descoberta de maneira “definitiva”” (Yontef, p. 18. 1998).
Fenomenologia
Sobre a Fenomenologia, Ribeiro (1985, p. 42-43) argumenta dizendo que ela é uma reflexão sobre os fenômenos e de experiências aparecendo e mostrando a consciência e sobre uma perspectiva de mundo e de sentidos. Dessa forma, considera-se que a "Fenomenologia é uma filosofia, é uma metodologia, implica em uma específica visão do mundo" (Ribeiro, 1985, p. 42).
Na fenomenologia, o objeto e consciência são correlacionados; só há objeto se ele chega à consciência e a consciência só existe quando está sob o objeto/o algo, fora desse sistema é pouco provável ter ambas, já que não é possível de observá-los.. Um exemplo é uma cadeira só existe, pois ela se manifestou em nossa consciência, onde nossa experiência, aprendeu e compreendeu, dando um significado, neste contexto, que “a cadeira” Neste contexto, em que a cadeira não é apenas um objeto, mas lhe é dado definição que traz sentido a este objeto, mas como todo o mundo. Sustentando este pensamento, Ribeiro (1985), nos coloca que
"Isto nos leva ao processo da análise intencional que nos faz deter diante da realidade em um duplo movimento, da realidade em si da qual pouco ou nada sabemos e da realidade como chega à nossa mente, como em nós ela é representada e da qual também, de fato, pouco ou nada sabemos. De certo modo, uma casa, por exemplo, não tem realidade nem na consciência, nem fora dela, mas o seu modo de existência vai depender do modo como a consciência a apreende, a encontra, a visa, do modo como ela lhe dá sentido.” (Ribeiro, 1985, p. 43).
Aqui, o psicoterapeuta deve atuar com a redução de si para poder olhar o outro voltando-se a ele, a fim de não atrapalhar o processo terapêutico individual do mesmo. A psicoterapia deve ser a essência do consulente, e não do terapeuta de um modo que o terapeuta precisa ir ao encontro, junto e por meio deste indivíduo, buscar e confortar ele sobre sua própria consciência, experiência e significado, pois isso só ocorre com o apenas o consulente. Válido ressaltar que
“Reduzir, aqui, significa encontrar-se com o cliente nele, com ele, através dele. Significa encontrar, intuir tudo que ele é em si, sem nenhuma mistura de nada daquilo que nós somos. Significa perceber-lhe a essência e com ela familiarizar-se, [...]. Significa, enfim, chegar à sua essência” (Ribeiro, 1985, p. 44).
Mas afinal, qual o diferencial da Gestalt? Para seus principais autores Perls, Hefferline e Goodman (1997, p.52) está em analisar “a relação figura e fundo; a importância de interpretar a coerência ou a cisão de uma figura em termos do contexto total da situação concreta; o todo estruturado definido não é demasiado inclusivo, e apesar disso não é um mero átomo;”. Ou seja, está em atuar na compreensão do ser como um todo, olhando, analisando e ponderando suas partes. Para isso, Perls optou por considerar a “Gestalt” como uma dinâmica de abertura e fechamento de vivências de contato entre nosso passado e nosso futuro, fazendo com que o terapeuta tenha sob o consulente um olhar mais pessoal, individual e menos padronizado e/ou fechado em um conceito específico (Granzotto & Granzotto, 2007, p. 90). Assim, a Gestalt se tornou uma teoria psicológica muito mais aberta à subjetividade da pessoa, tornando, portanto, o processo terapêutico mais dinâmico e de certa forma “livre” para a atuação de seus integrantes.
Awareness
Inicialmente, se faz válido colocar que em tradução livre da palavra awareness do inglês para o português como “conhecimento de algo” ou “ter consciência de”. Porém, por se tratar de um conceito mais amplo que faz parte da Gestalt, possui diversos conceitos possíveis, variando conforme o autor referenciado. Assim, Perls, Hefferline e Goodman (1997, p.33) nos colocam que a awareness “caracteriza-se pelo contato, pelo sentir [...] O seu funcionamento adequado é o reino da psicologia normal; qualquer perturbação cai na categoria psicopatologia.” e a partir disso, “o sentir determina a natureza da awareness, quer ela seja distante (p. e., acústica), próxima (p. ex., tátil) ou dentro da pele (proprioceptiva).” (1997, p. 33). Dessa forma, awareness pode ser interpretada como o ato de ter a consciência de algo, como uma percepção de algo novo, ou uma percepção.
Já Yontef (1998, p. 215) apresenta a awareness como “uma forma de experienciar” as vivências do sujeito com ele mesmo e dele com o ambiente que está, além de constatar que esta é “em si, uma integração do problema.”. O autor nos traz ainda, um fato importante: “O ato da awareness é sempre aqui-e-agora, embora o conteúdo da awareness possa estar distante” (Yontef, 1998, p. 217). Esta afirmação está diretamente ligada à atuação do aqui e agora durante o processo terapêutico, onde serão abordadas as gestaltens presentificadas para o consulente, que não necessariamente serão referentes a questões atuais. Por exemplo, um consulente adulto ao falar de uma situação de briga em casa, relata semelhanças com brigas vivenciadas por ele na infância. O aqui-e-agora neste caso, envolve situações do passado e, portanto, o mesmo será lembrado e abordado no setting terapêutico.
Em concordância, Frazão (2015) enfatiza que
“Aquilo que o cliente nos traz no aqui e agora não é apenas seu presente imediato, a-histórico. O aqui e agora inclui o passado – que surge na forma de lembranças e experiências – e o futuro – que se apresenta na forma de projetos, anseios, planos [...] É preciso compreender a relação entre aqui e agora e lá e então; do passado com o presente; entre a figura/queixa e o fundo, pois é a relação figura/fundo que dá sentido à figura” (p. 74).
Porém, não há como falar do aqui-e-agora sem introduzir brevemente o conceito de awareness, já que o primeiro acontece com base no segundo. Nas palavras de Perls, Hefferline e Goodman (1997) a awareness “caracteriza-se pelo contato, pelo sentir, pelo excitamento e pela forma de gestalten” (1997, p. 33; grifo dos autores). Assim, ainda para estes autores, o contato deve ser pensado a partir do seguinte questionamento “Com o que se está em contato?” (1997, p. 33). Isso se dá porque o contato não necessariamente é material, mas sim, é o significado por trás deste algo material. O exemplo trazido por Perls, Hefferline e Goodman (1997, p. 33) para exemplificar melhor é o de “uma pessoa que observa um quadro moderno pode acreditar que está em contato com a tela, quando na realidade está em contato com seu crítico de arte de seu jornal predileto.”. Em concordância com Perls, Hefferline e Goodman, os autores Granzotto e Granzotto (2007, p. 177), apontam que o contato aqui abordado tem sua definição em “ligar-se a algo diferente”, ou seja, este algo diferente pode ser interpretado como o significado por trás da materialidade.
Já sobre o sentir, Perls, Hefferline e Goodman (1997, p. 33) afirmam que ele “determina a natureza da awareness” ou seja, a base de sua essência e de sua existência. É o que confirmam Granzotto e Granzotto (2007, p. 179) quando acrescentam que “O sentir [...] escolhe a quem e o que perceber, com qual elemento se correlacionar, antes mesmo que eu tivesse tempo para pensar nisso.”
Sobre o excitamento, Perls, Hefferline e Goodman (1997, p. 33) consideram um bom termo já que “abrange a excitação fisiológica assim como emoções indiferenciadas” enquanto Granzotto e Granzotto (2007, p. 180) concluem que este “é a potência que nossa história impessoal tem para deslizar pelas possibilidades abertas pela coisa que nossa história antes sentiu”.
E por fim, Perls, Hefferline e Goodman nos colocam a forma de gestalten, como sendo uma espécie de junção das 3 definições anteriores, onde cada uma é uma haste e as 3 juntas formam um triângulo, ou seja, são como partes que constituem um todo nomeado de gestalt - sendo que gestalten é o plural. Granzotto e Granzotto (2007, p. 182) compartilham deste pensamento, quando afirmam que “a vivência de minha unidade histórica na transcendência é formação de Gestalt”.
A partir da análise destes conceitos, Yontef (1998, p. 215) reafirma esta teoria e conclui que awareness “é uma forma de experienciar [...] é, em si, a integração de um problema" onde o indivíduo vivencia e experiência por exemplo uma situação nova, que por consequência irá criar um contato com ela, e a partir disso o ato de recordar-se deste contato pode ser chamado de awareness. Ainda para o autor, “o ato da awareness é sempre aqui-e-agora, embora o conteúdo da awareness possa estar distante.” (Yontef, 1998, p. 215). Onde este “agora” pode ser considerado como o momento atual, aquele que está sendo experienciado, e, portanto, a “awareness acontece agora” (Yontef, 1998, p. 40).
Além disso, se faz necessário colocar que “em termos da Psicologia da Gestalt, se a experiência de uma percepção passada de um objeto ou forma influencia ou não a visão de um objeto que está vendo aqui e agora” (Ribeiro, 1985, p.78). Ou seja, considera-se no setting terapêutico que “O presente é uma movimentação permanente entre o passado e o futuro” (Yontef, 1998, p. 41) é nele que acontece a awareness.
Contato
Importante compreender o contato para a gestalt, e sua relação com a awareness, para então trazer o ajustamento criativo e seu funcionamento. Dado que de forma simplificada, o contato é a relação do eu com o mundo e as relações nele experienciadas. Tais relações, ocorrem na forma de ciclos que variam de pessoa pra pessoa. Ginger (2007, p. 51) afirma isso ao trazer que “toda experiência também segue um ciclo: ela começa, se desdobra e acaba.”. Para isso, Ginger ainda nos propõem 5 (cinco) fases sobre como acontece este contato. Sendo elas: Pré-contato, engajamento, contato, desengajamento e assimilação. A primeira nos esclarece que necessitamos de um pré-contato de forma a que nos “permita a emergência da necessidade” (Ginger, 2007, p. 63). De forma mais explicativa, Ginger nos dá o exemplo de uma relação amorosa, e o fato de que esta
“implica um tempo suficiente de desejo, depois de prelúdios [...], um trabalho pessoal em Gestalt é precedido de um tempo de latência, preparando a instauração de uma "aliança terapêutica" ... A ausência do pré-contato (ou sua duração excessiva) indica um disfuncionamento psicológico ou social” (Ginger, 2007, p. 64).
Já no segundo, chamado de engajamento, possui este nome de forma até autoexplicativa, já que nele ocorre o que Ginger (2007, p. 64) nomeou de “tomada de contato”, que pode acontecer por impressão ou modo espontâneo. Seja como for, a pessoa está engajada e vai em frente! Sejam quais forem as razões ou justificações, chega um momento em que "é isto, está decidido!" (Ginger, 2007, p. 64) e segue em direção ao contato.
Na terceira fase do ciclo, é quando ocorre o contato. Ele se dá entre o eu e o outro, e às vezes também sobre eu e o eu mesmo, pensamento, sentimentos ou até mesmo entre o eu e ambiente/meio, tendo variações. Assim, o “processo segue seu curso" com altos e baixos, e tem-se o tempo de refletir, quer se esteja numa fase de orientação (de opção), de ação ou de interação…" (Ginger, 2007, p. 65).
Em seguida, vêm o desengajamento, que seria o contrário do engajamento. Ou seja, o momento onde a ruptura está acontecendo de qualquer forma e a partir desta ruptura, acontecem as consequências. Esse “fim” tem tempo indeterminado. Aqui, já “Não se está mais no pleno contato [...], mas no instante crítico do desengajamento-que poderá durar em seguida alguns minutos, vários dias... ou longos anos” (Ginger, 2007, p. 66).
E por último, têm-se a assimilação, que é uma consequência de toda essa trajetória, e "é sobre ela que repousa, em grande parte, a eventual assimilação ulterior de toda experiência" (Ginger, 2007, p. 67).
Ainda, Perls, Hefferline e Goodman (1997, p. 33) nos colocam que “o contato é awareness do campo ou resposta motora no campo”. Mas como, de fato, acontece o contato? De forma resumida, Frazão (2015, p. 68) nos coloca então que “O contato se dá por meio daquilo que em Gestalt-terapia chamamos de funções de contato: visão, audição, olfato, tato, fala e movimento. É pelas funções de contato que nossa percepção se organiza e nossos sentimentos adquirem significado” e que “é o processo de contato de boa qualidade que propicia que a interação indivíduo/ambiente” (Frazão, 2015, p. 68).
Ajustamento criativo e a clínica infantil
Para compreensão de forma mais adequada sobre o ajustamento criativo, é importante ressaltar o conceito de desenvolvimento na Gestalt-terapia, bem como sua visão de homem e de mundo; Para em seguida, aprofundar acerca do ajustamento. Assim, a teoria do desenvolvimento, para a Gestalt-terapia, se faz a partir de uma crítica à teoria biológico-evolucionista e da pedagógico-normativa. Onde a primeira é resumida através da maturidade do ser, já que conforme Aguiar (2005, p. 63-64), nesta teoria, “a infância é concebida como um tempo de mudança e instabilidade que se contrapõe a uma vida adulta estável e madura”. Já a segunda teoria atua de forma mais focada na relação com a sociedade, dado que “prioriza o papel da socialização como força propulsora do desenvolvimento, caracterizando a infância como um período de preparação para a vida adulta” (Aguiar, 2005, p. 65). Em contrapartida destas teorias, McConville, apud. Aguiar (2005, p. 66) nos traz como compreensão de desenvolvimento, o fato de que ela “já é em si, uma “teoria do desenvolvimento humano”, não precisando desenvolver outra teoria específica de “desenvolvimento” [...] pelo fato da Gestalt-terapia possuir uma visão holística e contextual de ser humano, é possível utilizá-las como referenciais de comunalidades”. Ou seja, na concepção gestáltica, “concebemos o desenvolvimento como um processo ininterrupto de interação homem/mundo. A relação estabelecida com o mundo não se caracteriza pela passividade, mas pela possibilidade a cada momento” (Aguiar, 2005, p. 68).
Compreendendo que “A experiência é fruto da interação do indivíduo com o meio ambiente” e que “O que possibilita a experiência em tal interação é contato e awareness” (Frazão, 2007, p. 67), podemos concluir que a Gestalt-terapia tem a visão do homem integral, sendo ele um ser biopsicossocial. Ou seja, sua construção se dá por todos os meios de experiência, sendo eles "física, afetiva, intelectual, social, cultural e espiritual" (Frazão, 2007, p.67), desde o ventre da mãe. Logo, esse atravessamento vem de um contexto onde não é apenas o biológico que é considerado, mas o campo/ambiente onde aquela criança está inserida, suas questões individuais - de cor, gênero, sexualidade e afins - e questões externas - como a época, geolocalização, classe social. Uma vez que esses atravessamentos compunham o ser individual, a Gestalt-terapia pode pensar em um ser correlacional com seu meio, já produzido antes do nascimento propriamente dito e dando continuidade a partir do nascimento. Ainda em conformidade, Frazão(2007, p.67-68) coloca em sua obra sobre o fato de só pode existir awareness com o contato, mas pode acontecer contato sem awareness;
E na experiência é o contato que tem awareness, porém quando o contato não possui awareness, ele tem pouca qualidade. E é esta qualidade que irá diferenciar um ajustamento criativo saudável de um não saudável, principalmente na infância. Logo, a diferença entre elas “é basicamente a forma como a interação criança/mundo regida pelo processo de autorregulação vai acontecer” (Aguiar, 2005, p. 104). Dessa forma, Frazão (2007, p. 69) trás com assertividade o fato de que o “Ajustamento criativo saudável implica awareness de nossas necessidades, bem como ser capaz de priorizá-las”. Assim, é a partir das resoluções feitas com base no ajustamento criativo que iremos identificar e priorizar nossas necessidades.
A autora traduz a ideia de ajustamento criativo saudável levando a ideia de uma adaptação, ou melhor, um ajuste ao ambiente. Onde considerando o que o ambiente tende a oferecer, incluindo sobre sua forma temporal, guiado por regras (determinações) datadas e localizadas visando um contexto cultural e social; assim é considerado o pacto que o indivíduo se encontra e relevando sua realidade ou seja relação indivíduo/meio. A autora Frazão complementa trazendo que este ajustamento quando saudável, implica na “capacidade de interagir de modo ativo com o ambiente na fronteira de contato, adaptando, quando necessário, a demanda das necessidades às possibilidades de atendimento do ambiente”. Porém, Ginger, nos trás a ressalva de que o ajustamento criativo
“não se trata de um simples ajustamento adaptativo [...] trata-se de exatamente de um compromisso, ou melhor, de uma síntese que permite a cada um existir conforme sua opinião- levando, porém, em consideração as normas locais e temporais - e encontrar seu próprio caminho no meio de um conjunto.” (Ginger, 2007, p. 183; grifo do autor).
Pensando assim na função de homeostase, uma busca de estabilidade relativamente constante, que a relação indivíduo/meio desempenham, uma vez que o corpo demanda adaptações com a realidade apresentada a ele. Ao fazer essas buscas, pode-se denominar de ajustamento criativo saudável.
Para Frazão (2007), conforme o ser humano vai crescendo suas necessidades fisiológicas e psicológicas se transformam em movimentos mais complexos e aparecem em vários aspectos sociais e culturais da vida do sujeito. Independente da origem da necessidade, é no campo eu-meio que estas necessidades se apresentam e se satisfazem.
"Em nossa vida, temos necessidades distintas e inter-relacionadas: as de natureza fisiológica (comer, beber, dormir) e as de natureza psicológica (relacionarmo-nos com o outro, expressarmos emoções, sermos amados e respeitados). [...] Qualquer que seja a natureza ou a abrangência da necessidade, é no campo indivíduo/ambiente que ela se manifesta e se realiza.” (Frazão, 2007, p. 68).
Estas necessidades, especialmente na primeira infância, surgem de forma desordenada e “para satisfazê-las é necessário estabelecer uma ordem, de forma a organizá-las em uma hierarquia: da mais importante para a menos importante” (Aguiar, 2005, p. 105). Dessa forma, considera-se que o “Ajustamento criativo saudável implica awareness de nossas necessidades, bem como ser capaz de priorizá-las” (Frazão, 2007, p. 69). E, ainda, que “a saúde mental e social se traduz por um ajustamento criativo permanente na “fronteira-contato” entre o organismo e seu meio ambiente” (Ginger, 2007, p. 182), dessa forma os ajustamentos vêm desde que o sujeito ainda é um bebê e nos assegura um desenvolvimento mental e social considerado saudável.
Na relação mãe-bebê, por exemplo, a mãe é o primeiro outro que o bebê tem contato. Frazão (2007, p. 68) nos coloca que a mãe entende através de sua awareness os desejos e necessidades de seu neném, e “uma vez que é ela que, a um só tempo, supre as necessidades fisiológicas e está junto do filho amorosa e respeitosamente, ela é o primeiro outro significativo com quem a criança tem contato” (Frazão, 2007, p. 68). Portanto, essa interação é o começo do desenvolvimento individual e a princípio saudável, que ao longo do tempo poderá ampliar o contato deste indivíduo com outros “outros”. Numa relação construtiva, baseada no amor e no respeito, onde sujeito em desenvolvimento “possa expressar suas necessidades (sejam elas de que natureza forem) e exercer seu potencial, poderá se desenvolver como indivíduo único e singular, interagindo com o ambiente por meio do ajustamento criativo” (Frazão, 2007, p. 69).
Assim, "Pouco a pouco, à medida que desenvolva autossuporte e se sinta segura, a criança poderá ampliar seu contato com o mundo, ampliando cada vez mais o âmbito e a complexidade de suas experiências" (Frazão, 2007, p. 68).
Válido ressaltar ainda, que esta relação mãe-bebê não tem apenas o segundo como dependente. A autora Frazão (2007, p. 68) nos coloca esta relação como sendo de “interdependência”, e de “reciprocidade mãe-filho, um interjogo de satisfações mútuas” uma vez que a mãe e filho se satisfazem. Isso se dá devido ao fato de que “o bebê precisa ser amamentado, também a mãe precisa aliviar a pressão do seio repleto de leite” (Frazão, 2007, p.68). Esta relação, por ser a primeira relação do sujeito com o outro, possui extrema relevância no desenvolvimento deste, uma vez que esta relação irá refletir em suas relações futuras. Dessa forma, o indivíduo satisfaz suas necessidades de forma organizada, uma vez que busca essa organização, ela ocorre a partir de sua hierarquia de “importância”, sendo que este movimento acontece junto da relação com o outro. Quando não satisfeitas algumas necessidades há então um conflito. Assim,
“Se a tentativa de expressar as necessidades de forma diferente falhar repetidamente, a fim de diminuir o conflito e manter a relação, dada a hierarquia de valores, a expressão de necessidades poderá ser distorcida ou até suprimida. O ajustamento, em vez de funcional, tornar-se-á disfuncional.” (Frazão, 2007, p. 71)
Em contrapartida, Aguiar (2005, p. 106) ressalta que “o que vai apontar o caráter não-saudável de um ajustamento criativo, é o uso que a criança faz dele, a frequência com que ele ocorre e, principalmente, a impossibilidade de a criança ajustar-se de forma diferente nas mais diversas situações”, e isso faz com que a criança generalize determinadas situações, mantendo um padrão de respostas para estes acontecimentos. Por este motivo, especialmente nos anos iniciais do desenvolvimento infantil deve-se atentar à forma como lida-se com decisões da criança, já que “Se tais ajustamentos criativos se mantiverem, tal diminuição ou bloqueio tende a cristalizar-se, dificultando o contato não só na situação inicial como também em outras situações” (Aguiar, 2005, p. 109).
Dessa forma, se torna mais palpável considerar que o ambiente no qual a criança irá se desenvolver, e as formas como seu contexto lida com as adversidades, irão espelhar no comportamento futuro desta criança. Pertinente acrescentar que este não é um fato determinante, mas que possui extrema importância na forma com que o sujeito irá ver o mundo ao seu redor. Aguiar (2005, p. 109) nos apresenta um exemplo que retrata de forma simples, mas objetiva este fato, onde
“Se uma criança pertencente a uma família onde as pessoas gritam e brigam muito, diminui sua capacidade de escuta e isso se torna regra, todo o seu contato com o resto do mundo a partir de sua escuta ficará prejudicado, já que um dos importantes canais de contato encontra-se obstruído” (Aguiar, 2005, p. 109).
Ou seja, “a origem das dificuldades não está nem no meio, nem na criança, mas na relação que está sendo estabelecida entre eles” (Aguiar, 2005, p. 106) onde deve-se atentar que o todo do contexto ali inserido e que a demanda ali existente variam, já que apesar de serem situações “iguais”, o indivíduo está diferente e, portanto, a situação também será. Porém, “Se a demanda do meio é sempre a mesma, tais ajustamentos criativos tendem a se repetir indefinidamente até se transformarem nas únicas possibilidades de relação com o meio que a criança consegue vislumbrar” (Aguiar, 2005, p. 106).
Ainda segundo Aguiar (2005, p.105), os ajustamentos criativos funcionais e disfuncionais se diferenciam pela “forma como a interação criança/mundo regida pelo processo de autorregulação vai acontecer”; para a Gestalt-terapia, esse movimento acontece em crianças e adultos de forma muito similar, se não igual, já que há uma estrutura onde as necessidades são distribuídas de forma hierárquica,” da mais importante para a menos importante” (Aguiar, 2005, 105). Assim, já quando criança, o sujeito dá a importância para a necessidade que achar ser a ideal, a partir de suas prioridades e sempre considerando, "sua necessidade de ser confirmada pelo outro" (Aguiar, 2005 p.105). Porém a necessidade priorizada não significa que deverá “abrir mão” das outras necessidades. Assim, se sua necessidade for confirmada pelo outro e “não entrar em conflito com a satisfação de outras” (Aguiar, 2005, p. 105), a tendência é de que seu comportamento se repita de forma considerada mais saudável, já que ela irá consolidar esta necessidade com suas outras, formando um ajustamento criativo para cada evento e tornando assim um funcionamento saudável.
Ou seja, se necessário, a criança deixa de lado as satisfações da sua necessidade, para obter a validação do outro através da expectativa criada pelo outro sobre ela, e quando essa expectativa não é alcançada, “sua única saída é tentar negar, suprimir, distorcer ou transformar suas necessidades para que possa manter a possibilidade de reconhecimento dentro dos contextos dos quais faz parte” (Aguiar, 2005, p. 105). Porém há uma chance onde a criança em vez de buscar o tempo todo a aprovação do adulto, ela faça exatamente o oposto. Aqui, “em ambos os casos, suas necessidades são deixadas de lado: ao realizar o que é esperado, suas necessidades não são satisfeitas; ao contrapor-se aos adultos, novamente suas necessidades não estão em foco, pois o que importa é contestar o adulto e nem tanto satisfazer suas próprias necessidades” (Aguiar, 2005, p. 105).
Apesar de ambas as situações acontecerem já na infância, Aguiar (2005, p. 105-106) os considera como “ajustamentos criativos pouco satisfatórios” uma vez que as necessidades da criança são colocadas de lado pelas prioridades do outro, podendo gerar assim um comportamento automático da criança, e posteriormente na vida adulta, em prol das necessidades sempre do outro, e reprimindo as suas. Ou seja, “se a demanda sempre se configura da mesma forma, o ajustamento criativo se torna rígido, sendo a única saída que a criança consegue visualizar” (Aguiar, 2005, p. 106). Dessa forma, considera-se então que as dificuldades para realizar tais ajustamentos criativos, não está unicamente na criança ou no seu meio, “mas na relação que está sendo estabelecida entre eles, a criança e meio, na busca da melhor configuração possível a cada momento e a cada contexto” (Aguiar, 2005, p. 106).
A partir disso, "Observamos assim uma série de comportamentos estereotipados, cristalizados, enrijecidos e invariáveis, muitas vezes, independente do contexto em que a criança encontra-se” (Aguiar, 2005 p. 106). Isto é, quando identifica-se um comportamento repetitivo e paralisado, na criança, deve-se levar em consideração o contexto do meio em que esta está inserida. Lá, a demanda poderia nunca mudar, fazendo com que essa criança generalizasse o ajustamento criativo em novas demandas, ao invés de criar uma possibilidade de resolução, ela apenas generaliza e repete.
Dessa forma o que torna o ajustamento saudável ou não, será a maneira que a criança utiliza a qualidade e a quantidade deste ajustamento, e ainda, se ela consegue utilizar de novos ajustamentos criativos em diferentes contextos, que irão acarretar novas consequências que serão adequadas aos usos desse ajustamento. Isso por quê “o que vai apontar o caráter não-saudável de um ajustamento criativo, é o uso que a criança faz dele, a frequência com que ele ocorre e, principalmente, a impossibilidade de a criança ajustar-se de forma diferente nas mais diversas situações” (Aguiar, 2005, p. 106). Assim, ainda nas palavras de Aguiar (2005),
“Isso significa que em alguns momentos seu ajustamento criativo será saudável, pois conseguirá satisfazer suas necessidades sem nenhum prejuízo para sua relação mais ampla com o mundo e o outro, mas, em outros momentos, se mostrará inadequado, pois apesar de satisfazer uma necessidade específica, não contempla outras também importantes para a criança, trazendo uma série de consequências desagradáveis” (Aguiar, 2005 p. 106)
Em concordância, segundo Frazão (2007, p. 70), a pessoa em seu desenvolvimento, equilibra por meio do ajustamento criativo entre manter as necessidades satisfeitas e a regulação da interação com o outro e com o meio. Mas quando ocorre uma falta, esse processo de ajustamento criativo pode se tornar conflituoso, e por ser um comportamento que se repetirá nas relações futuras com o outro é considerado, neste caso, um ajustamento disfuncional. Em outras palavras, por ser um comportamento tido como repetitivo, se falho, se repetirá falho. Ou seja, esta falha pode extinguir ou até mesmo ser extinta. Nas palavras exatas da pesquisadora, "Se a tentativa de expressar as necessidades de forma diferente falhar repetidamente, a fim de diminuir o conflito e manter a relação, dada a hierarquia de valores, a expressão de necessidades poderá ser distorcida ou até suprimida" (Frazão, 2007, p. 71).
Essa disfuncionalidade, segundo Frazão (2007), pode afetar através do contato, a compreensão da awareness, pois a percepção do sujeito se tornará desorganizado e com distorção dos sentimentos. Na disfuncionalidade, algumas crianças não conseguem encontrar e lidar com ela, assim é na terapia que ela a encontrará e irá torná-las funcionais assim como encontrar suas potencialidades. Isso se dá, quando na relação mãe-bebê “em lugar de segurança favorecerá o surgimento de desamparo e insegurança, interferindo na qualidade e na possibilidade de desenvolvimento das potencialidades da criança e na ampliação do âmbito e da complexidade de suas experiências” (Frazão, 2007 p.71). Dessa forma, a disfuncionalidade traz uma relação entre a mãe e bebê que torna-se um espaço instável, perigoso e de vulnerabilidade onde ocorrerá uma deficiência na suas experiências, podendo causar uma cristalização, conforme citado acima, no processo de ajustamento. Tal situação é de extrema importância e têm atenção especial na clínica infantil, pois “Quanto mais grave, significativa e essencial for essa situação, mais os processos de ajustamento criativo perderão sua natureza criativa e se tornarão Gestalten abertas, fixas ou cristalizadas.” (Frazão, 2007, p. 71).
Durante o processo terapêutico, Frazão (2007) considera que
“no pensamento diagnóstico processual, além de identificarmos os ajustamentos disfuncionais – que por tenderem a ser padronizados e repetitivos perderam sua natureza criativa –, devemos identificar os ajustamentos criativos funcionais, que nos remetem às possibilidades e potencialidades de nossos pacientes” (Frazão, 2007, p. 73)
Além de identificar as cristalizações e disfuncionalidades, constantemente deverá questionar-se “o que está acontecendo e a serviço do quê (para quê)” (Frazão, 2007, p. 73), de forma sempre a auxiliar o consulente em seu processo de autoconhecimento. Isso, com base no aqui-e-agora do mesmo e nunca negando sua história, sendo seu passado seu norteador e o futuro suas buscas. Isso porque “aquilo que o cliente nos traz no aqui e agora não é apenas seu presente imediato, a-histórico. O aqui e agora inclui o passado – que surge na forma de lembranças e experiências – e o futuro – que se apresenta na forma de projetos, anseios, planos.” (Frazão, 2007, p. 74).
Assim faz-se importante colocar que “essa interação se dá a partir do que denominamos processo de autorregulação organísmica” (Aguiar, 2005, p. 68), sendo que esta autorregulação pode ser compreendida como a forma na qual o sujeito se relaciona com o meio em que está inserido. E ainda,
“A perspectiva organísmica de desenvolvimento parte do pressuposto de que essa interação ininterrupta com o meio é organizada a partir de um princípio homeostático onde o organismo total estaria sempre buscando equilíbrio em sua relação com o meio, alcançando a cada momento a melhor forma possível de estar no mundo” (Aguiar, 2005, p. 68)
Ou seja, o sujeito sempre está na busca pelo equilíbrio consigo mesmo e com o ambiente buscando, assim a interação sujeito/meio, se organiza para essa busca de equilíbrio.
Ao falar sobre o processo terapêutico em si, Aguiar (2005) nos traz 3 pontos que ela considera importantes ao iniciar a psicoterapia, sendo eles: a demanda, o estabelecimento de vínculo e a construção de uma compreensão diagnóstica. Sendo a primeira, identificar o motivo real pelo qual a criança está iniciando o processo terapêutico, a fim de “verificar cuidadosamente que demanda é essa, ou seja, que pedido é esse que está sendo feito a nós por um adulto em nome de uma criança” (Aguiar, 2005, p. 126; grifo da autora). Já o segundo, pode ser compreendido como a base do processo terapêutico, o que nas palavras de Aguiar (2005) “é o suporte onde repousarão nossas intervenções e o que permitirá que elas sejam efetivamente transformadoras” (Aguiar 2005, p. 130); válido colocar que ainda Aguiar (2005) nos ressalta a importância deste vínculo não só com a criança, mas também com seus responsáveis legais. E por fim o terceiro, que visa compreender a criança e sua visão de mundo, considerando “uma visão ampla de como a criança apresenta-se em sua relação com o mundo e consigo mesma nesse momento, quais os fatores que estão em jogo nessa relação e quais seus recursos e possibilidades para a mudança” (Aguiar, 2005, p. 131).
Para as entrevistas iniciais, cada gestalt-terapeuta analisa a forma na qual sente-se mais confortável para começar os atendimentos. Alguns preferem conversar com os pais num primeiro momento, já outros optam por atender diretamente a criança. Independentemente da forma escolhida, nas primeiras sessões com a criança em si, há 2 formas de entrevista, as livres ou diretivas. Sendo que na primeira “o psicoterapeuta interfere o menos possível, seja com perguntas ou com intervenções” (Aguiar, 2005, p. 133), e na segunda “o psicoterapeuta traz perguntas ou técnicas específicas que devem ser respondidas e aceitas pelo entrevistado, de forma que se alcance os objetivos da investigação” (Aguiar, 2005, p. 133). Referente às crianças, Aguiar (2005) nos coloca que este primeiro contato é exclusivamente livre.
É muito comum, atualmente, casos de pais separados onde uma das partes solicita que a criança passe pelo processo terapêutico para melhor compreensão da criança sobre os acontecimentos. Ou ainda, casos em que somente um dos responsáveis têm interesse de que a criança compareça ao setting terapêutico. Independentemente de qual seja a motivação, se um dos responsáveis não pode comparecer às entrevistas iniciais, se faz importante colocar “que evitemos o máximo que haja intermediários na comunicação do psicoterapeuta com os envolvidos no processo de compreensão diagnóstica a fim de eliminar distorções, mal-entendidos e manipulações" (Aguiar, 2005, p. 143-144). Isso porque as informações, decisões ou afins, relacionados à criança devem ser conversados ou ao menos esclarecidos de forma direta e sem a possibilidade de dubiedade, ou até mesmo para que não haja nenhum tipo de manipulação por parte principalmente do intermediário das informações. Dessa forma, se faz fundamental ainda,
“que o profissional trabalhe com a criança a partir do pai que ela tem, e não com o pai que gostaria de ter, ou que o psicoterapeuta considere ideal. Vamos passar pela vida da criança; não vamos adotá-la, levá-la para casa ou protegê-la de todos os males. Nossa tarefa é ajudá-la a reunir recursos para lidar de forma mais satisfatória com seu contexto e assim ter possibilidades de realizar ajustamentos criativos mais funcionais” (Aguiar, 2005, p. 144).
Para o seguimento dos atendimentos, se necessário, o Gestalt-terapeuta irá realizar mais atendimentos com a família, em especial com os responsáveis da criança. Isso para compreender melhor a história da família, a rotina da criança, suas preferências e afins, com o objetivo de observar “não só o que eles dizem, mas a forma como dizem ou como tratam o próprio questionamento feito pelo psicoterapeuta” (Aguiar, 2005, p. 146). Ainda nos primeiros encontros com os responsáveis, se faz extremamente necessário explicar e tirar todas as dúvidas que surgirem acerca do processo terapêutico infantil e principalmente “informar aos responsáveis, que o trabalho com crianças é diferente do trabalho com adultos, que é realizado através de recursos lúdicos e que trabalhamos com o que a criança traz e não com o que o terapeuta ou eles acham que ela deve trazer” (Aguiar, 2005, p. 148-149).
Assim, é indispensável, desde o início do atendimento infantil, esclarecer para os responsáveis da criança que a mesma “não vai entrar e/ou permanecer no espaço para nos agradar ou agradar aos pais. A escolha de entrar e de permanecer será sempre da criança” (Aguiar, 2005, p. 156) e isso porque quem irá receber o atendimento é ela, e por conta disso ela precisa sentir-se confortável e disponível para o processo psicoterápico. E para isso, precisamos explicar principalmente que ao atender uma criança, o Gestalt-terapeuta está “ali para prestar atenção e respeitar o que ela precisa e quer fazer” (Aguiar, 2005, p. 156; grifo e negrito da autora). E que a devolução acerca das entrevistas iniciais, devem ser feitas para os responsáveis da criança e para a própria criança, afinal os atendimentos aconteceram com e para ela, porém “A devolução para a criança não precisa ser realizada de modo formal [...] Com a criança, vale os mesmos critérios utilizados com os adultos: não se devolve tudo, mas aquilo que é possível de ser ouvido num primeiro momento” (Aguiar, 2005, p. 179).
De forma a finalizar as devoluções, o psicoterapeuta deverá informar de forma esclarecida a orientação na qual deve-se seguir o tratamento da criança, “o que inclui a indicação ou não de psicoterapia para a criança, bem como, se for o caso, um encaminhamento para um outro profissional, tal como neurologista, psiquiatra ou fonoaudiólogo” (Aguiar, 2005, p. 175).
Para a finalização dos atendimentos, o Gestalt-terapeuta deve realizar sempre uma espécie de atualização do caso do consulente, através de um informe psicológico, com as principais demandas, informações e avaliações que foram realizadas, por isso “o documento deve seguir os princípios técnicos da língua escrita, a partir de conclusões baseadas no uso dos instrumentais técnicos do psicoterapeuta e obedecer rigorosamente os princípios éticos estabelecidos pelo Código de Ética Profissional do Psicólogo” (Aguiar, 2005, p. 181). No atendimento psicoterapêutico infantil, o Gestalt-terapeuta “tem o objetivo de resgatar o curso satisfatório do desenvolvimento da criança, propiciando oportunidades” (Aguiar, 2005, p. 186) o que, em outras palavras, significa que a partir do processo terapêutico a criança irá se conhecendo e se percebendo cada vez mais. E então, a partir desse autoconhecimento desencadeado pelo processo de autopercepção, a criança passará a pensar em novas possibilidades para que a mesma comece a priorizar suas necessidades, para que como consequência alcance a satisfação destas “além de aceitar quem ela é na sua singularidade” (Aguiar, 2005, p. 186).
Devido ao fato de que, em geral, a linguagem infantil não estar bem desenvolta, costuma-se muito atuar nestes casos com o auxílio da ludoterapia, a fim de “facilitar a expressão e a comunicação no espaço terapêutico, e várias técnicas para explorá-los nas diversas atividades realizadas ao longo das sessões” (Aguiar, 2005, p. 187). Sempre com a compreensão de que “Brincar com a criança não é tornar-se criança no espaço terapêutico [...] Brincar com a criança é poder compartilhar da importância e da magia daquela linguagem sem perder de vista a tarefa terapêutica” (Aguiar, 2005, p. 198).
Ou seja, o ato de brincar no setting terapêutico é atuar com as possibilidades e a linguagem da criança. Para auxiliar nesta forma de atuação mais dinamizada, na clínica infantil, é comum encontrar em alguns consultórios fantoches e/ou bonecos específicos que se tornam nas palavras de Aguiar (2005) uma espécie de “co-terapeuta”, já que para a criança, conversar com este símbolo “ou ouvir coisas deles é bastante diferente de falar ou ouvir o psicoterapeuta. Muitas vezes as crianças precisam desse tipo de linguagem” (Aguiar, 22005, p. 200). Ou ainda, há mais materiais lúdicos disponíveis para a criança no espaço do atendimento, isso sempre considerando que “A sala e o material estão à disposição da criança, esperando pela sua decisão” (Aguiar, 2005, p. 203), e isso devido ao fato de que, “é a criança quem indica o caminho” (Aguiar, 2005, p. 203) a ser seguido em todos os atendimentos, igualmente como num atendimento a um adulto.
Tais atendimento psicoterápicos infantis, na Gestalt-terapia, visam atuar através da fenomenologia, sem induzir ou direcionar os assuntos a serem abordados ou as decisões a serem tomadas pela criança. É importante que a criança compreenda que ali é um espaço onde ela é quem decide, aprendendo assim a colocar mais as suas necessidades como prioridade. E, ainda, “facilitando com isso a obtenção de awareness por parte da criança a respeito de sua experiência naquele momento, naquele espaço e naquela relação, ajudando-a a não julgar seu processo nem desprezar ou alienar aspectos de si mesma” (Aguiar, 2005, p. 203). Outro fator relevante neste processo, é a possibilidade de um significado mais concreto de uma atividade lúdica, o que não é real, dado que como falado anteriormente, quem direciona como será o atendimento é a criança, e como consequência disso, o significado das atividades lúdicas “vai ser apontado pela criança em seu processo de awareness e ampliação de fronteiras” (Aguiar, 2005, p. 204) o aqui-e-agora que está sendo trabalho naquele momento, é o dela e não o do gestalt-terapeuta.
Os objetos lúdicos a serem utilizados no processo terapêutico, devem segundo Aguiar (2005, p. 227), atender a duas especificidades: “segurança e relevância para a tarefa terapêutica”. Ao primeiro, considera-se o material do qual é produzido de material mais resistente e que não haja a possibilidade de machucar os envolvidos na brincadeira; um exemplo de material que vai contra esta especificidade, são tesouras, quando utilizadas em atividades de cortar e colar, já que tanto a criança quanto o psicoterapeuta podem se machucar. E ao segundo, vai de encontro ao que já foi dito anteriormente. O processo psicoterápico infantil, apesar de seu funcionamento mais lúdico, possui em cada uma de suas interações, um “estímulo para a criança compartilhar sua experiência” (Aguiar, 2005, p. 228). Assim, ao unir estes dois tópicos, cria-se um ambiente com um número maior de elementos necessários para o desenvolvimento do processo psicoterápico. Mas mesmo em casos em que não há um objeto mais direcionado para a ludicidade desejada, o Gestalt-terapeuta encontra uma solução. Isso por que se acostumada a sempre ter suas necessidades atendidas, a criança acaba por não desenvolver novas soluções de resolução, e quando ela se vê sem uma solução pronta para ela,
“ela não está acostumada, aquilo que a retira de sua “zona de conforto” e, portanto, a instiga em sua fronteira de contato. Diante disso, é preciso que ela entre em contato com suas potencialidades não desenvolvidas em busca de recursos criativos para lidar com a situação” (Aguiar, 2005, p. 229)
Nas primeiras sessões, é comum que as decisões das crianças sejam mais fechadas e limitantes, dado que ela ainda está se percebendo e vendo quais são os limites daquele espaço ainda desconhecido, e que por consequência acabem optando por utilizar sempre os mesmos recursos lúdicos. Aqui é onde surge
“O “desafio” que provoca a expansão das fronteiras é experimentar materiais novos, explorar outras funções de contato, buscar outras formas de satisfação das necessidades que não os habituais. É nesse sentido que o espaço é terapêutico. Ele promove transformação na fronteira de contato organismo-meio através do contato, discriminação e assimilação do novo, possibilitando uma reconfiguração dessa relação estabelecida com e no mundo” (Aguiar, 2005, p. 229)
E é através das atividades lúdicas, e das trocas que estas proporcionam, que se cria o espaço terapêutico infantil. Trazer a criança ao encontro com o verdadeiro eu, é especialmente difícil nas primeiras sessões, assim o brincar traz verdades onde a criança alcança o seu íntimo, algo que para ela talvez seja difícil de lidar, e por isso o psicoterapeuta pode utilizar de instrumentos lúdicos, como fantoches e/ou brincadeiras para assim, ir de encontro com uma awareness. Dessa forma, a Gestalt-terapia vai ajudar a criança a lidar com suas questões, e em especial com esse possível ajustamento disfuncional e enrijecido.
CONCLUSÃO
Indubitavelmente, a psicoterapia como um todo possui sua importância no processo de autoconhecimento do sujeito, e é papel do Gestalt-terapeuta perceber as nuances que estas trajetórias trazem para o setting terapêutico. Tal caso, possui embasamento no entendimento de um desenvolvimento do humano e não em um desenvolvimento que se dá através da maturidade causada pela idade. Ao atuarmos com crianças no consultório, mantêm-se este pensamento, mas de forma a considerar as limitações ali existentes.
Na Gestalt-terapia em geral, o entendimento acerca do desenvolvimento se faz necessário para compreender e levar o processo terapêutico, sempre visando “promover as necessárias reconfigurações de padrões estereotipados e cristalizados que caracterizam o funcionamento não saudável” (Aguiar, 2005, p. 307). Válido ressaltar que o processo terapêutico não é recomendado somente nos casos de funcionamento não saudável, sendo também indicado em casos de funcionamento saudável, atuando também na “prevenção do funcionamento não saudável através da promoção do funcionamento saudável” (Aguiar, 2005, p. 307).
Nos casos de psicoterapia infantil, este entendimento do ser tem significativa relevância, já que além de analisar e atuar na forma de funcionamento da criança, considera-se também que ali é um espaço destinado para desenvolver cada vez mais o potencial desta criança em atendimento. E um importante aspecto a ser analisado desde o início, é o ajustamento criativo. Este que se dá na relação entre o indivíduo e seu meio, favorecendo sua satisfação das necessidades, já que ao deparar-se de frente a um novo enfrentamento/uma nova experiência, sua atitude terá como base suas vivências anteriores; caso não haja uma vivência igual - o que não é possível, pois nenhuma situação é igual a outra - o sujeito deverá ajustar-se criativamente para uma nova resolução de problemas.
Dessa forma, consideramos que parte importante para o desenvolvimento do ser, é a vivência de experiências, especialmente na infância, quando ocorrem os primeiros contatos do ser com o outro e com seu meio. Assim, o trabalho com crianças no setting terapêutico tem como uma de suas principais funções, fazer com que estas vivenciem a experimentação de novas situações por parte da criança/destas, a fim de acarretar novos significados à vida da criança. Isso através do “dar-se conta”, da tomada de consciência, que o encontro terapêutico proporciona ao ser.
REFERÊNCIAS
AGUIAR. L.(2005) Gestalt-terapia com crianças: teoria e prática. Editora Livro Pleno.
FRAZÃO, L. M.; FUKUMITSU, O. K. (Org.) (2015) A clínica, a relação psicoterapêutica e o manejo em gestalt-terapia [recurso eletrônico]. São Paulo: Summus.
FRAZÃO, L. M. (2015). Compreensão clínica em Gestalt-terapia: pensamento diagnóstico processual e ajustamentos criativos funcionais e disfuncionais. em L. M. Frazão & K. O. Fukumitsu (Orgs.), A clínica, a relação psicoterapêutica e o manejo em gestalt-terapia (pp. 83-102). São Paulo: Summus.
FRAZÃO, M. L.; FUKUMITSU, O. K. (Org.) (2020) Enfrentando crises e fechando gestalten [recurso eletrônico]. - 1 ed. - São Paulo: Summus.
GINGER. Serge. (2007) Gestalt: a arte do contato: Nova abordagem otimista das relações humanas. Tradução de Lúcia M. Endlich Orth - Petrópolis, RJ: Vozes.
GRANZOTTO, M.; J. M.; GRANZOTTO R. L. M., (2007) Fenomenologia e Gestalt - terapia. São Paulo: Summus editora. 359p.
RIBEIRO. Jorge Ponciano.( 1985) Gestalt-terapia:refazendo um caminho - São Paulo:Summus.
YONTEF. Gary M. (1998) Processo, diálogo, awareness. Tradução de Eli Stern - São Paulo:Summus.
Revista IGT na Rede, v. 21, nº 40, 2024. p. 26 - 53. Disponível em http://www.igt.psc.br/ojs ISSN: 1807-2526