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ARTIGO

CONCEPÇÕES EM RELAÇÃO À PSICOTERAPIA DE GRUPO EM UMA AMOSTRA  PEQUENA DA POPULAÇÃO GERAL

CONCEPTIONS ABOUT GROUP PSYCHOTHERAPY IN A SMALL SAMPLE OF THE GENERAL  POPULATION

JADE RODRIGUES DIONÍZIO RAINHA

ANA CELI PALLINI

Gustavo Kastien Tartaro

Makilim NUNES BAPTISTA

Revista IGT na Rede, v. 18, nº 35, 2021, p. 216 –239. Disponível em http://www.igt.psc.br/ojs ISSN: 1807-2526

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RESUMO

O presente estudo investiga as concepções de uma pequena amostra da  população geral em relação à psicoterapia de grupo (PG), levantando os conceitos  e receios mais comuns em sobre esta prática. Foram 81 participantes de 18 a 61  anos (M=29,3; DP=1,23), sendo que 75,3% eram do sexo feminino e 59,3%  solteiros(as). A coleta de dados foi feita por meio de redes sociais. Todos os  participantes consentiram com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e responderam ao questionário sociodemográfico e o Formulário de Avaliação de  Concepções em Relação à Psicoterapia de Grupo, criado pelos autores baseados em Yalom (2007). O programa Jamovi foi utilizado na análise dos dados. Os  resultados significativos dos testes t indicaram que as mulheres apresentaram  mais concepções negativas (M=23,7; DP=5,84) do que os homens (M=19,9;  DP=5,93) e os solteiros apresentaram mais concepções positivas (M=33,3;  DP=6,22) do que os casados (M=28,8; DP=8,44). Uma análise de frequência  concluiu que curiosidade, interesse e crença na melhora de relacionamentos  interpessoais foram os itens mais frequentes. Todavia, a maioria da amostra (62,9%) acredita que o atendimento individual seja melhor.  

Palavras-chave: Terapia; Grupo; Saúde Mental; Estigma.

ABSTRACT

The present study investigates the conceptions of a small sample of the general  population about group psychotherapy (PG), raising the most common concepts  and fears about this practice. The sample was comprised of 81 participants, aged  from 18 to 61 years old (Mage = 29.3; SD = 1.23), 75.3% female and 59.3% single.  Data collection was done through social networks. All participants agreed to the  Free and Informed Consent Form and answered the sociodemographic  questionnaire and the Conceptions Evaluation Form Regarding Group  Psychotherapy, created by the authors, based on Yalom (2007). The Jamovi  program was used to analyze the data. The significant results of the t-tests showed  that women had more negative conceptions (M = 23.7; SD = 5.84) than men (M =  19.9; SD = 5.93) and singles had more conceptions positive (M = 33.3; SD = 6.22)  than married (M = 28.8; SD = 8.44) about PG. A frequency analysis concluded that  curiosity, interest, and belief in the improvement of interpersonal relationships were  the most frequent items. However, the majority of the sample (62.9%) believes that  individual psychotherapy is better.

Keywords: Therapy; Group; Mental Health; Stigma.

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Introdução

Com a demanda dos serviços psicoterapêuticos aumentando por parte da  população em geral, tornam-se cada vez mais necessárias soluções eficazes e  acessíveis de tratamento. Essas soluções devem servir para proporcionar às  pessoas oportunidade de receber informação e suporte emocional, validar sua  experiência pessoal através das vivências semelhantes à sua, bem como, receber  e fornecer apoio a outros, perceber que o seu problema não é único e que há  alternativas de solução (MATOS, MACHADO, SANTOS & MACHADO, 2012).  Pensando nisso, a psicoterapia de grupo pode ser um meio para corresponder à  urgência de uma ampliação na rede de atendimentos psicológicos, entretanto, por  que o preconceito sobre esta modalidade de atendimento é tão comum?  (BOLORINI, 2016). Quais as principais concepções da população geral em  relação à psicoterapia de grupo?

A psicoterapia de grupo (PG) é definida, em termos gerais, como uma modalidade  de atendimento desenvolvida por um psicoterapeuta com duas ou mais pessoas  nos mais diversos contextos. Em outras palavras, é a aplicação de técnicas  psicoterapêuticas a um grupo de pacientes (SANTOS, MOREIRA & LOPES, 2018). Esta definição será utilizada como base na presente pesquisa por ser um  conceito que designa uma ampla gama de procedimentos fundamentados em  variados referenciais teóricos (BECHELLI & SANTOS, 2005).

História da psicoterapia de grupo

Sobre a história da PG, pode-se considerar que seu início ocorreu há pouco mais  de 100 anos por meio da atuação de um tisiologista chamado Joseph Pratt. Em  1905, na cidade de Boston (EUA), o médico organizou grupos de 20 a 30  pacientes tuberculosos que se reuniam uma ou duas vezes na semana. Seu  trabalho grupal foi diferente do que se entende hoje por psicoterapia de grupo,  porém, os grupos que desenvolveu alcançaram resultados de melhora e de  promoção do sentimento de apoio (BORIS, 2014).

A princípio, Pratt possuía um propósito pedagógico. Buscava transmitir aos  pacientes conhecimentos sobre os cuidados que deveriam ter consigo e com a  doença. Utilizava-se de estratégias de persuasão e reeducação emocional,  incluindo “diário para anotação de detalhes do dia-a-dia e tarefas a serem  realizadas em casa” (BECHELLI & SANTOS, 2004, p.243) o que se equipara às  atuais técnicas comportamentais.  

Santos (2005) ressalta que, de 1907 a 1950, a psicoterapia de grupo viveu um  período de configuração e desenvolvimento.

“O fato de ter surgido, desenvolvido e sofrido grande expansão nos  

Estados Unidos da América do Norte não pode ser negligenciado,  

mas é preciso pontuar que as sementes foram trazidas da Europa.  

Entre seus pioneiros destacam-se Moreno, que é originário da  

Romênia; Wender, da Lituânia; Slavson, da Rússia; Lewin, da  

Alemanha; Schilder e Dreikurs, da Áustria. Quase todos passaram

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um certo período de suas vidas em Viena, em um momento  

inaugural em que a capital europeia era o epicentro do

desenvolvimento da psicoterapia e da psicanálise, capitaneada por  

um gênio inquieto chamado Sigmund Freud” (SANTOS, 2005,  

p.VII).

Freud jamais trabalhou com grupos, mas trouxe suas contribuições teóricas. A  obra “Psicologia das massas e análise do eu” foi pioneira em tratar de psicologia  coletiva. O autor delineou que o interesse por grupos na verdade é o interesse  pelo indivíduo como pertencente à uma raça, nação, casta, profissão, instituição  ou como parte de uma massa que se organiza em grupos de pessoas com um  propósito e ocasião determinados (FREUD, 2011).

Em relação à prática da PG, Moreno contribuiu grandemente para seu  desenvolvimento. Criou em Viena (1910) o "Teatro do Homem Espontâneo",  usando a técnica do psicodrama e a representação de papéis em situações problema que arquitetou. Ele buscava a ampliação da consciência dos  participantes sobre os conflitos e suas respectivas soluções. Sua proposta era que  a ação do psicoterapeuta seria como a do "diretor” que facilitava que o  "protagonista" (paciente) se expressasse espontaneamente na dramatização das  mais variadas experiências. Sua prática foi chamada de psicoterapia de grupo  pela primeira vez em 1930 por ele mesmo, nos Estados Unidos. Para Moreno,  esta modalidade de psicoterapia era uma nova “cosmovisão” que surgia com o  objetivo de libertar aqueles que sofrem de psicopatologias (BORIS, 2014).

De acordo com Bechelli e Santos (2004), “Pratt e Moreno foram os precursores da  psicoterapia de grupo, tendo participado de sua evolução durante toda a vida”  (p.246). Anteriormente, este tipo de atendimento foi chamado de tratamento em  massa, terapia coletiva e aula ou instrução em massa. Sua expansão em  psiquiatria iniciou na década de 1920, principalmente em pacientes internados, e nos últimos estudos da área tem sido “valorizada como uma possibilidade de  ganho maior e acrescido, que nenhuma psicoterapia individual poderia permitir”.  Isto se deve à possibilidade de os participantes assumirem o papel do grupo  primário, a família, podendo ser um novo referencial que fornece ao indivíduo um  senso de apoio e aceitação em relação às suas aflições (SILVA, LOUREIRO & SOUSA, 2004, p.30).

Sendo uma modalidade que passou por diversas transformações através dos  anos, existe a necessidade de compreender como ela se configura hoje em dia.  Apesar de haver diversas abordagens e aplicações da PG, pode-se reconhecer  uma organização comum a elas, a qual será abordada a seguir.

A psicoterapia de grupo na atualidade

Nas últimas décadas, a psicoterapia de grupo se desenvolveu de forma a atingir  uma estrutura delineada, com número de participantes, frequência, duração das  sessões e do tratamento, tipos diferentes de grupos (homogêneo ou heterogêneo), admissão ou não de novos membros (aberto ou fechado), emprego ou não de  psicoterapia individual concomitantemente, regras e pré-grupo (BECHELLI &

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SANTOS, 2004). Gulassa (2007) reforça o papel do estabelecimento entre o  terapeuta, o grupo e o indivíduo do vínculo de confiança. O autor sugere 3 “C”s que definem a qualidade do processo psicoterápico grupal: contrato, continência e  confiança.

O contrato é a base da PG por estabelecer as regras do espaço terapêutico. O  profissional e os integrantes do grupo só podem desenvolver seu trabalho quando  ambos, como um grupo, se comprometem a seguir a configuração estabelecida ou  reformulá-la em favor das necessidades do grupo como um todo. A continência,  por sua vez, diz respeito ao acolhimento, ao direito dos participantes de se expressarem de forma legítima e receberem uma escuta qualificada. Tanto o  contrato quanto a continência contribuem para o último “C”, o qual é a construção  do vínculo de confiança necessário para o sucesso da psicoterapia (GULASSA,  2007).

Matos et al. (2012) considera relevante que uma avaliação inicial dos participantes  seja feita, seria como um pré-grupo. Tal avaliação serve para determinar se eles  possuem “recursos, estratégias de coping e resistência emocional para ingressar  num grupo”. Também cabe saber se têm condições habitacionais, alimentação e  acesso a transporte; prever possíveis constrangimentos que possam facilitar a  desistência do grupo; e avaliar os estressores atuais da pessoa bem como outros  fatores emocionais que possam dizer se a pessoa está pronta ou não para a  experiência em grupo. As autoras enfatizam que a eficácia do grupo depende de  seu tamanho, do número de facilitadores do grupo, da assiduidade e características individuais dos participantes.

Sabe-se que os benefícios do tratamento em saúde mental envolvem a redução  do sofrimento psicológico, a capacidade de desenvolver estratégias eficazes de  resolução de problemas e o desenvolvimento de seu potencial pessoal  (BAPTISTA & ZANON, 2017). Além disso, quanto mais precoce for a intervenção  e o tratamento de desordens mentais, maiores são os benefícios (THOMAS,  CAPUTI & WILSON, 2013). Pensando nisso, é importante fazer um recorte de  estudos que abordam a PG e suas contribuições para redução de sintomas e  melhora da saúde mental. Adiante serão descritos estudos quantitativos que  apresentam comprovações sobre a eficácia da PG, percepções distintas por parte  dos participantes do grupo e também dos profissionais da saúde.

Pesquisas e aplicações da psicoterapia de grupo

O aprimoramento das técnicas psicoterapêuticas grupais adaptadas aos diferentes  enquadres da modalidade contribuiu para que diversos pesquisadores abordassem este método de tratamento. As pesquisas e aplicações da  psicoterapia de grupo aqui expostas foram organizadas de modo a facilitar o  entendimento dos avanços neste âmbito de atuação. Primeiramente, são abordadas duas obras que Yalom (2007) citou em seu livro “Psicoterapia de  Grupo: teoria e prática”, as quais tratam da efetividade da psicoterapia de grupo.  Este livro é reconhecido na área e trouxe contribuições para as concepções dos

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benefícios do grupo. Posteriormente, foram destacadas pesquisas com grupos  específicos de pessoas.

Entre as obras citadas por Yalom, no capítulo “Os fatores terapêuticos”, está o  livro “The Benefits of Psychotherapy” (SMITH, GLASS & MILLER, 1980), no qual  os autores analisaram 19 estudos que compararam a eficácia da PG em relação a  da psicoterapia individual e a um grupo controle que não recebeu tratamento. Destas 19, 11 pesquisas foram favoráveis à psicoterapia de grupo e 8 resultaram  numa eficácia equivalente entre ambas as modalidades psicoterapêuticas. O  grupo controle obteve resultados inferiores em todos os estudos.

Por sua vez, o artigo “Meta-análise de tamanhos de efeito estimados para  tratamentos em grupo versus individuais versus tratamentos de controle”  (TILLITSKI, 1990) revela que o tratamento em grupo foi mais eficaz do que o  individual com adolescentes e menos eficaz do que o tratamento individual com  crianças. Os resultados apontados nestas obras evidenciam o potencial da PG e  confirmam o fato de que as interações sociais propriamente ditas são a base para  o desenvolvimento humano e a alienação social é um fator de risco para  transtornos psiquiátricos (BOLORINI, 2016).

Segundo Kösters, Burlingame, Nachtigall e Strauss (2006), há evidências  suficientes para concluir que a psicoterapia de grupo é tão eficaz quanto a  modalidade individual. Os autores se basearam em uma pesquisa que considerou  mais de 110 estudos em que a PG foi utilizada como tratamento primário ou parte  de um programa de tratamento juntamente com outras intervenções. Concluíram  também que “a terapia de grupo é efetiva para clientes que sofrem de doenças  mentais severas” (p.147), tais como a esquizofrenia e o transtorno de  personalidade bipolar. Por outro lado, é muito menor o número de atendimentos  em geral em PG em comparação com a modalidade individual (VOGEL,  SHECHTMAN & WADE, 2010).

Santos et al. (2018) justificam o tratamento da esquizofrenia por meio da  psicoterapia de grupo afirmando que há diversas vantagens em substituir a  relação paciente-terapeuta em favor da relação grupal. Tendo o funcionamento  social dos pacientes esquizofrênicos como um dos principais focos de intervenção,  nota-se que o grupo se torna um instrumento da mudança na medida em que gera  um espaço propício a empatia, senso de inclusão, valorização, escuta, capacidade  de enfrentamento, universalização de experiências e a inúmeros outros fatores  terapêuticos que favorecem a ressocialização do indivíduo (MOLL et al., 2015).  Desde o início da década de 1920 esta modalidade tem sido usada com  esquizofrênicos, proporcionando a diminuição de recaídas e reinternações,  ampliando a adesão e o funcionamento global. A aplicação da PG pode ocorrer  em diferentes abordagens teóricas, tais como a educacional, cognitiva,  interpessoal, analítica, além de ser menos dispendiosa e poder acelerar o  processo terapêutico (CABEZA, 2008).  

Por sua vez, o transtorno afetivo bipolar tem sido alvo de intervenções  psicoterápicas baseadas em evidência, entretanto, a modalidade grupal não é  usual. Uma revisão da literatura realizada por Gomes e Lafer (2007) encontrou

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somente cinco pesquisas que abordassem a efetividade do tratamento  especificamente por meio da psicoterapia de grupo, sendo o modelo de  psicoeducação o mais comum (n=3). Os resultados do trabalho grupal envolveram  aumento da adesão ao tratamento farmacológico, redução do número de  hospitalizações e de recaídas e aumento no período de remissão e redução de  sintomas para episódios maníacos. O artigo traz a conclusão de que há a  necessidade da ampliação das investigações sobre a PG para sua maior  aplicação na prática clínica.

O estudo de revisão de Matos et al. (2012) relata resultados de pesquisas envolvendo grupos mais específicos, como os compostos por mulheres que  sofreram violência doméstica, com perturbação de estresse pós-traumático e  mulheres idosas abusadas levantaram aspectos relevantes da psicoterapia de  grupo. Entre estes aspectos estão o estabelecimento de redes de suporte  informais, empoderamento dos membros do grupo e favorecimento da autoestima  e autoeficácia. No caso dos grupos com vítimas de violência doméstica, a  psicoterapia de grupo foi proposta devido a percepção da necessidade que as  mulheres tinham de compartilhar sua experiência pessoal com pessoas que  vivenciaram relações semelhantes, o que também é de fundamental importância para combater o isolamento social e suas consequências.

Um estudo internacional mais detalhado, intitulado "Eficácia da terapia cognitivo comportamental em grupo para depressão na prática de rotina” (THIMM &  ANTONSEN, 2014), foi realizado com uma amostra de 143 pessoas de um  ambulatório rural. Os participantes realizaram acompanhamento pré-grupo e pós grupo, sendo avaliados por três meses após o término do tratamento. Os  resultados na saúde dos pesquisados foram significativos, incluindo a redução da  depressão e ansiedade de 44% da amostra inicialmente e, após três meses, 57%  experimentaram a melhora. Destes 44%, 30% afirmaram estar recuperado,  número que aumentou para 40% após três meses. O diferencial desse estudo  incluiu o acompanhamento anterior e posterior da amostra, além de utilizar o  Inventário de Depressão de Beck como forma de mensurar seus resultados.  Matos et al. (2012) afirmaram que a literatura comprova que a PG tem sido mais  praticada, principalmente no plano internacional. Entretanto, é consensual a  insuficiência de estudos sobre a abrangência de seus participantes e seus  resultados. Entre as críticas apontadas estão o tamanho das amostras nos  estudos (normalmente entre 12 e 21 pessoas) e são raras as pesquisas que  contemplam grupos de controle. A PG costuma ser julgada negativamente devido  a questões como a confidencialidade, possibilidade de não corresponder às  necessidades individuais e a centralização das sessões em temas específicos,  mesmo que de forma não planejada.

No Brasil, um estudo com psicoterapia breve em grupo de enfoque analítico com idosos foi proposta na tese de doutorado de Schwarz (2008). A psicoterapia grupal em questão foi realizada em 10 sessões e um follow up após três meses do  término. Contava com sete idosos, com idade variando entre 60 e 70 anos, sendo  um homem e seis mulheres, alunos de uma Universidade Livre da Terceira Idade  da região do ABC Paulista. Entrevistas diagnósticas semiestruturadas individuais e

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o Método de Rorschach foram aplicados antes e após o processo terapêutico. O  foco delimitado foi a autoestima. Os resultados do Rorschach apontaram para  benefícios significativos após a experiência em grupo, dentre os tais: maior  controle e redução da ansiedade, redução do nível de crítica e medo nas relações  interpessoais, não reincidência de conteúdos de impulsividade e descontrole,  controle e manifestações emocionais mais espontâneas e eficazes, afetividade  mais viva e maior abertura para o contato com o outro. Por outro lado, indicadores  de mudanças estruturais profundas não sofreram alteração após a intervenção, o  que a autora sugere que só poderia ser atingido em um processo analítico. Cabe  ressaltar que a existência de apenas um estudo quantitativo sobre PG no Brasil  evidencia a necessidade de ampliação do arcabouço teórico científico sobre essa  prática. Pesquisas qualitativas trazem outras perspectivas sobre a temática, as  quais serão exploradas a seguir.

Psicoterapia de grupo e estudos qualitativos

As pesquisas abordadas seguirão a ordem cronológica para elucidar como a  psicoterapia de grupo tem afetado diferentes grupos de pessoas nos mais  diversos contextos. O Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina  da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) (2001) realizou pesquisas  buscando investigar a experiência de usuários de serviço público em relação à PG. O estudo qualitativo contava com a seguinte questão inicial: "Como foi a  terapia de grupo para você?". A partir dela, a entrevista era feita de forma aberta.  Os entrevistados em geral (n=11) relataram algum grau de sofrimento em suas  vidas, sendo que os termos utilizados pelos pacientes para descrevê-lo foram  principalmente: "nervoso", "medo", "depressão", "angústia", "inibição" e "mágoa",  principalmente associados a relacionamentos interpessoais, isolamento social e a  quadros clínicos de saúde física (e.g. enxaqueca, pressão alta e colite). Os  participantes relataram como motivação para iniciar a terapia “se tornar uma  pessoa normal” e conseguir alta da terapia farmacológica (PELUSO, BARUZZI &  BLAY, 2001).

Sobre a experiência grupal, tiveram duas atitudes principais: dificuldades de se  colocar no grupo (n=6), principalmente em virtude de serem pessoas  desconhecidas, por terem medo da crítica e dos comentários dos colegas; e se  sentir à vontade para falar no grupo (n=5). As opiniões do grupo foram expressas  tanto sobre o terapeuta (aquele que "ouvia", "prestava atenção", valorizava o que  era dito sem interromper) quanto à interação com os demais colegas (referidos  como pessoas iguais, “todos têm problemas”). O convívio social no grupo foi visto  positivamente pela maior parte dos pacientes, sendo tido como um espaço de  compartilhamento, troca, discussão e debate. Resultados positivos relacionados à  intervenção psicoterápica foram relatados pela maioria (n=9) e os 11 participantes  revelaram algum interesse em dar continuidade à psicoterapia. Entretanto, houve  a manifestação da preferência pelo atendimento individual em dois casos, pois  haveria mais espaço para falar de suas questões pessoais (PELUSO et al., 2001). Em grupos de informação e apoio hospitalares, apesar de haver a possibilidade de  ampliar o espaço destinado aos familiares de internados, detectar e sanar suas  dúvidas e dar suporte psicológico no enfrentamento do adoecimento, há relatos de

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pessoas que se tornam ainda mais angustiadas nos encontros por ouvir o  sofrimento de outros (MELLO FILHO, 2007). O efeito contrário também ocorre,  trazendo à família mais confiança e tranquilidade, como nos relatos a seguir:

“Eu cheguei aqui muito nervosa, agora estou bem mais tranquila,  

estou em condições de visitar o meu marido”.

“No início, eu não conseguia vir ao grupo, não queria falar com o  

médico, sabia que o estado do meu marido era muito grave e não  

queria falar sobre isso. Agora que ele melhorou um pouco, eu já  

consigo falar sobre o assunto, estou gostando de vir aqui e poder  

dividir o meu sofrimento, vendo que outras pessoas também estão  

passando pelas mesmas coisas”.

“Acho que o grupo é muito bom porque é uma troca de  

informações; um estimula o outro, dá força pro outro,  

principalmente quando você vê um paciente melhorar” (MELLO  

FILHO, 2007, p.389).

A importância da psicoterapia de grupo se dá na promoção de saúde, sendo um  espaço continente que possibilita a busca de melhores condições de vida  (FERNANDES, 2003). Um grupo que possui sua cultura e coesão estabelecidas  provoca nos pacientes diversas mudanças, tais como: capacidade de  autorevelação, aprendizagem interpessoal, identificação e diferenciação. Além  disso, o grupo proporciona aos seus membros o fator terapêutico da instilação de  esperança. Bechelli e Santos (2002) definiram tal aspecto como aquele  pensamento de "se os demais conseguem, eu também posso conseguir!" (p.389)  proporcionado através do contato social. No espaço grupal a expectativa e  esperança podem ser desenvolvidas e elas correspondem à 15% do processo de  mudança e melhora.

Mesmo com todos os benefícios apresentados, Bolorini (2016) ressalta que a  expectativa dos pacientes ao iniciarem um processo psicoterapêutico, em sua  maioria, é de que seja em terapia individual, sendo comum objeções ao ouvir  propostas de atendimento em grupo ou até mesmo o desconhecimento desta  

modalidade de atendimento. A autora esclarece que, ainda há escassez de  pesquisas que busquem compreender as concepções em relação à psicoterapia  de grupo e estudos quantitativos neste âmbito são quase nulos. Dentre as hipóteses sobre quais influências agem sobre os psicólogos para que este tema  não seja amplamente abordado cientificamente, Bolorini (2016) ainda destaca:

A quantidade desproporcional de ofertas de estágio para  

terapia de grupo na graduação [...]; Pequena quantidade de  

alunos da graduação que se inscreviam na modalidade de  

estágio que atendia grupos em comparação às outras  

modalidades de estágio; [...] Pouco (ou nenhum) interesse  

por parte dos colegas [...] em conhecer o trabalho terapêutico  

em grupo, encaminhando a maior parte dos clientes das  

instituições para os atendimentos individuais, apesar das  

longas filas de espera nessa modalidade (BOLORINI, 2016

p.139-140).

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O estigma está entre as possibilidades principais de justificativa para a preferência  pela psicoterapia individual em detrimento da grupal. Este é responsável por  muitas das concepções que podem ser elaboradas de forma infundada antes do  contato com o grupo.

Estigma

Baptista e Zanon (2017) afirmam que o estigma influencia diretamente, aumentado  a inibição na busca de tratamento em saúde mental de forma geral. Segundo  esses autores, ele se caracteriza como um conjunto de percepções negativas,  podendo ser classificado tanto como estigma público, quanto como autoestigma.  O primeiro contempla a percepção de um grupo ou sociedade sobre um indivíduo,  o vendo como socialmente inaceitável e, consequentemente, reagindo  negativamente em relação a ele. Já o segundo se dá quando o próprio indivíduo  percebe suas características como socialmente inadequadas e teme receber  rótulos por conta disso.

Uma pesquisa realizada por Wade, Post, Cornish, Vogel e Tucker (2011) teve o objetivo de investigar de que forma se dava a presença do estigma antes e depois de uma sessão de psicoterapia de grupo. Percebeu-se que o autoestigma exerce  uma influência mais forte do que o estigma público sobre a intenção de buscar  ajuda terapêutica em estadunidenses. Além disso, apenas uma sessão de PG foi  capaz de reduzir o autoestigma dos participantes consideravelmente, gerando o  entendimento de que seus temores eram irreais, pois não tinham menos valor por  terem aceitado ajuda e, eles inclusive relataram estar se sentindo melhor do que  antes da sessão. Não obstante, a psicoterapia de grupo ainda tem sido  predominantemente evitada ao redor do mundo, principalmente por conta da  barreira criada pelo estigma (SHECHTMAN, ALIM, BRENNER & VOGEL, 2018).

O estigma relacionado a saúde mental tem sido amplamente explorado no âmbito  científico (MATHISON, 2020; SEIDMAN, 2020; BAPTISTA & ZANON, 2017). Entre  os fatores que contribuem para o receio quanto a psicoterapia estão o medo da  exposição pessoal, baixo nível de tolerância a comportamentos desviantes,  sintomas relacionados ao isolamento social e a baixa autoestima. Dessa forma,  quanto maior a dedicação em prol da redução do estigma social associado ao  adoecimento mental e às ações em saúde mental, maior seria a diminuição do  sofrimento psíquico através do incremento da busca por serviços e profissionais  de saúde (BAPTISTA & ZANON, 2017).

Corroborando com esta ideia, Seidman (2020) constatou em seu experimento com  grupos que é possível reduzir o estigma público quanto a busca por ajuda por  meio de intervenções individuais durante o pré-grupo, fazendo uso de técnicas de  autoafirmação. O autor sugere que tal medida pode produzir percepções e  atitudes positivas sobre os serviços de saúde mental e, posteriormente, promover uma maior coesão grupal.

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Com base nestes dados, o presente estudo tem sua importância para psicólogos  de diversas áreas, levando em consideração que a PG pode ser amplamente  aplicada em comunidades, escolas, empresas ou hospitais, dentre outros  contextos. Shechtman, Vogel e Maman (2010) ressaltaram que, apesar das  evidências que comprovam a aplicabilidade e eficiência dessa modalidade, é  surpreendente que ela seja subutilizada e é preciso compreender a resistência dos  potenciais usuários desse serviço. Sendo assim, essa pesquisa teve por objetivo  identificar as principais concepções da população em relação à psicoterapia de  grupo, conhecendo quais as ideias e receios atrelados a essa modalidade.

Este objetivo se justifica na medida em que Vinogradov e Yalom (1992) destacam  vantagens relevantes do atendimento grupal como forma de alcançar mais  pessoas em tempo, espaço e recursos reduzidos, tornando a saúde mental mais  acessível, reduzindo custos e contribuindo para a deselitização da psicoterapia.

Método

Participantes

A amostra foi por conveniência, composta por 81 participantes, com idades  variando de 18 a 61 anos (M=29,3; DP=1,23), sendo que 75,3% eram do sexo  feminino, 59,3% solteiros(as) e 98,8% residiam no estado de São Paulo. A maioria  da amostra possuía ensino superior incompleto (42%), e os cursos mais  frequentes entre eles foram: Psicologia (24,6%), Pedagogia (13,8%) e  Administração (7,7%). Em relação as diversas ocupações profissionais (mais de  40 diferentes ocupações), a maioria era estagiário(a) (19,8%), o que talvez  condiga com o fato de grande parte da amostra ainda estar em processo de  formação profissional. Dos participantes, 54,3% já realizaram psicoterapia  individual em algum momento, entretanto, apenas 18,5% realiza atualmente. Tendo em vista que o objetivo da pesquisa era investigar as concepções e receios  sobre a psicoterapia grupal, nenhum participante que fazia ou já tinha feito  psicoterapia grupal foi incluído.

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Tabela 1

Caracterização da amostra 

Amostra N % Sexo  

Masculino 20 24,7 Feminino 61 75,3 Estado

São Paulo 80 98,8 Rio de Janeiro 1 1,2 Estado civil

Solteiro(a) 48 59,3 Casado(a) 30 37 Divorciado(a) 3 3,7 Escolaridade

Ensino Fundamental  Incompleto  

1 1,2

Ensino Fundamental Completo 2 2,5

Ensino Médio Incompleto 1 1,2

Ensino Médio Completo 12 14,8

Ensino Superior Incompleto 34 42,0

Ensino Superior Completo 26 32,1

Pós-graduação 5 6,2

Já realizou psicoterapia

Sim 44 54,3

Não 37 45,7

Realiza psicoterapia  

atualmente

Sim 15 18,5

Não 66 81,5

Instrumentos

Questionário sociodemográfico para coleta dos dados, contendo dados sobre  idade, sexo, estado civil, profissão, escolaridade, onde reside, se realiza  acompanhamento psicológico e em qual modalidade. Ao todo, foram 8 itens  obrigatórios e 3 opcionais dependendo da resposta anterior.

Formulário de Avaliação de Concepções em Relação à Psicoterapia de Grupo  (criado pelos autores), desenvolvido com base no referencial teórico abordado por  Yalom como “concepções errôneas sobre a terapia de grupo” (2007, p.237-239).  Composto por 22 questões, que são respondidas em uma escala tipo Likert de

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quatro pontos, que contém as opções: “Tudo a ver comigo”, “Muito a ver comigo”,  “Pouco a ver comigo” e “Nada a ver comigo”. Os aspectos negativos avaliados  pelas questões incluíram: não acreditar na eficácia da psicoterapia de grupo;  medo de piorar; medo de ser envergonhado; insegurança quanto a  confidencialidade; medo da exclusão; preocupações com o tamanho do grupo;  medo da perda da individualidade; medo de revelar transgressões; e medo do que  os outros irão pensar. Os positivos se referiram à curiosidade, crenças sobre os  benefícios da modalidade para seus relacionamentos interpessoais e  intrapessoais.

Procedimentos

Inicialmente, foi necessária a aprovação do Comitê de Ética da Universidade São  Francisco para a concretização deste projeto (CAAE: 29770820.4.0000.5514). A  coleta de dados foi feita on-line por meio de formulário da plataforma Google  Forms, com o link compartilhado nas redes sociais (Facebook, Instagram e  WhatsApp) dos autores e rede de contatos pessoais. Ao acessar o link, os  participantes acessavam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) na primeira parte, o qual era a condição para participação no estudo. Ele continha  os objetivos da pesquisa, as instruções iniciais e uma pergunta sobre a  participação voluntária na pesquisa. Posteriormente, os que aceitaram participar  tiveram acesso ao questionário sociodemográfico e o instrumento sobre PG. Cabe  salientar que foram levados em consideração apenas os questionários 100%  preenchidos. Aqueles formulários nos quais os participantes responderam que já  haviam realizado ou estavam em psicoterapia de grupo no momento da pesquisa, foram excluídos, já que o objetivo foi avaliar as concepções de pessoas que não  haviam passado pela experiência da PG. Dessa forma, do total de 92 participantes, 11 foram excluídos por se encaixarem neste critério de exclusão.

Plano de análise de dados

A partir das respostas do banco de dados, foi utilizado o software estatístico “Jamovi” (versão 1.1) (The Jamovi Project, 2019). Nele foram feitas estatísticas  descritivas da amostra, dos resultados, bem como, testes de diferenças de média.  Primeiramente, foi realizada uma análise descritiva dos dados sociodemográficos  e dos itens criados. Em seguida, foram feitos os testes t com relação ao nível de  escolaridade (médio x superior), sexo, estado civil (solteiros x casados) e quanto a  haver realizado ou não psicoterapia individual. A análise de variância (ANOVA) foi  realizada em relação à ocupação profissional e escolaridade. Por fim, foram feitas análises descritivas a partir das frequências e porcentagens das respostas ao  Formulário de Avaliação de Concepções em Relação à Psicoterapia de Grupo.

Resultados

Foram feitos os testes t comparando os escores com o nível de escolaridade  (médio x superior), sexo, estado civil (solteiros x casados) e quanto a haver  realizado ou não psicoterapia individual. No entanto, foram encontradas diferenças  estatisticamente significativas apenas para a variável sexo em relação às

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concepções negativas e para a variável estado civil quanto às concepções  positivas, conforme tabela 2. A diferença de média entre os sexos foi que as  mulheres apresentaram mais concepções negativas (M = 23,7, DP = 5,84) do que  os homens (M = 19,9, DP = 5,93), t (79) = 2,540, p = 0,013, e tamanho de efeito  mensurado pelo d de Cohen de 0,654, considerado médio. A respeito do estado civil, os solteiros apresentaram mais concepções positivas sobre a psicoterapia de grupo (M = 33,3, DP = 6,22) do que os casados (M = 28,8, DP = 8,44), t (76) = - 2,71, p = 0,008, também com tamanho de efeito médio (d = -0,631). Não houve  diferenças estatisticamente significativas na ANOVA em relação à ocupação  profissional (p = 0,888, p = 0,670), bem como, em relação à escolaridade (p =  0,168, p = 0,321) comparando escores positivos e negativos, respectivamente.

Tabela 2

Tabela descritiva das variáveis que apresentaram diferenças significativas  Sexo N Média DP P d

Concepções negativas Feminino 61 23,7 5,84 0,013 0,654 Masculino 20 19,9 5,93

Estado Civil N Média DP P d

Concepções positivas Solteiros(as) 48 33,3 6,22 0,008 -0,631 Casados(as) 30 28,8 8,44

A tabela a seguir (tabela 3) descreve a frequência e porcentagem das respostas  nos itens do Formulário de Avaliação de Concepções em Relação à PG. Logo  abaixo estarão os resultados com base na análise da tabela.

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Tabela 3

 Frequência e porcentagem das respostas dos itens do Formulário de Avaliação de Concepções em Relação à Psicoterapia de Grupo

Imagine-se enfrentando a possibilidade de realizar psicoterapia de grupo e  relacione as frases abaixo com sua forma de pensar:

Tudo a ver  comigo

Muito a ver  comigo

Pouco a ver  comigo

Nada a ver  comigo

n % n % n % n %

1 Eu acredito que a psicoterapia de grupo não funcione para mim 9 11,1 20 24,7 29 35,8 23 28,4 2 Penso que eu posso piorar se ouvir os problemas de outras pessoas 2 2,5 3 3,7 23 28,4 53 65,4 3 Tenho vontade de participar de um grupo de terapia por curiosidade 35 43,2 26 32,1 12 14,8 8 9,9 4 Acredito que posso ser envergonhado(a) se falar em público 7 8,6 17 21 34 42 23 28,4 5 Tenho medo de me sentir exposto(a) em um grupo de pessoas 7 8,6 24 29,6 34 42 16 19,8 6 Penso que eu posso me beneficiar ao ouvir histórias de superação de  

problemas como os meus 39 48,1 26 32,1 12 14,8 4 4,9 7 Eu acredito que a psicoterapia de grupo não seja sigilosa 6 7,4 13 16 37 45,7 25 30,9 8 Tenho o desejo de compartilhar minhas experiências pessoais para ajudar  

outras pessoas27 33,3 33 40,7 14 17,3 7 8,6

9 Gostaria de entender melhor sobre como permanece confidencial o que  

um grupo de pessoas fala em terapia 29 35,8 35 43,2 8 9,9 9 11,1 10 Sinto que posso aceitar as demais pessoas do grupo e ser empático(a) 41 50,6 30 37 6 7,4 4 4,9 11 Tenho medo de me sentir excluído(a) do grupo 7 8,6 18 22,2 27 33,3 29 35,8 12 Acredito que a terapia de grupo pode me ajudar a melhorar meus  

relacionamentos sociais em geral 25 30,9 32 39,5 18 22,2 6 7,4 13 O tamanho do grupo me preocupa 12 14,8 20 24,7 28 34,6 21 25,9 14 Imagino que, se eu conseguisse me abrir em um grupo de terapia, me  

sentiria menos isolado(a) socialmente 12 14,8 25 30,9 29 35,8 15 18,5 15 Acredito que o atendimento individual seja melhor 24 29,6 27 33,3 26 32,1 4 4,9 16 Penso que a terapia de grupo pode me ajudar a ser menos individualista 13 16 30 37 22 27,2 16 19,8 17 Conviver intimamente com um grupo de pessoas pode me prejudicar 2 2,5 3 3,7 25 30,9 51 63

18 Me preocupa ter que relatar minhas falhas aos outros 4 4,9 20 24,7 29 35,8 28 34,6 19 A terapia de grupo pode me ajudar a me importar menos com a minha  

imagem diante das pessoas 17 21 36 44,4 16 19,8 12 14,8 20 Relatar minhas experiências em um grupo pode contribuir para o meu  

empoderamento pessoal 22 27,2 28 34,6 16 19,8 15 18,5 21 Me angustio ao imaginar que o grupo pode pensar mal de mim 8 9,9 17 21 31 38,3 25 30,9 22 Acredito que a psicoterapia de grupo me proporcionaria relacionamentos  

menos superficiais e mais sinceros 24 29,6 29 35,8 19 23,5 9 11,1

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Os itens do formulário foram divididos em 5 subtemas de acordo com a ideia central  que avaliam, dos quais 2 subtemas são negativos e 3 são concepções positivas  quanto à PG. São eles, respectivamente: dúvidas quanto à qualidade técnica da  psicoterapia de grupo (itens 1, 7 e 13), receios quanto à convivência grupal (itens 2,  4, 5, 11, 15, 17, 18 e 21), curiosidade e interesse (itens 3 e 9), expectativas por universalidade e socialização (itens 6, 8, 14, 19 e 20) e crença na melhora de  relacionamentos interpessoais (itens 10, 12, 16 e 22). Para as análises, foram  agrupadas as possibilidades de resposta “nada a ver comigo” e “pouco a ver  comigo”; e ainda “tudo a ver comigo” juntamente com “muito a ver comigo”.

Os resultados do subtema “Dúvidas quanto à qualidade técnica da psicoterapia de  grupo” foram que, em todos os 3 itens (1, 7 e 13), a amostra declarou  majoritariamente as respostas pouco e nada a ver comigo (respectivamente, 64,2%,  76,6% e 60,5%). Já os resultados de “Receios quanto à convivência grupal” foram  semelhantes ao anterior, sendo que a amostra também respondeu pouco e nada a  ver comigo nos itens 2 (93,8%), 4 (70,4%), 5 (61,8%), 11 (69,1%), 17 (93,9%), 18  (70,4%) e 21 (69,2%). A exceção desse subtema foi o item 15 (“acredito que o  atendimento individual seja melhor”), em que a maioria da amostra respondeu muito  e tudo a ver comigo (62,9%).

Os itens de curiosidade e interesse apresentaram resultados positivos, 75,3%  responderam tudo e muito a ver comigo no item que dizia “tenho vontade de  participar de um grupo de terapia por curiosidade”. De forma aproximada, 79%  responderam muito e tudo a ver comigo no item “gostaria de entender melhor sobre  como permanece confidencial o que um grupo de pessoas fala em terapia”.

Quanto às expectativas por universalidade e socialização, os itens 6, 8, 19 e 20  apresentaram predominantemente as respostas muito e tudo a ver comigo  (respectivamente, 80,2%, 74%, 65,4% e 61,8%). A exceção foi o item “imagino que, se eu conseguisse me abrir em um grupo de terapia, me sentiria menos isolado(a)  socialmente”, no qual a maioria respondeu pouco e nada a ver comigo (54,3%).

Os resultados dos itens do subtema “Crença na melhora de relacionamentos  interpessoais” foram todos muito e tudo a ver comigo”. O item 10 foi o mais favorável  (“sinto que posso aceitar as demais pessoas do grupo e ser empático”), com 87,6%  da amostra, seguido pelo 12 (70,4%), 22 (65,4%) e 16 (53%).

Discussão

O presente estudo buscou identificar as principais concepções em relação à  psicoterapia de grupo. A pesquisa se baseou na hipótese de que o preconceito  sobre esta modalidade de atendimento é comum (BOLORINI, 2016). Para investigar tal especulação, foram feitas análises quantitativas de frequência e diferenças de  média em relação as respostas dos participantes ao Formulário de Avaliação de

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Concepções em Relação à Psicoterapia de Grupo, instrumento desenvolvido pelos  autores, baseado em Yalom (2007). Baptista e Zanon (2017) afirmaram que “investigar fatores inibidores da busca por terapia pode ser fundamental para a  elaboração de estratégias que aumentem as chances de conexão entre terapeutas e  futuros pacientes” (p.77), o que pode justificar a relevância dos dados obtidos.

Ao levantar hipóteses sobre qual sexo apresentaria mais concepções negativas  sobre a psicoterapia de grupo, foi encontrado na literatura que os homens poderiam  ser mais propícios a isso, principalmente devido ao estigma associado a essa  modalidade de atendimento. Vogel et al. (2010) relatou que homens podem  demonstrar forte autoestigma em relação à PG por sua autoconfiança ser ameaçada  na medida em que mais pessoas conhecem suas preocupações, ou seja, o temor  seria quanto a revelar questões íntimas para todo o grupo, não só para o terapeuta.  Os resultados obtidos na presente pesquisa vão de encontro ao dos autores, pois as  mulheres apresentaram mais concepções negativas do que os homens. Shechtman  et al. (2018) chegaram à conclusão de que mulheres apresentam maiores níveis de  percepção sobre o estigma público, todavia, se mostram mais propícias a buscarem  ajuda. Mathison (2020), por sua vez, não encontrou nenhuma diferença significativa entre os sexos.

Em relação ao estado civil, os solteiros apresentaram mais concepções positivas  sobre a PG do que os casados, entretanto, não foram encontrados parâmetros na  literatura para comparar esses dados. A hipótese dos autores era de que os casados  apresentariam mais concepções positivas do que os solteiros, haja vista que a  literatura confirma que a intimidade conjugal faz com que as pessoas lidem com um  processo de ajustamento, no qual podem ou não exercer o consenso, coesão, expressão de afeto, solução de problemas, comunicação, proximidade e  flexibilidade. O apoio social repercute nestes fatores e na relação conjugal como um  todo, sendo assim, casados se beneficiariam mais da convivência grupal.

Em relação aos subtemas da análise qualitativa dos resultados, a amostra declarou  ter poucas dúvidas quanto à qualidade técnica da psicoterapia de grupo e poucos  receios quanto à convivência grupal, o que difere dos resultados encontrados por  Bolorini (2016). Tal autora afirmou que estes aspectos eram frequentemente  evidenciados como preocupações dos pacientes, principalmente ao cogitarem ter  que disputar tempo e espaço na PG e dúvidas sobre a capacidade desta modalidade  resolver suas dificuldades.

Todavia, confirmou-se o resultado de que a maioria dos participantes acreditam que  o atendimento individual seja melhor. Yalom (2007) identificou que uma das três  concepções errôneas mais comuns das pessoas é a de que “a terapia de grupo não  é tão efetiva quanto a terapia individual, pois a efetividade é proporcional à atenção  recebida do terapeuta” (p.237). Em contrapartida, no estudo de Peluso et al. (2001),  apenas a minoria dos participantes expôs esta concepção. É importante pensar  criticamente sobre a contraditoriedade de a amostra ter demonstrado ser tão  favorável à PG em todos os subtemas (Dúvidas quanto à qualidade técnica da

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psicoterapia de grupo; Receios quanto à convivência grupal; Curiosidade e  interesse; Expectativas por universalidade e socialização; e Crença na melhora de  relacionamentos interpessoais) e ao mesmo tempo pensar que o atendimento individual seja melhor. Será que isso não seria um indício de que a aceitação da modalidade de psicoterapia de grupo não é tão ampla como os demais dados  revelam?

De acordo com Baptista e Zanon (2017), concepções que favorecem a ideia de que  a capacidade de autoexposição, de falar sobre questões pessoais e se encontrar  vulnerável podem oferecer ganhos, são necessárias para que haja a procura pela  ajuda de profissionais de saúde mental. Mesmo que os participantes deste trabalho  não tenham se percebido como receosos quanto à qualidade técnica da psicoterapia de grupo e as interações nela presentes, os autores destacam a necessidade de  abordar temas como o sigilo, confidencialidade do atendimento, e ganhos  psicoterápicos advindos de trabalhar aspectos pessoais e íntimos.

Os resultados obtidos no subtema “Expectativas por universalidade e socialização” apresentaram predominantemente as respostas de concordância da amostra (muito  e tudo a ver comigo). Diferentemente, Yalom (2007) defendia que havia mais  preocupações quanto a socialização do que expectativas. Entre essas preocupações estavam o medo do ridículo e da vergonha, da falta de confidencialidade e o medo  de piorar por alguma forma de contágio. O autor se baseou em uma pesquisa  britânica com 69 pacientes em busca de terapia que apresentavam medo de se  misturar, tanto que mais de 50% das pessoas afirmaram que não fariam PG mesmo  que não houvesse qualquer outro tratamento disponível.

Os resultados dos itens do subtema “Crença na melhora de relacionamentos  interpessoais” foram todos concordantes (muito e tudo a ver comigo). Os  relacionamentos interpessoais são um dos aspectos da psicoterapia de grupo mais  valorizados por Yalom (2007), sendo que seus benefícios impactam de uma forma  abrangente o ser humano e sua saúde. Não foram encontradas pesquisas que  mensurassem tais crenças, entretanto, Shechtman et al. (2010) compararam os  grupos de alunos da área humanas com os de exatas quanto a abertura para a PG.  Segundo os autores, os estudantes de humanas tendem a se interessar mais pelos  relacionamentos interpessoais, por conhecer e escutar outras pessoas do grupo,  bem como, suas emoções. Isto corrobora com os resultados encontrados nesta  pesquisa, pois as ocupações profissionais e os cursos de graduação da amostra  eram predominantemente Psicologia e Pedagogia.

Um item do subtema em questão (Crença na melhora de relacionamentos  interpessoais) que deve ser destacado devido a maior frequência de respostas “tudo  a ver comigo” foi o “sinto que posso aceitar as demais pessoas do grupo e ser  empático”. Seidman (2020) apresentou dados que comprovam que a empatia  recebida durante a PG prediz resultados ligeiramente mais positivos do que na  modalidade individual. A amostra do presente estudo demonstrou sua disposição em

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expressar esse sentimento mesmo antes de ter contato com o grupo, o que é um  preditor positivo para coesão grupal.

Segundo Bolorini (2016), foi possível averiguar a falta de pesquisas que busquem  compreender as concepções em relação à PG e estudos quantitativos neste âmbito  são quase inexistentes. Dessa forma, nem todos os dados obtidos por meio deste  trabalho puderam ser comparados à literatura atual.

O presente estudo teve como ponto forte a mensuração das concepções de forma  quantitativa, com análise descritiva dos itens utilizando métodos estatísticos  apropriados. Outra potencialidade importante é que o estudo avança um pouco na  compreensão de uma temática raramente pesquisada, principalmente no Brasil. Todavia, está sujeito a vieses em relação ao formulário utilizado, o qual foi criado  pelos autores para a presente pesquisa, mas, sobre o qual não foram conduzidos estudos prévios de evidências de validade, além de ter base em um referencial  teórico estrangeiro (YALOM, 2007). Ainda é necessário considerar que apenas um  instrumento não é suficiente para tirar resultados conclusivos. O tamanho da  amostra é considerado pequeno, aspecto que fez com que algumas categorias (e.g. divorciados e baixo nível de escolaridade) não fossem representativas. O número de  mulheres foi superior ao de homens, e não foi feito o controle dos transtornos  psiquiátricos na amostra, o que poderia interferir nas respostas e gerar vieses. Baptista e Zanon (2017) possuíam na amostra, em sua maioria, alunos de  psicologia, assim como na presente pesquisa. Eles declararam que esse fator pode  trazer vieses sobre os resultados na medida em que esses estudantes podem ter  menores níveis de autoestigma quanto a busca por variados tipos de  acompanhamentos psicológicos, maior predisposição por buscar aconselhamento e  se autoexpor. Thomas et al. (2013) já haviam observado que, por mais que tais  atitudes positivas quanto aos serviços em saúde mental sejam encontradas em  estudantes da área, na medida em que aumentam seu status profissional ou  acadêmico é comum que associem a busca por ajuda com desconforto.

Para superar os problemas inerentes, recomenda-se que estudos futuros expandam  o tamanho da amostra e examinem a partir de outros instrumentos, em conjunto com  o criado na presente pesquisa, a validação dos resultados em diferentes contextos.  Na pesquisa em questão, apenas foi mensurada as concepções de pessoas que não  fizeram psicoterapia de grupo, no entanto, seria interessante investigar possíveis diferenças nos resultados de amostras pré e pós início da PG, ou seja, se uma  mesma amostra apresenta concepções diferentes antes e após o processo  terapêutico na PG, apesar de ser mais difícil obter tal amostra.  

Ainda é possível questionar se, mesmo que as pessoas digam não terem  preconceito pela psicoterapia de grupo, elas realmente procurariam essa  modalidade se tivessem tal opção, já que o questionário criado dizia respeito às concepções sobre a PG e não foram consultadas pessoas que já a realizavam.  Estudos futuros poderiam comparar percepções de grupos que nunca fizeram psicoterapia, que já fez ou faz psicoterapia individual, que já fez ou faz psicoterapia

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de grupo e grupo que já experimentou as duas modalidades de psicoterapia  (individual e grupal). Finalmente, pode-se investigar qual a influência do  conhecimento que cada pessoa possui sobre a atuação do psicólogo e o nível de  satisfação dos atendidos com os profissionais a partir de preconceitos criados a  respeito da psicoterapia.  

Pensar em formas de conscientizar e divulgar a importância dos acompanhamentos  em saúde mental, sejam eles individuais ou grupais, no alívio do sofrimento e na  resolução de problemas é um dos desafios da Psicologia. A efetividade dessas  ações é o que contribuirá para o maior alcance da atuação do profissional psicólogo  na sociedade e nos ganhos pessoais de cada um que se propor a deixar  concepções e estigmas para investir em sua saúde mental.

Considerações finais

Por meio desta pesquisa, espera-se contribuir para discussões entre os profissionais  da Psicologia que levem à criação de ações que facilitem o processo de iniciação  em psicoterapia grupal. Conhecer os receios, curiosidades e crenças daqueles que  poderiam ser atendidos pela psicoterapia de grupo beneficia os psicólogos na  medida em que podem possibilitar uma postura mais receptiva da população em  geral ao disseminar conteúdos sobre este modo de tratamento e seus princípios, com o foco em desfazer receios infundados e fortalecer apenas as concepções reais  sobre o tema.

REFERÊNCIAS

BAPTISTA, M. N.; ZANON, C. Why not Seek Therapy? The Role of Stigma and  Psychological Symptoms in College Students. Paidéia (USP. Ribeirão Preto), Ribeirão Preto, v. 27, n. 67, p. 76-83, 2017. Disponível em:  

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Endereço para correspondência

Jade Rodrigues Dionízio Rainha

E-mail: jade.rd@hotmail.com

Ana Celi Pallini

E-mail: anapallini@outlook.com

Gustavo Kastien Tartaro

E-mail: kastien.gustavo@gm ail.com 

Makilim Nunes Baptista

E-mail: makilim.baptista@usf.edu.br

Recebido em: 15/04/2021

Aprovado em: 30/12/2022

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