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ANDRADE, Lindalva Jéssyka de Oliveira, OLIVEIRA, Jéssica Queiroga, GIMBO, Leda Mendes  Pinheiro – “A dimensão de poder sobre os corpos femininos: uma leitura da Gestalt-terapia”

ARTIGO

A dimensão de poder sobre os corpos femininos: uma leitura da  Gestalt-terapia

The dimension of power over female bodies: a reading of Gestalt Therapy Lindalva Jéssyka de Oliveira Andrade

Jéssica Queiroga de Oliveira

Leda Mendes Pinheiro Gimbo

Revista IGT na Rede, v. 19, nº 36, 2022. p. 24 – 46. Disponível em http://www.igt.psc.br/ojs ISSN: 1807-2526

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RESUMO 

O presente artigo contempla a discussão de como se configura, na relação  organismo/ambiente, a construção dos corpos femininos sob o enfoque da Gestalt terapia, abordando a compreensão de violência contra a mulher sendo atravessada  por relações de poder e dominação. Diante disso, trata-se de uma pesquisa  bibliográfica de caráter exploratório descritivo, utilizando livros, teses, anais,  cartilhas, dissertações e artigos em determinadas bases de dados, com critérios de  inclusão e exclusão a partir de uma análise qualitativa. Desse modo, os resultados  evidenciam a relevância de compreender a clínica do sofrimento ético, político e  antropológico, bem como fortalecer, nas intervenções clínicas, os ajustamentos  criadores, a ampliação da awareness e o suporte às funções do self, através de uma  implicação profissional não-normativa.

Palavras-chave: Relações de poder. Violência contra a mulher. Corpos femininos.  Sexualidade feminina. Gestalt-terapia.

ABSTRACT

This article contemplates the discussion of how, in the relationship between organism  and environment, the construction of female bodies is configured under the Gestalt therapy approach, addressing the understanding of violence against women being  crossed by relations of power and domination. Therefore, it is a descriptive  exploratory bibliographic research, using books, theses, annals, booklets,  dissertations and articles in certain databases, with inclusion and exclusion criteria  based on a qualitative analysis. Thus, the results show the relevance of  understanding the clinic of ethical, political and anthropological suffering, as well as  strengthening, in clinical interventions, creative adjustments, the expansion of  awareness and support to the functions of the self,  

through a non-normative professional implication.

Keywords: Power relations. Violence against a woman. Female bodies. Female  sexuality. Gestalt therapy.

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Introdução

A violência contra a mulher abrange atos violentos baseados nas desigualdades de  gênero, podendo contemplar o físico, psicológico, sexual e econômico, sendo um  problema de saúde pública e uma violação de direitos humanos (OPAS/OMS, 2015).  Além de compreender que a mesma é permeada por relações de poder, controle e  dominação sobre o feminino, seus corpos e sua sexualidade, é válido enfatizar que o  movimento de resistência à essa dimensão abarca uma história de lutas e  conquistas, especialmente no que se refere ao movimento feminista (TELES; MELO,  2002). Contudo, ainda existem inúmeras formas de sofrimento e submissão feminina  que são naturalizadas no cotidiano, o que torna imprescindível a presença da  Psicologia e da Gestalt-terapia nas discussões teóricas e em suas práxis acerca do  tema.

Desse modo, uma vez que há na interação organismo/ambiente, elementos  culturais, políticos e econômicos, a Gestalt-terapia possui uma discussão  significativa sobre os jogos de poder e exigências sociais que permeiam os corpos  no laço social em um movimento de alinhamento, inibição de desejos, privação de  contato e espontaneidade. Entretanto, são poucos os estudos quanto à essa  temática voltada especificamente para o gênero feminino, bem como sobre a  formação repressiva da sexualidade das mulheres. Assim sendo, ganham cada vez  mais relevância as reflexões a respeito desse processo, considerando o sofrimento  que engloba as formas de submissão, docilização e violências contra as mulheres.

Similarmente, a partir do contato da pesquisadora com essa temática durante os  estágios, faz-se notória a importância de contribuir para o campo teórico e prático  das áreas em questão, contemplando os possíveis meios de resistência em um  manejo ético. O objeto de estudo desse trabalho, logo, aborda a construção social  dos corpos femininos sob uma perspectiva gestáltica, além do mais, abrange o  seguinte problema de pesquisa: Qual a leitura da Gestalt-terapia acerca da  dimensão de poder sobre os corpos femininos?

Em vista disso, ressalta-se que o objetivo geral do presente trabalho é discutir como  se configura, na relação organismo/ambiente, a construção dos corpos das mulheres  sob o enfoque ético-político da Gestalt-terapia. A partir disso, quanto aos objetivos  específicos, almeja-se discutir a dimensão de controle que permeia o corpo feminino  em um movimento relacional com a cultura e o social, bem como a formação  repressiva da sexualidade das mulheres e compreender essas dimensões no âmbito  da Gestalt-terapia.

Metodologia

O presente trabalho trata-se de uma pesquisa bibliográfica de cunho exploratório  descritivo, onde foram utilizados livros de autores de referência nos debates de  gênero, sexualidade, poder e Gestalt-terapia, bem como teses, anais, cartilhas,  dissertações e artigos encontrados nas bases de dados Google Acadêmico,

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Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e  Periódicos Eletrônicos em Psicologia (PePSIC). Foram utilizados os descritores  “violência contra a mulher”, “poder”, “corpo feminino”, “sexualidade feminina” e  “gestalt-terapia”, aplicando os seguintes critérios de classificação: publicações após  o ano de 2014 e redigidas na língua portuguesa. Dessa maneira, foi realizada a  leitura dos títulos e, a partir da variável de interesse, dos resumos das obras,  selecionando os que mais se enquadravam para o objeto de estudo em questão  para uma leitura mais ampla, em uma análise de dados qualitativa realizada entre  fevereiro e outubro de 2019.

Gênero e a construção histórica e sociocultural de corpos femininos dóceis e  úteis

Gênero

Os debates acerca de gênero e sexualidade tornam-se cada vez mais relevantes  para a compreensão dos sujeitos, seus papéis e violências sofridas por muitos,  especialmente pelas mulheres durante a história em diferentes culturas. Dessa  forma, salienta-se a contribuição de Beauvoir (1980b, p.9), quando a mesma  enfatiza que “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. [...] é o conjunto da  civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que  qualificam de feminino”. Assim sendo, a autora discute a importância de  desnaturalizar os papéis de submissão que perpassam o feminino e compreendê-los  com base em uma visão social, econômica, cultural, histórica, política e psicológica.

A MULHER? É muito simples, dizem os amadores de fórmulas  

simples: é uma matriz, um ovário; é uma fêmea, e esta palavra basta  

para defini-la. Na boca do homem o epíteto "fêmea" soa como um  

insulto; no entanto, ele não se envergonha de sua animalidade,

sente-se, ao contrário, orgulhoso se dele dizem: "É um macho!" O  

termo "fêmea" é pejorativo, não porque enraíze a mulher na  

Natureza, mas porque a confina no seu sexo. E se esse sexo parece  

ao homem desprezível e inimigo, mesmo nos bichos inocentes, é  

evidentemente por causa da inquieta hostilidade que a mulher  

suscita no homem; entretanto, ele quer encontrar na biologia uma  

justificação desse sentimento. (BEAUVOIR, 1980a, p.25).

Em concordância, Strey (2007) evidencia o gênero a partir de relações de poder  entre homens e mulheres, em um sistema de expectativas culturais que vão muito  além do sexo biológico, traçando o modelamento de determinados papéis e de como  deve-se pensar, amar, trabalhar e comportar-se, configurando assim hierarquias  onde o poder e o controle social são associados à masculinidade, sendo o  patriarcado uma de suas formas.  

Similarmente, Lauretis (1994) ressalta o conceito de Tecnologia do Gênero, que por  sua vez aponta a construção de gênero como produto e processo de representação  e autorrepresentação, com implicações concretas na vida material das pessoas,

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sendo produto de tecnologias sociais e políticas como cinema, discursos  institucionais e práticas cotidianas. Portanto, gênero não é uma condição natural ou  uma propriedade dos corpos, mas efeitos produzidos em corpos e relações sociais,  culturais, econômicas e raciais, por meio de valores e hierarquias. Conforme a  autora, negar o gênero consiste em negar as relações de gênero que validam e  naturalizam a opressão sexual das mulheres.

Além disso, Davis (1981/2016) abrange um debate referente à intersecção entre  gênero, raça e classe na criação de opressões. Estabelecendo esse nexo entre  capitalismo, sexismo e racismo, a autora contempla o domínio, poder e controle  

existente desde o sistema escravista até os tempos posteriores à abolição da  escravatura, a partir da reconfiguração de inúmeras violências para com as  mulheres negras, com base nas explorações de seus corpos em esferas  econômicas, sexuais, reprodutivas, entre outras.  

Dessa forma, faz-se importante discutir questões referentes à violência contra o  gênero feminino e sua ligação com as relações de poder sobre os corpos.

Violência e poder sobre corpos femininos 

Salienta-se que a violência é um fenômeno complexo e multicausal que transita em  questões sociais e problemas de saúde dentro de um contexto histórico e cultural,  consistindo no uso da força, poder e privilégios para a dominação, submissão e  danos à indivíduos, grupos e coletividades. Algumas formas de violência persistem  no tempo e se estendem em quase todas as sociedades, como a violência de  gênero (sobretudo do homem contra a mulher), discriminação de raças e  desigualdades referentes à idade e sexualidade, sendo estas muitas vezes  naturalizadas, o que por sua vez, torna necessária uma ampla desconstrução  (MINAYO, 2007/2009).

Similarmente, faz-se relevante discutir as relações de poder que são perpetuadas na  sociedade e nas diversas culturas, que atingem os corpos em um movimento de  dominação e docilização. Com isso, torna-se notória a contribuição de Foucault  (1975/1987) acerca da análise do poder, onde acentua que o corpo se faz presente  num campo político, no qual as relações de poder têm alcance sobre ele,  organizando, exigindo, dirigindo, sujeitando e exigindo sua utilidade econômica e  política pela coerção e dominação. Assim, o corpo só se torna útil quando é  produtivo, obediente, submisso e dócil, o que constitui o biopoder como uma forma  de governar e regularizar a vida dos corpos e da população como um todo.

Esse corpo dócil e útil é analisável e manipulável, que pode ser submetido,  transformado e aperfeiçoado, tendo em vista que um conjunto de técnicas e  instituições assumem a tarefa de medir, controlar e corrigir, como dispositivos  disciplinares para com os que fogem à norma. O poder disciplinar é modesto e tem  função de adestramento, funcionando desde os discursos, os aparelhos  pedagógicos, militares, médicos, industriais, religiosos e institucionais, tomando

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indivíduos como objeto e instrumento de seu exercício a partir da vigilância  hierárquica, da sanção normatizadora e do exame, configurando a microfísica do  poder (FOUCAULT, 1975/1987).  

Ao comentar Foucault com fundamento em uma perspectiva voltada ao gênero,  corpo e sexualidade, Barcellos (2018) ressalta que toda sociedade é pautada em  microrrelações de poder com ideologias de padrão comportamental, contemplando  sofrimento nos grupos de vulnerabilidade. Ainda, problematiza-se as seguintes  concepções da sociedade patriarcal: a mulher como histérica sendo definida por  limitações e fraquezas, o masculino enaltecido em seu vigor dominante sobre o  feminino, a criança como um ser sem sexualidade e as transidentidades tratadas  como enfermidades. Essas concepções, segundo a autora, serviram de motivo ao  biopoder para enquadrar o sexo em uma matriz heteronormativa e cisnormativa,  mantendo sujeitos controlados. Outrossim, faz-se necessário romper com a ideia de  que os gêneros legítimos correspondem ao feminino e masculino encaixados em  ordens biológicas, bem como de que as relações devem ser essencialmente  heterossexuais e que as demais identidades de gênero se enquadram como  errantes.

Também com base nos conceitos de Foucault, Witzel (2014) aponta que nesse  contexto a mulher, seu corpo, seu sexo e sua vida passaram a ser efeitos de  normalizadores de biopoder, visto que a ela cabia atribuições de cuidado da família,  submissão e ordem social, o que também gerou violências no âmbito gestacional.  Além do mais, o corpo em questão não se trata do material e puramente biológico,  mas o corpo imerso na história e na política, fabricado discursivamente em  construção simbólica inscrita em redes de poder e resistências.  

Corpos femininos para além da dominação, docilização e utilidade: A  resistência

A Convenção de Belém do Pará (1996) compreende como violência contra a mulher  qualquer ato baseado no gênero que resulte em morte, dano ou sofrimento no  campo físico, sexual ou psicológico da mulher, tanto na esfera pública como na  privada, perpetrada ou tolerada pelo Estado e seus agentes, podendo assim ocorrer  na família, na unidade doméstica, na comunidade, nas instituições ou em qualquer  relação interpessoal. Ainda, para Teles e Melo (2002), essa violência deve ser  entendida como uma relação de poder e dominação do homem e de submissão,  docilização e silenciamento dos corpos femininos a partir de papéis impostos pela  sociedade e pela cultura ao longo da história, por meio de costumes, educação e  meios de comunicação que reforçam a ideia de poder e controle sob os desejos e a  liberdade da mulher.

Em diversas culturas, o corpo feminino foi erigido como objeto misterioso, perigoso,  inferior e frágil, sendo censurado e confiscado pelo poder médico, psiquiátrico e  religioso, tratado como posse do masculino, onde o poder produziu muito além de  repressões, mas subjetividades. Outrossim, acentua-se o relato do Gênesis, no

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drama vivido pelo primeiro casal, onde a mulher é responsabilizada por todo  sofrimento da humanidade, associando-a ao pecado e impondo-lhe então o silêncio.  Apesar dessa construção, a sociedade apresenta avanços e as mulheres seguem  lutando por sua autonomia e prestígio (WITZEL, 2014).

Além disso, segundo Wolf (1992), as mulheres conquistaram posições importantes  nas últimas décadas, todavia, paralelamente percebe-se um aumento de distúrbios  alimentares, cirurgias plásticas, pornografia e a necessidade de corresponder um  modelo idealizado de corpo magro e jovem. A reação violenta ao feminismo e à  evolução da mulher emprega imagens e conceitos de beleza como um filão de ódio  ao feminino: o mito da beleza. Mantendo intacto o domínio masculino sobre esses  corpos e sua sexualidade a partir de relações de poder, reforça-se a competitividade  e a busca para encaixar-se em padrões de beleza, submissão e docilização.

Para além disso, é cônscio que, ao longo da história, a resistência à violência e  dominação dos corpos das mulheres em suas diversas esferas, inclusive as  simbólicas, tem se dado por meio de movimentos com forças para produzir espaços  de liberdade e afirmação da vida. Subvertendo os discursos patriarcais, os corpos  femininos transgridem o espaço normativo, reivindicam e conquistam novos modos  de existência. Isto posto, o movimento feminista se destaca pela visibilidade que  propiciou para as mulheres como sujeitos políticos, questionando a condição das  mesmas, discutindo identidade de gênero e lutando pela garantia de direitos  (TEDESCHI; TEDESCHI, 2019).

Como um dos grandes avanços e resistência no Brasil, salienta-se a Lei Maria da  Penha (Lei 11.340/2006), com o objetivo de coibir e prevenir a violência doméstica e  familiar contra a mulher, reconhecendo as seguintes formas em que a mesma pode  se apresentar: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. Ademais, enfatiza que  toda mulher, independe de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura,  nível educacional, idade e religião, deve ser assegurada e gozar dos direitos  fundamentais da pessoa humana.

Além disso, é imprescindível frisar a diversidade e a pluralidade das configurações  do feminino, que apresentam especificidades em suas vivências, mas união em sua  luta contra o machismo e a dimensão de poder que afetam seus corpos. É nessa  perspectiva que Galhera e Maso (2017) evidenciam a relevância da visibilidade das  mulheres negras, trabalhadoras, quilombolas, índias, trans, bissexuais, lésbicas,  queer, latinas, africanas, asiáticas, gordas, com deficiência e todas as diversidades  que resistem para romper paradigmas patriarcais e garantir seus direitos de existir.

De acordo com Beauvoir (1980b), as diferenças entre homens e mulheres muitas  vezes atribuem características inferiorizantes às últimas, buscando torná-las dóceis,  dedicadas, passivas e maternais em submissão e como propriedade dos homens,  uma vez que desses é esperado força, agressividade e dominação, gerando assim  desigualdade e violência. Entretanto, a autora destaca que as mulheres resistem  destronando o mito da feminilidade, afirmando sua independência em uma luta que

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deve ser contínua. Em concordância, Pereira e Cardoso (2018) ressaltam que no  contexto patriarcal o corpo da mulher acaba sendo o lócus de controle mais  extensivo, entretanto, pode também ser local de resistência, inclusive através da  sexualidade.

Sexualidade feminina e relações de poder: percorrendo um caminho desde a  infância

Sexualidade e poder

Discutir a sexualidade humana requer uma análise abrangente de modo a evitar  reducionismos e equívocos, dessa maneira, Nunes (1987/2005) salienta que a  mesma contempla a esfera da subjetividade e as implicações de ordem social nas  significações e vivências desta, considerando assim não só os níveis biológicos e  reprodutivos, mas também o campo psicossocial, abarcando a história, as relações na cultura, a antropologia, a moral e a evolução social. Além disso, Louro  (1997/2003) evidencia que, por suas dinâmicas sociais, as identidades de gênero e  sexuais são moldadas pelas redes de poder e, diferentes estruturas como classe,  raça, religião, gênero e sexualidade não são independentes, mas interligadas, afinal  a opressão de cada uma está inscrita no interior da outra.

Sexualidade é muito mais do que sexo, de modo que envolve também papéis  sexuais, orientação sexual, erotismo, prazer, envolvimento emocional, amor e  reprodução, sendo vivenciada por meio de pensamentos, fantasias, desejos,  

crenças, práticas, relacionamentos e corporeidade. Em muitas sociedades,  expressões da sexualidade são alvo de normas morais, religiosas ou científicas que  vão sendo apreendidas desde a infância. Contudo, torna-se importante refletir para  além da questão moral, debatendo sobre direitos sexuais, reprodutivos e saúde  sexual (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). Similarmente, Weeks (1999/2000) aborda a  sexualidade como uma série de crenças, comportamentos, relações e identidades  em construção, portanto, os sujeitos podem exercer e vivenciar sua sexualidade, seu  corpo, seus desejos e prazeres de diferentes formas, constituindo assim suas  identidades sexuais ao longo da vida.  

A partir disso, destaca-se as discussões de Foucault (1976/1988) sobre o biopoder  no âmbito da sexualidade, visto que esta é definida pelo autor como um dispositivo  histórico e social produzido através de discursos e “verdades”, bem como relações  de poder sobre o corpo e o sexo, onde instituições escolares, psiquiátricas e  

familiares têm grande influência, ditando o permitido e o proibido, bem como o  normal e o anormal, visando o controle, a submissão e a utilidade. Dessa maneira, o  dispositivo da sexualidade relaciona-se também com a economia, especialmente  através do corpo que produz e consome.

Ainda, Foucault (1976/1988) evidencia quatro conjuntos estratégicos concernentes  ao saber e poder referentes ao sexo: a pedagogização do sexo da criança, a  socialização econômica das condutas de procriação, a psiquiatrização do prazer

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perverso e a histerização do corpo da mulher, que à sua vez contempla o processo  pelo qual este corpo foi analisado, qualificado e desqualificado, saturado de  sexualidade e integrado sob efeito de uma patologia considerada intrínseca pelas  práticas médicas, além disso, o mesmo foi colocado em comunicação orgânica com  o corpo social, o âmbito familiar e em responsabilidade biológica-moral com a vida  das crianças.

Violência e sexualidade feminina: Infância, adolescência, idade adulta e  senescência

No tocante à sexualidade feminina, Hooks (2018) salienta que o pensamento sexista  ensinado às mulheres desde o nascimento abrange a noção de que o domínio do  desejo e do prazer sexual são concernentes ao masculino. Desse modo, é cônscio  que a passividade feminina é um traço esperado na mulher desde os primeiros anos  a partir de imposições dos educadores, da família e da sociedade, assim, quanto  mais a criança cresce, mais a noção de superioridade masculina sobre esse corpo  se afirma, conforme Beauvoir (1980b).  

Evidencia-se que já na infância, meninas e meninos recebem uma educação  machista e sexista, onde as primeiras são ordenadas a ‘se portarem como  mocinhas’, utilizando brinquedos específicos muitas vezes relacionados ao cuidar,  assim como mantendo as pernas fechadas em suas saias e vestidos, em uma  opressão a seus corpos (ARAÚJO, 2014, p.4, grifo do autor). Além disso, segundo  Montes (2017), é perceptível na contemporaneidade a sexualização, erotização e  adultização de crianças e adolescentes, especialmente do gênero feminino e através  da mídia e da publicidade, induzindo também ao hiperconsumismo e reforçando os  padrões de beleza, a objetificação das mulheres, a violência e a exploração nas  esferas psicológicas, econômicas, físicas e sexuais.

Assim sendo, Guimarães (2019) acentua que historicamente a sexualidade feminina  engloba uma dicotomia moral de pureza/impureza e vergonha/não vergonha, sendo  representativamente encoberta pela dominante sexualidade masculina. A ideologia  da feminilidade, então, enfatiza que meninas devem ser atenciosas, emocionalmente  comprometidas, contendo seus impulsos sexuais e acomodando os desejos do  homem para o sexo, investindo em um corpo atraente de modo a cultivar a beleza  sem expressar sua própria sexualidade.

Portanto, na sociedade contemporânea observa-se a hipersexualização dos corpos  femininos desde muito cedo, ao mesmo tempo que discursos institucionais buscam  manter as mulheres como crianças ingênuas despojadas de sexualidade. Logo,  apesar dos ganhos do feminismo quanto aos direitos sexuais, as táticas de  silenciamento, violência sexual e difamação do desejo permanecem enraizadas,  tornando imprescindível o diálogo horizontal e desconstruções, indo para além do  medo, vergonha e culpa, proporcionando para as meninas e mulheres o  conhecimento sobre si, suas relações e seus corpos em constante mudança  (GUIMARÃES, 2019).

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Enquanto vão crescendo e transformando-se, as mulheres vivenciam violências  diversas, referentes ao poder sobre seus corpos, repressão à vivência genuína de  suas sexualidades e romantização de relacionamentos abusivos, bem como  culpabilizações. No que diz respeito a diversidade de violências, a Lei Maria da  Penha (Lei 11.340/2006) notabiliza a física, psicológica, patrimonial, moral e sexual,  sendo esta última referente à condutas que constranjam a mulher a presenciar ou  participar de relação sexual não desejada através de intimidação, ameaça ou uso da  força, assim como a imposição da comercialização ou utilização da sexualidade e a  coação de matrimônio, gravidez, aborto ou prostituição. Ademais, Santana (2014)  destaca a importância de refletir também acerca dos aspectos de exploração sexual  e econômica presentes em algumas esferas da pornografia e da prostituição, pela  objetificação e dominação do corpo feminino e os riscos advindos das mesmas.

Em uma leitura das abordagens sociológicas de Pierre Bourdieu, os autores Viana e  Sousa (2014) retratam sobre a violência de gênero e sexual perpassadas sobre um  poder simbólico que afeta o feminino, que é visto na sociedade como um objeto de  subordinação para manter o capital simbólico que se concentra em forças de  dominação, perpetuando o poder masculino por intermédio do pensamento, das  ideias e dos ideais, onde as mulheres também interiorizam e naturalizam essas  concepções patriarcais, gerando sofrimentos e significados negativos à sua  corporeidade. Dessa forma, a violência sexual também é abrangida pela simbólica,  onde a mulher é vista apenas como objeto de satisfação.

Explanando especificidades concernentes às violências sexuais sofridas por  mulheres negras e indígenas, Bina (2018) ressalta a erotização desses corpos  desde o período colonial no Brasil. Ainda, quanto à intersecção entre sexualidade,  gênero, classe e raça, Davis (1981/2016) aponta para um recorte histórico dos  abusos sofridos pelas mulheres negras, visto que as opressões do período  escravocrata refletem também nos dias atuais:

Mas as mulheres também sofriam de forma diferente, porque eram  

vítimas de abuso sexual e outros maus-tratos bárbaros que só  

poderiam ser infligidos a elas. A postura dos senhores em relação às  

escravas era regida pela conveniência: quando era lucrativo explorá

las como se fossem homens, eram vistas como desprovidas de  

gênero; mas, quando podiam ser exploradas, punidas e reprimidas  

de modos cabíveis apenas às mulheres, elas eram reduzidas  

exclusivamente à sua condição de fêmea (DAVIS, 1981/2016, p.19).

Outra problemática que afeta a vivência da sexualidade e afetividade feminina  consiste nos relacionamentos abusivos, assim, faz-se evidente que o ideal de amor  romântico e de mulher dedicada ao lar e ao companheiro com passividade e  disciplina (pelos discursos educacionais/familiares/culturais, livros, filmes, novelas e  mídia em geral) são fatores atrelados à permanência e ao silenciamento de  mulheres nessa situação de violência. Com a baixa autoestima, a dependência e o  estigma, a mulher pode internalizar a ideia de não ser merecedora de algo bom,  aceitando e naturalizando a submissão e as agressões. Similarmente, destaca-se

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que pode haver ganhos secundários advindos desses relacionamentos, pelo medo  de sentir-se só e de se reestabelecer financeira e emocionalmente (FORTI;  MARTINO; POSSOBON, 2018).

Ademais, os danos à saúde das vítimas, segundo os autores supracitados, podem  envolver traumas, transtornos psicológicos, gravidez indesejada, aborto e infecções  sexualmente transmissíveis, afetando assim a sua relação com a própria  sexualidade. Logo, a Psicologia e as redes de apoio fazem-se imprescindíveis na  prevenção, no acolhimento, na conscientização e na garantia de direitos dessas  mulheres, explorando o empoderamento feminino.

Além disso, compreendendo outros modos de controle à vivência da identidade  sexual e de gênero em sua amplitude, Bagagli (2017) formula uma crítica acerca da  intersecção entre a heterossexualidade compulsória (heteronormatividade) e a  cisnormatividade, onde a primeira consiste em um conjunto de instituições,  compreensões e práticas que fazem a heterossexualidade ser vista como normal e  coerente, o que também legitima a violência de gênero e controle da sexualidade de  mulheres lésbicas e bissexuais. Por sua vez, a cisgeneridade como norma afeta  também a vivência das transgeneridades, produzindo efeitos de abjeção e  subalternidade por relações de poder.

As formas de violência citadas até aqui são perceptíveis no cotidiano da mulher em  seu crescimento e transformações, porém, é necessário destacar as especificidades  da sexualidade no processo de envelhecimento, onde faz-se notória a interação de  dimensões fisiológicas, psicológicas, sociais e culturais, como afirma Fleury e Abdo  (2015). Em vista disso, observa-se a existência de estereótipos negativos  construídos culturalmente, referentes ao isolamento social, fragilidade, desgaste  físico/mental e assexualidade, gerando tabus e negativações sociais da imagem  feminina durante a velhice, prejudicada por não seguir o padrão de beleza e  sensualidade juvenil, ao mesmo tempo que é ridicularizada por tentar parecer jovem  (ELOI et al., 2017).  

Em concordância, Fleury e Abdo (2015) frisam que o comprometimento da  autoimagem e a perda de relações íntimas por viuvez ou separação podem acentuar  quadros de ansiedade e depressão, afetando a vida sexual dessas mulheres que,  em sua maioria, de acordo com Eloi et al. (2017), cresceram marcadas pela  repressão em seu corpo, tendo a sexualidade limitada/reprimida e vivenciando o  medo de serem taxadas como “promíscuas”. Entretanto, apesar dos estigmas sobre  o corpo da mulher idosa, faz-se imprescindível realçar a existência de avanços no  processo de envelhecer na contemporaneidade, possibilitando à figura feminina  autonomia e reinvenção da expressão de sua sexualidade de modo satisfatório.

Dessa maneira, é notório que com todas essas repressões do corpo,  hipersexualização e violências, inclusive simbólicas, muitas mulheres apresentam  dificuldades de experienciar a sexualidade de forma fluida, prazerosa e saudável, a  partir disso, em alguns casos, apresentam-se também disfunções sexuais, muitas

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vezes associadas a questões orgânicas ou psicológicas que abrangem tabu, falta de  conhecimento e inibição cultural, religiosa, social ou familiar (VIEIRA; ZANUZZI;  AMARAL, 2016).  

No que concerne a resistência, de acordo com Hooks (2018), a revolução sexual  feminista desafiou (e desafia) estereótipos sexistas em um movimento de luta e  resistência contra essas formas de submissão. Ainda, ressalta-se que a liberdade  sexual da mulher deve contemplar métodos contraceptivos confiáveis, sexo seguro e  direitos reprodutivos, mas além disso, o conhecimento do próprio corpo e a  integridade sexual com prazer, consentimento e respeito, e não medo, culpa ou  crença de que este corpo deve estar sempre a serviço do masculino.

Corpos femininos, sexualidade, poder e Gestalt-Terapia

Abordagem gestáltica

A Gestalt-terapia surgiu no início da década de 50, a partir das reflexões de  Friederich Perls que, com contribuições de Laura Perls, Paul Goodman e Ralph  Hefferline, constituiu-se a partir de pressupostos filosóficos como o humanismo, o  existencialismo e a fenomenologia, bem como teorias de base a psicologia da gestalt, a teoria de campo de Lewin e a teoria organísmica de Goldstein (RIBEIRO,  1985/2012). A abordagem em questão compreende o organismo em sua totalidade e  em interação com o ambiente, tendo potencial, sendo consciente e responsável,  construindo-se no contato (GINGER; GINGER, 1987/1995).

Para Ginger e Ginger (1987/1995), a Gestalt-terapia, além de psicoterapia,  configura-se como uma filosofia existencial, uma arte de viver e refletir, sendo assim  uma maneira singular de conceber as relações do ser vivo com o mundo. Isto posto,  enfatiza-se a tomada de consciência da experiência atual (o aqui e agora), bem  como a percepção emocional e corporal, integrando dimensões sensoriais, afetivas,  intelectuais, sociais e espirituais de modo a permitir uma experiência global, um  contato autêntico e um ajustamento criador do organismo no meio.

Similarmente, é imprescindível salientar a visão holística do homem, visto que:

Denominemos esse interagir entre organismo e ambiente em  

qualquer função o “campo organismo/ambiente”, e lembremo-nos de  

que qualquer que seja a maneira pela qual teorizamos sobre  

impulsos, instintos etc., estamos nos referindo sempre a esse campo  

interacional e não a um animal isolado (PERLS; HEFFERLINE;  

GOODMAN, 1951/1997, p.42).  

Desse modo, ressalta-se alguns conceitos importantes para a abordagem gestáltica,  como auto-regulação organísmica, ajustamento criativo, corpo, aqui-agora,  awareness, contato e self. A auto-regulação organísmica, por sua vez, envolve a  interação do organismo com o ambiente, logo, todos os seres se auto-regulam no  mundo e por meio dele; por conseguinte, o ajustamento criativo configura-se como o

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processo pelo qual o corpo, a partir de sua espontaneidade instintiva, encontra em  si, no ambiente ou em ambos, soluções disponíveis de se auto-regular. O corpo,  portanto, é a totalidade que sente, pensa, faz, fala, sendo assim um corpo-pessoa  (RIBEIRO, 2006).  

Sendo uma terapia experiencial, a Gestalt-terapia envolve o aqui e agora, afinal, de  acordo com Perls (1988) o agora nos mantém no presente e na experiência de nós  mesmos em relação com o ambiente. Ademais, segundo Alvim (2014) a awareness  é um fluxo da experiência aqui-agora no contato com a novidade do outro que,  

através do sentir e do excitamento no campo, orienta a formação de Gestalten  (configuração de sentido que emana da interação entre o organismo e o ambiente).

O contato, à sua vez, é ressaltado por Perls, Hefferline e Goodman (1951/1997)  como criativo e dinâmico, visto que não pode ser rotineiro, estereotipado ou  conservador, dado que tem de enfrentar o novo para ser nutritivo, caracterizando-se  assim como resposta consciente no campo (como orientação e manipulação) e  crescimento, que diz respeito a função da fronteira de contato no campo  organismo/ambiente. Dessarte, “o contato é a awareness da novidade assimilável e  comportamento com relação a esta, e rejeição da novidade inassimilável” (p.44).

Quanto aos mecanismos neuróticos, estes são ajustamentos criativos de um campo  onde há repressão, havendo a interrupção do excitamento criativo e do contato  (PERLS; HEFFERLINE; GOODMAN, 1951/1997). A partir disso, Polster e Polster  (1973/2001) evidenciam que as pessoas administram sua energia para obter um  bom contato com seu ambiente ou resistir ao contato, logo, existem, para os autores,  cinco canais principais de interação resistente: introjeção, projeção, retroflexão,  deflexão e confluência.

De acordo com Perls (1942/2002), a interrupção do contato acontece tanto na  psicose como na neurose, sendo esta última uma evitação, podendo ser individual  ou coletiva, posto que o controle exigido socialmente contempla a desvitalização e  enfraquecimento da personalidade. Ainda, considerando a função “campo  organismo/ambiente”, a abordagem gestáltica notabiliza que as instituições sociais  presentes na cultura permeiam jogos de poder que implicam o alinhamento dos  corpos às normas coercitivas, por conseguinte, não proporcionam a satisfação e o  crescimento necessário, havendo a inibição dos desejos e da sexualidade, bem  como a privação de contato, afeto, espontaneidade e satisfação animal (PERLS,  HEFFERLINE; GOODMAN, 1951/1997).

Com isso, torna-se notória também a influência das reflexões de Reich (1927/1975)  para a Gestalt-terapia, tendo em vista que este enfatiza que, no campo social, a  descarga (satisfação) de excitação/energia encontra-se bloqueada, contemplando  angústia, fixação e mecanismos neuróticos que fazem-se presentes na política,  educação, guerras e casamento, que pressupõem uma vida ordenada, cristalizada e  inibida pela ideologia social. Desse modo, em seus estudos sobre a ontologia  gestáltica de Paul Goodman, Belmino (2017) aponta que os ajustamentos

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neuróticos, ainda que abranjam rigidez, configuram-se como respostas criativas e de  resistência política aos modelos sociais coercitivos, que por sua vez prejudicam o  funcionamento animal e interpessoal, assim como o contato, a excitação e a  espontaneidade.  

Em relação ao self, sua teoria será explanada a seguir, em correlação com a  perspectiva da clínica do sofrimento.

Sofrimento ético, político e antropológico relacionados à violência e ao poder  sobre os corpos femininos

O self consiste em um sistema de contatos, variando com as necessidades  orgânicas dominantes e os estímulos ambientais presentes, sendo o sistema de  respostas e a fronteira-de-contato em funcionamento, formando figuras e fundos  (PERLS; HEFFERLINE; GOODMAN, 1951/1997). A teoria do self, dessa maneira,  fundamenta-se nas seguintes funções: Id (isso da situação), Ego (função de ato) e  Personalidade (alienação ao outro social), sendo estes uma apresentação  psicológica dos processos interacionais que constituem os ajustamentos criativos  produzidos no contato: awareness sensorial, awareness deliberada e awareness  reflexiva. Além disso, as três funções do sistema self se apresentam  concomitantemente, fundamentando também o sentido ético, político e  antropológico, como realça Müller-Granzotto e Müller-Granzotto (2012).

O Id é o fundo determinado que se dissolve em suas possibilidades,  

incluindo as excitações orgânicas e as situações passadas  

inacabadas que se tornam conscientes, o ambiente percebido de  

maneira vaga e os sentimentos incipientes que o conectam o  

organismo e o ambiente. O Ego é a identificação progressiva com as  

possibilidades e a alienação destas, a limitação e a intensificação do  

contato em andamento, incluindo o comportamento motor, a  

agressão, a orientação e a manipulação. A Personalidade é a figura

criada na qual o self se transforma e assimila ao organismo, unindo-a  

com os resultados de um crescimento anterior (PERLS;  

HEFFERLINE; GOODMAN, 1951/1997, p.184).  

Quanto à função personalidade, especificamente, acentua-se que esta é entendida  por Müller-Granzotto e Müller-Granzotto (2012) como um conjunto de  representações que estabelecem o outro social que, junto ao mesmo,  experimentamos nossa identidade, abarcando assim a moral, as instituições e os  valores éticos. Nesse sentido, tendo em vista que não há nenhuma identidade  estática, natural ou dada, é cônscio que a dimensão de gênero e sexualidade tem  grande influência do sociocultural (aqui, salienta-se a presença do patriarcado, da  cultura machista e das esferas de opressão, controle e poder), assim, a violência de  gênero engloba um quadro de sofrimento ético-político-antropológico, concernente às vulnerabilidades nas funções id, ego/ato e personalidade. Nota-se uma  vulnerabilidade antropológica que reside na ausência de uma imagem social de  inclusão, aceitação e respeito, havendo um ataque às representações políticas e aos

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valores antropológicos, isto posto, o ajustamento criador se faz presente em  discretos pedidos de socorro e solidariedade, denominados ajustamentos de  inclusão (SANTANA; BELMINO, 2017).

Com isso, ressalta-se há uma dominação no campo político para além do plano  macroeconômico, mas também o poder midiático dos dispositivos de saber que  controlam os corpos cotidianamente no campo biopolítico, como se os mesmos  devessem se vestir, se alimentar, votar, se divertir e amar de acordo com os  

interesses dos representantes da cultura dominante, em sua maioria homens  brancos heterossexuais. O outro social dominador fundamentado por Foucault  consiste na estrutura de produção de riqueza a partir do consumo e apropria-se dos  desejos e representações sociais dos sujeitos dominados, como as vítimas de  violência de gênero, racial e homofóbica (MÜLLER-GRANZOTTO; MÜLLER GRANZOTTO, 2012).

Em vista disso, o significante "política" se relaciona com a ação dos sujeitos de ato  para sintetizar as representações sociais disponíveis e hábitos (excitamentos)  desencadeados pelas contingências sociais, então, diante dos apontamentos dos  autores supracitados acerca do self, é evidente que o sofrimento político perpassa a  violência contra as mulheres, seus corpos e suas sexualidades, dado que essa  violência é inibidora e engloba uma vulnerabilidade na função ego/ato no campo,  onde as relações de poder e os discursos de opressão impedem a atuação livre  dessa função, gerando sofrimento de ordem política que contempla um efeito de  imobilidade feminina, tornando-se assim imprescindível abarcar a resistência  também na clínica gestáltica, acompanhando a recuperação de possibilidades de  ação e criação, considerando que a função ato está sempre em movimento de  criação. Portanto, ações de enfrentamento são indícios de autonomia.

Isto posto, é notório que os modos de criação também se fazem presentes como  resistência, assim, Belmino (2014) pontua a significância da ética gestáltica  fundamentada por Paul Goodman, visto que, apesar das cristalizações e relações de  poder adoecedoras, as funções organísmicas sempre estão buscando novas  direções para sobreviver e criar.

Manejo clínico para com mulheres em situação de violência

Seja individualmente, em grupos e em qualquer modalidade, inclusive na esfera das  políticas públicas, a Gestalt-terapia abarca, segundo Yontef (1993/1998), o método  fenomenológico de awareness, onde consulentes e terapeutas dialogam, de forma  que o objetivo é tornar os primeiros conscientes (aware) do que e como estão  fazendo/sentindo e como podem transformar-se e aceitar-se, focalizando assim o  processo, baseando-se no holismo e na Teoria de Campo.  

À vista disso e da explanação da teoria do self, faz-se importante compreender a  totalidade, considerando as normas sociais e culturais vigentes na sociedade  patriarcal que ecoam nos modos de contatar o mundo e vivenciar o gênero e a

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sexualidade na fronteira de contato. Ademais, é primordial que o organismo  compreenda suas reais necessidades e busque ajustamentos criativos para além de  respostas fixas/rígidas/disfuncionais (LOUZEIRO, 2018). Consonante a isso, Ferraz  e Sousa (2018) ressaltam o valor da reestruturação da fronteira de contato, bem  como a integração do self e da personalidade no setting terapêutico.

Assim sendo, torna-se necessário que as práticas clínicas não se configurem como  agentes de cristalização dessa cultura de controle pela mera aplicação de  metapsicologia. Logo, a intervenção clínica jamais pode ignorar o papel dos  demandantes e dos dispositivos de poder e o clínico deve englobar o suporte e o  acompanhamento às funções do self e ao sofrimento ético, político e antropológico  (MÜLLER-GRANZOTTO; MÜLLER-GRANZOTTO, 2012).

Em relação ao sentido ético, segundo os autores supracitados, o clínico deve  perceber as formas pelas quais outrem se manifesta; no sentido político, auxiliar a  construção de desejos, considerando que o desvio para a função política é crucial  nos espaços de atuação, uma vez que as questões políticas são as que com mais  frequência levam as consulentes a buscar o atendimento, afinal, vivemos em uma  cultura atravessada por relações políticas; no antropológico, deve ser o cuidador e  interlocutor solidário no compartilhamento de valores, sentimentos, pensamentos e  instituições que configuram a identidade social das consulentes, em um trabalho clínico de cuidado em situações de vulnerabilidade antropológica que vai muito além  dos consultórios, auxiliando-as a reencontrarem em si a disponibilidade para pedir  ajuda e inteirar-se do que quer e pode fazer.

De acordo com Pimentel e Castro (2019), em seu estudo sobre mulheres,  especificamente negras e lésbicas, as intervenções clínicas gestálticas favorecem a  atualização da autocompreensão e o desvelamento dos jogos de poder que as  clientes vivenciam na cultura, sendo assim, a criatividade torna-se uma estratégia de  ampla relevância para o enfrentamento existencial frente às condições de  subalternidade que afetam as mulheres. Nesse aspecto, acolher, vincular e  fortalecer o contato pleno e os ajustamentos criativos torna-se imprescindível para a  autoestima e a apropriação do próprio corpo em um movimento de autorregulação  organísmica. Tendo consciência de si mesma, engajando-se no próprio viver, a  mulher pode restaurar o equilíbrio e a saúde, assim, redes de apoio pessoais,  sociais e profissionais são cruciais para o crescimento.

Conforme Zembrzuski (2016), dado que as pessoas e o mundo estão em  transformação contínua, a criatividade e a contemplação do aqui e agora são  fundamentais, de modo que o processo ocorre por meio do ajustamento criativo e do  contato com o novo. Um indivíduo, mesmo adoecido, tende a buscar equilíbrio e tem  sabedoria de tentar se autorregular através da relação organismo/ambiente, assim,  acreditando na autorregulação das mulheres, a abordagem gestáltica deve estar  comprometida em sua teoria e práxis com a desconstrução de pensamentos  dicotômicos e que geram desigualdades.

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Dessa maneira, no contexto contemporâneo, onde a mulher assume diversos papéis  e sofre inúmeras violências, a mesma encontra uma composição de sentimentos e  desejos ambivalentes, então, o trabalho da Gestalt-terapia, pautado na escuta, no  cuidado e no acolhimento ético, configura-se como uma possibilidade de  acompanhar a mulher de modo que esta recupere possibilidades de ação e  enfrentamento, assim como convidá-la a conhecer e integrar suas polaridades e sua  personalidade, proporcionando uma relação mais saudável, construtiva e prazerosa  consigo e com o mundo a partir da ampliação da awareness e do estabelecimento  de relações mais funcionais em resistência aos jogos de biopoder (GUSMÃO, 2014).

Considerações finais

Portanto, é cônscio que a violência contra as mulheres se faz presente em diversas  esferas, como a psicológica, física, sexual, patrimonial e moral, contemplando uma  dimensão de poder e dominação sobre o gênero feminino e seus corpos em um  contexto social, cultural, histórico, econômico, político e simbólico que afeta a  vivência das mulheres frente ao patriarcado e a intersecção entre gênero, classe e  raça a partir de dispositivos e relações de poder que visam a docilidade e utilidade  do feminino (TELES; MELO, 2002).

Nesse contexto, com a presente pesquisa tornou-se notório que o biopoder abarca  efeitos normatizadores e de submissão para com as mulheres, seus corpos e sua  sexualidade em todas as fases do desenvolvimento, de modo a torná-las e mantê las dóceis e como propriedade do masculino. Ainda, acentua-se a imposição  repressiva na educação, família e sociedade, que retrata um pensamento sexista  para com esses corpos, abrangendo a dicotomia de inibição (pureza) e  hipersexualização/erotização (impureza), bem como ideais de amor romântico,  heterossexualidade compulsória, cisnormatividade e outras problemáticas que  afetam essa vivência.

Contudo, corroborando com os fundamentos de Hooks (2018), salienta-se que há  um amplo movimento de resistência sendo construído historicamente, de modo a  produzir espaços de luta por direitos, liberdade e afirmação da vida, assim como o  conhecimento do próprio corpo e experiências das suas sexualidades de forma  genuína, sem culpa ou medo, mas com prazer e consentimento.

Em relação à leitura da Gestalt-terapia, evidencia-se que a abordagem em questão  contempla o holismo e a relação organismo/ambiente, à vista disso, compreendendo  a teoria do self, a violência contra os corpos femininos envolve o sofrimento ético,  político e antropológico, considerando a interação dos mesmos com o sociocultural  que, por sua vez, é marcado por relações de poder, bem como uma cultura machista  e patriarcal repleta de cristalizações e inibição de desejos (MÜLLER-GRANZOTTO;  MÜLLER-GRANZOTTO, 2012; SANTANA; BELMINO, 2017). Entretanto, o  organismo está sempre buscando novas formas de sobreviver e criar (BELMINO,  2014).

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Assim sendo, em concordância com Gusmão (2014), aponta-se que o manejo clínico  gestáltico visa fortalecer o contato nutritivo, bem como os ajustamentos criativos,  acreditando na autorregulação no aqui e agora, de modo a contemplar o  acolhimento ético-político, possibilitando à mulher uma relação mais saudável  consigo mesma através da ampliação da awareness e das possibilidades de ação e  identificação. Similarmente, torna-se fundamental o suporte e cuidado para com as  funções do self, a partir de uma implicação profissional não-normativa.

Além disso, é imprescindível considerar as mulheres em sua pluralidade, visto que a  discussão frente às questões de gênero é ampla e inacabável, devendo ser cada  vez mais explorada para incluir as diversidades, especificidades e aproximações das  vivências e lutas femininas. Por fim, enfatiza-se a escassez de produções teóricas  acerca das discussões de gênero e sexualidade a partir da ótica da Gestalt-terapia,  tornando-se imprescindível a realização de novos estudos que contemplem a  temática de modo a contribuir no campo teórico e prático da mesma.

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Endereço para correspondência

Lindalva Jéssyka de Oliveira Andrade

E-mail: jessykaandradepsi@gmail.com

Jéssica Queiroga de Oliveira

E-mail: jessicaqueiroga@leaosampaio.edu.br

Leda Mendes Pinheiro Gimbo

e-mail: ledampinheiro@gmail.com

Recebido em: 31/03/2020

Aprovado em: 31/12/2022

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