(Des)Encontros com Manoel de Barros

Autores

  • Nivaldo Rodrigues de Carvalho

Palavras-chave:

(Des) Encontros

Resumo

Se os poetas têm estilos, Manoel de Barros tem ‘restilo’ pois considera o estilo uma doença. O seu processo de criação é menos creditado a um controle consciente do que à incerteza e o erro, errando o idioma ele exercita a sua desgramática e o homem é reposicionado diante da natureza como consequência. Natureza que não é escrita, nem descrita, pois Manoel não é ‘poeta do Pantanal’ como constantemente é rotulado, o seu negócio é com a linguagem e desse seu negócio resulta uma radicalidade na forma como supera a lógica da gramática rompendo os limites. A linguagem primordial é a da criança, lugar onde há a liberdade inaugural ainda não submetida a estrutura rígida da língua, e voltar à infância é um exercício de uma fala inaugural do inédito. Sua poesia desconcer ta, e da desordem estética torna possível dizer o indizível construindo imagens pela desarrumação das palavras, caberia ao poeta proporcionar a inauguração de uma linguagem original que ainda esteja livre de sentidos, assim acontece a experiência original. Ser poeta, então, é perverter a linguagem, molecar o idioma. Seu trabalho remete ao de um arqueólogo que ao escavar, ou melhor, escovar o osso, encontra algo que remete a ancestralidade humana. Manoel escova as palavras para revelar algo ainda não revelado. Seus estímulos estão em si mesmo, na sua necessidade de ser. Não encontra estímulos nos acontecimentos fora de si, como no pôr do sol ou no amor das pessoas, só encontra estímulos a partir dos seus armazenamentos ancestrais, toda sua poesia tem a ver com ele mesmo, ele escreve para chegar nas suas antecedências. Ser poeta é ser inútil, coisa que Manoel de Barros é absolutamente, pois só sabe fazer poesia. A criança, em Manoel de Barros, é quem descobre e inventa as palavras e a natureza, uma viagem a origem do ser e do poético onde tudo é possível pela falta de uma gramaticalização da linguagem. O seu criar é instintivo e desaprender oito horas por dia é o exercício para o seu ser poeta. Manoel é analfabeto para as certezas. Nas próprias construções termina indicando um modo de fazer poesia e o significado desse fazer poético, reaprender a errar a língua, desarrumando a cartilha, faz parte do processo de busca de um estado primitivo e novo para as velhas frases gastas pelo idioma. A razão cede lugar para a sua insensatez e por trás da criação não está a teoria, mas a própria vivência, um estado de inocência. A sua escrita tem fonte no corpo. O corpo é fonte de toda a sua criação e nos seus versos não há abertura para uma análise de julgamento, resultado de uma sensibilidade traideira, que tapa a visão. Em sua incerteza, não sabe do que faz porque o faz com o corpo. Manoel de Barros s itua os poetas na área do instinto, de modo que na fonte do poeta as coisas ainda não estão ‘mentadas’, estão numa condição pré-reflexivas anterior as ideias e aos pensamentos. A contraposição mente/corpo é superada pelo pressuposto entendimento corporal. A invenção flui como o traço mais característico da poética de Manoel de Barros e transcende a simples reprodução do que pode ser considerado como realidade, tendendo a criação de uma nova realidade. Um critério de verdade se constitui na invenção ao mesmo tempo em que nenhuma verdade é procurada, o poeta quer chegar a lugar nenhum. A verdade passa a ser qualquer verdade que se expresse por um inventor, criador. A infância é a fonte de toda invenção, a criança cria errando na gramática e tornando poética a sua descrição do mundo. (Des)encontros com Manoel de Barros é uma tentativa de experimentar a sua poesia sem encontrála por via da razão, e só assim é possível. O prefixo ‘desâ _™ indicaria uma superação, um retorno ao conhecimento anterior as letras. Manoel de Barros procura uma coisa ‘original’, como um ser árvore. No seu processo de escrever vai desabrochando as palavras até encaixar os seus desencontros. A linguagem desencontrada da criança dá suporte a invenção do mundo, os desencontros são encontros que vão além. As contradições superam um limite que a linguagem institui, chegando a lugar nenhum, ao nada, mas criando um potencial para outra compreensão que não seja lógica. Não se pretende aqui, para manter uma expectativa coerente com os deslimites da poesia de Manoel de Barros, chegar a conclusão nenhuma. Palavra 1: Poesia Palavra 2: Agramaticalidade Palavra 3: Fenomenologia Modalidade de apre sentação: Comunicação/ tema livre Área de concentração: Interdisciplinaridade e novas interfaces (com outras práticas)

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Publicado

2015-12-01