Os legados através dos nomes: atualizando nossas histórias

Autores

  • Lilian Meyer Frazão
  • Gladyds D' Acris

Palavras-chave:

O legado através dos nomes

Resumo

“Aquele homem e aquela mulher tornar-se-ão pai e mãe e transformarão seus pais em avó e avô.” (Groisman; Lobo; Cavour, 1996, p. 15). Um filho inaugura a família quando um casal decide tê-lo. Não importa se explicitamente ou ocasionalmente, mas é o seu nascimento que marca o surgimento daquela família. Como parte desse evento familiar, vem à escolha do nome. Há quem diga que o nome pode interferir na história de vida do indivíduo. Outros costumam lhe atribuir um sentido mágico, como se o nome fosse trazer sorte ou azar para a criança. Quantas vezes assistimos os futuros pais tentando adivinhar se seu bebê pede um nome forte ou delicado, bemhumorado ou sério, comum ou diferente? Ou, ainda, querem honrar alguém muito querido, repetindo o nome em seu filho. Essa escolha, embora seja uma das tarefas prazerosas da gravidez, muitas vezes é motivo de discórdia entre os pais. Talvez porque marque também as diferenças entre as histórias de suas famílias de origem. Seja por influências culturais ou familiares é fato que a responsabilidade na escolha é grande: o nome é uma marca que o filho levará para o resto da vida. Sempre haverá um por que, uma intenção no nome, um desejo a ser realizado. Além de nos identificar e nos diferenciar dos outros, tanto judicialmente, quanto socialmente, nossa missão familiar também se anuncia em nosso nome. Uma das ideias ultrapassadas na Psicologia dizia que o bebê nasce como uma tela em branco que será preenchida a partir do seu nascimento. Nos estudos de terapia de família, se sabe que esse bebê, ao nascer, “vem inserido numa história familiar que compreende várias gerações e recebe uma série de expectativas, delegações” (Stierlin 1981 apud Groisman, 1996, p.29), “ou projeções dos pais, avós e da família extensiva” (Bowen 1978 apud Groisman, 1996, p.29). Portanto, em toda família, ocorre à transmissão de valores, crenças, mitos e legados de uma geração para outra. Os legados e outros fenômenos transgeracionais, como as heranças e as missões familiares, compõem o cerne da dinâmica familiar. No presente trabalho, nos deteremos aos legados definido por Groisman (1996) como um comando que traz um comprometimento emocional maior ou menor e que pode ser exteriorizado através da função que o indivíduo ocupa na família, do nome que recebe, do seu desempenho social, amoroso e profissional. Groisman (2000, p.19) conclui dizendo que “queiramos ou não todos somos atravessados por uma cruz. A haste vertical representa o que vivemos e foi transmitido pelos nossos pais, avós, bisavós: os mitos, tabus segredos, lealdades, valores, crenças e, principalmente, história que vivenciamos e partilhamos. A haste horizontal representa a história que estamos construindo, no momento atual, seja nas relações profissionais, sociais e amorosas, seja na família que constituímos.” A Gestalt-terapia apresenta a visão de homem como sendo um ser biopsicossocialespiritual se constituindo através das relações e essas acontecem no campo organismo/ambiente, que não é apenas físico, mas social. Segundo Perls (in Fagan; Shepherd, 1980, p. 49), “nós e o nosso meio somos uma só coisa. (...) Não podemos respirar sem ar. Não podemos viver sem ser parte da sociedade. Portanto, não podemos, certamente, observar um organismo como se ele fosse capaz de funcionar em isolamento.” Desse modo, o comportamento humano será considerado uma função do “campo organismoambiente”, a partir desta relação homem/meio, e somente poderá ser compreendido no contexto onde acontece. No desenvolvimento infantil, dentre as diversas necessidades que a criança possui, a necessidade de confirmação é considerada básica e assumirá uma função saudável toda vez que não entrar em conflito com a satisfação de outras necessidades (Aguiar, 2005). Se o ambiente lhe proporciona condições de atender essa prioridade, a criança se desenvolverá sem grandes impedimentos. Em contrapartida, a criança desenvolverá comportamentos estereotipados quando, em seu processo de crescimento, ela tiver que superar muitas frustrações, dentre as quais: abrir mão de suas próprias necessidades em prol do que o outro espera dela ou ser exigida além do que pode lidar. E, para Aguiar (2005), a criança poderá ainda “tentar negar, suprimir, distorcer ou transformar suas necessidades para que possa manter a possibilidade de reconhecimento dentro dos contextos dos quais faz parte” (p.105). Ser nomeado representa uma das primeiras formas de interação com o mundo, então ao confrontarmos as expectativas dos pais com as nossas próprias necessidades básicas de confirmação, muitas vezes, haverá um conflito. Algumas pessoas passam pela vida funcionando “como se” fosse aquela pessoa que suas primeiras figuras de autoridade desejaram que fossem. Outras pessoas, por sua vez, apresentam uma postura inversa, contrariando o legado. Fato é que se algum dia acreditou-se na ideia de que somos o que nos aconteceu ou o que nos impuseram, perdeu-se a oportunidade de mudar o rumo da própria história porque, na verdade, somos o que fizemos com aquilo que nos aconteceu ou desejamos. Este aspecto criativo do ser humano é fundamental para possibilitar mudanças diante dos legados familiares. Baseado nos preceitos da Gestalt-terapia e da Terapia familiar sistêmica, as autoras propõem o workshop “Os legados através dos nomes: atualizando nossas histórias” para trabalhar pelo viés do conhecimento da história que justifica os nomes dos participantes, a conscientização dos legados. Bibliografia AGUIAR, L. Gestalt-terapia com crianças. São Paulo: Editora Livro Pleno, 2005. PERLS, F. S. (1973). Quatro palestras. In FAGAN, J.; SHEPHERD, I. L. (orgs). Gestalt-terapia; teoria, técnica e aplicações. Rio de Janeiro: Zahar, 1980. GROISMAN, M.; LOBO, M. V. ; CAVOUR, R. Histórias Dramáticas: terapia breve para famílias e terapeutas. Rio de Janeiro: Editora Rosa dos Tempos, 1996. GROISMAN, M. A Família é Deus: descubra como sua família define quem você é. Rio de Janeiro: Eldorado: Núcleo-Pesquisas, 2000. Modalidade de apresentação: Workshop

Publicado

2015-12-01