A RELAÇÃO TERAPÊUTICA EM GESTALT-TERAPIA – O SENTIDO DA QUALIDADE DA PRESENÇA DO TERAPEUTA.

Autores

  • Hugo Elído Rodrigues
  • Maria das Graças Gouvêa Silva

Palavras-chave:

RELAÇÃO TERAPEUTICA

Resumo

PROPOSTA : Este workshop tem como objetivo promover uma reflexão crítica sobre as bases da relação terapêutica em Gestalt-terapia, compreendendo sua fundamentação numa ontologia que leva o homem a reconhecer sua implicação permanente na relação com o mundo, articulando-a com os pensamentos de Martin Buber e Martin Heidegger. O trabalho se subdivide em duas partes: uma parte teórica-expositiva, na qual as bases do pensamento dos autores serão apresentadas, sumariamente, para que os participantes possam ter os construtos teóricos necessários para, na segunda parte do trabalho, participar de experimentos pedagógico-terapêuticos que possam facilitar a articulação entre a teoria a prática. JUSTIFICATIVA: A Gestalt-terapia é muitas vezes mal compreendida como uma abordagem eminentemente técnica (no sentido reducionista do termo) na qual o terapeuta dispõe de uma grande variedade de recursos para ¨fazer funcionar¨ a relação terapêutica. Os autores do presente trabalho tem uma posição crítica em relação a esta concepção e, através do pensamento de Buber, será fundamentada uma parte desta crítica. Segundo este autor, há duas dimensões na existência humana, uma refere-se ao âmbito social e outra, ao âmbito inter-humano. Entendendo como âmbito social o fato que todas as existências individuais são delimitadas por uma existência de grupo e nelas contidas; há pertencimento, mas não há pessoalidade. E no âmbito interhumano destaca-se como fundamento a não-objetivação do ser: Nós temos, em comum com todas as coisas, o poder tornar-se objeto de observação; mas eu, pela ação oculta do meu ser, posso opor uma barreira intransponível à objetivação: este é o privilégio do homem. É somente entre parceiros que este privilégio pode ser percebido, percebido como um todo existente. (BUBER, 1982, p.138). Assim sendo, uma abordagem terapêutica que se propõe a promover o contato com o ser em seu sentido ontológico, deve-se pautar acima de tudo pelo critério da não-objetivação. Com isto, qualquer técnica não pode ser tomada como uma intervenção “em si”; algo que se use como um “a priori”, um recurso que menospreze o sentido que brota no contexto terapêutico. A prática do Gestalt-terapeuta se aproxima mais de um fazer artístico, onde o que é ¨criado¨ é uma parte inalienável de quem cria. Aquilo que pode ser mal compreendido e mal empregado como uma técnica, só tem seu pleno exercício se for ação coerente com a qualidade de presença da relação, de tal modo que a ¨ (...) intencionalidade que a anima, é o princípio ontológico do homem como ser dialogal e dia-pessoal. ¨ (BUBER, 1979, p.XLI) . Buber apresenta uma noção de ser humano que vive sua potencialidade na relação com outro ser-humano. Este aspecto é coerente com a visão heideggeriana de “Dasein” ou “ser-aí”, e também coerente com a visão gestáltica de “self”, que só é possível conhecer ao agir, ou seja, “como a função de contatar o presente transiente concreto” (PERLS, HEFFERLINE e GOODMAN, 1997, p. 177). Em relação ao contato, este é tomado como um fenômeno que acontece sempre “...na fronteira, num campo organismo/meio.” (Ib., p.179). Neste workshop, apresentamos uma consequência metodológica imediata desta argumentação, a partir de onde se conclui que o ser humano - que sempre compreende a si mesmo a partir do horizonte de sentido do mundo que é o seu, ou seja, como um “ser-no-mundo” (HEIDEGGER, 2012, p.169) - alcança a possibilidade de compreensão atual de quem é, sempre e rigorosamente, agindo. Ou seja, não só o cliente, mas também o Gestaltterapeuta, por mais que tenha uma ideia de quem é, uma auto-imagem (seja esta tal que o engrandeça ou que o diminua), esta sempre será apenas mais uma “idéia”, algo que imagina sobre si mesmo. Quem ele é, é algo que só pode surgir a partir de suas ações no mundo que é o seu. Com estes aspectos relacionados, tencionamos fundamentar a necessidade de que, para conhecer a prática clínica que se aplica numa relação psicoterapêutica, é necessário experiementá-la, colocá-la em prática, vivenciála. METODOLOGIA: Neste workshop estamos propondo sensibilizar os participantes a compreenderem como suas ações contribuem positivamente para o contato com outras pessoas e também – e principalmente – como agimos no sentido inverso, ou seja, como podemos ter ações que provoquem uma impessoalidade que torna a relação com o outro ser humano uma relação como se o outro fosse um “algo”. Uma “pessoa não é nem coisa, nem substância, nem objeto.” (HEIDEGGER, 2012, p.155), e sim, um ser das possibilidades, imprevisível; é um participante ativo e responsável, que aprende a experimentar e observar para ser capaz de descobrir e perceber seus próprios objetivos por meio dos seus próprios esforços.” (YONTEF, 1998, p.75) Desta forma, neste workshop almeja-se contribuir para a conscientização dos participantes sobre os seguintes aspectos: 1) o grau de disponibilidade individual para estar aware; 2) atividades vivenciais que contribuam para sensibilizar os participantes para ampliar suas possibilidades autônomas de percepção de si mesmos a partir de suas ações no mundo e 3) experimentar, através de práticas pedagógico-terapêuticas a intensidade da qualidade de sua presença, seja no modo impessoal, seja no modo mais próprio. BIBLIOGRAFIA BUBER, M. Eu e Tu. Tradução Newton Aquiles Von Zuben. 2ª edição revisada. São Paulo, SP: Cortez & Moraes, 1979. __________ Do Diálogo e do Dialógico.Tradução Marta Ektein de Souza Queiroz e Regina Weinberg. São Paulo,SP: Perspectiva, 1982. HEIDEGGER, M. Ser e Tempo. Tradução Fausto Castilho. Campinas,SP:Unicampo; Petrópolis, RJ:Vozes, 2012 PERLS, F.; HEFFERLINE, R.; GOODMAN, P.; Gestalt-terapia. Tradução Fernando Rosa Ribeiro. Segunda Edição. São Paulo, SP: Summus, 1997 YONTEF, G.M. Processo, Diálogo e Awareness – Ensaios em Gestalt-terapia. Tradução Eli Stern. São Paulo,SP:Summus, 1998 Modalidade de apresentação: Workshop

Publicado

2015-12-01