Reféns do silêncio: um ensaio sobre o bullying segundo a Gestaltterapia

Autores

  • Fernanda Ururahy Borba Galvão Rodrigues

Palavras-chave:

Reféns do silêncio

Resumo

O termo bullying tem sido utilizado indiscriminadamente pela sociedade sem a atenção devida, mas consiste num fenômeno social comum no âmbito escolar considerado por muitos como “apenas uma brincadeira de crianças”. Acontece que essa dita brincadeira coloca o outro numa posição desfavorável, de humilhação e constrangimento. O bullying é um ato de violência praticado repetitivamente e intencionalmente contra pessoas que não podem se defender. A violência pode ser física ou psicológica e ambas geram sequelas para os agressores e para os agredidos. (Silva, 2010). "É importante lembrar que, por definição, o bullying se caracteriza pelo comportamento agressivo no ambiente escolar e acadêmico, e essa relação de poder diante dos demais sempre está presente... uma relação desigual de poder, em que um ou mais alunos tentam dominar e humilhar os demais." (Teixeira, 2011, p. 8). O bullying se caracteriza por não respeitar o outro, tratá-lo com crueldade por mera diversão. As brincadeiras se tornam perversas e não respeitam os limites dos envolvidos e só aqueles que estão se divertindo são os agressores. “... Assim, o termo bullying pode ser adotado para explicar todo tipo de comportamento agressivo, cruel, proposital e sistemático inerente às relações interpessoais.” (Silva, 2010, p. 22). De acordo com Silva (2010), nesse fenômeno social podese distinguir três personagens importantes: a vítima do bullying, os espectadores e os agressores do bullying ou bullies. Como a maioria das crianças e adolescentes não falam a respeito desse assunto, adotando um voto de silêncio, torna-se difícil a identificação do papel de cada um e o enfrentamento do problema. Moura, Cruz e Quevedo afirmam que: "... um estudante é considerado vítima de bullying quando é repetidamente exposto a ações negativas de parte de um ou mais estudantes. Estas ações negativas podem dar-se na forma de contato físico, abuso verbal ou com expressões ou gestos rudes. Espalhar rumores e excluir a vítima de um grupo também são formas comum de violência." (2011, p. 20). Os agressores ou bullies podem ser tanto meninas quanto meninos e agir individualmente ou em grupo. As meninas costumam realizar fofocas e espalhar mentiras para isolar as suas vítimas socialmente. Já os meninos utilizam a violência física, principalmente, para mostrarem o quanto são fortes. (Silva, 2010). Os espectadores são os indivíduos que assistem as agressões sem tomar partido, ou seja, não defendem a vítima nem a agridem. O espectador nem sempre estará presente nesse comportamento. O bullying pode ocorrer sem que ninguém testemunhe, mas não sem ter pelo menos um agressor e uma vítima. O espectador como um coadjuvante, um personagem secundário que pode ou não estar presente. Já a vítima e o agressor vivem uma relação paradoxal, onde não existe vítima sem agressor e vice-versa. Um não existe sem o outro. Essa relação entre vítima e agressor pode ser comparada à dinâmica existente entre dominador (topdog) e dominado (underdog), que consiste em duas polaridades que se opõem e ao mesmo tempo se integram. Perls afirma (2002, p. 375): "... O ser humano foi diferenciado nos opostos “anjo” e “demônio”, o primeiro louvado e bem-vindo, o outro detestado e repelido; mas o primeiro pode existir sem o outro tanto quanto a luz sem a sua sombra." A suposição do presente trabalho consiste na premissa básica defendida por Perls (2002) de que todo ser humano possui agressividade. Esta é vista como uma energia necessária para transformar o que vem da interação com o mundo em algo assimilável para o homem. Para transformar é necessário destruir, “mastigar” o que vem do ambiente para que algo novo apareça. A agressividade torna-se assim fundamental no processo de desenvolvimento do ser humano, sendo através dela que ele faz ajustamentos criativos para satisfazer as suas necessidades, transformar e interagir com o seu campo. Sendo assim, todos os personagens envolvidos no bullying também e não apenas o agressor como pode parecer em um primeiro instante. O que vai diferir um do outro é como a agressividade está sendo utilizada. Enquanto o agressor a usa de forma destrutiva, colocando-a para fora em terceiros através de comportamentos abusivos que coloca o outro em sofrimento, a vítima a introjeta ou a retroflete, podendo acarretar num adoecimento. O bullying como uma tentativa de ajustamento criativo que leva todos os envolvidos ao adoecimento e à neurose. O bullying como uma questão que não está mais restrita apenas a área educacional, mas tornou-se um problema de saúde publica e que deve ser pensada, estudada e combatida pela sociedade inteira, especialmente, por todos da área de saúde, inclusive pelos psicólogos. O estudo desse tema dentro da Gestalt-terapia pode trazer contribuições para entender o que acontece nessa dinâmica do campo agressor e vítima, o que faz com que assumam seus respectivos papéis, uma vez que um não existe sem o outro e desse modo favoreça um ajustamento criativo. Palavra 1: Bullying Palavra 2: agressividade Palavra 3: topdog e underdog Modalidade de apresentação: Comunicação/ tema livre Área de concentração: Contribuições teóricas

Publicado

2015-12-01