Trauma uma gestalt inacabada

Autores

  • Nayara Nascimento Silva

Palavras-chave:

Trauma

Resumo

TRAUMA –UMA GESTALT INACABADA O objetivo desse trabalho concentra-se no resgate da discussão do trauma como ponto de partida para a compreensão de alguns quadros como TEPT, Transtorno do Pânico ou Transtorno Generalizado de Ansiedade. Os traumas, principalmente os decorrentes de abuso sexual, físico e emocional têm sido subdiagnosticados nos consultórios de psicologia. A Gestalt Terapia pode ser uma alternativa por excelência às novas descobertas da Neurociência principalmente em relação ao manejo em situações de trauma Os escritos de Alice Miller “Não Perceberás”Ed Martins Fontes 2004, “A Verdade Liberta”Ed Martins Fontes 2006, “El Saber Proscrito”Tusquets Editores 2009 , de Jeffrey Moussaieff Masson “Atentado à Verdade”Ed Livraria Jose Olympio 1984 e de outros autores lançam luz a um fato pouco aceito nos meios psicanalíticos ; Freud abandonou a Teoria da Sedução em 1897 não como um insight clínico ou teórico mas por falta de coragem para enfrentar o ambiente hostil fortemente autoritário que não podia sustentar a possibilidade de que os distúrbios emocionais dos adultos tinham por origem experiências traumáticas precoces reais(principalmente abusos sexuais), cuja consciência havia sido reprimida. Em seu novo modelo Freud afirma que suas pacientes haviam “fantasiado”suas lembranças de estupro e sedução. O abuso sexual, abuso físico e emocional tem sido subdiagnosticado com autorização oficial da ciência que poderia falar sobre ele. A queda da Teoria da Sedução abriu caminho à Teoria da Sexualidade Infantil, ao complexo de Édipo, a do trauma como efeito retroativo, e à Teoria das Pulsões. Significou um salto qualitativo enorme para aquilo que, começou, então, a teorizar-se como “o mundo interno” e portanto “fantasioso”ou “inventado” por parte das histéricas. Calou-se nos consultórios o que já havia sido silenciado nos lares. Freud escreve em 1897: “por fim me vi obrigado a reconhecer que aquelas cenas de sedução nunca haviam existido e que somente eram fantasias que minhas pacientes haviam inventado... já não creio mais em minhas neuróticas”. Ainda mais: “as fantasias tem uma realidade psíquica- em contraste com uma realidade fatual- e gradualmente compreendemos que no mundo das neuroses é a realidade psíquica a determinante. Em outras palavras não é relevante que um abuso sexual em uma criança haja sido uma mera fantasia de sua adolescência, em forma retrospectiva, o que haja realmente ocorrido. Não é de se admirar que toda a referencia a trauma ficasse praticamene anulada nos países nos quais a influencia da psicanálise foi muito determinante. Pode-se definir TRAUMA como uma impressão ou vivencia que provoque medo ou susto, ,perda de controle, desamparo, vergonha e que o sistema psíquico tem dificuldade para resolver por meio do pensamento associativo ou por reação motora. Segundo Peter Levine diante de uma situação de ameaça temos três respostas possíveis: luta, fuga ou congelamento. Tanto na resposta de fuga como luta existe uma ativação biológica condicionada por transformações orquestradas pela atuação de neurohormonios (cortisol, endorfina, nor-adrenalina......). Na resposta de congelamento todo esse preparo do organismo não leva a uma resposta motora. Nos animais logo depois dessa resposta de congelamento(fingir-se de morto) quando percebem que não estão em perigo, frequentemente começam vibrar, a contrair-se e a tremer levemente. A evidência fisiológica mostra claramente que a habilidade de entrar e sair dessa resposta natural é a chave para evitar os efeitos debilitantes do trauma. Em nossa cultura há uma falta de tolerância pela vulnerabilidade emocional que as pessoas traumatizadas experienciam. Somos rotineiramente pressionados a nos ajustar depressa demais depois de uma situação avassaladora. É comum ouvir:”não foi nada já passou”. As respostas incompletas, não ativação biológica ou falta de uma resposta motora (gestalts inacabadas) que ficaram congeladas no sistema nervoso se não expressadas encontrando o seu satisfator autêntico podem produzir o trauma e ciclos falsos de satisfação de necessidades gerando os sintomas conhecidos como TEPT, Pânico e outras desordens próprias do funcionamento neurótico. Para um entendimento melhor da neurofisiologia do trauma é importante conhecer o modelo McLean de descrever o cérebro. Segundo esse modelo podemos falar do cérebro como uma tríade: o cérebro reptiliano, cérebro límbico e cérebro cortical. Ainda segundo ele há uma especificidade quanto aos hemisférios direito e esquerdo do cérebro. Hemisfério esquerdo processa principalmente informações (cognição) enquanto o hemisfério direito processa emoções. As funções automáticas como respiração, reprodução, fome , estratégias de luta ou fuga estão comandadas por essa estrutura mais antiga(cérebro reptiliano)..Os neurocientistas demonstraram que o cérebro reptiliano predomina nos estágios mais adiantados da gravidez e no primeiro período pós-natal. O cérebro límbico está composto de estruturas neurológias encarregadas de processar nossas emoções. O sistema límbico abriga sentimentos de entusiasmo, prazer raiva, medo tristeza, alegria vergonha, de nojo e a reação negativa a um cheiro desagradável.Começa a funcionar durante os primeiros seis meses de vida. O sistema mais sofisticado é o neocórtex ou cérebro pensante. Ele nos dá a capacidade de raciocinar, de usar a linguagem, de planejar com antecedência, de resolver problemas complexos. Por sua complexidade, as respostas comandadas por ele são lentas por isso durante uma situação de trauma os sistemas límbico e reptiliano assumem a direção. Piaget coloca os sete anos como um marco importante para a prontidão do cérebro pensante. Em situações de trauma, ou em seus primeiros anos de vida o indivíduo está sob o domínio do sistema límbico e reptiliano. São chamados de cérebros mudos. As memórias são guardadas sob forma de sensação,imagens visuais, padrões motores e ficam prejudicadas sua representação semântica.Algumas reações e lembranças emocionais podem se formar sem absolutamente nenhuma participação consciente e cognitiva. O sistema cognitivo não sabe muita coisa sobre acontecimentos passados. Há um consenso de que as primeiras emoções deixam vestígios no corpo, quando então as informações são codificadas e vão influenciar, na idade adulta, nossa forma de pensar e de agir, mas permanecem inacessíveis ao entendimento consciente e lógico. O corpo sabe tudo o que lhe aconteceu, mas não consegue expressá-lo com palavras. É preciso fazer com que o cérebro mudo fale. Para isso as metáforas, as fantasias guiadas, as técnicas de representação são ferramentas por excelência para que seja expressado o que foi percebido pelo indivíduo mas não chegou à sua consciência.. Choro, lamento, riso, gritos podem encerrar a Gestalt aberta. Assim a Gestalt Terapia se mostra eficaz onde as terapias cognitivas tem limitações por serem predominantemente verbais. O que Fritz dizia em 1950 de forma intuitiva hoje a ciência tem mostrada através das mais sofisticadas técnicas de mapeamento cerebral: os mesmos circuitos neuronais são ativadostanto quando vivemos uma experiência quanto nos recordamos dela. “através da própria experiência nos três níveis de imaginar, representar e fazer, o homem se tornará um entendedor de si mesmo. A psicoterapia, então deixará de ser uma escavação do passado, em termos de repressões e conflitos edipianos e cenas primárias, para se tornar uma experiencia de viver no presente.” Falando na primeira pessoa e no tempo presente, buscando a representação como recurso para falar do que nos aconteceu, impede contar-se histórias, e se estimula a vivê-las outra vez. É inevitável dessa forma abrir-se a memória emocional evitando o “sobreísmo” e promovendo integração(contrário da dissociação, tão própria dos estados traumáticos). O convite de Perls era:”Não escutem as palavras, escutem apenas o que a voz lhes conta, o que os movimentos contam, o que a postura conta, o que a imagem conta. Tudo o que uma pessoa quer expressar está lá, não nas palavras. É preciso aprender a deixar o conteúdo das sentenças mais ou menos no segundo plano”. Enfim a ênfase do trabalho será em mostrar que revivenciar o trauma de maneira direta(representando-o) ou indireta através de metáforas acaba por trazer ao indivíduo uma situação de equilíbrio (gestalt encerrada).Tira o indivíduo de um estado hiper alerta propiciando um estado de repouso. Palavra 1: trauma Palavra 2: ge Palavra 3: neurofisiologia Modalidade de apresentação: Minicurso Área de concentração: Interdisciplinaridade e novas interfaces (com outras práticas)

Publicado

2015-12-01