A coparentalidade em questão - reflexões sobre a educação dos filhos na contemporaneidade sob a ótica da Gestalt-terapia

Autores

  • Marcos José Granzotto

Palavras-chave:

coparentalidade questão

Resumo

A educação dos filhos na contemporaneidade é um aspecto da dinâmica familiar que se apresenta em transformação, pois os pais já não seguem mais os padrões que serviam de referência em gerações passadas. Wagner (2003) afirma que a família passa por um momento de perdas de referenciais no que diz respeito à educação dos filhos, uma vez que os responsáveis descartam os modelos recebidos das gerações anteriores, tidos como obsoletos, mas ainda não construíram outras estratégias e padrões educativos eficazes. Assim, novas regras de educação e novas formas de transmiti-las vêm sendo buscadas pelas famílias, porém nem sempre de forma bem sucedida, devido à complexidade desta tarefa. Em nossa prática na clínica psicoterápica infantil, observamos a dificuldade de muitos pais em estabelecer regras e valores educacionais para seus filhos. Por um lado, buscam uma educação mais liberal, baseada no diálogo e no respeito às necessidades das crianças. Por outro, percebem a necessidade de impor regras, mas não sabem como fazê-lo ou não chegam a um consenso sobre elas. Com isso, acabam dando limites frouxos ou inconsistentes, podendo resultar em filhos desobedientes ou “mal educados”. Muitas crianças chegam à psicoterapia com queixas de comportamento em casa ou na escola, porém quando conhecemos a família vemos um ambiente onde não há regras bem delimitadas ou os limites são dados de forma incoerente e inconstante. Segundo Aguiar (2005), a experiência do limite – vivenciada de forma equilibrada – é um elemento crucial para o desenvolvimento saudável, pois permite que a criança perceba uma fronteira entre ela e o outro, marcando a diferença entre eles. A autora afirma que as crianças precisam de noções claras, seguras e constantes a respeito do mundo, das coisas, das pessoas e das possibilidades de interação. As regras são necessárias para o convívio social e dão a elas uma sensação de conforto e segurança. No acompanhamento dos pais – aspecto fundamental da clínica infantil – surgem muitas questões sobre a divergência da percepção que ambos têm da criança e do problema em questão. Baseados nas suas experiências infantis e em seus próprios valores, cada um tem uma visão diferente sobre as questões educacionais e uma forma distinta de passá-las. Ao refletirem sobre esta questão com o psicoterapeuta percebem a necessidade de trabalhar juntos, em prol do cuidado dos filhos. Grzybowsky & Wagner (2010) utilizam o conceito de coparentalidade para definir a articulação dos papéis dos pais no cuidado e na responsabilidade conjunta pelo bem estar da criança, incluindo valores, ideais, expectativas que são dirigidas aos mesmos. Este conceito inicialmente foi utilizado para definir a divisão de tarefas parentais após o divórcio, porém atualmente vem sendo aplicado também para pais que coabitam a mesma casa, ou mesmo para outros adultos que assumem a função de responsáveis pela criança, como avós, por exemplo. Observamos que o exercício de uma coparentalidade saudável requer a construção de um projeto educacional em comum, ainda que os pais tragam distintos valores e modelos parentais, oriundos das famílias de procedência de cada um. Zinker (2001) aponta que uma família funcional é uma equipe que trabalha bem, existe um fluxo gracioso em relação à execução de tarefas comuns. Os membros negociam o que precisa ser feito, terminam suas tarefas e saem sem continuar discutindo o que foi ou não feito. Construir estes projetos em comum significa, muitas vezes, ceder, abrir mão ou relevar um ponto de vista diferente do seu. Observamos na nossa clínica infantil que os responsáveis muitas vezes não estão dispostos a abrir mão de suas opiniões e valores ou de se colocar no lugar do outro. Vivendo em uma sociedade individualista e hedonista, torna-se cada vez mais difícil a tarefa coparental, que exige um trabalho constante de escuta, respeito e negociação. A proposta deste mini-curso é apresentar esta discussão acerca dos conceitos de parentalidade e coparentalidade e a reflexão de seu exercício na contemporaneidade. Trazendo uma articulação com a teoria da Gestalt-terapia e exemplos de nossa prática clínica com acompanhamento psicoterápico de crianças e seus pais, buscaremos refletir de que forma o psicoterapeuta pode auxiliar neste processo de construção de uma experiência de educação e cuidado parental mais saudável para toda a família. Referências Bibliográficas: -Aguiar, L. (2005) Gestalt-terapia com crianças: Teoria e prática. Campinas: Livro Pleno. -Grzybowsky, L.S. & Wagner A. (2010). Casa do pai, Casa da mãe: A coparentalidade após o divórcio. Em: Psicologia: Teoria e Pesquisa. Vol. 26, n.1. (pp.77-87) -Wagner (2003) A família e a tarefa de educar: Algumas reflexões a respeito das famílias tradicionais frente a demandas modernas. Em: Féres-Carneiro, T. (orgs.) Família e Casal: arranjos e demandas contemporâneas. (pp.27-32) Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio -Zinker (2001) A busca da elegância em Psicoterapia. São Paulo: Summus. Público-alvo: Alunos de graduação, estudantes de Gestalt-terapia, psicólogos Gestalt-terapeutas, interessados em Gestalt-terapia com crianças.

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Publicado

2015-12-01