(Quase)
feitos um para o outro
Ana Paula Veiga
A relação homem e mulher parece estar descartável.
Vivemos em uma época de soluções mágicas e preocupação com lucros em detrimento
da qualidade da relação. Procura-se mais mas falta consistência. Assim como
queixas de nostalgia e desânimo, a procura do amor é uma constante. Nessa
missão, cada vez mais difícil e recheada de surpresas e medos, muitos se perdem
e poucos se acham.
O entendimento total, simbiótico,
“hollywoodiano” é irreal de acordo com a natureza humana. Esse não é o objetivo
primeiro mas no meio de tantas pressões e cobranças por um relacionamento
perfeito, a idealização surge como uma barreira entre o casal.
Não significa pregar o individualismo mas conjugar verbos
diferentes daqueles dos conhecidos dentro de uma relação entre os sexos.
Deve-se pensar em companheirismo e cumplicidade. Duas pessoas inteiras e não
mais metades em busca de algum complemento. Espera-se que o outro complete a
falta sem que cada um aprenda a se complementar.
As relações estão baseadas em detrimento
pessoal, numa individualidade a dois. Esse individualismo exacerbado conta
sobre nossa sociedade competitiva onde ficou difícil sair do centro de si e
pensar a dois sem nada em troca. Está mais difícil pensar o amor na forma
original.
É perfeitamente acessível que a correria
imposta e a busca por respostas imediatas interfiram na relação. O ritmo
forçado de vida mantém altos padrões na sociedade que dita regras cada vez mais
difíceis de serem cumpridas, numa visão muitas vezes preconceituosa de cada um.
É bem mais fácil atribuir a
"culpa" ao outro do que ter que olhar pra si. Pensar no funcionamento
da relação demanda dedicação e tempo, o bem mais valioso hoje. E não fomos,
nesse mundo robotizado, acostumados a isso.
Faz-se necessário definir prioridades. É
preciso reservar um espaço para a relação, mesmo que isso seja cada vez mais
utópico à medida em que o tempo se encurta.
Somente através do conhecimento de si
pode-se chegar a uma melhor compreensão da vida, da relação. Evoluir como
pessoa está sujeito diretamente a assumir os problemas e as expectativas do
mundo, do outro e de si, que são colocadas dentro da relação vivida.
O amor virou uma moeda de troca e ainda
assim sua busca é uma constante já que estamos sempre buscando felicidade e
alegria. Somos seres sociáveis e, numa das várias hipóteses, biologicamente
programados para "procriar". Não se pode fugir das pressões e destino
biológico. Mas busca-se muito “no lado de fora” e pouco em si próprio. Procura
se um parceiro perfeito. Porque não torna-se perfeito?
Fazemos partes e somos a cultura. Por isso
é difícil mudar. Absorvemos os valores do nosso tempo e os executamos de forma
sem pensar. Mas se fosse assim não haveria historia, revoluções ou mudanças. Já
não é possível voltar atrás.
É preciso força e coragem pra buscar um amor
resistente as enchentes torrenciais. Essa é a saída. O amor foi inventado e nos
foi oferecido para que a vida fique mais fácil de ser vivida.
Na vida vai se tentando acertar através de
ensaio e erro. Muitas vezes o inexplicável une as pessoas. Sem roteiros cada um
segue uma receita própria de felicidade, companheirismo, união, intimidade e
respeito. Assim, buscamos ser um pouco mais inteiros.
Homens e mulheres devem se dar conta de suas
diferenças e necessidade de completude através dela. Devemos nos sentir
melhores, caminhando juntos pela mesma estrada, com subidas, descidas e algumas
curvas. Uma estrada longa e sinuosa onde com as mãos dadas, a alma limpa, a
procura de entendimento mútuo e o convívio da cumplicidade se chegue ao final
dela e só ai, descobre-se, que o começo está apenas por vir.
De tudo o que fica, resta dizer que é fácil
expor como o amor precisaria ser. O difícil é viver. E nós somos os
protagonistas e expectadores de nossa própria estória. O roteiro a ser seguido
é escrito por uma, duas ou quatro mãos. Mas quem o escreve, conta de si, conta
pro outro, conta pro mundo o que pode se esperar desse enredo.