O Papel do Psicólogo Perante o Doente Asmático.
Vítor Hugo Mendes Fragoso
Resumo:
A asma é uma doença crónica que afecta uma grande parte da população
mundial. Devido à sua multidiversidade
de causas de cariz psicológico e visto tratar-se de uma doença psicossomática
por excelência a Psicologia e o tratamento psíquico revelam-se de extrema
importância para o tratamento e melhoria da qualidade de vida efectiva do
doente asmático.
Neste sentido propomo-nos a identificar quais os factores psíquicos
implicados na asma, assim como quais as funções do psicólogo perante o doente
asmático e quais os métodos e técnicas terapêuticas mais utilizados.
A asma é uma doença crónica, com uma multidiversidade de
causas, sintomas e consequências para a saúde do doente, revela-se extremamente
importante estudar o impacto da doença na qualidade de vida do doente e seus
familiares.
De forma a
conhecer melhor o perfil biopsicossociológico do doente, com o intuito de
proporcionar, uma melhoria efectiva da qualidade de vida, actualmente encara-se
o doente como um ser biopsicossocial. Visando a avaliação e o seu tratamento,
todas as dimensões que são influentes para o bem estar do paciente.
Neste sentido sendo a asma uma doença de
cariz profundamente psicossomático, actualmente a terapêutica, não visa apenas
o tratamento dos sintomas físicos mas sim, o tratamento do doente o mais
holisticamente possível.
A utilização destas metodologias visa
além de melhorar a eficácia da avaliação e tratamento do doente, reduzir o
número de idas ao Serviço de Urgência, permanência e consulta com diminuição
dos gastos no tratamento desta doença crónica.
Neste sentido o psicólogo poderá
desempenhar um papel fulcral, no tratamento do doente asmático, inserido em
equipas biopsicossociais.
Factores psicológicos implicados
na asma
Desde a antiguidade que se reconhece a
asma como uma doença psicossomática. Actualmente diversas investigações
permitem afirmar a importância dos factores psicológicos como factores
desencadeantes (Koszer, 2001): (1) o stress psicológico intervém com
frequência como factor etiopatogénico; (2) os níveis de ansiedade são
maiores no doente asmático do que na população em geral; (3) a sugestão
e os condicionamentos emocionais e ambientais mantêm ou cronificam o quadro; (4) as crises e a sintomatologia asmática vão
modelando a personalidade do paciente e as suas relações interpessoais; (5)
a partir das crises podem advir transtornos psicopatológicos secundários como
crises de pânico, quadros depressivos, impossibilidade de estar só e outras
fobias, ou reacções histéricas, etc.
A função do psicólogo perante o
doente asmático
A abordagem psicológica em relação à
asma, não difere muito em relação ao que acontece com outras patologias, embora
tem necessariamente de ser adaptada às especificidades da doença e do doente.
Em cada
paciente temos de estudar os aspectos psicológicos envolvidos, e
tratá-los quando for necessário. Um bom diagnóstico prévio permite a criação de
uma boa estratégia terapêutica. Para tal avaliamos o paciente junto de sua
família, tendo em conta o seu estrato socio-económico e cultural, utilizando
entrevistas e testes psicológicos (Koszer, 2002).
Estudamos a sintomatologia actual
incluindo os níveis de ansiedade e stress, o carácter, as perturbações
psicopatológicas, os recursos de enfrentamento, as motivações e a
disponibilidade para iniciar e continuar um tratamento psicológico(Koszer,
2001).
Neste sentido o psicólogo,
poderá desempenhar um papel fulcral no estudo psicológico do doente asmático,
para diagnosticar o processo de coping face à doença, e poder reeduca-lo para
um melhor controlo e adaptação à mesma, dando especial importância ao estudo
integral e multifactorial da doença.
Para tal deve centra-se em caracterizar, de maneira
individual as seguintes particularidades (Lopez, G.R; Vázquez, J.C.R.,1996): (1) estados emocionais
prevalecentes e a possibilidade da sua adequada expressão; (2) sistema
de crenças e particularidades valorativas e como dirigem e regulam o
comportamento (pensamentos catastróficos); (3) função autorregulativa e
autovalorativa (auto-conceito: vulnerabilidade, atribuições e auto-eficácia); (4)
particularidades do processo de coping (recursos pessoais para elaborar a
capacidade de ajustamento, prevalência das emoções expressão no processo de
afrontamento); (5) tolerância à frustração, eleger procedimentos de
intervenção psicológica em função do psicodiagnóstico, e avaliar seus
resultados sem esquecer a origem multifactorial da asma, tendo em conta a
importância da interdisciplinariedade do tratamento, de forma a promover a
capacitação dos mecanismo de coping do doente, melhorando desta forma a sua
qualidade de vida.
Métodos e
técnicas terapêuticas
A abordagem terapêutica do
paciente asmático, inclui as seguintes modalidades: individual e vincular,
abarcando o casal, família, circulo social íntimo e comunidade.
O terapeuta elege o tratamento
em função de cada paciente em particular. O paciente asmático, pela sua
sintomatologia tão alarmante, seja qual for a sua idade, raramente pode ser
separado do seu grupo familiar e social. É importante equacionar esta questão
na hora de indicar algum tratamento psicológico, especialmente com crianças
(koszer, 2002).
No que diz respeito aos métodos
e técnicas terapêuticas, distintas escolas psicoterapêuticas e
psicopedagógicas, têm-se interessado pelo tratamento do paciente asmático, nomeadamente
a escola psicanalítica, cognitivo-comportamental, sistémica, entre outras.
No que diz respeito à escola
psicanalítica, como psicoterapia breve de orientação dinâmica, está indicada,
quando os aspectos traumáticos infantis são importantes, quando a qualidade dos
mecanismos de defesa psicológicos são primitivos ou débeis e quando existe a
presença de imaturidade emocional elevada, devendo desenvolver-se um processo
de maturação geral da pessoa (Gilliéron, 2001).
No que se refere à abordagem
cognitivo-comportamental, o foco da intervenção terapêutica centra-se nos
factores cognitivos ou comportamentais, ensinando-se o paciente através da
reestruturação cognitiva, a desenvolver outro tipo de pensamentos, menos
ameaçadores e mais adaptados (Caro, 2002).
Os programas
cognitivo-comportamentais de auto-regulação dirigidos à asma, podem melhorar a
percepção e o conhecimento da doença. As condutas e atitudes associadas,
incidem favoravelmente no curso clínico global da mesma. Mudando desta forma o
comportamento do paciente em relação ao seu corpo, o qual supõe que mediante
isto e o manejo das suas cognições e emoções, se produzem também mudanças no
seu comportamento, perante situações temidas, como as crises de asma e as
situações ansiógenas em geral, assim como perante possíveis desencadeantes das
mesmas (Caro,2002).
As mudanças no comportamento com
o próprio corpo devem incluir os diversos aspectos da conduta humana: os
preceptivos, cognitivos, emocionais e os motores.
No que se refere à escola sistémica, esta centra-se especialmente
na estruturação das relações vinculares, abordando os sistemas familiares e as
suas possibilidades de mudança (Hawton, Salkovskis, Kirk & Clark, 1997).
O tratamento de crianças é um bom exemplo da aplicabilidade da
abordagem sistémica. Supõe ao mesmo tempo uma intervenção com a família, porque
há que ajudar os pais a combater a sua ansiedade, que contribui muitas das
vezes para aumentar a da criança. É importante trabalhar a questão da
superproteção dos pais face ao filho, e da dependência deste em relação aos
pais (koszer, 2002).
Outra abordagem com resultados
interessantes no tratamento das consequências, psíquicas e sociais da asma é a
terapia de grupo, de tipo auto-ajuda. O facto de se realizar com pessoas que
padecem da mesma doença, estimula a coesão grupal, permitindo compreender o
problema no seio do grupo, estimulando a socialização entre pares, aprendendo a
dominar sintomas utilizando a aprendizagem o reforço e apoio grupal (koszer,
2002).
Considerações finais
O psicólogo
desempenha um papel importante na informação sobre a saúde e a doença, sobre os
tratamentos e problemas de adesão, bem como os processos de confronto e adaptação à doença, com referência
para outras consultas. Trata-se de uma intervenção com os técnicos em sessões
clínicas, em acções de formação e programas de prevenção entre outras.
A prevenção
das disfunções comunicacionais é parte integrante da contribuição do psicólogo
para a melhoria da qualidade de vida em saúde.
O psicólogo
poderá desempenhar um papel fulcral no estudo, avaliação, e tratamento
psicológico do doente asmático, identificando o processo de coping face à
doença, podendo reeduca-lo para um melhor controlo e adaptação à mesma, dando
especial importância ao estudo integral e multifactorial da doença.
Referências
Bibliográficas
Caro, S.
(2002). Técnicas cognitivo-conductuales para el automanejo
en asma bronquial. Consultado em 6/12/2002. Fonte: Interpsiquis, 2002.
Disponível em: http://www.psiquiatria.com/articulos/psicologia/5510/
Fragoso, V.(2003). A qualidade de vida do doente asmático: uma
visão psicológica.” Instituto Superior da Maia (monografia de final de
curso).
Guilliéron,
E. (2001). A primeira entrevista em psicoterapia. Lisboa: Climepsi
Editores.
Hawton, K. ; Salkovskis, P, M.; Kirk, J. & Clark,
D, M. (1997). Terapia Cognitivo-comportamental para problemas psiquiátricos: um
guia prático. São
Paulo: Martins Fontes.
Lopez, G. ;
Vázquez. (1996). Factores psicológicos del asma bronquial. Revista
Cubana de Medicina, 35(1).
Koszer, N.
(2001). Una visíon psicológica del asma bronquial. 2º
Congresso Virtual de Psiquiatria. Consultado em: 25/9/2002, Fonte: Interpsiquis. 2002; http://www.psiquiatria.com/articulos/psicosomatica/5519/
Koszer, N.
(2002). Tratamiento psicológico del paciente asmático. Consultado
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