SÍNDROME DO PÂNICO DENTRO DE VÁRIAS VISÕES
COM ÊNFASE EM GESTALT-TERAPIA
Daniela
Leite de Carvalho Cracel
INSTITUTO DE GESTALT-TERAPIA
ESPECIALIZAÇÃO DE PSICOLOGIA CLÍNICA
DANIELA LEITE DE CARVALHO CRACEL
SÍNDROME DO PÂNICO DENTRO DE VÁRIAS VISÕES
COM ÊNFASE EM GESTALT-TERAPIA
RIO DE JANEIRO
2005
DANIELA LEITE DE CARVALHO CRACEL
SÍNDROME DO PÂNICO COM ÊNFASE NA GESTALT –TERAPIA
Monografia exigida como requisito final para conclusão da
especialização de Psicologia Clínica do Instituto de Gestalt Terapia (IGT).
Orientador: MARCELO PINHEIRO
Rio de Janeiro
2005
DANIELA LEITE DE CARVALHO CRACEL
SÍNDROME DO PÂNICO COM ÊNFASE NA GESTALT –TERAPIA
Monografia exigida como requisito final para conclusão da
especialização de Psicologia Clínica do Instituto de Gestalt Terapia (IGT).
Aprovada em setembro de 2005
BANCA EXAMINADORA
Patrícia Albuquerque
Lima
Marcia Estarque Pinheiro
Rio de Janeiro
2005
AGRADECIMENTOS
À Deus, por me conceder inspiração para o desenvolvimento
deste trabalho.
À mim mesma, pela determinação, perseverança e rapidez com
que aqui cheguei.
À Maria Thereza Leite de Carvalho, minha querida mãe, que
esteve do meu lado esse tempo todo, muitas vezes falando para eu ir dormir.
À Marcio Aníbal Seabra Cracel, meu querido pai, que apesar
da distância sempre esteve do meu lado
acreditando e apoiando a execução desta mono grafia.
À Patrícia Cracel, minha querida irmã, pelo carinho e pelo
companheirismo de estar ao meu lado nas horas da realização da mesma.
À Rogério Cracel, meu querido irmão, que colaborou com
suas idéias e atenção.
À Marco Milazzo, meu querido namorado, pela confiança,
carinho e estímulo para a realização desta monografia.
À Ticha, minha professora, pelas aulas práticas de
Gestalt, que colaboraram para o nascimento deste trabalho.
À Márcia Estarque, minha querida professora e ex-supervisora,
que me ajudou muito na trilha da Gestalt-terapia.
Enfim, à Marcelo Pinheiro, Meu querido orientador,
professor e ex-supervisor, que possibilitou o desenvolvimento deste trabalho.
Dedico esse trabalho a todas as pessoas, como também aos
meus clientes, alvos da minha observação.
“Se o homem aceitasse sempre o mundo como ele é, e se por
outro lado, aceitasse sempre a si mesmo em seu estado atual, não sentiria a
necessidade de transformar o mundo ou de transformar-se. O homem age
conhecendo, do mesmo modo que se conhece agindo”.
(Vasquez apud
Patrício, 1996, p. 37)
SUMÁRIO
1. Introdução
2. Síndrome do
Pânico e suas facetas
3. O mal que
pode vir para o bem
4. Corpo e
mente, uma visão organísmica.
5. Conclusão
6. Bibliografia
7. Anexos
7.1. Anexo 1
7.2. Anexo 2
7.3. Anexo 3
RESUMO
O objetivo desse estudo é apresentar a Síndrome do Pânico
como um estado árduo, que possibilita à pessoa, que busca uma terapia,
re-avaliar o sentido da vida. Com essa re-avaliação, a pessoa pode passar a
usufruir de uma vida mais satisfatória, se responsabilizando por suas ações.
Entretanto, para que uma pessoa possa usufruir de uma vida
mais satisfatória, é necessário que ela conheça essa desordem, para que possa
aprender com ela. Um dos aspectos importantes para que a pessoa possa aprender
com esse mal, é que ela busque experimentar o medo, que tanto a aflinge. Ela
precisa sentir esse medo, para poder lidar com ele.
Em alguns momentos, quando a pessoa resgata a
possibilidade de se permitir sentir o medo, ela também resgata a possibilidade
de escutar seus outros sentimentos como desejo, amor, etc. Assim, a pessoa
passa a ter mais condições para reavaliar o sentido da vida e se
responsabilizar por ela.
Neste trabalho será focado a Síndrome do Pânico como um
momento de transformação. O caminho percorrido para abordar esse assunto é o da
Gestalt terapia.
1. INTRODUÇÃO
Na atualidade vem
crescendo o número de pessoas com Síndrome do Pânico, que buscam terapia.
Este tema despertou
um interesse especial em mim, devido ao número crescente de clientes na minha
prática clínica, que buscam terapia com Síndrome de Pânico.
O dia a dia é uma
corrida, onde as pessoas cada vez mais se encontram estressadas e ansiosas.
Segundo Hugo Elídio (2000), ansiedade é "... a
excitação, o élan vital que carregamos conosco, e que se torna estagnado se
estamos incertos quanto ao papel que devemos desempenhar”. "A ansiedade é
o vácuo entre o agora e o depois". Também é o produto do impedimento de
viver plenamente a excitação. "Se a excitação não puder fluir para a
atividade por intermédio do sistema motor, então procuramos dessensibilizar o
sistema sensorial para reduzir a excitação" causando assim a ansiedade.
"Pensar é ensaiar em fantasia para o papel que tem de ser desempenhado na
sociedade. E quando chega o momento do desempenho e não está seguro sobre se a
atuação será bem recebida, então sobrevém o pânico do palco. A esse pânico do
palco foi dado pela psiquiatria o nome de ansiedade”.
Quando uma pessoa experimenta uma vida agitada,
ela conseqüentemente passa a ter resquícios dessa vida no seu corpo. Ou seja,
se essa pessoa experimenta a vida de maneira a não administrar suas
necessidades, acaba vivenciando uma vida insatisfatória.
As pessoas, de maneira geral, vivem de forma a não se
darem conta de suas necessidades, de suas sensações, até mesmo porque, a nossa
cultura não nos incentiva a nos darmos conta de nossos sentimentos.
Assim suas vidas vão “escorregando pelos seus dedos”, sem
que elas possam controlá-las.Diante desse estresse do dia a dia, muitas pessoas
podem desencadear uma desordem como a Síndrome do Pânico.
A Síndrome do pânico é assustadora por causa dos ataques
de pânico que a constituem, e também porque conduz freqüentemente a outras
complicações tais como fobias, depressão, abuso de substância e complicações
médicas. Seus efeitos podem variar de um prejuízo social para uma inabilidade
total de enfrentar o mundo exterior.
Segundo o CID 10 (1992), a Síndrome do Pânico é
constituída por “ataques recorrentes de ansiedade grave (pânico), os quais não
estão restritos a qualquer situação ou conjunto de circunstâncias em particular
e que são, portanto, imprevisíveis. Assim como em outros transtornos de
ansiedade, os sintomas dominantes variam de pessoa para pessoa, porém início
súbito de palpitações, dor no peito, sensações de choque, tontura e sentimentos
de irrealidade (despersonalização ou desrealização) são comuns. Quase
invariavelmente há também um medo secundário de morrer, perder o controle ou
ficar louco”.
A vontade da pessoa que tem essa disfunção é parar de
sentir o mal que a faz sofrer.
Este tema é abordado com o intuito de investigar mais
profundamente a Síndrome do Pânico com ênfase na Gestalt terapia, através do
método monográfico. Fazendo-se importante estudá-lo, no sentido de poder
compreender melhor essa desordem, que vem afetando muitas pessoas ultimamente.
Esta abordagem está sendo utilizada, pois vem sendo alvo
de meus estudos e caracteriza melhor a maneira que eu penso.
Apesar de estar sendo utilizada a abordagem da Gestalt
terapia para abordar a síndrome do pânico, complemento utilizando outras
teorias, cada uma apresentando certas características que enriquecem a
compreensão de certos aspectos da doença, sem perder a coerência com a minha
postura.
Gestalt significa, “palavra de origem alemã que não tem
tradução literal para a língua portuguesa. Tem o sentido de ”forma“, de
”figura“, de um sentido que emerge de um todo”. (Hugo Elídio, 2000).
Segundo Goodman, a psicopatologia em Gestalt Terapia é
"o estudo da interrupção, da inibição, ou outros acidentes no processo do
ajustamento criador”. E Perls especificou: "O estudo da maneira como uma
pessoa funciona em seu meio é o estudo do que acontece na fronteira de contato
entre o indivíduo e seu meio. É nessa fronteira de contato que os eventos
psicológicos tem lugar”.
“Tanto na arte como na terapia se manifesta a capacidade
humana de perceber, figurar e reconfigurar suas relações consigo, com os outros
e com o mundo, retirando a experiência humana da corrente rotineira e por vezes
automática do cotidiano, colocando-a sob luzes novas, estabelecendo novas
relações entre seus elementos, misturando o velho com o novo, o conhecido com o
sonhado, o temido com o vislumbrado, trazendo assim novas integrações,
possibilidades e crescimento. Esta afirmação da centelha de divino em cada um
de nós, esta fé na capacidade humana de ser o artista de sua própria
existência, ou, nas palavras de Paulo Coelho” o alquimista de sua própria vida
“, está encunhada no pensamento gestáltico...Enraizando-se também na
Fenomenologia e nos princípios da Psicologia da Gestalt, a Gestalt terapia
concebe então o indivíduo como um ser relacional, como um ser em processo,
afirmando a indivisibilidade do campo-organismo-meio, onde ambas as partes do
sistema crescem e se desenvolvem numa relação de troca dialética”. (Selma
Ciornai, 1990).
O ser humano encontra-se num mundo cada vez mais
globalizado, cheio de fatores estressantes e assustadores que o afeta. Sendo
assim, há uma possibilidade de uma pessoa experimentar a Síndrome do Pânico
numa época como esta, já que as pessoas são afetadas pelo meio e vice-versa.
Este trabalho foi realizado de forma bibliográfica, onde
foram utilizados livros relacionados ao estudo, para se tomar conhecimento do
assunto e desenvolver as questões que pretendia elucidar neste contexto.
Quando uma pessoa
sofre com esse quadro, é necessário que ela conheça esse mal para poder
encará-lo. É como, por exemplo, quando um cientista cria uma vacina. Ele
precisa conhecer os componentes da vacina para poder criá-las, conhecer o que
cada composto significa. A mesma coisa acontece com a pessoa que sofre esse
quadro de Pânico, ela precisa conhecer essa desordem, para poder lidar com ela.
O próximo capítulo abordará esse tema.
2. SÍNDROME DO
PÂNICO E SUAS FACETAS
“O nome Pânico foi adaptado do grego Panikon e derivado do
deus Pã, figura mitológica Grega, Filho do deus Zeus e da ninfa Calisto ou de
Hermes e da ninfa Dríope, de acordo com alguns autores. Este ser habitava os
bosques junto às fontes, mas tendo predileção pela Arcádia, local em que
nasceu. Era um ser horrendo: da cintura para baixo como um bode peludo e da
cintura para cima como homem, porém com chifres. Era uma divindade travessa e
galanteadora, mas sempre rejeitado por sua feiúra. Portava sempre uma flauta
feita de caniços do brejo. Infundia terror entre os camponeses e pastores com a
sua aparição repentina, foi de onde surgiu à denominação do Pânico, o terror
repentino”.(Fernando Mineiro, 2005).
As fobias que costumam estar associadas à síndrome do
Pânico não vêm de medos de objetos ou de eventos concretos, mas sim do medo de
ter um outro ataque de pânico. Em alguns casos as pessoas evitam determinados
objetos ou situações, porque temem um outro ataque. Quando uma pessoa vive um
quadro de Pânico, e faz terapia, está se motivando a praticar e tentar técnicas
novas. Essa pessoa está mudando literalmente a maneira de como ela funciona, como também o meio em que está
inserida. Quando se muda a percepção de uma pessoa, ela aprende a lidar com a
sua dificuldade, de forma a não ter mais crise de pânico.
A Gestalt vê o ser humano como um organismo
auto-regulador, que busca um equilíbrio, e quando algo não vai bem em alguma
parte do corpo, ele todo é afetado. Se algo não está bem com seu emocional,
conseqüentemente seu organismo também é afetado.
Quando uma pessoa sofre com essa desordem, acaba
vivenciando várias sensações corporal, que faz com que a pessoa experimente
reações intensas de medo. A pessoa sente calafrios, o coração dispara, a boca
seca, entre outras características. Depois de uma crise de pânico, a pessoa e o
seu cérebro, podem funcionar de forma diferente de antes.
Diante dessa experiência, segundo Valle, “O cérebro produz
substâncias chamadas neurotransmissores, que são responsáveis pela comunicação
que ocorre entre os neurônios (células do sistema nervoso). Estas comunicações
formam mensagens, que irão determinar a execução de todas as atividades físicas
e mentais de nosso organismo (ex: andar, pensar, memorizar, etc)”.
Segundo a associação americana de psicologia (2005), um
desequilíbrio na produção destes neurotransmissores pode levar algumas partes
do cérebro a transmitir informações e comandos incorretos gerando a Síndrome do
Pânico. Os neurotransmissores que são afetados são a serotonina e a
noradrenalina.
Essa idéia de desequilíbrio dos neurotransmissores é de
uma certa forma interessante, apesar de ser diferente da Gestalt , pois essa
postura traz a idéia de que só uma parte é afetada, e na realidade, o organismo todo é afetado. Entretanto, é
importante saber um dos sintomas que podem ocorrer quando uma pessoa sofre esse
mal, pois cada parte do organismo “fala” um pouco.
A síndrome do Pânico é um conjunto de sinais de que algo
não vai bem com o organismo.
De acordo com Freud, a Neurose de Angústia, assim como ele
denominava, teria sua etiologia na má ou na não utilização da energia da
libido. Ou seja, se o indivíduo vivência a angústia, de forma insatisfatória,
ele acaba restringindo o funcionamento do eu. Assim, ele transforma essa
angústia em um sintoma. Ao invés da pessoa vivenciar essa angústia de forma
adaptativa, ela acaba produzindo um sintoma para substitui-la.
Freud traz uma questão muito importante, que contribui
para a visão da Gestalt, fala da importância da energia ser usada de forma
satisfatória, senão propicia o aparecimento de um sintoma. A Gestalt também
fala da importância da utilização dessa energia. Se essa energia não for usada
de forma a possibilitar um contato pleno com o outro, o indivíduo acaba
adoecendo por causa do seu acúmulo. Assim, o indivíduo passa a ter um
funcionamento do eu restrito, e conseqüentemente um ego fragilizado.
Segundo Henrique Schützer Del Nero (2005), diante da
dificuldade de experimentar a angústia de forma funcional, as pessoas muitas
vezes acabam vivenciando um quadro de Pânico devido ao ego fragilizado.
A Síndrome do pânico ou Transtorno do Pânico é uma
condição séria, geralmente dentre setenta e cinco pessoas, uma pessoa pode
experimentar. Esse quadro pode aparecer em qualquer idade, mas é mais freqüente
em pessoas de dezoito a trinta e cinco anos. Segundo Roque Theophilo (2004),
pessoas que têm uma predisposição genética para esta desordem, diante do
estresse do dia a dia, e de eventuais transições do ciclo da vida, pode
vivenciar a ocorrência dessa disfunção.
O indivíduo vive dia após dia, sem se dar conta de suas
dificuldades. Ele experimenta momentos novos e estressantes, onde não tem um
acesso às suas necessidades, correndo o risco de não se “escutar”. Sendo assim,
ele vai vivendo de forma a se “atropelar”, não se dando conta de seus limites.
Com esse contexto, o indivíduo que sofre de Pânico, acaba
propiciando ao organismo um funcionamento disfuncional, acarretando numa
síndrome.
A palavra Síndrome significa “Conjunto de características
ou de sinais associados a uma condição crítica, suscetível de despertar reações
de temor e insegurança”. (Dicionário Aurélio, séc. XXI).
É comum, a pessoa que sofre com essa Síndrome, entrar em
desespero, fazendo um caminho de “idas e vindas” nos médicos, acreditando que
seus sintomas são orgânicos e sofrem muito.
Essa pessoa que faz uma “ronda” pelos médicos, muitas
vezes se apresenta muito produtiva, responsável, perfeccionista, competente,
confiável e muito exigente consigo própria e com os imprevistos em geral.
Esta pessoa também costuma ter tendência a preocupação
excessiva com problemas do cotidiano, tem um bom nível de criatividade,
excessiva necessidade de estar no controle da situação, expectativas altas, e
pensamentos rígidos. Freqüentemente, esse paciente tem tendência a subestimar
suas necessidades físicas, por acreditar que está com as “rédias nas mãos” de
sua vivência. Tem o hábito de reprimir seus sentimentos como raiva, tristeza,
mágoa, insatisfação entre outros.
A pessoa que sofre com essa Síndrome pode demorar em aceitar que se trata de um
problema emocional, pois acredita que já passou por momentos muito mais
difíceis, e conseguiu superá-los sem que nada acontecesse.
Através dessa dificuldade de lidar com suas debilidades, a
pessoa que sofre desse mal tem uma ansiedade excessiva, o qual propicia um
quadro constante de ataques de Pânico. Esse quadro faz muitas vezes com que as
pessoas se sintam impotentes, é como se não mais pudessem dar conta de suas
próprias vidas. Perdem o controle de sua existência, acabando por fim
mostrando-se dependentes, e acabando muitas vezes numa vida cheia de
cerceamento.
Essa experiência é tão assustadora que as pessoas passam a
temer o próprio medo e a evitar as situações em que o Pânico ocorreu.
Se não tratadas adequadamente as crises tendem a se
repetir, alternando períodos de normalidade, com períodos de ansiedade
residual. Muitos medicamentos são utilizados como tranqüilizante tipo
benzodiazepínicos, que aliviam a ansiedade entre as crises, mas só uma pequena
porcentagem dos pacientes melhoram. Como conseqüência alguns indivíduos
desenvolvem dependência de tranqüilizantes ou mesmo de álcool.
Outros pacientes prosseguem tendo crises a intervalos
aleatórios, de maior ou menor intensidade, e até crises parciais, desenvolvendo
ansiedade antecipatória entre as crises, que perpetua algumas manifestações
somáticas, servindo como base para um comportamento de esquiva fóbica. Estes
pacientes costumam associar algumas situações com o desenvolvimento das crises
e muitas vezes podem acabar evitando-as, ou só se expõem a elas com um
"companheiro de fobia", que serve para assegurar-lhes socorro. As
situações de difícil acesso à ajuda no caso de uma crise são comumente
evitadas, como aglomerações, lugares fechados como teatros, trânsito, etc.
Nesse caso os pacientes podem apresentar um quadro fóbico, denominado
agorafobia.
O termo agorafobia é utilizado no DSM IV, para se referir
a um quadro estável de esquiva tanto de ambientes amplos e abertos, quanto de
lugares fechados, que provocam desconforto físico e psíquico no sujeito que
sofre desse mal. Na sua maioria é secundário a crises sucessivas de pânico.
“A abordagem cognitivo-comportamental dos quadros de
ansiedade nos fornece um outro modelo etiopatogênico. Os autores dessa
orientação teórica adotam uma abordagem empírica dos fenômenos psicológicos e
psicopatológicos, com ênfase na metodologia experimental. Partem do pressuposto
que os processos de pensamento - cognições - filtram e organizam as percepções
e sua interação com os comportamentos motor e verbal”.(Roque Theophilo, 2000).
A abordagem cognitiva comportamental traz uma idéia bem
interessante em relação às cognições, pois ela traz a idéia de reduzir o
sofrimento da pessoa alterando os processos cognitivos. Essa abordagem pode
acrescentar a Gestalt terapia técnicas que possibilitem mudanças no
comportamento dessa pessoa, alterando a percepção da mesma, mas não esquecendo,
de que essa alteração acontecerá quando essa pessoa experimentar um contato
satisfatório com o meio em que está inserida e com ela própria.
Segundo Theophilo (2000), sugere um papel mediador dos
pensamentos, das crenças e das imagens mentais (das cognições), que seriam os
responsáveis pelo desenvolvimento do indivíduo em relação aos mecanismos de
adaptação aos estímulos internos e externos. De acordo com o desenvolvimento do
sujeito, a ansiedade pode ser o resultado da interação de uma vulnerabilidade
biológica, da história individual e da ação de estímulos do presente. A
ansiedade se constitui na maneira de interpretar as informações relativas a
possíveis ameaças em relação ao seu contexto.
Ramadan (1988), sugere uma abordagem do ponto de vista da
teoria da informação. “O homem é como todo ser vivo, um sistema aberto que
depende de troca de informação. Nesse contexto a angústia seria conseqüência
dos ruídos existentes na comunicação humana, ou seja, pela quantidade de
informação não relevante e indesejada, determinadas pela profusão de símbolos,
que constituem nosso universo lingüístico e comunicacional”.
Da mesma forma que a visão de Ramadan, a Gestalt terapia
vê o indivíduo como um ser relacional, ele está sempre se relacionando com o
outro. Entretanto, a Gestalt possibilita uma visão mais ampla do sintoma, não
somente um ruído na comunicação.
Quando o indivíduo vivência “ruído” na comunicação acaba
gerando uma angústia.
A angústia se afirma em termos freudianos como estado
afetivo puro, que pode prescindir do objeto. Na Síndrome do Pânico trata-se de
uma situação em que se abstrai o objeto; um estado psíquico em que o essencial
é a expectativa do perigo e uma certa preparação para ele, mesmo que
desconhecido.
Nesse sentido se entende porque LAPLANCHE (1980) diz que
na angústia já há um certo grau de elaboração psíquica. Surge a idéia de uma
angústia defensiva, sinalizadora da existência de um perigo, interno ou
externo, para o ego.
A Gestalt Terapia aborda a resistência como uma forma
desadaptativa de lidar com a dificuldade, ou seja, complementa a idéia de
Laplanche, de que a pessoa vai buscar uma forma para lidar com o perigo, mesmo
que esta não seja funcional.
De acordo com Henrique Schützer Del Nero (2005), a partir
do momento, que o mecanismo de defesa e o processo de elaboração psíquica
falham, costumam surgir certas complicações, como a angústia. A angústia é uma
manifestação sintomática e fenomenológica que tem como conseqüência o
surgimento de um montante de energia “livre”, isto é, a angústia como sintoma.
Sendo assim, a pessoa que possui um certo grau de
elaboração psíquica pode experimentar um estado de angústia defensiva que pode
gerar um aterrorizante sentimento de desamparo. Como em bebês que são
abandonados ou separados de suas mães.
“Há uma relação significativa entre o Pânico e as crises
de ansiedade disparadas pelas situações de separação na infância. Uma boa parte
das pessoas que desenvolvem Síndrome do Pânico não conseguiram construir uma
referência interna do outro (inicialmente a mãe) que lhe propiciasse segurança
e estabilidade emocional. Esta falta de confiança pode trazer, em momentos
críticos, vivências profundas de solidão, desespero, desconexão e desamparo”. ( Dr. Artur Scarpato, 2005)
A experiência do Pânico é muito próxima do desespero de
uma criança pequena, que se sente perdida dos pais, uma experiência limite de
sofrimento intenso, de sentir-se deixada ao devir, frágil, sem proteção, sob o
risco do aniquilamento e da morte.
Encontramos este estado de desamparo em alguns pacientes
com Pânico e junto com ele, uma perda de confiança no funcionamento do próprio
corpo.
Segundo Dr. Artur Thiago Scarpato, as pessoas com Pânico
sofrem com uma falta de conexão básica, falta de confiança nos vínculos e
confiança no corpo, o que leva a uma vivência de desamparo, como alguém solto e
absolutamente sozinho no mundo.
Assim, essas pessoas que sofrem dessa síndrome experimentam
relações não satisfatórias com outras pessoas, colaborando cada vez mais para
um mecanismo de defesa rígido, onde a troca é quase inexistente. As pessoas
acostumadas a se relacionar de uma forma cristalizada acabam não experimentando
um contato satisfatório e enriquecedor, se sujeitando a uma vida na qual sofrem
muito.
“O contato é sempre um encontro com o ser do ponto de
vista metafísico e fenomênico. Sem contato, nada se cria. O criado é ato
supremo de contato. Quando se está em contato, o universo abre suas portas às
muitas possibilidades de criação”.(Jorge Ponciano Ribeiro, 1997).
O contato para essas pessoas se torna cada vez mais
limitado, onde o que se busca acaba sendo uma sobrevivência de seus próprios
medos e muitas vezes uma dependência dos outros, até mesmo para sair de casa.
Assim, a pessoa que vivencia esse quadro de Pânico vive de
forma a experimentar uma ansiedade excessiva, muito angustiante, que colabora
para o ataque de pânico. Ela experiencia sensações horríveis o que faz com que
ele tenha medo de enlouquecer ou medo de morrer. Passa a temer o medo de ter
medo.
Conviver com suas debilidades é um processo, muitas vezes
longo, angustiante, e cheio de altos e baixos.
Conviver significa de acordo com o dicionário Aurélio XXI:
“viver em comum com outrem em intimidade, em familiaridade; ter convivência;
Habituar-se a um mal de qualquer natureza e/ou aceitar-lhe a ocorrência”.
Para o indivíduo, que vivência esta desordem, é de extrema
necessidade, que ele aprenda a conhecer, o que é exatamente esse mal que ele
sente, ou seja, ele precisa conviver com seus sintomas, aprender quais são os
sintomas, e o que eles significam.
De uma certa forma é um tanto paradoxal. Para a pessoa que
sofre essa desordem é necessário que ela experimente esses sintomas para poder
aprender que esse mal que pode vir para o bem.
De acordo com a teoria Paradoxal da Mudança, "... a
mudança ocorre quando uma pessoa se torna o que é, não quando tenta
converter-se no que não é”."... a mudança pode ocorrer quando o paciente
abandona, pelo menos de momento, aquilo em que gostaria de se tornar e tenta
ser aquilo que é. A premissa é que a pessoa deve permanecer em seu lugar, a fim
de ter um terreno firme para se deslocar, e que é difícil ou impossível
qualquer movimento sem essa base sólida”. (Hugo Elídio, 2000).
3. O MAL QUE
PODE VIR PARA O BEM
Nos dias atuais, as pessoas não têm sido criadas de forma
a prestarem atenção em seus sentimentos. Quando uma pessoa sofre da Síndrome do
Pânico, fica difícil vivenciar as sensações de medo de forma funcional. Até
mesmo porque a sensação é muito ruim.
A situação, por exemplo, de um cachorro solto correndo na
direção de uma pessoa, pode ilustrar bem os sintomas causados pelo medo. Essa
pessoa, devido ao desespero do aparecimento desse cachorro, pode sentir
palpitações, aceleração cardíaca, sudorese, tremores, respiração curta, desmaio
ou choque, dor no peito, desconforto, náusea, mal estar intestinal ou
dificuldade de engolir, tonteira, instabilidade de ficar em pé, resfriamento,
rubores, desrealização, despersonalização (ficar desligado, desconectado de si
mesmo), medo de perder o controle ou ficar louco, medo de morrer, parestesias,
diarréias intensas, labirintite, etc.
O medo experimentado por essa pessoa é normal e muito
importante, fazendo com que ela obtenha uma solução para aquela determinada
situação, mesmo que seja o ato de respirar fundo e não se mexer. O medo é muito
útil, pois possibilita de uma certa forma a sobrevivência.
Além dos sintomas causados pelo medo, as pessoas que vivem
o quadro do Pânico passam a ter pensamentos que não saem da cabeça, de que
poderiam ter doenças graves mesmo quando todos os exames realizados são
normais, ou de que poderiam fazer mal a si mesmos ou a outras pessoas.
A pessoa que vive o quadro de Pânico apresenta os mesmos
sintomas do medo, mas eles não surgem de um evento concreto, como no caso de um
cachorro. Na realidade, o que ocorre, quando se tem esta desordem, é um alto
grau de ansiedade. O próprio transtorno é considerado de ansiedade, que
propicia com que as pessoas tenham medo de ter medo.
"Eu estava bem e de repente comecei a me sentir
estranho. Comecei a ficar ansioso, meu coração disparou, a respiração estava
difícil, eu tremia... Foi horrível, eu achei que ia morrer..."
"De repente os olhos embaçaram, eu fiquei zonzo, me
senti meio fora da realidade, comecei a ficar com medo daquele estado, eu não
sabia onde ia parar, eu não sabia por que...” (Artur Tiago
Scarpatto, 2001)
“... é uma coisa que parecia sem fim, as pernas tremiam,
eu não conseguia engolir, o coração batendo forte, eu estava ficando cada vez
mais ansiosa, o corpo estava incontrolável, eu comecei a transpirar, foi
horrível”. (Artur Tiago Scarpatto, 2001)
"Depois da primeira vez eu comecei a temer que
acontecesse de novo, cada coisa diferente que eu sentia e eu já esperava...
ficava ansiosa, não conseguia mais me concentrar em nada...”. (Artur Tiago Scarpatto, 2001)
"Quando começa eu já espero o pior, aquilo é muito
maior que eu, o caos toma conta de mim em pouco tempo, é como uma tempestade
que passa e deixa vários danos... Principalmente me sinto arrasado e logo depois
com muito medo de que ocorra de novo... Minha vida virou um inferno”.(Artur
Tiago Scarpatto, 2001).
Por estes relatos, que poderiam ser de muitas pessoas que
sofrem de Síndrome do Pânico, é possível identificar o sofrimento e a ansiedade
que estas pessoas sentem ao passar pelas crises de Pânico.
Ansiedade também pode ser uma “sensação de receio e de
apreensão, sem causa evidente, e a que se agregam fenômenos somáticos como
taquicardia, sudorese, etc”.(Dicionário Aurélio, séc. XXI).
As pessoas que sofrem de Pânico possuem uma ansiedade
exacerbada, que muitas vezes faz com que elas, inconscientemente, desencadeiem
os sentimentos que elas não gostam. É como, por exemplo, pedir para alguém não
pensar numa piscina azul. Na mesma hora a imagem vem à tona. Contudo, se uma
pessoa que vive esse quadro teme que aconteça a crise de Pânico de novo, ela
pode acabar gerando aquela sensação que tanto teme. Acaba dessa forma entrando
num quadro vicioso.
Quando uma pessoa vivencia esse quadro de Pânico
experimenta as sensações angustiantes do ataque de Pânico, que levam a pensar
que vão morrer ou enlouquecer, gerando mais medo. Depois de alguns minutos os
sintomas cessam por um período.Torna-se um ciclo vicioso que engloba a
percepção ou pensamento em relação às sensações temidas, gerando medo.
Pelo DSM-IV, um ataque de Pânico se caracteriza por um
período discreto de medo e desconforto intenso, no qual quatro ou mais sintomas
do medo se desenvolvem abruptamente, alcançando um pico após 10 minutos.
Sendo assim, algumas pessoas que sofrem de Pânico podem
acabar dependendo de um acompanhante para ficarem ao lado delas, diminuindo um
pouco o medo de que isso ocorra quando elas estiverem sozinhas.
Essas pessoas que vivenciam o quadro de Pânico acabam
experimentando um ciclo vicioso de desproteção, necessidade de alguém
protegendo, e confirmação da desproteção.
Stephen Gilligan, chama nossa atenção em seu livro
"The Courage to Love", que exatamente aquilo que a pessoa faz para
livrar-se dos seus sintomas é que o obriga a ficar na doença.
O mal que essas pessoas temem pode aparecer a qualquer
momento, não há sinais para saber quando surgirá a próxima crise. As pessoas
acabam temendo o medo de ter um outro ataque.
O medo é um “Sentimento de grande inquietação ante a noção
de um perigo real ou imaginário, de uma ameaça; susto, pavor, temor,
terror”.(Dicionário Aurélio, séc. XXI).
É muito importante que a pessoa que vivencia esse quadro
de medo, experimente esse medo, pois é como se fosse uma vacina. A vacina é uma
dose pequena da doença, onde o organismo vai produzir anticorpos para lutar
contra essa doença. A mesma coisa ocorre quando uma pessoa que sofre dessa
desordem experimenta o medo em “doses pequenas”. Sendo acompanhada por um
profissional da área, ela vai percebendo que esse medo sempre acaba, ou seja,
elas percebem que nunca morreram com esse medo, que eles sempre passam.
A Gestalt terapia apresenta uma postura acolhedora que
proporciona a pessoa uma tomada de
consciência de suas sensações. Há algumas técnicas que possibilitam uma
tomada de consciência.
Algumas técnicas bem interessantes podem ser usadas para
fazer com que essas pessoas vivenciem esse medo. Como exemplo, a técnica da
respiração faz com que a pessoa preste atenção na respiração de forma a se dar
conta do que está acontecendo consigo. Outra técnica bem interessante é fazer
com que a pessoa converse com o seu próprio medo, ou seja, a pessoa senta na
frente de uma cadeira vazia, onde começa a conversar com seus medos, e seus
próprios medos respondem para ela. Nesse momento a própria pessoa ocupa o lugar
do medo e responde para ela mesma. Assim, ela acaba experimentando uma sensação
nova que pode possibilitar uma transformação na sua maneira de ver o mundo.
Essas sensações do Pânico podem ser valiosas para o
cliente reavaliar suas atitudes perante a vida. Atitudes que muitas vezes
passam despercebidas.
Normalmente, a doença é o caminho para a solução dos
problemas, ou seja, o sintoma é uma forma de lidar com algo que esta
incomodando de uma maneira disfuncional. O indivíduo que vivencia o sintoma,
não sabe outra forma de lidar com o problema, se soubesse lidar com o problema
de maneira funcional não teria um sintoma. Então, é muito importante que ele
possa vivenciar essa mesma experiência de forma mais funcional, e vivenciar
esta experiência emocional no consultório psicológico pode ser enriquecedor.
O transtorno do pânico vem como um sinal de alerta, para
que a pessoa pare, e perceba o que ela esta provocando com suas atitudes e
também que ela se dê conta de suas sensações. A crise de Pânico é um momento
deflagrador que sinaliza para a pessoa que algo não está bem.
O caminho que se segue nesse momento é de reconstrução
emocional, onde a pessoa vai reavaliar, e refazer sua vida a experienciar
emoções de forma mais funcional. Diferente de parar e mudar. É um processo
lento e muito gratificante para o paciente, que experimenta novas
possibilidades para reorganizar o sentido da sua vida.
Para reconstruir o emocional de uma pessoa é necessário
que esta, esteja atenta as suas sensações, prestando atenção no que está
ocorrendo em seu corpo e na sua mente. Já que o corpo e a mente fazem parte de
um único organismo, o indivíduo.
4. CORPO E
MENTE, UMA VISÃO ORGANÍSMICA
Desde os tempos mais remotos, o conflito corpo e mente tem
sido abordado, até mesmo cinco séculos a.C., Hipócrates já dizia que, “para que
as curas se efetuassem, seria necessário que os médicos possuíssem um
conhecimento da totalidade das coisas”. Já Anaxágoras, em 500-428 a.C., assim
como Platão, 427-347 a.C. e muitos outros, acreditavam que a mente e o corpo
possuíam naturezas diferentes, e que a mente poderia influenciar o corpo, tendo
autoridade sobre o mesmo.
Para Descartes, o corpo e a mente são separados, mas ele
atribui ao corpo o papel mais importante. Segundo Benson, Descartes comparou o
corpo a uma máquina composta de nervos, músculos, veias, sangue e pele onde,
suas funções são independentes da existência ou não da mente. E afirma também
que “a interação entre corpo e mente teve lugar no decorrer de certas ações,
como os movimentos musculares corpóreos resultantes da orientação da vontade”.
Percebe-se que a função da mente passa a ser a função do
corpo, onde a primeira enviaria as ordens para o corpo obedecer, já que a mente
é responsável pela consciência, pensamento, vontade, concepção de idéias,
sentimentos, compreensão. Enfim, Descartes via o corpo e a mente separados e
responsáveis por suas próprias funções, embora interatuando de maneira
puramente mecânica, ainda que a mente estivesse sujeita à razão e a Deus,
enquanto que o corpo às leis mecânicas.
Entretanto, essa idéia da dualidade, mente e corpo,
colaborou para percebermos, que o ser humano é muito mais complexo que essa
visão de Descartes. O corpo e a mente não são duas coisas separadas, mas sim
uma junção entre essas duas partes, uma parte dependendo da outra.
Estudioso da
neurologia, Goldstein (1939) chegou à conclusão de que um sintoma não podia ser
considerado ou compreendido a partir apenas de uma lesão orgânica, senão a
partir da consideração do organismo-como-um-todo. “O organismo é uma só
unidade, o que ocorre em uma parte, afeta o todo”.
“A maioria das doenças está na dependência tanto de
fatores emocionais quanto físicos. Você é uma unidade mente-corpo. Suas emoções
são fenômenos físicos e cada alteração fisiológica tem o seu componente
emocional” (Lewis, M.E. e Lewis, H.R.).
A pessoa que
vivencia este quadro de Pânico fica atenta para suas sensações corporais, e
acaba não prestando atenção no exterior. Suas atenções ficam voltadas para as
suas sensações viscerais, enquanto isso, acaba não vivendo de forma inteira a
sua vida, ocorrendo um desequilíbrio de energia.
O indivíduo que experimenta um quadro de Pânico, não consegue
administrar sua energia de forma funcional, acaba colocando energia demasiada
nas suas sensações internas, não utilizando
quase nada da sua energia na área externa,ou seja, ela usufrui de uma
vida cerceada.
O indivíduo que sofre desse quadro de Pânico encontra-se
comprometido, ou seja, seu campo está desequilibrado. O campo são as sensações
internas e a vida externa de uma pessoa. Tudo que está relacionado com uma
pessoa faz parte do campo dela.
De acordo com Lewin, Hugo Elídio aborda que o campo é de
extrema importância, pois é através dele que as pessoas se relacionam. E como o
ser humano é um ser relacional, fica complicado a pessoa gastar pouca energia
no social. Já que o campo é tudo, ou seja, o campo é uma teia sistemática de
relacionamentos, contínuo no espaço e no tempo, tudo é de um campo, os
fenômenos são determinados pelo campo todo, ”o campo é uma fatalidade unitária:
tudo no campo afeta todo o resto”. (Hugo Elídio, 2000).
Segundo Hugo Elídio (2000), a teoria de campo define-se
como “Uma totalidade de forças mutuamente influenciáveis que, em conjunto,
formam uma fatalidade interativa unificada”.
Acaba que esse indivíduo afeta o meio em que vive e é
afetado pelo meio.
“O indivíduo é visto então como um sistema aberto, em
constante relação de troca com seu ambiente. Desejos e necessidades da pessoa
assumem dominâncias que são o movimento de uma tensão de se destacar
proeminentemente formando uma figura, uma gestalt que vai mobilizar a energia
do organismo para sua completude. Dominâncias espontâneas são frutos da
sabedoria intrínseca do organismo sobre suas necessidades. Quando estes
processos requerem recursos do meio para sua realização, estas figuras
despontam na consciência mobilizando as funções de contato do organismo, que
são o instrumental que o indivíduo dispõe para ir ao encontro, sentir, avaliar
e selecionar o que se encontra à sua volta”. (Celma Ciornai, 1989).
É de extrema importância que o organismo por inteiro
esteja bem, pois se uma parte não vai bem todas as outras serão afetadas. Como
exemplo, uma pessoa que machuca o pé vai buscar modificar sua postura para
poder andar de modo a não força-lo, procurando um equilíbrio gravitacional.
Apesar disso, o organismo funciona interdependente de suas outras partes.
Quando uma bactéria
entra no organismo de uma pessoa, ativa o seu sistema imunológico, promovendo a
sua defesa. O corpo humano muitas vezes, busca a condição de saúde, por este
motivo, o mesmo pode acontecer com quem apresenta o quadro de Pânico: a pessoa
sente medo e o seu organismo “luta” contra essa sensação, evita que ela
apareça.
O homem é auto-regulador, ou seja, o homem tende a
homeostase, ao equilíbrio. A idéia de auto-regulação de acordo com o já falado
anteriormente, implica em uma concepção distinta, em Gestalt-terapia, de saúde
e de doenças. Para os Gestalt-terapeutas as noções de saúde e doenças são vistas
em uma curva de energia (Zinker, 1979) onde a saúde corresponde a um equilíbrio
energético e a doença a um momento de desequilíbrio de energia.
A noção de equalização e centragem do organismo nos diz,
que uma pessoa normal não é aquela que sabe distribuir a energia. Decorre disto
o lógico de toda terapia que objetiva a catar-se, a descarga de energia. Por
isso Perls dizia que “a energia é preciosa demais para ser jogada fora”.
(Joseph Zinker. 2001).
O homem deve usar essa energia de maneira positiva para
ele. Não simplesmente tentar evitar as sensações de medo, como muitas pessoas
que vivenciam a Síndrome do Pânico tentam, mas sim perceber o que é que está
acontecendo com essa pessoa para ela estar tendo uma desordem.
Diante de um
sentimento, o indivíduo vai experimentando-o buscando ampliar sua consciência.
Conseguindo identificar o processo, isto é, ocorrendo à consciência, o
indivíduo vai mobilizar energia, podendo se cristalizar nessa imobilização ou
partir para a ação, que ao produzir uma interação, fecha uma Gestalt, isto é,
produz a satisfação ou frustra-a definitivamente, o que favorece o surgimento
de novas necessidades.
Uma pessoa que
sofre o quadro de Pânico não tem noção de suas necessidades, ou seja, essa
pessoa sente as sensações do medo, porém não sabe ao certo o que desencadeou
esse quadro.
Esse indivíduo acaba vivenciando um quadro onde corpo e
mente são afetados, já que eles fazem parte de um organismo, o ser humano.
O ser humano é uma unidade complexa, composto de vários
sistemas que entrelaçados e coordenados buscam atingir um funcionamento
harmonioso. Esses sistemas têm como objetivo integrar o indivíduo como um todo,
envolvendo aspectos psicológicos, físicos, químico e biológicos sob influência
das relações sociais.
O homem é composto por partes, mas é uma Gestalt. É um ser
biopsico-social e só pode ser entendido se o conhecermos como um todo. O
conhecimento de apenas partes deste homem leva a inúmeros enganos.
segundo o Hugo Elídio (2000), a Teoria Organísmica, assume
que: “a pessoa é uma, integrada e consistente; o organismo é um sistema
organizado, com o todo diferenciado em suas partes; o homem possui um impulso
dominante de auto-regulação pelo qual é permanentemente motivado; o homem tem
dentro dele as potencialidades que regulam seu próprio crescimento, embora
possa, e receba influências positivas de crescimento do meio exterior, as quais
ele seleciona e utiliza; a utilização dos princípios da Psicologia da Gestalt,
enquanto funções isoladas, como percepção e aprendizagem, ajudam na compreensão
do organismo total; pode-se aprender mais em um estudo compreensivo da pessoa
do que em uma investigação exclusiva de uma função psicológica isolada e
abstrata de muitos indivíduos”.
”... a natureza
humana é uma potencialidade. Só pode ser conhecida da maneira como foi
realizada nos feitos e na história, e de maneira como cria a si própria
hoje”.(Fritz Pearls, Gestalt Therapy).
Os estados psicológicos de uma pessoa, como aborda
Chiattone (1996), são tão importantes para a geração da doença como para cura.
Uma vez que todas as ações e interações são extensões e
projeções de quem se é, de como se sente e daquilo em que acreditamos, o melhor
que podemos fazer para o resto do mundo é termos um "eu" mais aberto,
criativo e amoroso. Se estivermos infelizes, zangados, tensos em demasia,
dentro de nós mesmos, todas as nossas ações e projeções serão coloridas e
temperadas por estes conflitos e limitações internas. Quando estamos abertos,
perceptivos e verdadeiramente amorosos, todas as nossas atividades,
independente do quanto possam ser pequenas ou ocasionais, tornam-se formas
pelas quais nós podemos servir o mundo de modo amoroso e consciente, ajudando a
criá-lo de novo.
O organismo humano é o armazém evolutivo de todos os
potenciais de vida, devemos ter esperanças de que, pela investigação de nós
mesmos, e pela tentativa de nos desenvolvermos mais completamente, estejamos
nos dirigindo para regiões de maior autoconhecimento, dentro de cujos limites
aguarda a transformação da consciência humana.
“No nível mais profundo, a mudança sempre envolve o corpo.
Uma nova atitude significa novas percepções, novos sentimentos e novos padrões
musculares. As mudanças psicológica e fisiológica andam lado a lado. Não
devemos esquecer que sentimentos são a vida do corpo, pensamentos são a vida da
mente...
...Uma vez que nossos traumas mais profundos estão
enterrados em nossas entranhas e músculos, para nos libertar devemos libertar
nosso corpo. Contudo, nós somos mais que apenas corpo. Somos mente e espírito,
sentimentos e movimentos. E, embora o corpo fale, devemos sempre ouvir a pessoa
como um todo”.(Mara Cristina Moro Daldin, 2005)
Segundo Chiattone, “toda doença é um episódio coerente na
biografia do indivíduo, apresentando um sentido na história pessoal ou
evoluindo conforme as determinantes históricas da vida emocional do paciente”.
É por isso que a doença acaba por comprometer o indivíduo enquanto Homem, uma
vez que a desarmonia provocada acaba por bloquear o seu dinamismo enquanto um
ser como um todo.
A doença é um modo do indivíduo transbordar o que se passa
com ele, sua situação crítica, pois é uma forma de manifestar o seu modo de
existir, de coexistir. Como diz Chiattone, “seria a expressão máxima da crise
existencial do indivíduo, espelhando o seu modo de ser, de agir numa
concretização de suas atitudes”.
É por isso que o corpo e a mente são indissociáveis, e o
ser é um todo onde suas partes influenciam e são influenciadas. Não podem agir
de forma individual por que elas são interdependentes. E, como afirma Mandsley,
citado por Lewis e Lewis, “a mente não se limita a afetar o corpo, mas também
participa de sua constituição... Por outro lado, não há uma só função orgânica
no corpo que não participe da constituição da mente”.
A partir do momento que a pessoa vive o Pânico, se dá
conta da sua responsabilidade perante esse quadro. Quando essa pessoa descobre
o mecanismo pela qual ela aliena parte do processo do seu eu, evitando a
consciência de si, e o revê, ela acaba reorganizando sua postura diante da
vida.
A riqueza do processo é que gera muitas possibilidades.. É como se fosse, um longo caminho, que há
alguns obstáculos na frente. Muitas vezes tropeça-se nesse caminho, e o tropeço
faz parte do processo, enquanto outras vezes segue-se o caminho.
De acordo com o Hugo Elídio, processo é: “uma mudança ou
uma transformação em um objeto ou organismo, na qual uma qualidade consistente
ou uma direção podem ser discernidas. Um processo é sempre, em algum sentido,
ativo; algo está acontecendo. Ele contrasta com a estrutura ou a forma de
organização daquilo que muda, cuja estrutura é concebida para ser relativamente
estática, a despeito da mudança processual”.
5. CONCLUSÃO
“Um completo estranho num dia negro golpeou-me reavivando
o inferno dentro de mim-que achei difícil o perdão porque meu (tal como
acontecera) ser ele era-mas agora esse demônio e eu somos amigos tão imortais
um para o seu outro”. (E.E Cummings)
Segundo o dicionário Aurélio, concluir significa “Pôr fim,
término a, ou levar a cabo; acabar, terminar, findar:” Ou seja, é necessário
dar um fechamento nesse trabalho, o que para mim, está sendo muito gratificante.
Não quero dizer com isso que estou encerrando aqui a minha
busca sobre o assunto, pois pretendo continuar a explorar o amplo caminho
percorrido pela Gestalt terapia, e também novas possibilidades de se
compreender o indivíduo com uma desordem.
Vivenciei e percebi através de sessões realizadas com
clientes com Síndrome do Pânico, a grande dificuldade de se dar conta de seus
sentimentos, de suas necessidades mais secretas. Acabavam tentando controlar o
sentimento e não o vivendo.
Ao longo desse trabalho, concluo que para uma pessoa não
desenvolver a Síndrome do Pânico é necessário que ela se dê conta de sua
postura diante da vida e preste atenção nas suas emoções de forma a não se
“atropelar”, não evitando suas sensações, e sim experimentando, suas sensações
de forma funcional, prestando atenção nas suas necessidades, desejos ,
vontades.
A pessoa que experimenta esse mal de forma funcional fica
mais perceptiva as suas sensações, assim fica mais atenta a “lista de roupa
suja” de sentimentos perturbadores e acaba administrando sua energia de forma a
se dar conta de suas dificuldades.
As manifestações
fisiológicas do indivíduo e as psíquicas conseqüentes provem de uma homeostase
que empenha o ser em suas relações com o meio e com sua história pessoal. É por
isso que o soma e a psique devem ser considerados interdependentes e inseparáveis.
O ser humano é uma unidade, que busca a auto-regulação. A
primazia é a saúde. Quando o organismo adoece, ele passa a funcionar de forma
não harmoniosa.
O Gestalt terapeuta possui uma postura de um observador
curioso e cuidadoso. A função dele é de acompanhar o sofrimento do outro de
maneira a possibilitar ao mesmo uma tomada de consciência, e assim pode ocorrer
uma reconstrução cognitiva. E essa ampliação da consciência, acontece na
relação com o terapeuta. Há algumas técnicas que podem possibilitar esta tomada
de consciência. Ver o sofrimento do outro é algo tocante e que muitas vezes
toca na emoção do outro e do próprio terapeuta, ou seja, a Gestalt terapia atua
na relação com o outro.
A ajuda de um profissional se faz sempre necessária.
Quando o cliente estiver consciente de sua dificuldade em lidar com a sua
disfunção, aumenta a possibilidade de cura.
Assim, essa pessoa poderá viver de forma funcional seus
medos, dificuldades e angústias. Elas poderão experimentar sentimentos novos
que antes não eram vivenciados, e ampliar a consciência, acarretando em uma
“boa forma” de lidar consigo e com os outros.
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7. ANEXOS
7.1. ANEXO 1
A Porta Negra
Era uma vez um país das Mil e uma Noites. Neste país,
havia um Rei que era muito polêmico por causa de seus atos. Ele pegava os
prisioneiros de guerra e levava para uma enorme sala. Os prisioneiros eram
enfileirados no centro da sala e o Rei gritava, dizendo:
Eu vou dar uma chance para vocês. Olhem para o canto
direito da sala.
Ao olharem, os prisioneiros viam alguns soldados armados
de arco e flechas, prontos para ação.
Agora, - continuava o Rei - Olhem para o canto esquerdo.
Ao olharem, todos os presos notavam que havia uma horrível Porta Negra de
aspecto gigante. Crânios humanos serviam como decoração e a maçaneta era a mão
de um cadáver. Algo horripilante só de imaginar, quanto mais para ver.
O Rei se posicionava no centro da sala e gritava: - Agora
escolham: o que vocês querem? Morrerem cravados de flechas ou abrirem
rapidamente aquela Porta Negra e entrarem lá dentro enquanto tranco vocês?
Agora decidam, vocês têm livre arbítrio, escolham...
Todos os prisioneiros tinham o mesmo comportamento: na
hora da decisão, eles chegavam perto da horrível Porta Negra de mais de quatro
metros de altura, olhavam para os desenhos de caveiras, sangue humano,
esqueletos, aspecto infernal, coisas escritas do tipo: "Viva a
Morte", etc. E decidiam:
“Quero morrer
flechado...”.
Um a um, todos agiam assim: olhavam para a Porta Negra e
para os arqueiros da Morte e diziam para o Rei: - Prefiro ser atravessado por
flechas a abrir essa Porta Negra a ser trancado lá dentro.
Milhares optaram pelo que estavam vendo: a morte feia
pelas flechas.
Mas, um dia, a guerra acabou. Passado algum tempo, um
daqueles soldados do "Pelotão da Flechada" estava varrendo a enorme
sala quando eis que surge o Rei. O soldado com toda reverência e meio sem
jeito, perguntou: - Sabe, ó grande Rei, eu sempre tive uma curiosidade, não se
zangue com minha pergunta, mas... O que tem além daquela Porta Negra? Rei respondeu: - Lembra que eu dava aos
prisioneiros duas escolhas? Pois bem, vai abra a Porta Negra. O soldado,
trêmulo, virou cautelosamente a maçaneta e sentiu um raio puro de sol beijar o
chão feio da enorme sala. Abriu mais um pouquinho a porta e mais luz e um
gostoso cheiro de verde inundaram o local. O soldado notou que a Porta Negra
abria para um caminho que apontava para a grande estrada. Foi aí que o soldado foi
perceber:
a Porta Negra dava para a... LIBERDADE!
MORAL DA HISTORIA:
Todos nós temos uma Porta Negra dentro da mente. Para uns,
a Porta Negra é o Medo do desconhecido.Para outros, é uma pessoa difícil.Quem
sabe até uma frustração qualquer, do tipo:
Medo de se entrega r(a alguém ou a alguma coisa).
Medo de se relacionar ou,
Medo de viver um grande (e triste) amor ou,
Medo de ser rejeitado ou,
Medo de inovar ou,
Medo de mudar ou Medo de voar mais alto.
Para alguns, a Porta Negra é a incerteza que a falta de
preparo atemoriza.
Ou uma trava imaginária que as inseguranças da vida
fabricaram durante a educação. Mas, se você pode perder, você também pode
vencer.
Se der um passo além do medo, você vai encontrar o raio de
sol entrando em sua vida. Abra essa PORTA NEGRA e deixe o sol inundar você...
(Autor e fonte desconhecidos)
7.2. ANEXO 2
Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser
milho para sempre.
Assim acontece com a gente.
As grandes transformações acontecem quando passamos pelo
fogo.
Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida
inteira.
São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosa.
Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o
melhor jeito de ser.
Mas, de repente, vem o fogo.
O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca
imaginamos: a dor.
Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, o
pai, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre.
Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade,
depressão ou sofrimento, cujas causas ignoramos.
Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo! Sem fogo o
sofrimento diminui. Com isso, a possibilidade da grande transformação também.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá
dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer.
Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não
pode imaginar um destino diferente para si. Não pode imaginar a transformação
que está sendo preparada para ela
A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz.
Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande
transformação acontece:
BUM! E ela aparece como uma outra coisa completamente
diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado.
Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que
se recusa a estourar. São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo
esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais
maravilhosa do que o jeito delas serem.
A presunção e o medo são a dura casca do milho que não
estoura. No entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras a vida
inteira. Não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva. Não vão dar
alegria para ninguém.
(Rubem Alves, O amor que acende a lua, Editora Papirus).
7.3. ANEXO 3
História da Lagartinha
Havia uma lagartinha que tinha muito medo de sair por ai e
morrer pisoteada pelos homens. Por isso, foi-se fechando. As plantas também a
rejeitavam, achando que ela só queria comer suas folhas. Mal sabiam que essa
lagartinha gorda, e que rasteja, pedindo ajuda, poderia ser aquela borboleta
que viria ajudar a polinizar as flores dessas mesmas plantas.
Mas, a lagartinha só chorava, apertada, em sua tristeza,
até que uma coruja, aquela ave que só consegue enxergar a noite, quando tudo
está escuro, disse a ela, pare de chorar, faça alguma coisa! Aí dentro de você
mora uma linda borboleta, deixe-a sair. Ela pode voar, ser aceita pelos homens
e pelas plantas, ver lá de cima o que você vê daqui debaixo, mudar de jardim e
tudo o mais.
A lagartinha, então, pediu ajuda. Como poderia se tornar
borboleta? A coruja, sábia amiga, disse-lhe que era necessária uma metarmofose,
de mudança, em que precisava se fechar num casulo para empreender esforços, que
viriam dores, mas só as necessárias para fazer as mudanças. Mas o que realmente
era preciso era pensamento positivo. Que poderia ser livre, bem aceita, e voar
leve, por onde desejasse. Que pensasse em ser borboleta o tempo todo e tudo
poderia ir mudando, até que, mais rápido do que ela imaginasse, ela sairia do
casulo, como uma borboleta.
(Síndrome do Pânico, Dra. Sofia Bauer, Editora Caminhos).